Back To The Dream.

Para sempre, não importa o que aconteça.


Impedi ferozmente as lágrimas de escaparem. Não, eu não vou chorar. Não na frente dela!

- Temos que ir logo! – ela falou como se nada tivesse acontecido, seguindo para o bosque. Controlei minha respiração, larguei a saia do vestido a qual minha mão estava agarrada e marchei em direção a minha égua, subi num impulso só ignorando a dor em minha perna. Instiguei a égua na direção em que a estrela foi antes que Caspian falasse alguma coisa. Pelo canto do olho pude vê-lo subir em seu cavalo e me seguir.

Fui à frente com o cavalo a galope seguindo o brilho oscilante da estrela azul, secando rapidamente algumas lagrimas que escapavam de vez em quando. O que eu fiz para merecer isso, Aslam? O que?

O silencio que reinava ali era profundo e o único barulho que eu ouvia era o som dos cascos dos cavalos esmagando as folhas secas. Meu coração estava compactado, mal conseguia bater e a ardência em minha perna era insignificante. Agora tinha uma dor maior em mim.

[...]

Nós a seguimos por horas pelo bosque iluminado apenas pela luz que emanava dela. A noite continuava horrível. As tonturas pela perda de sangue estavam mais frequentes. Sim, o corte não era profundo, nem grande, mas havia sangrado bastante, além da forte dor interna que eu sentia. Diversas vezes tive que apertar as mãos à rédea, agarrando-me a ela, para não cair do cavalo em movimento.

Devia ser por volta de meia noite quando Lilliandil parou. Disse que só poderia nos acompanhar até ali, tinha outra missão a cumprir naquele momento, um quilometro mais a frente havia um vilarejo onde podíamos passar a noite já que não era seguro continuar a viagem àquela hora, continuaríamos pela manhã seguindo para Oeste. Por fim ela disse, um “tenha cuidado e salve-o” para Caspian e logo voltou ao céu.

Seguimos a galope em silencio e, como ela havia dito, encontramos um vilarejo que mais parecia uma cidade, não pelo tamanho, mas pela infraestrutura. Em uma pequena casa de três andares funcionava uma pousada e ainda estava aberto. Iriamos passar a noite ali.

Caspian foi falar com o dono, um homem idoso que ficou eufórico ao receber em sua pousada um Rei e uma Rainha de Narnia. Fez breves perguntas sobre Rillian, mas logo tratou de providenciar um quarto.

Havia uma cama no centro do cômodo, de frente para uma lareira acesa com seu fogo quebrando o frio que fazia, tinha uma poltrona de frente para a lareira, uma janela com pesadas cortinas, um banheiro, uma mesa com pena e tinteiro e um divã abaixo da janela. Um raio cortou o céu e a grossa chuva despencou.

Tomei um banho antes de Caspian e sentei no divã para fazer um curativo em minha perna vestindo apenas a comprida, fina e branca roupa eu usava por baixo do vestido. Quando terminei, recostei-me no único braço do divã observando a chuva cair do lado de fora, deixando a mente vagar. A lembrança que chegou primeiro foi a da noite da véspera do casamento com Johnny, quando Caspian foi até meu apartamento entregar meu vestido de noiva e tudo o que aconteceu depois naquela noite de sexta-feira 13 com lua cheia... Sorri. A noite mais feliz da minha vida foi justamente em um dia que todos dizem dar azar.

Lembrei-me dos lençóis bagunçados, a luz da lua cheia iluminando-nos, o toque quente de Caspian, seu beijo doce, seu abraço envolvente...

Suspirei. Começo a me perguntar se não teria sido melhor aquele casamento ter acontecido...

Caspian saiu do banho usando apenas sua calça marrom, tirando-me de meus pensamentos.

- Sua perna está melhor? – perguntou ele sentando na beira do divã, de frente para mim.

- Aham. – soltei com o ar. - Graças à Aslam parou de sangrar... E a sua mão?

- Vai ficar boa... – falou movendo a mesma que estava envolta em bandagens que cobriam o corte assim como minha perna. Silêncio. Voltei a me distrair com a chuva. – Eu não sei o que dizer, Su... – sussurrou ele, olhando para baixo. Demorei alguns segundos para falar.

- Talvez não haja o que dizer. – respondi calmamente.

- Isso não faz sentido! – disse ele. – Eu não sinto nada pela Lilly e Aslam não me deixaria ir até você se depois...

- Lilly? Nossa... – pus uma mecha de meu cabelo para trás da orelha e fiquei olhando para minhas mãos. Meus olhos arderam. – Eu já vou dormir, amanhã vai ser um dia cheio... – levantei caminhando para a cama. Caspian levantou logo atrás de mim e segurou meu pulso. Eu não queria virar para ele por causa das lagrimas que escaparam, mas sabia que não poderia evitar.

- Fala alguma coisa, Su... – pediu ele, mas eu não sabia o que dizer.

- Falar o que, Caspian...? – minha voz, embora calma, saiu embargada. Ele me contornou, parando a minha frente.

- Não me deixe sozinho agora, Su... Eu... Eu não sei o que fazer, eu não esperava por isso, eu... Eu estou desnorteado... – seus olhos estavam marejados e suplicantes.

Eu podia simplesmente ignorar afinal eu já tinha dores suficientes com que me importar, mas eu amava Caspian demais e tudo o que eu sinto torna-se insignificante quando ele precisa de mim.

Sem pensar duas vezes saltei em seu pescoço, envolvendo-o com os braços e as pernas sua cintura. Caspian me abraçou forte.

- Eu te amo, Caspian, e vou amar para sempre, não importa o que aconteça... – eu chorava. Ouvi Caspian soluçar.

- Eu te amo, Su, mais do que minhas palavras ou gestos possam expressar... – pela sua voz pude perceber que havia lagrimas em seu rosto.

Afastei meu tronco de Caspian de modo que eu pudesse alcançar seu rosto com meus lábios. Segurei sua face delicadamente entre minhas mãos e beijei-a sentindo o gostinho salgado causado pelas lagrimas dele. Finalmente cheguei a seus lábios.

Era um beijo cheio de pressa, como se o mundo fosse acabar e aquele fosse nosso ultimo momento juntos.

Quando dei por mim estávamos entre os lençóis bagunçados novamente e ali, em seus braços, eu estava de volta ao meu sonho.