Behind Blue Eyes

Alguns pesadelos não acabam ao abrir os olhos.

— Veigas Terr.

A parte mais dolorosa de uma ferida interna é a cicatrização.

— Lass Isolet.

Se seus olhos falassem, o que diriam?

— Rey Von Crimson River.

As vezes você desiste por que parece a melhor coisa a se fazer, mesmo que aquilo te machuque, mesmo que aquilo consuma cada parte do seu coração, você desiste e deixa a dor te consumir na esperança de que um dia pare de doer. Mas nunca para.

— Lothos Isolet.

Piscou, constatando que não havia mais escuridão a sua volta, pelo contrario, a fina penumbra que cobria o local em que se encontrava apenas aumentava o temor do albino. De inicio não havia som, e então o barulho continuo se fez presente, tornando-se mais e mais ritmado ao ponto de Lass identificar o monitor cardíaco onde na tela negra a linha esverdeada dançava eufórica.

E então veio a dor, a nostalgia e o medo; todos misturados a uma ânsia eminente por respostas, muitas das quais já tinha uma quase certeza, mas ainda sim queria ouvi-las, precisava ouvi-las para saber se estava ou não morto, se precisaria ou não pensar em alguma forma de por um fim em toda a loucura que vivia. E então o ar lhe faltou e os pulmões queimaram em sua caixa torácica, entretanto, mesmo que parecesse que o fim estava mais próximo do que nunca, o jovem nunca esteve tão errado, ainda mais ao sentir aquelas mãos frias tocando-lhe, salvando-lhe por mais uma vez.

A madrugada seria longa, pensava a loira que se esforçava para não perder aquela jovem vida. Os batimentos cardíacos extremamente elevados silenciaram-se e rapidamente a equipe de enfermeiros assumiu seus postos buscando reanimar o adolescente.

Lothos Isolet não conseguia entender como aquilo viera a acontecer, como aquele coração tão jovem – apesar de tão ferido – podia simplesmente parar; ou talvez não quisesse entender, talvez estivesse se reprimindo disso por que, quem em sã consciência compreenderia um suicida, senão, outro com os mesmos pensamentos? Mas ainda sim a loira queria compreende-lo, mesmo que minimamente, para assim poder tratá-lo de forma devida.

E com um suspiro deixou-se cair sentada num dos bancos alocados no corredor. Mais uma vez aquela pequena vida fora salva; mas quantas vezes já não havia sido o feito naqueles longos dez meses? Quanto mais ele aguentaria? Quanto mais o irmão do mesmo suportaria? A médica em si já não suportava mais ver o menino – tanto seu jovem paciente quanto o irmão do mesmo - daquela forma.

Seria errado desejar que o albino morresse? Seria errado pedir para que ele encontrasse seu fim de forma pacifica e não mais sofresse, nem trouxesse sofrimento para quem o amava? Seria errado? Lothos não sabia dizer se era ou não errado – talvez fosse -, mas ela ainda sim desejava um fim para o jovem Isolet – coincidentemente o mesmo sobrenome que o seu – por que até mesmo ela estava se esgotando de tudo aquilo.

— Doutora Isolet. – uma enfermeira se aproximara, Elena era seu nome. – Conseguimos estabiliza-lo novamente. – informou, para o desespero da medica. – E ele estava mostrando sinais de consciência, provavelmente acordará em breve. – e com isso a jovem enfermeira sorriu. – Seria maravilhoso se isso acontecesse não é mesmo? - E com um sorriso fraco a mulher de longas madeixas loiras limitou-se a acenar em concordância, isso antes de dispensar a técnica de enfermagem.

Assim Lothos suspirou, nunca antes odiou tanto seu trabalho quanto naquele momento, por que mesmo formara-se em medicina? A questão lhe veio a mente.

— Ah, sim... – sussurrou, as memorias lhe invadindo a mente em uma velocidade enjoativa, os sentimentos tomando conta de si, a dor retornando como se nunca houvesse partido. – Foi por você Penelope. – murmurou ao lembrar-se da irmã, tão enérgica quando Elesis e tão sorridente quanto Eacnard.

Erguendo-se de seu lugar logo tomou rumo ao quarto do albino, vê-lo daquela forma sobre a cama apenas a fazia lembrar-se da irmã, do motivo de ter se tornado uma médica, seu fracasso particular que lhe atormentava diariamente há uma década.

Com um suspiro baixo abriu a porta do aposento e adentrou, rapidamente se aproximando do leito do adolescente. Não passava de um garoto no inicio da vida, mas o fato de ele estar ali apenas mostrava que, mesmo tão jovem, aparentemente ele vivenciara mais coisas do que um adulto no fim de sua vida. E ao tocar a mão fria do rapaz viu as orbes azuladas do mesmo abrirem-se rapidamente e lhe fitarem, mudas e suplicantes; ele piscou lentamente e por um segundo ela jurou ver naqueles olhos cor de céu medo e tristeza. E por mais que odiasse admitir aqueles olhos a estavam olhando exatamente como os de Penelope Sieghart havia feito anos atrás.

Eles desejavam desesperadamente a morte.