Quinze minutos depois, lá estava eu, descendo da moto enquanto cantarolava uma música do One Direction que tocava alto na minha casa. Obviamente, Daniel teve que fazer umas manobras arriscadas entre os carros parados da sempre tão engarrafada Avenida Paulista e algumas outras, já que estávamos em horário de pico. Mas isso ninguém precisa saber.

– Acho que você está cinco minutos adiantada. – O motoqueiro comentou, enquanto endireitava meu cabelo bagunçado por causa do capacete.

– Muito obrigada pela...terceira vez que você me salva? – Falei, fazendo soar mais como uma pergunta. Ele riu.

–Estou pensando seriamente nessa ideia de cobrar...- Brincou, se aproximando de mim e me dando um beijo rápido.

– Tem certeza que não quer entrar? – Perguntei, separando o beijo.

– Acho que pela cara daquela mulher ali na porta, se eu entrar eu nunca mais vou sair. – Apontou com a cabeça para algo atrás de mim e eu segui com olhos, encontrando minha mãe em pé perto do batente da porta de entrada.

– Ah, é só a minha mãe. – Dei de ombros, rindo. – Ela parece malvada, mas é gente boa.

– Gente boa igual você? – Zombou e eu lhe dei um tapa no ombro. – To brincando, calma! Mas eu realmente não posso lindinha, tenho compromisso.

– Ok né. – Fiz bico, fingindo estar chateada. Mas logo o desfiz. – Vou entrar então, antes que “a mulher ali na porta” perca a paciência e venha me arrastar pelos cabelos até em casa. – Daniel concordou com a cabeça, rindo. – Obrigada por ter me ajudado hoje. Você sabe muito bem como distrair uma pessoa.

– Eu sei. – Riu e eu o dei um selinho. Em seguida ele colocou o capacete, acelerando a moto. – Até segunda, Milena.

– Até, Senhor Daniel. – Sorri maliciosa, me afastando. O homem sorriu de volta e acelerou a moto, indo embora.

Suspirando, comecei a caminhar até a porta de casa. A cada passo que eu dava, a expressão da minha mãe de “explique-se” aumentava.

– Não pergunte. – Pedi ao passar por ela. Dando de ombros, veio atrás de mim.

– Mariana estava preocupada com você. Vá mudar de roupa e depois tente mostrar pra ela que você também sabe ser uma boa irmã. – Mandou, assim que entramos em casa. Aquilo ali estava uma bagunça. A sala de estar havia sido transformada em um salão, aonde várias crianças brincavam. Perto da parede, uma mesa grande continha um bolo e várias guloseimas. Havia uma pequena discoteca no centro, com luzes coloridas e efeito de fumaça. Sorri pra minha mãe.

– Fez um bom trabalho.

– Eu não, a decoradora. – Ela respondeu fazendo careta, e eu dei uma risada. Enquanto andava em direção à escada, avistei minhas amigas e acenei pra elas. Minha irmã passou por mim correndo e eu a segurei pelo braço, fazendo-a parar.

– Feliz aniversário, pirralha! – Exclamei, lhe estalando um beijo na bochecha. Ela bufou.

– Não enche, Milena. – Respondeu, limpando a bochecha com a mão e voltando a correr. Balancei a cabeça, rindo sozinha. Subi até meu quarto e tomei um banho rápido, colocando um vestidinho florido e amarrando o cabelo num rabo de cavalo alto. Pronta, desci novamente e me aproximei de Laura e Gabi, que conversavam animadamente sobre algo.

– Milena, onde você esteve? Eu te liguei a tarde toda! – Gabriela exclamou, assim que parei ao lado delas.

– Estava trabalhando, oras. – Sorri inocentemente. Laura me olhou desconfiada.

– E essa cara ai é por que estava trabalhando? Te conheço há anos, garota, desembucha! – Ordenou, me fazendo rir.

– Ah, bom, eu trabalhei, mas estava em outro lugar nas últimas duas horas. – Expliquei, quase sussurrando pra que nenhum outro conhecido meu escutasse. Principalmente o meu pai, que devia estar rondando por ai.

– E onde você estava? – Gabi praticamente gritou, e eu lhe lancei um olhar reprovador. – Desculpa! Mas fala logo, Lena, onde você estava nessas últimas duas horas?

– Eu estava no shopping. Com o meu chefe. – Abaixei alguns tons e elas me encararam, surpresas. – Olhos azuis, loiro, alto, 25 anos, advogado formado.

– Nossa, e a gente aqui achando que você estava na pior. – Laura brincou, bebericando seu refrigerante.

– Também, depois da última que o Antonio aprontou eu precisava de um consolo, né?

– Menina, até agora eu não acredito! Eu sempre soube que o Antonio era desmiolado, mas não tanto. – Gabi falou, se virando pra gente. E logo o assunto mudou totalmente pra história do novo papai de São Paulo.

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– Toc toc. – Bati na porta entreaberta do quarto de Mari, um tempo depois da festa ter terminado. – Tem alguma aniversariamente malinha aqui?

– Entra, Milena. – A voz dela respondeu, risonha.

– Vim entregar o seu presente. – Sorri, sentando-me na sua cama em frente a ela e lhe entregando o embrulho.

– O que é? – Perguntou, curiosa. Eu dei uma risada.

– Abre pra ver. – Falei e logo ela começou a rasgar o embrulho. Quando terminou, olhou pro presente admirada. – Gostou?

– Lena, é um kit de maquiagem? – Assenti e Mariana me abraçou forte. – Eu adorei, adorei!

– Que bom que gostou. – Ri, a abraçando mais apertado. – Ganhei o meu primeiro kit quando tinha mais ou menos a sua idade, então achei que já estivesse na hora.

– Me maquia? – Pediu, quando me soltou. Eu respirei fundo.

– Está tarde, Mari...

– Por favor! – Insistiu, piscando os olhinhos castanhos. – Eu quero saber como é.

– Tudo bem, mas só um pouquinho, ok? – A encarei e ela assentiu. Suspirando, abri a caixinha, pegando uma base que estava ali dentro. Comecei a passar calmamente no seu rosto, e Mariana sorriu com a sensação.

– É engraçado. – Comentou, me fazendo rir. Guardei a base e peguei o rímel, passando bem pouquinho nos seus cílios. Ela reclamou bastante nessa parte. Passei um blush rosado nas suas bochechas, e então um gloss transparente.

– E essa é você maquiada. – Virei-a pra que pudesse se ver no espelho da penteadeira. Mari arregalou os olhos.

– Eu estou... Bonita. – Afirmou, se encarando.

– Mariana, você é bonita! – Briguei de repente, a fazendo rir.

– Pode me maquiar amanhã? – Se virou pra mim, ignorando totalmente o que eu havia dito anteriormente.

– Claro que posso. – Sorri, mas ficando séria em seguida. – Agora vai tirar essa maquiagem e ir dormir, senão amanhã você acorda parecendo um panda!

– Sim senhora! – Bateu continência e saiu correndo pro banheiro. Rindo, balancei a cabeça, guardando o kit de maquiagem e seguindo até o meu quarto.