Behind Blue Eyes

Eu não te julgo por ter me abandonado. Eu mesmo fiz isso, sabe, eu me abandonei.

Lass Isolet.

Eu juro que jamais vou te abandonar novamente.

Lupus Wild.

Por que é tão difícil salvar alguém?

– Arme Gleinst.

As pálpebras pesavam e o corpo doía, cada músculo gritava em agonia e o albino podia jurar que seus ossos eram somente pó; e apesar de toda dor, um suspiro ainda atravessou seus lábios, agora frios. Era estranho para si sentir frio naquele lugar vazio e escuro, mas não era estranho ter de encolher-se para buscar algum conforto, o fizera tantas vezes antes sobre sua cama, ou em sua banheira enquanto via o sangue fluir de seus pulsos e unir-se a água limpa adquirindo um tom rosado. Mas apesar de tudo, da dor e do frio, Lass sentia-se confortável ali, sem sons, sem pessoas falsas, sem aqueles olhos assustados o fitando incansavelmente, ou aquela ignorância fria e cruel; lá no escuro era só ele, somente ele e sua escuridão particular - como decidiu nomear aquele suposto local em que se encontrava -; somente o vazio e o ecoar de sua voz quando decidia proclamar algo em voz alta; a e não deixemos de esquecer o som de seus pensamentos, cada memoria sendo revivida de novo e de novo, fortalecendo uma convicção cruel que ninguém nunca deveria carregar.

Mais ele não poderia esquecer que havia momento em que nem sempre podia ficar só, em que vozes o alcançavam com palavras que o rapaz desacreditava fervorosamente - apesar de desejar em algum canto profundamente dentro de si que estas fossem mesmo reais -; a primeira vez que elas vieram fora após a confusão inicial e o silencio fúnebre, ele não reconheceu, eram baixas, sussurradas, mas aos poucos fortaleceram-se e tornaram-se constantes; e elas ecoavam em vozes que o rapaz pensou que nunca mais ouviria, em tons que Lass julgou como culpa e arrependimento, e talvez existisse até algumas lágrimas entre as palavras, mas ao todo eram as vozes daqueles que um dia confiou e amou, daqueles que há muito tempo chamou de amigos e irmãos; mas hoje não eram mais isso e talvez nunca mais fossem, não havia mais volta para o que aconteceu, por que mesmo que o albino os perdoasse, uma vida não poderia ser trazida de volta depois de levada pela morte.

E lá estava ela novamente, a morte. Fria. Impiedosa. Com seu beijo fúnebre levando as almas para seu descanso eterno. Então por que ela estava a ser tão piedosa desta vez? O que o albino tinha que o fazia tão diferente de tantos outros que desejavam morrer e tinham seus pedidos rapidamente atendidos pelo ceifador? Lass só queria descobrir o que o fazia tão especial para que pudesse destruir isso de uma vez e enfim descansar nos braços ósseos do tão temível ceifador.