Behind Blue Eyes

Eu costumo guardar as coisas para mim, por que na realidade, ninguém realmente se importa.

Lass Isolet.

Não há nada de errado em ser solitário.

– Dio Von Burning Canyon.

Quanta história existe por trás de uma cicatriz?

Elesis Sieghart.

O loiro observou a pele pálida do irmão, esta que mal contrastava com os lençóis brancos da cama hospitalar. Seus olhos fixaram-se no suporte alto que suspendia uma bolsa de soro contendo – possivelmente – algum remédio para inibir qualquer dor que o albino viesse a sentir. Viu as gotas pingarem, acumularem-se e descerem pelo tubo antes de entrarem no organismo do adolescente através da agulha fixa em seu pulso que – para o terror do Wild e dos médicos que atenderam o jovem – carregava ferimentos perigosos, o que levava a todos os expectadores a questionar o que aquela criança sofria.

O que levaria um menino tão jovem, com tantas expectativas pela frente, a tentar algo tão estupidamente egoísta como suicídio?, ao menos era isso que as marcas de autoflagelação pareciam significar na vista dos expectadores daquela história tão dramática.

E então Lupus ergueu o olhar para a face que tantas vezes estampara uma solidão e uma tristeza quase palpáveis, e que mesmo assim fora ignorada de forma tão estúpida. Os olhos azuis – um dia tão amáveis e brilhantes destacando um sorriso branco e de uma pureza inigualavel – estavam fechados, os traços juvenis entregavam o cansaço físico e o desgaste físico-emocional; mas diante de tudo, talvez o que mais assombrava o loiro era o tubo fixo que escorria pela traquéia do irmão, sendo isso a única coisa que permitia ao mesmo respirar, manter-se vivo. E essa era a prova de que aquilo não era uma brincadeira de muito mau gosto, Lass estava realmente em coma há mais de três meses e, de acordo com o médico, as chances de ele acordar apenas diminuíam com o passar das semanas.

– Lupus. – o chamar suave mal pode ser identificado pelo loiro que nunca esperou ouvir aquele timbre vindo daquela garota em especial. – Os seus pais eles... – e só de ouvir aquilo o adolescente de cabelos dourados riu de forma irônica antes de virar-se para observar a garota melhor, isso o fez notar que a mesma vinha acompanhada de uma ruivo alto; se lembrava bem, ele chamava-se Dio Burning Canyon.

– Para eles, apenas pagar o hospital já é o bastante. – retrucou o Wild. – Eles tem medo do Lass, por culpa nossa...

Não houve surpresa vinda da companhia recém notada pelo loiro, e por que haveria, ele sabia, ela sabia, todos sabiam que o jovem albino era extremamente solitário. Julgavam-no antissocial por assim querer ser, mas a verdade ia muito mais além da ignorância de Lass para com a sociedade atual e das fofocas maldosas que espalhavam sobre o mesmo. Sim, a verdade estava muito mais além, muito mais profunda e obscura, coberta por sorrisos e brincadeiras; por fofocas nunca contrariadas e por um grupo seleto de jovens que não souberam medir as consequências de seus atos e palavras, podendo, assim, evitar a triste história que agora se desenrolava.

– Eu sinto muito Lupus. - o sussurro veio baixo e junto ao mesmo houve um aperto simplório e gentil sobre o ombro do Wild. - Por tudo... Eu realmente... Sinto muito. - lamentou a garota, tão amargurada pelo passado quanto o ruivo que silenciosamente fitava a cena com pesar. Haviam sido ignorantes por muito tempo e agora as consequências os alcançavam da pior forma que podiam imaginar.