Batman: A Hora do Pesadelo

Cavaleiro das Trevas - Final, parte 3/3


A explosão atirou-o contra uma parede de concreto, e ele atravessou-a por completo. E ouviu Freddy gritar. Aterrissando fora da fábrica, ganhando mais machucados, ele olhou para o resultado: chamas, metal retorcido e incandescente, destroços caindo, algumas coisas começaram a explodir também. Só esperava que, no meio daquele inferno, o maldito não tivesse sobrevivido.
Que pena.
Ele viu um corpo sair do meio da destruição que causou. Era ele. O suéter estava queimado, mas não destruído; o chapéu havia sumido; as garras estavam incandescentes devido ao calor. Movendo-se lentamente.
Ele ouviu uma risada ensandecida vindo do homem.
—Filho da puta!!!- Mais risadas. -Eu tenho que admitir, você é esperto... mas ainda assim, um filho da puta!
Batman olhava perplexo e assustado. Nem seu pior inimigo, o palhaço, era tão louco quanto Freddy parecia estar. Ele começou a se arrastar para trás, na direção de uma floresta próxima.
—Eu não iria até a floresta, Brucie- ele gargalhou, histericamente. - Aí tem bicho de todo tipo. Lobos, corujas, ratos...
Ele abriu os braços.
—... e morcegos!
Ao som dessa palavra, um bando de morcegos voou na direção de Bruce, cercando-o, mordendo-o, e ele se debatia, tentando se livrar dos milhares de roedores alados vindo em sua direção. E Freddy entrou no meio deles, sem problema algum, já Bruce parecia aterrorizado.
—Ha! Luta agora, Bruce!- ele furou o homem caído com suas garras, uma, duas, três vezes. -Levanta! Quando eu volto seu medo contra você, aí você foge? AHAHAHAHAHAHAHA!
E o vigilante só se arrastava para longe.
—Eu venci, Batman. Você não é páreo pra mim! Eu te derrotei, e tudo isso dentro do meu reino: o Reino dos Sonhos!
—Exatamente. Isto é um sonho.
Batman se levantou. O medo em sua expressão sumira, assim como os ferimentos, sendo substituído por segurança; os morcegos não o incomodavam mais.
—O meu sonho.
Então o jogo virou.
Os morcegos, instantaneamente, começaram a atacar Freddy.
—Mas que diabo... caralho!!
Os morcegos fizeram com ele o mesmo que fizeram com Bruce. Numa nuvem de asas batendo, Freddy agora estava totalmente desorientado. Jogou uma bola de fogo em um canto, mas nada aconteceu. Ele espantava aqueles pequenos animais, esperando melhorar sua visão do ambiente.
—Onde você está?? Não está se escondendo de novo, está?!
—Não.
Quando um punho acertou seu rosto, vindo do nada.
Ele recuou, apenas para se virar e levar outro murro no meio do rosto. E outro no queixo. E um chute no estômago. E mais um soco. E a cada golpe que ele levava, parecia que mais morcegos apareciam.
—Como?...Eu sou o Senhor dos Pesadelos! Não há ninguém igual a mim! O que caralhos é você!?
—Eu sou vingança...
Então ele viu, de relance, uma forma humana correndo ao seu lado.
—Eu sou a noite...
De novo, mas do outro lado. Os morcegos guinchavam, como que reconhecendo o vulto como seu senhor.
—Eu sou o seu pesadelo...
Uma sombra gigante se formou acima de Krueger. Quando ele olhou, ele o viu: orelhas pontudas, roupa cinza, seu símbolo animal em destaque, e sua capa estava aberta... como um par de asas. O tempo pareceu passar mais devagar enquanto o Cavaleiro das Trevas, o Detetive das Sombras, o Cruzado de Capa caía na direção de seu inimigo, no meio de um tornado de morcegos...
—Eu... sou o BATMAN!
E enquanto ele aterrissava sobre seu inimigo, uma luz dourada brilhou, ofuscando toda a cena...

...

No mundo real, uma luz dourada apareceu sobre o triângulo dourado. E dessa luz, caiu uma pessoa, de chapéu, suéter listrado e luva com garras. O corpo inerte do Homem-Morcego acordou imediatamente, e olhou ao redor; constatando que estava acordado, levantou. Os três magos que mantinham o triângulo aberto finalmente despertavam de seu transe.
E o cubo parou de girar.
—Olá, pessoal. Trago à presença de vocês nosso tão querido assassino- disse Batman.
—Esse é o Freddy?- indagou Ravena. -Patético.
—As aparências enganam, menina- contrapôs Constantine.- Ele é poderoso pra cacete. Não o subestime.
Dito seu nome, o homem queimado levantou-se, olhando com uma mistura de raiva e temor.
—Que porra...?
Ele olhou para cada um dos presentes ali, e olhou o lugar onde se encontravam. Sua expressão se intensificou.
—Ah não! Esse lugar de novo não!!- E apontou para Batman com a mão enluvada. -Maldito seja! Mesmo no mundo real, vocês não têm poder suficiente para me derrotar! Eu vou estripar todos vocês!
—Cale-se, Krueger!- a voz de Destino se sobrepôs, imponente. - Nós estamos aqui para fazer o que os cenobitas já deviam ter feito há muito tempo. Mas acho que você já saiba disso, não?
—Não... não vai acabar assim. NÃO VAI!
Então ele olhou para cima. Para o pequeno objeto que poderia mudar tudo.
O cubo.
A Configuração do Lamento.
Freddy ainda tinha poderes, apesar de que muito reduzidos, no mundo real. Então, usou-os para esticar seu braço e puxar o cubo para si. Ele começou a rearranjar os entalhes, montando uma configuração bem conhecida por ele e por Destino.
—Batman! Detenha-o! Nós não podemos entrar sem quebrar o feitiço, tire o cubo dele!- gritou Destino.
Bruce pulou em cima de Freddy, derrubando o cubo de suas mãos e esmurrando seu rosto. Este retaliou arranhando o braço do Morcego, deixando um corte superficial. Ele alcançou o cubo outra vez, caído no chão, apenas para ter a mão pisada por Batman, que pegou o objeto e preparou-se para lançá-lo.
Até que sentiu uma dor muito forte na batata da perna. Sua perna fora perfurada pelo matador, que também chutou o meio das suas pernas. Mas ele não largou o cubo. Segurando a dor, Bruce agarrou o pescoço de Freddy e o jogou contra a barreira mística, que aguentou. Então, lançou o cubo para Destino, que o pegou e começou a montá-lo de novo.
Freddy, enraivecido, deu um urro de raiva e pulou na direção de Bruce, só para ser recebido com um chute na boca. Então, ele caiu de joelhos, derrotado, enquanto seu inimigo retirava sua luva mortal.
—Puxem! Agora!- gritou Constantine. Ele, mais Ravena e Zatanna, saíram dos vértices do triângulo e fizeram um movimento de puxar, o que trouxe o encapuzado para fora da barreira.
Ele se levantou, sacudindo a poeira do uniforme, enquanto o cubo se enterrou no chão.
—Obrigado. Querem acabar com isso?
—Com prazer- retomou Destino. -Pelos poderes dados a mim pelo Elmo de Nabu e depositados na Configuração do Lamento, eu condeno você, Freddy Krueger, a queimar nas profundezas do Inferno.
Algo aconteceu. Duas correntes surgiram do chão e se amarraram aos braços de Freddy, que começou a gritar em agonia. Então a cova se abriu, revelando um caixão, que se levantou, ficando na horizontal. E ele se abriu.
A primeira visão do interior era de um cadáver bastante deteriorado, que no passado devia ser um homem robusto, devido a seu tamanho. Mas então este entrou em combustão, junto com todo o caixão. O fundo dele se estendeu até uma distância bem longa, as chamas consumindo todo o caminho, e começando a se espalhar pela área que a barreira mágica continha.
Freddy começou a queimar, e suas correntes estavam se avermelhando com o calor. Suas roupas, e pele, estavam sendo destruídas pelas chamas, e ele olhava para o quinteto com a forma mais pura de ódio que pode ser descrita.
—VOCÊS NÃO VÃO FUGIR DE MIM!- o maníaco berrava para eles, com a boca espumando de raiva.- EU VOU MATAR TODOS VOCÊS!
O caixão começou a liberar pequenas bolas de fogo, flutuando pelo ar. Centenas delas, e elas foram atingindo Krueger, que gritava a cada queimadura adicional. E elas aparente não paravam de vir, e a açoitá-lo com sua presença.
Batman olhava tudo com um quê de horror e surpresa, mas um pouco de satisfação.
—O que são essas coisas?- indagou, referindo-se às bolas de fogo.
Quem respondeu foi Constantine:
—As manifestações das almas que ele torturou e/ou matou. Estão tendo sua revanche. Se você prestar atenção, elas têm rostos.
O Morcego focou nas bolinhas e percebeu que John estava certo: elas possuíam mesmo rostos, na maioria, de adolescentes. Então ele focou em três delas, que marcaram o fim do fluxo de almas saindo do caixão, e reconheceu os rostos.
Sua mãe.
Seu pai.
Seu filho.
Ele deixou escorrer uma lágrima, lembrando de tudo o que aquele monstro havia feito a ele, e imaginando o que ele devia ter feito a outras famílias. Freddy Krueger, o Retalhador de Springwood, merecia mais do que ninguém ir para o Inferno.
E as correntes que prendiam-no se soltaram, mostrando seus pulsos em carne viva. E todas aquelas almas, que poderiam facilmente ser mais de mil, juntaram-se na porta do caixão e formaram um redemoinho, começando a puxar seu algoz. Ele foi sendo arrastado até a Porta do Inferno, queimando feito mato seco...
Até que ele agarrou a borda do caixão. Ele não ia desistir.
—Merda, ele vai sair!- exclamou Bruce, surpreso.
—Não, Bruce, calma. Ele não vai sair, ainda falta uma alma para puni-lo. E ela ainda tem um corpo...- retrucou Destino, calmamente.- Olhe só.
Ele apontou para o final do corredor que estava dentro do caixão, onde o cadáver ainda estava de pé, queimando. Foi só então que Bruce prestou atenção nele, enquanto ele levantava sua cabeça e começava a andar na direção da porta.
—Meu Deus- murmurou Zatanna.- Aquele é...
O homem era grande. Robusto. Seu físico fazia Bruce pensar que ele podia se bater contra Superman, e seria uma batalha de igual para igual. Ele não tinha cabelo. Sua cabeça era podre e decomposta, assim como a maior parte de seu corpo, e suas roupas eram um casaco, uma calça e uma camisa, todos eles velhos e rasgados.
Freddy olhava para o grupo, sem perceber a figura que lentamente se aproximava, e estava quase saindo do caixão, com um sorriso louco no rosto. Mas quando notou que os olhares de todos estavam atrás dele, ele olhou para trás... e seu sorriso se desmanchou.
—Ele não...
Agora, era uma face de puro terror. Ele começou a gritar em desespero quando viu a familiar máscara de hóquei, e o infame machete na mão, chegando cada vez mais perto...
—ELE NÃO!
Todos os magos que acompanhavam Batman olhavam a cena. Zatanna e Ravena expressavam choque total, enquanto as expressões do Senhor Destino e de Constantine eram indecifráveis. Todos só observavam o homem queimado tentando sair do caixão, olhando em desespero para sua luva no solo.
Então o morto o alcançou. Pegando Freddy pelo pescoço, ele inclinou um pouco a cabeça lembrando-se dele. Pela respiração ofegante, estava claro que ele não estava feliz em vê-lo de novo. Tampouco ficou feliz quando Freddy socou-o no rosto, o que o fez derrubá-lo.
Quando Krueger se levantou para tentar fugir, o cadáver cortou as costas dele com seu facão, fazendo-o gritar e cair de joelhos. Em seguida, empalou-o com a arma. Lançou um olhar, com seu único olho, para o grupo; um olhar de aviso, como que satisfeito de ter seu rival em mãos, mas mandando quem o trouxe nunca mais voltar a Crystal Lake. Ou teriam o mesmo destino.
—NÃAAAAAAAAAAAAAAAAO!!!
Essa foi a última coisa que eles ouviram de Freddy. E, fechando o caixão, Jason Voorhees se foi com ele para as profundezas do Inferno.

...

—Foi finalmente encerrada a onda de massacres do assassino de Springwood. Segundo o DPGC, durante esses quatro meses, 50 vítimas, incluindo o herdeiro de Bruce Wayne, Damian, e um atentado a seu mordomo, Alfred Pennyworth; sendo eles as únicas vítimas gothamitas*, além de oito internos não identificados do Arkham. O assassino foi identificado como Frederick Charles Krueger, também conhecido como "Freddy" Krueger, e foi detido por ninguém menos que nosso respeitado Cavaleiro das Trevas, que garantiu a nosso comissário de polícia que Krueger está num lugar de onde "ninguém pode escapar, nem ele mesmo". Os métodos utilizados pelo maníaco não foram revelados por Batman, de forma que...
Bruce pôs a reportagem no mudo; dois dias depois da luta chegar ao fim, Alfred havia se recuperado parcialmente e já estava descansando na Mansão Wayne.
—Você conseguiu, Bruce. Venceu-o.
—Eu sei, Alfred... só não entendo algumas coisas. Por que Freddy me viu como ameaça? Como aquela garota que eu vi no sonho conseguiu me chamar até Elm Street? E o que o Espantalho tem a ver com essa história, já que ele me dopou no meu primeiro encontro com Freddy?
—Não creio que possamos responder essas perguntas agora, mestre Bruce... principalmente essa última. Olhe- retorquiu Alfred, apontando a TV.
Na tela silenciosa, se via a foto de um interno com o rosto desfigurado, numa cela onde estava escrito na parede "Morcego". A legenda dizia:
Espantalho encontrado morto - O ex-químico era um dos oito mortos em Arkham
—Bem, acho que isso encerra tudo, mesmo não respondendo muita coisa. Eu realmente precisava de um tempo para descansar- murmurou Bruce, dando um bocejo logo em seguida.
—O Batman, descansando?- riu o mordomo, surpreso. -Nunca pensei que ouviria isso de novo desde sua primeira missão.
—É... nem eu, Alfred. Depois tenho que agradecer à Destino e à todos que me ajudaram.- Ele subiu as escadas, entrando no quarto. A última coisa que ouviu antes de fechar a porta foi:
—Boa noite, mestre Bruce. Bons sonhos.