POV. Susana.

O cavalo relinchou apoiando-se apenas nas patas traseiras.

- Ah! – arfei quando caí do mesmo. Do chão pude ver Caspian lutando com uma das ninfas, levantei devagar para ajuda-lo quando senti um chute na barriga fazendo-me cair novamente. Ofeguei antes de olhar para cima e ver a garota de compridos cabelos marrons sorrindo cínica para mim. Num movimento rápido cravei a ponta da flecha que segurava em seu pé, pregando-o no chão. Ela gritou de dor. Ergui-me arrancando a flecha de seu pé e enfiando-a em seu peito. Ela caiu sem vida.

Puxei outra flecha da aljava em minhas costas, posicionei-a no arco, mirei e atirei atingindo outra ninfa. Repeti esse ato varias vezes e, junto com Caspian, derrubei todas elas. Ofeguei levemente, toquei o ponto que doía em minha testa e meus dedos voltaram sujos de sangue. Caspian embainhou a espada e sacudiu a mão que sangrava um pouco.

- Deixe-me ver. – pedi segurando sua mão machucada delicadamente. Havia um golpe na mesma.

- Su, você está sangrando... – observou ele, preocupado. Ergui os olhos para os de Caspian e sorri de leve.

- Você também. – acusei. Ele me encarou. – É verdade... – defendi-me – Além disso, é só um corte superficial... – dei de ombros.

- Não estou falando desse corte pequeno em sua testa, Su, mas do da sua perna. – explicou. Só então percebi que a tal perna (a direita) ardia. Olhei para ela e vi o rastro de sangue que descia pela saia do vestido. Balancei a cabeça negativamente. Enrolei a mão de Caspian com o pedaço que ele me entregara de sua camisa.

- Vai ter que lavar esse corte no primeiro riacho que a gente encontrar. – orientei. Caspian uniu as sobrancelhas. Sentei para cuidar de meu corte tentando o máximo possível mostrar que estava tudo bem mesmo com o sangramento deixando-me fraca.

Rasguei a saia do vestido. Caspian se ajoelhou ao meu lado. Não era um golpe profundo, nada que não sarasse em algumas semanas. Só espero que não fique nenhuma cicatriz... Mordi o lábio inferior analisando as possibilidades de isso acontecer. Senti Caspian olhar para o corte e depois para mim.

- Está tudo bem? – perguntou ele.

- Hum? – acordei. – Ah, claro, está sim. Acho que não é nada grave. – sorri amarelo. Caspian uniu as sobrancelhas.

- Ok... – ele estava desconfiado. Olhei em volta.

- Por que será que elas nos atacaram? – perguntei baixo.

- Não faço ideia, mas mesmo assim não é seguro para nós continuar sozinhos no bosque. – respondeu ele.

- Talvez, mas não temos ideia da localização deles. – lembrei.

- É... – Caspian adquiriu uma expressão pensativa. Olhou para o céu. – Podemos nos guiar pelas estrelas, não vai demorar muito para elas aparecerem... – continuava olhando para cima. Encarei-o. – O que?

- Estrelas...? – sim, eu estava zangada.

- Sim, estrelas, aqueles pontinhos brilhantes que aparecem lá em cima depois que o sol se põe... – brincou. Cruzei os braços estreitando os olhos. – Ah... – ele sorriu como se compreendesse. – Você está com ciúmes, Susana? – provocou, ergui as sobrancelhas de um jeito indiferente.

- Ciúmes de que? De um vagalume? Faz favor, Caspian... – rolei os olhos, desviando o olhar para o bosque.

- Você está com ciúmes. – acusou ele, deliciando-se.

- Não, não estou. – olhei-o de um jeito indiferente.

- Então porque está fazendo caso quanto às estrelas? Ou melhor, contra uma estrela em especial... – ele se interrompeu percebendo que a palavra “especial” deu outro sentido ao que ele quis dizer. Arqueei uma sobrancelha agora sim irritada por que foi no exato outro sentido de “especial” que eu entendi a frase.

- Quem diria, heim?! Especial... – sorri sem humor.

- Susana, escute... – Caspian foi interrompido por uma luz azulada. Do céu descia por entre as arvores uma estrela azul. A luz se insificou e ao diminuir revelou uma moça.

- Ah, que maravilha, ela lê mentes! – falei com um cinismo obvio ainda sorrindo sem humor. Caspian olhou para mim com as sobrancelhas unidas, não em tom de repreensão, mas de preocupação. Levantei-me sozinha, buscando apoio no tronco da arvore antes que Caspian tentasse me ajudar. Ignorei a leve tontura que me ocorreu.

- Caspian, quanto tempo! – a loira aproximou-se dele em passos largos, segurou-o pela camisa e alcançando seus lábios. Minha boca abriu-se num “o” e Caspian a empurrou para trás.

- Hm... Er... Pois é, muito tempo. – com jeito ele se desvencilhou dela. Mordi o lábio inferior tão forte que senti o gosto de ferro na boca, serrei as mãos em punho com as unhas furando as palmas das mãos.

- Rainha Susana, está ferida... – ela observou se aproximando de mim.

- Não, não precisa. – falei – Eu vou ficar bem.

- Susana... – começou Caspian.

- Hum? – olhei para ele. Caspian entendeu meu olhar.

- Deixa para lá.

- Tem certeza, majestade? – perguntou a estrela.

- Absoluta. – falei séria tentando demonstrar que nada acontecia quando tudo ao meu redor rodou de novo.

- Sendo assim, é melhor irmos logo. – disse ela.

- Para onde? – perguntou Caspian.

- Vim guia-los até os outros para de lá seguirem até meu filho... – disse ela.

- Seu filho? – perguntou Caspian.

- Sim – disse a moça sem entender. – Rillian.

Caspian ficou pálido e eu perdi meu chão.