Behind Blue Eyes

Não suporto mais perder pessoas.

— Lupus Wild.

Essa ferida é tão profunda quanto o oceano. Esse pecado ensanguentado é tão incolor quanto a morte.

— Elesis Sieghart.

Baixou o olhar para as próprias mãos enquanto ouvia a enfermeira tagarelar algo sobre flores e amigos; sequer dignou-se a olhar para a mulher, entretanto sabia que a mesma sorria pela forma como sua voz soava. Era repugnante ouvir aquelas coisas, ver aquele exalar alegre e divertido como se não houvessem problemas no mundo; como se ele, Lass, não houvesse acordado de um coma a poucos dias. Tornou a erguer a cabeça, as orbes azuis céu fitavam mudamente a janela entreaberta de onde uma brisa fria adentrava no cômodo.

Em silencio fitou o exterior esperando, rezando, para que o tempo passasse mais rápido para que assim – como a mulher que agora saía do quarto dissera – recebesse sua alta e pudesse ir para casa terminar de vez com aquela agonia e, desta vez, fazendo o trabalho que o bendito acidente não havia conseguido assim o fazer.

Suspirou diante do silencio que prevalecera. Ouvira a porta se abrir e fechar, mas quem quer que tenha adentrado no quarto manteve-se em silencio o observando, analisando. E então os passos semi-audiveis tornaram-se próximos, houve um movimentar próximo e quando o albino voltara-se para identificar o indesejado visitando fora apenas para deparar-se com seu irmão lhe visitando, assim como dissera que faria no dia anterior.

Ambos se mantiveram em silencio enquanto se observavam, não haviam trocado uma palavra sequer desde que o Isolet havia esperto, e isso devia-se ao fato de que Lass não via necessidade – ou tinha vontade – de conversar com o irmão, mas mesmo que tivesse algo a dizer a Lupus o albino provavelmente não saberia como assim o fazer, há muito haviam deixado de ser irmãos a seu ver; já Lupus desejava loucamente poder conversar com seu irmão mais novo, pedir perdão, imploraria se fosse necessário, entretanto as palavras entalavam-se em sua garganta quando olhava para os desesperados e solitários olhos do mais novo.

Sentia-se nervoso ali, sozinho com o albino, queria dizer tantas coisas a ele, queria poder ser mais uma vez o irmão de Lass, queria trazer aquele que um dia tanto amara e divertira-se de volta; mas aqueles olhos azuis distantes e familiares lhe destruíam impiedosamente.

No peito o coração pulsava cruelmente, mas, ao menos naquele momento, o fazia diante do nervosismo que se apossara de si. O loiro sabia que não poderia continuar daquela forma, Lass não merecia isso, não mais; e com movimento hesitante o loiro alcançou uma das mãos do irmão, segurando-a entre os dedos longos e magros; o albino não recuara e talvez aquele foi o primeiro passo de muitos para que pudessem se reaproximar mais uma vez, tornarem-se irmão novamente.

O albino baixou o olhar para as mãos entrelaçadas, a pouca esperança que surgira se afogara novamente no vazio escuro da sua mente, entretanto a curiosidade mínima ainda mostrara-se quando vira as ataduras surgirem por debaixo da manga da jaqueta que o irmão trajava. Em silencio afastou o tecido podendo, assim, avistar o curativo que cobria as marcas ainda cicatrizantes; desfez as voltas da atadura para então deparar-se com feridas tão idênticas as que possuía em ambos os pulsos. As linhas branco/avermelhadas destacavam-se na pele clara do Wild e o albino não pode deixar de traça-las com a ponta dos dedos na sutil curiosidade do por que daquilo.

Tornou a erguer o olhar para a figura loira que lhe fitava silenciosamente, e então Lupus viu o sutil puxar dos lábios finos do irmão mais novo. Era um sorriso pequeno e triste, com uma pitada de solidão e uma felicidade indetectável, mas ainda sim presente.

— Por quê? – a indagação fora simples e baixa, e o loiro compreendera imediatamente sobre o que o irmão estava falando.

— Por você. – e a resposta fora tão simples quanto à pergunta inicial, não era preciso mais nada para que o Isolet compreendesse que, naquele momento, o irmão buscava alguma rendição, queria compreende-lo e estar ao seu lado para o que der e vier. – Você é importante para mim, irmão. – o sussurro preenchera o silencio que havia se instalado mais uma vez, o loiro apertara a mãos frágil de seu irmão antes de continuar com as palavras que a meses desejava pronunciar ao mesmo. – Eu não quero te perder Lass, eu... Não suportaria isso. – e com isso as lágrimas enfim escorreram pela face cansada do Wild, surpreendendo o mais novo.

— Sinto muito. – fora tudo o que o albino pudera dizer em resposta antes do silencio mais uma vez fazer-se presente.

Entretanto o que os irmão não sabiam era da presença curiosa que os ouvia por detrás da porta, esta sentindo-se feliz pelo albino ter despertado, entretanto, ainda triste pelo erro irreparável do passado e pelas consequências que o mesmo tiveram sobre alguém que, talvez não inocente, entretanto tão culpado quanto todos os outros presentes.

Elesis já havia se cansado de tudo aquilo, não suportava mais carregar a culpa em silencio, e não haveriam desculpas nesse mundo que pudessem mudar o passado e suas consequências.

Só havia uma coisa que poderia fazer realmente a diferença para si naquele momento, sanar a culpa e destruir a cruz que carregava sobre os ombros. E com a mente feita a ruiva desapareceu pelos corredores fantasmagóricos do hospital, despedindo-se silenciosamente de todos que estiveram ao seu lado ate aquele momento.