Batman: A Hora do Pesadelo

Hora do Pesadelo -Final, parte 2/3


De volta a Gotham, Alfred assistia o telejornal. Não precisando dormir, podia fazer outras coisas para passar o tempo. Vicki Vale era quem estava como âncora, passando as notícias.
—E acabamos de receber uma informação de última hora. Alguns internos do Arkham foram encontrados mortos. Segundo os guardas, oito prisioneiros pediram para ser escoltados até suas celas, o que é incomum, cada um para sua solitária. E alguns minutos atrás seus corpos foram encontrados sem vida, e na parede de cada cela havia uma palavra escrita em sangue.
O mordomo observava com temor. Suas mãos tremiam.
—Ainda descrevendo o que está sendo dito - ela continuou, prestando atenção no que ouvia pelo ponto em seu ouvido - as palavras estavam seguindo uma sequência, que era a cela de cada um. E elas formam a frase...
Nesse momento, Alfred engoliu em seco, assim como a própria repórter.
—"Não se preocupem. Estou me aquecendo pro Morcego".
...
Bruce acordou numa rua vazia. Os prédios se erguiam sobre ele, a típica silhueta de Gotham City de madrugada.
—Ok... parte um completa. Constantine!
O silêncio lhe respondeu. Ele estava aparentemente sozinho, mas tinha a sensação de ser observado.
—Destino? Zatanna? Ravena?
Nada.
Ele começou a andar. A escuridão acima dele consumia quase todas as luzes. Então elas se acenderam com força, revelando a cidade cheia de vida; as pessoas caminhando pelas ruas, os carros andando na rua, os anúncios luminosos brilhando.
—O que raios isso significa?...- ele murmurou, observando na maior normalidade. E por alguma razão, ninguém parecia estar surpreso pelo Batman estar andando casualmente por entre os carros.
Então algo mudou. O céu negro começou a ficar vermelho. Os prédios estavam se decompondo, as paredes descascando, algumas janelas quebrando; o chão se abria diante dele, mas o que realmente mudou foram as pessoas.
Não eram mais humanos. Mas ele não sabia exatamente o que eram. Criaturas sem olhos, nariz ou orelhas, elas avançaram em cima dele. Mordendo-o, agarrando-o, socando-o, a dor era indescritível. E eles começaram a puxá-lo, para baixo, para dentro da fissura...
—Não! Me soltem!- gritou Bruce.- NÃO!
E a voz, que há muito tempo ele não ouvia, ecoou no ambiente, dizendo:
—Bem-vindo ao pesadelo, Bruce...
BEM-VINDO AO PESADELO!!
...
No mundo real, os quatro magos continuavam realizando o feitiço. O qual requeria toda a energia deles, tanto que nem estavam mais no plano físico; apenas seus corpos estavam ali, num transe.
E o cubo continuava a se mover, entalhe por entalhe.
Há algo errado aqui, era a frase que preenchia a mente do Senhor Destino. Eu posso sentir. A aura do acampamento está enfraquecendo... mas como? Ele não deveria ter tanto poder aqui, aquela manifestação já requeriria muito poder por parte dele. De onde ele está tirando tanta força?
Então lhe veio a ideia: Krueger podia já estar sabendo do plano. Poderia estar, naquele momento, drenando energia deles, se aproveitando de seu estado de transe...
Oi, Destino. Tudo em cima, parça?
Uma voz ecoou na cabeça dele.
—Mas o que... quem está aí?
Quem você acha? A Fada do Dente.
Ah, Freddy.
Acertou, miserável. Você achou mesmo que eu não ia descobrir o seu planinho engenhoso?
—Como você desco... claro. Você estava dentro...
...da cabeça dele. O TEMPO TODO! Eu reino na mente dele! Ele é o cérebro mais gostoso de bagunçar que eu já encontrei em todos esses anos! E ainda por cima, tem um desequilíbrio mental... quem acha normal um cara sair esmurrando criminosos vestido de morcego?
—Nós vamos te derrotar.
Eu acho que não. A cabeça dele já tá fodida o suficiente pro seu plano funcionar. E ele vai pro Inferno no meu lugar! Hahaha... adeus, Destino. Te vejo por aí...
Destino ficou preocupado com a segurança de Batman naquele momento. Ele deveria monitorar a mente de Bruce com muito cuidado a partir de agora, preparado para a conclusão do plano.
E o cubo continuava a girar.
...
Bruce continuava se debatendo, tentando se livrar das criaturas que o cercavam, puxando-o para baixo, até que sentiu-se atravessando algo. Algum tipo de teto. E então sentiu o toque dos bichos deixando-o, estava solto, em queda livre...
Até que aterrissou sentando numa cadeira. Ou melhor, uma carteira.
Estava numa sala de aula, suja, desarrumada e vazia, exceto por ele, na última fileira de carteiras escolares, e uma figura bem conhecida por ele rente ao quadro negro. Chapéu marrom, confere. Suéter vermelho listrado, confere. Luva com garras? Não podia estar de fora.
Freddy passou as garras no quadro, fazendo um barulho infernal. Bruce se viu incapaz de tapar os ouvidos, uma vez que subitamente seus pulsos estavam algemados à carteira escolar. Aquele barulho agudo, que causava uma dor excruciante nos ouvidos, só era insuportável devido à leve risada que os lábios queimados do Terror de Elm Street liberavam.
—Bom te ver de novo, Brucie. Tudo bem? Como vão seus pais? Damian? E o Alfred?
—Você vai perder-cuspiu ele, com o rosto machucado, além de cuspir mais que palavras no rosto de Freddy, à uma distância razoável. Então pendeu a cabeça, fraco.
Limpando a saliva do rosto, o monstro retrucou:
—Que grosseria, menino! Enfim, eu não vou ser levado, pelo menos não de novo. Não caí no seu plano da caixa! Vocês não vão me levar pro mundo real.
—Como você faz isso, maldito...?
—Eu estou dentro da sua cabeça, idiota! Cada palavra que você ouvia, eu ouvia também! Não sei como você não adivinhou! Ha, "Maior Detetive do Mundo", meu rabo!
Ele começou a se aproximar lentamente, as garras arranhando cada carteira onde passava, fazendo um som de metal arrastando em metal.
—E esse deveria deveria ser o terror dos criminosos de Gotham? Pfft. Patético.
Ele finalmente parou em frente ao seu inimigo. Triunfante. Pôs uma das lâminas em seu rosto, puxando-a por ele até uma enorme cicatriz sangrenta se formar.
—Hora de morrer, morceguinho. É a Hora do Pesadelo. Hehe- sussurrou Freddy num tom de deboche. -Eu quebrei a sua essência, o grande pesadelo da escória de Gotham não foi páreo pra mim.
Freddy levantou sua mão enluvada, com a outra levantou o queixo de Batman para que pudesse ver seus olhos.
—Adeus, Batman...
E ele foi descendo o punho, dando o golpe final para perfurar, rindo até se acabar...
Quando ouviu outra risada. Bem baixinha.
—Você está com medo...
—Como é?!
Batman, sem medo algum, esboçou um sorriso triunfante.
—Você estava com medo desde o início. Com medo de que houvesse alguém mais assustador que você, ou seja, eu. E ainda está... por isso vai me matar desse jeito covarde.
Krueger mudou sua expressão, de surpresa para raiva.
—Por que raios eu teria medo de você? Você é só um estorvo. Não é nada perto de mim! E por isso vou te matar assim, humilhado como merece ser...
—Não me sinto humilhado. Mas - ele soltou uma franca risada, o que incomodou ainda mais o inimigo- vitorioso. Pode me matar, mas eu sei que ganhei de você. Porque eu posso morrer, mas o Batman vai continuar assombrando os criminosos. E você? Não passa do monstro debaixo da cama. O barulho no corredor. Pode assustar no início, mas não é nada depois disso.
Freddy fez o urro de tanta raiva, desferindo um soco contra a carteira ao lado e partindo-a em duas. Sua irritação era palpável.
—Cale a boca! EU NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ!
—Prove. Se não tem medo de mim, tente me matar de forma justa.
O demônio lançou um olhar de fúria mortal à Bruce, que deu um sorriso de escárnio em resposta, apesar de todas as feridas no rosto. O olhar só se intensificou.
—Eu devia te matar agora só por essa insolência...
Afastando-se um pouco, estendeu o braço enluvado e espalmou sua mão. O gesto devastou o ambiente, livrando-o de tudo o que o caracterizava: mobília, paredes, quadros, portas. E libertou seu inimigo, para a satisfação do mesmo.
—... mas isso só te faria vencer. E eu odeio perder.
Que bom que psicologia funciona, pensou Bruce, quando percebeu que suas feridas estavam fechando.
—Luta justa, então?- ele perguntou, entrando em sua persona de Batman.
—Chame como quiser. Eu chamo de "execução adiada".
O ambiente começou a mudar, tornando-se a fábrica de Freddy. Com andaimes, tonéis, correntes de ferro e caldeiras, era um lugar muito reconfortante para o assassino queimado.
—Lembre-se disso, morcego: meu mundo, minhas regras! -ele gritou, dando uma risada.
Uma voz grossa e alta ecoou pelo local, dizendo:
ROUND 1: FIGHT!
Freddy saltou sobre Batman, jogando-o ao chão; caído, o mesmo prendeu o inimigo com as pernas, rolou para trás e, aproveitando o impulso que Krueger havia pego, atirou-o contra uma parede. O impacto causou um baque metálico, e o maníaco foi ao chão.
Levantando-se, Batman se virou para encará-lo, mas ele não estava mais lá. Previsivelmente, Freddy apareceu atrás dele, e tentou socá-lo, ao que Bruce se desviou e agarrou o braço dele. Mas este escorregou, soltando-se, e arranhou a parte exposta de seu rosto com as garras. Bruce levou uma mão ao rosto, limpando o sangue, e não viu o chute de Krueger, que o jogou para fora do andaime onde se encontravam.
Pensando rápido, Batman levou a mão direita ao cinto, procurando seu arpéu. Mas ele não estava lá. Então, pegou uma corrente que pendia do andaime, usando-a como um cipó, dando a volta por baixo e levando-o de volta à plataforma. E recebeu Freddy com um chute com as duas pernas, o que desequilibrou o inimigo, e com o impulso, soltou a corrente e agarrou-o, atirando ambos para fora.
Eles caíram por uma distância de cerca de 10 metros, com a briga continuando durante a queda. Batman socou Freddy no rosto, porém, este conseguiu mudar o rumo da luta virando-se por cima de Bruce, retribuindo os socos e aterrissando em cima dele.
Tentando perfurar o crânio de Batman com suas garras, o ser demoníaco errou por pouco, cortando uma das orelhas da máscara do Morcego. Em resposta, levou um chute no queixo, o que o mandou voando para a parede atrás. Batman se levantou e viu-o ajeitando o maxilar.
—Garras de ferro, queixo de vidro- ele zombou.
—Maldito!
Freddy fez um holofote se acender atrás dele, projetando uma sombra gigante, que se ergueu como uma extensão de seu corpo. Ela golpeou Batman, que bateu de costas contra um tonel vazio. Ele se levantou, visivelmente dolorido, mas ainda disposto a lutar.
A sombra desferia ataques, dos quais Batman saltava para se desviar. Ele viu, de relance, um cano quebrado, e pulou na direção dele, desviando de um ataque - que teria cortado-o em dois - no processo. Ele puxou o cano e atirou-o na fonte de luz, quebrando-a e eliminando a sombra, mas Freddy retaliou cuspindo fogo contra o Cavaleiro das Trevas.
Tentando puxar um Batarangue, ele percebeu que seu cinto não estava mais lá. Esquivando-se das chamas, Batman deu uma rasteira em seu adversário e, com o pé, pressionou sua cabeça contra o chão. Porém, Freddy levantou-se rapidamente e desferiu um golpe que fez um corte no peito de Bruce. Então, o detetive pulou por cima do assassino, chutando-o nas costas e agarrando uma corrente e com o impulso dado, distanciou-se dele. Ele entrou num corredor, cheio de canos soltando vapor, e saiu correndo, tentando ganhar tempo para bolar uma tática. Ele se abrigou embaixo de um conjunto de canos hidráulicos, e logo ouviu, à distância, passos na entrada do corredor, e a infame voz dizer:
—Vai se esconder agora, Batman? E depois EU que estou com medo!
Os passos de Freddy Krueger foram avançando pelo corredor. E a musiquinha começou a tocar:
"Um, dois, o Freddy vem te pegar..."
O Retalhador de Springwood abriu a mão enluvada. Pôs ela na parede e começou a arrastá-la, o arranhar metálico deixava o ambiente mais tenso, e as faíscas saltavam para o chão.
"Três, quatro, tranque a porta..."
—Bruuuuuuuce... saia para brincaaaaaaar... o tio Freddy está aqui.
Ele sabia que tinha que bolar um plano, rápido. Então, viu um tubo que dizia: 'GÁS INFLAMÁVEL' em letras garrafais, na parede oposta a seu esconderijo. Ouviu as faíscas se aproximando com os passos, e percebeu que não tinha muito tempo. Com as lâminas laterais de suas manoplas, ele cortou o cano com facilidade, e ouviu um leve silvo, indicando que o gás estava sendo liberado no ambiente. Agora ele precisava apenas de uma faísca.
Os passos estavam chegando. Freddy estava muito próximo.
"Cinco, seis, agarre sua cruz..."
Os passos pararam bem ao lado do conjunto de canos. Bruce chegou a pensar que Krueger podia ouvir o bater de seu coração.
A luva de quatro garras apareceu na borda do esconderijo.
—Onde está você, Bruce?...
"Sete, oito, fique acordado..."
Ele ouviu Freddy se agachar do lado dos canos.
—Você está aqui?
"Nove, dez..."
O rosto queimado dele começou a aparecer na abertura. Bruce juntou as mãos, pronto para riscar suas manoplas. Até que o monstro apareceu por completo.
—Ah...
"... nunca durma de novo..."
—... te achei!
E Batman sentiu-se desconectado de si mesmo, quase se arrependendo de seu plano... e riscou.