Cap 6 – Sangue

Gumball dirigia tranquilamente a kombi que havia pegado emprestado com o Mordomo Menta . Ele e Marshall estavam voltando do Reino Frutinhas, onde haviam ido para buscar uma rara espécie de plantas que Gumball usaria em sua nova pesquisa. Eles ouviam uma música no rádio enquanto iam ao longo do caminho em silencio. Estava de noite e o tempo era bom, o ar lá fora trazia para dentro do carro um cheiro gostoso de terra e estrada. Depois de meia hora o príncipe estacionou a kombi e só então Marshall percebeu que haviam chegado no castelo.

— Valeu pela carona, mas teríamos chegado mais rápido se eu tivesse me transformado em morcego.

— Nem pensar Marshall. Vir voando com você seria assustador, além de que a planta poderia ser danificada.

— O que tem de tão interessante nessa coisa afinal?

— Ela é rara e eu vou pesquisar suas propriedades.

— O que ela faz?

— Ela pode ser aplicada em muitas áreas.

— Então você não sabe o que ela faz. – Disse sarcástico, com seu sorriso zombeteiro.

— Não, eu não sei. Mas vou estudá-la para descobrir se serve pra alguma coisa.

— Então, ela também pode não servir pra nada.

Gumball começou a ficar irritado com o moreno, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele olhou para cima, e viu o céu, a lua e as estrelas.

— Marsh? – Marshall olhou para o céu, e percebeu o que estava chamado à atenção do outro. – É lindo né?

— É... A lua sempre me deixa meio melancólico.

— Por quê?

—Não sei. Acho que é todo o clima que ela cria com a noite, e o silêncio no meio dessa escuridão. Eu me sinto meio... Solitário. – Esse tom triste que o vampiro usava às vezes, preocupava Gumball. Ele sabia que Marshall tinha um segredo, algo doloroso, mas não queria forçá-lo a lhe contar.

— Você não está sozinho. – Gumball esticou sua mãe e a colocou sobre a do vampiro. Marshall nunca se sentia sozinho com Gumball, no entanto, nem mesmo a companhia dele o salvava de seus pensamentos obscuros. O vampiro voltou a olhar para a lua, contemplando-a.

— Isso me dá vontade de compor.

O silêncio voltou a preencher o veículo. O único som era do vento suave lá fora e de grilos nas moitas. Marshall deixou de observar o céu e se concentrou no rosto de Gumball. “Seu rosto fica tão diferente sob a lua. Seus olhos brilham de um jeito único. E, meu coração... Fica... apertado.”

De repente, percebendo os olhos intensos do vampiro sobre si, Gumball virou o rosto em direção a Marshall. Este esticou seu braço e agarrou a camisa do príncipe.

— Vem aqui!

Marshall puxou Gumball para cima de si e o fez sentar em seu colo, colocado as pernas dele ao redor do banco. Marshall o beijou e o envolveu com seus braços. O contato dos corpos os fez terem um forte desejo um pelo outro e o beijo foi tornando-se mais possessivo. Gumball movimentou-se, tentando pressionar seus lábios mais ainda aos de Marsh. Sua movimentação levou a um contato entre os dois que fez com que o peso de Gumball pressiona-se o corpo de Marshall, causando uma reação imediata. Marshall separou-se do outro.

— An? Isso é... – Gumball estava excitado. Ambos ficaram envergonhados.

O vampiro inclinou-se para frente e diminuiu a distância entre seus rostos. Seus lábios delicadamente juntaram-se aos do príncipe novamente Marshall pressionou o outro contra si fazendo Gumball gemer baixinho. Ambos começaram a se abraçar com força e a ofegar com as sensações que seus corpos estavam experimentando. Marshall, já sem ar, afastou-se para poder respirar, Gumball, assustado com o lugar onde estavam e o que estavam fazendo, tentou protestar.

— Nós não podemos...Aqui... – Ele não conseguia falar direito, devido à falta de ar.

— Cala boca! – Disse Marshall sorrindo.

O vampiro pegou o cinto da calça de Gumball, o abriu e o arrancou, em seguida abriu o fecho da calça de Gum.

— Nós não podemos fazer isso aqui, Marsh. No carro, em frente ao castelo! E se alguém nos ver?

— E daí?

—E daí? Eu sou o governante do reino. Tenho que manter uma certa postura, não posso agir dessa forma, como um adolescente cheio de hormônios que não consegue se controlar. Eu tenho uma imagem que preciso manter. Tenho que ser o exemplo pro meu povo e...

Lee continuava a provocar Gumball, beijando seu pescoço e acariciando todo seu corpo. Gumball ofegava e gemia, mesmo estando de roupas. Os vidros da kombi, que estavam fechados começaram a embasar, Marshall colocou suas mãos sobre a calça de Gumball e o apertou, fazendo gritar. Antes que pudessem avançar mais, ouviram alguém chamar:

— Quem está aí? Majestade você está bem?

Rapidamente Gumball saltou do colo do vampiro e voltou a sentar ao seu lado. Mordomo Menta abriu a porta da kombi querendo checar se seu mestre estava bem. Quando viu os dois sentados, com seus cabelos bagunçados, rostos vermelhos e suados e os vidros embaçados, ele se deu conta do que estava acontecendo. Imediatamente ficou constrangido com a situação, da mesma forma que os dois ocupantes do veículo, e tentando disfarçar voltou a falar.

— Desculpe senhor. Ouvi um grito e achei que pudesse estar em perigo.

— Na verdade ele estava. – Disse Marshall achando graça da situação.

Após o momento constrangedor, Marshall e Gumball se despediram. Aquela noite não terminaria como imaginavam. O príncipe entrou no castelo e foi pesquisar sobre sua planta, já Marshall foi em direção a um deserto, num lugar difícil de chegar. Amanhã de manhã era o dia e havia combinado com Gus de prepararem tudo durante a noite e para começarem perto da meia noite os rituais necessários. O vampiro estava com medo, mas convicto de que isso seria o melhor para ele.

...

Marshall chegou ao local combinado, mas Gus não estava lá. Ele ficou sentado em um tronco de baixo de uma estrutura, velha e abandonado, no meio daquele estranho lugar. De repente ouviu em barulho de explosão. Ele tomou um susto e se levantou, quando olhou para os lados não conseguiu ver de onde isso poderia estar vindo.

– Ei!

Marshall virou-se, já em posição de ataque.

— Gus? De onde você veio?

— De um portal. Ele é meio barulhento quando é aberto, foi mal o susto.

— Pare de brincadeiras, temos muito o que fazer.

— Hahaha. Certo, certo. Vamos trabalhar então.

...

Depois de mais ou menos duas horas trabalhando em seu laboratório, Gumball resolveu descansar. Estava cansado e seria perigoso continuar seus estudos, pois poderia cometer algum erro. Ele foi em direção ao seu quarto, pronto para se atirar em seu colchão, mas sua mente flutuava até outra cama. “Está tarde... será que ele está dormindo?” Gumball parou no meio do corredor dos seus aposentos. “Acho que vou até ele. Vou dormir lá, será legal acordar com ele ao meu lado.” Gumball deu meia volta e foi até os guardas bananas.

— Irei sair. Vou passar a noite fora, na casa de Marshall Lee o Rei dos Vampiros, volto amanhã.

— Sim, senhor. – Responderam os guardas.

Gamball chamou Manhã, seu enorme pássaro, montou nele e se dirigiu até a casa de Marshall Lee. Rapidamente chegou no local. Desceu do pássaro e bateu na porta de Lee. Toc! Toc!

— Ahn?

A porta estava aberta. Marshall às vezes fazia isso, saía e deixava-a destrancada. O príncipe já havia lhe dito para não fazer mais isso, mas ele não aprendia ou fingia que não, só para vê-lo irritado.

— Marsh? Você está aí?

Gumball entrou. A casa estava vazia. “Onde ele foi?”. Gumball não conseguia se decidir entre esperar ele voltar ou ir embora, quando tropeçou em uma caixa. A caixa de papelão virou e um montão de papéis se espalhou pelo chão.

— Droga! Se forem letras de música ele me mata. Hahaha.

Gumball se abaixou e pegou uma das folhas, mas não eram músicas.

— O quê é isso?

O príncipe ficou apavorado com o que viu. Aquele era o esquema de uma magia negra antiga. Ele pegou os outros papéis e olhou todos um por um. Eram magias proibidas ou que envolviam forças negras e nefastas. “Por quê? Por quê? O que faz com essas coisas Marshall?”. Gumball tentava entender o que tudo aquilo significava. Ele começou a juntar as informações fragmentadas que havia nas folhas, então ele teve um estalo. Sabia para o que aquilo servia e o pior de tudo, sabia quem havia dado aquilo para Lee.

Gumball correu para fora da casa, montou em Manhã e partiu. Ele precisava achar Marshall e impedir aquilo de acontecer. “Marshall seu burro!”. Durante seu voo, o príncipe começa a repassar em sua mente todas as informações que descobriu, tentando imaginar onde o ritual seria realizado. Infelizmente ele chegou a 3 possíveis lugares, mas não sabia se teria tempo de checar todos. E se ele não estivesse em nenhum dos 3, e sim em outro lugar, o que faria? Lágrimas começaram a encher seu olhos. “Não! Se acalme Gumball. Você tem que agora parar de agir com o coração e ser racional.” Assim ele partiu, em busca de Marshall Lee.

...

Marshall e Gus passaram um bom tempo preparando tudo. Havia sido mais rápido do que imaginavam. O vampiro estava nervoso, mas já havia chegado até ali e por mais que o medo parecesse sufocá-lo às vezes, ele iria em frente.

— Pronto? – A voz de Gus chamou sua atenção. Ele se virou e percebeu que o último detalhe estava pronto. Riscado no chão, um enorme circulo com detalhados desenhos ao seu redor, tanto dentro quanto fora. Em pontos do circulo, havia velas acesas, e vários outros materiais. – Entre no círculo. – Marshall obedeceu. Ele sentou-se no meio e respirou fundo.

— Quais as chances de dar errado?

— Poucas, diria que muito poucas. Agora beba isso e deite no chão.

Marshall pegou o copo com o líquido verde e o encarou. Encostou de leve o copo em sua boca, inclinou até a líquido encostar em seus lábios. Era frio e viscoso, mas não tinha cheiro nem gosto. Assim, ele virou todo o copo de uma só vez e engoliu. Rapidamente deitou-se no chão.

— Vamos!

Gus começou o ritual, Marshall não sentia nada. “Está funcionando? Não estou diferente...” Gus parecia empolgado, até mais que o vampiro. Marshall o observava quando de repente sentiu uma facada em seu peito. Ele tentou puxar o ar, mas ele parecia negar-se a entrar em seu pulmão. A fincada que sentiu no estomago o fez ficar em choque. Ele começou a suar frio e a sentir-se tonto, como se estivesse perdendo sangue. Com muito esforço olhou para frente e conseguiu enxergar seu peito e pernas. Estava tudo ali, sem nenhum arranhão. Então, que sensação era aquela?

– Guusss... – Ele chamou pelo outro, que só o ignorou.

Marshall perdia a consciência aos poucos enquanto seu corpo gritava que iria morrer.

— MARSHALL!!! – Ele sabia bem de quem era aquela voz. “Gumbal? Não pode ser, o que ele faz aqui? Estou delirando?”

Gumball desceu de seu pássaro e correu para dentro do círculo.

— Pare! Marshall, você está bem? Marshall?

As velas brilhavam com um fogo verde anormal, Gumball olhava para Gus furioso.

— Seja lá o que tenha feito, desfaça agora!

— Só estou fazendo o que ele me pediu. – Respondeu Gus, com um sorriso cínico no rosto.

— Ele queria ser mortal, mas isso? Isso vai matá-lo!!

— Não, não vai.

— Ao menos sabe o que está fazendo? Marshall, pode me ouvir? – Marshall não respondia. Seus olhos estavam abertos, mas completamente vazios. – Mar...

— Não atrapalhe príncipe! Ele tomou sua decisão.

— Ele não sabe o que está fazendo. Ele quer ser mortal, mas esse feitiço o tornará um monstro sanguinário. Ele não será mais ele. Você não está o ajudando a ser mortal está o matando!

Gumball pegou uma espada que havia trazido consigo e se preparou para atacar. Gus, pegou um bastão e aproximou-se. Enquanto isso Marshall não conseguia mais ouvir a voz de Gumball, ele apenas ouvia sons abafados. Seus olhos também não lhe mostravam nada, a não ser borrões e manchas. Seu corpo que parecia ter ficado congelado a um tempo atrás agora fervia. Seu sangue corria desesperadamente por suas veias. Seus dentes latejavam e sua mente lhe dizia para caçar. Marshall estava apavorado, sabia que algo estava errado. Ele sentia-se mudar, sentia-se ficar descontrolado e cada pedaço do seu ser gritar por sangue. Sugar somente a cor vermelha de objetos, soava-lhe nojento agora. Ele queria atacar alguém e tirara todo o sangue de seus corpos. “AAAHHHHH!!!” Marshall gritava em sua mente, mas na realidade era só um corpo desfalecido.

Gumball lutava com sua espada contra Gus. Ele estava com dificuldade de lutar, não era acostumado a isso, mas vencer usando a força não era sua intenção. Gumball continuou lutando, às vezes se ferindo e raramente chegando perto do inimigo com sua lâmina. Ele sabia que corpo a corpo não conseguiria, portanto assim que surgiu o momento certo, ele colocaria seu plano em ação. A primeira vez que Gumball acertou sua espada de raspão em Gus, ele aproveitou o momento de distração do outro e usou uma de suas invenções para criar um raio de luz cegante. Gus, sem poder enxergar Gumball que usava um óculos que lhe permitia ver através da intensa luz, ficou perdido em meio a luta. O príncipe, cuidadosamente se aproximou do seu adversário e jogou contra ele outra de seus invenções, buraco negro portátil. Gus não teve tempo de reagir e foi sugado para dentro dele. Exausto e ferido, Gumball correu até Marshall.

— Marshall! Vamos reaja. – Gumball sacudia o vampiro em seus braços. – O que eu faço? Hu! Já sei!

No entanto, antes de poder tomar alguma atitude, Marshall se ergueu e avançou contra o príncipe. Por reflexo, Gumball levantou seu braço e Marshall o mordeu. Seus dentes cravaram na pele e a perfuraram. Gumball gritou e segurou os cabelos de Lee.

— Solta! O que está fazendo?

Mas, seja lá o que estivesse ali, naquele momento, não era o Marshall Lee que ele conhecia. O sangue começou a escorrer de seu braço e ele sentiu ele ser sugado. Um pavor tomou conta de Gumball, ele pegou sua espada, que estava jogada no chão ao seu lado e a manejou contra Marshall. O vampiro rapidamente se afastou, mas colocou se em posição de ataque novamente. Seus olhos vermelhos só mostravam agressividade e sua boca suja de sangue o tornava um monstro assustador. Aquilo era o que Gumball temia. Ele mal conseguia se mexer. O medo o paralisava diante do vampiro que o fitava intensamente.

—___Continua______