Depois da janta no simples bar, os rivais e a criança serelepe andavam tranquilos pelas ruas de Ikebukuro. Sim, Ikebukuro, a cidade mais perigosa de todas, onde tudo aparece e desaparece no mesmo dia. Eles não precisavam ter medo algum, eles eram um dos motivos, ou melhor, uma das justificativas para que aquela cidade tivesse essa fama de misteriosa e violenta.

"O que tem de errado com você?", Shizuo se perguntava porque diabos havia cedido sua casa para aquele menino que nem conhecia e para Izaya, que era o próprio capeta na terra, mas o que mais o indignava era o fato de não estar arrependido dessa decisão, ele não sentia raiva alguma, chegava a forçar para não precisar admitir que seu maior inimigo não lhe proporcionava mais tanto ódio como antes.

— Mãe, eu tô com sono - Informou o menino que esfregava os olhos com suas pequenas mãos.

— Mãe?! - Confuso, Izaya olhou para o garoto - Você encontrou ela? Onde ela está? - Olhou para os lados tentando encontrar alguma mulher de meia idade que fosse parecida o suficiente com Louwae para ser mãe dele.

De repente, o loiro começou a rir.

— Do que você está rindo?- Perguntou o moreno com a testa franzida.

— Pulga... - O ex-barman não conseguia parar de rir - É que...

— O que?! O que?! Fala logo!!

— A mãe é você! - Shizuo soltou uma gargalhada estridente que estava segurando.

— Como é que é?! - Inconformado com o que acabara de ser chamado, cerrou os olhos encarando o garoto que permanecia com uma "expressão de nada" diante da situação.

— Você não é minha mãe? Eu pe-pensei que você fosse minha mãe - Explicou receoso com medo do que o maluco do informante a sua frente pudesse fazer.

— Eu tenho cara de quem gosta de criança? - Perguntou retoricamente se aproximando para amedrontar a pequena criatura que se encolhia - Ao menos tenho cara de mulher?

— Tem... por isso achei que fosse minha mãe - Respondeu - Porque além de estar cuidado de mim, tem cara de mulher.

— Chega! Se não posso matá-lo... eu te abandono - Izaya saiu de perto de Louwae - Eu vou embora. Shizu-chan, ele é todo seu - Antes que pudesse se retirar, foi impedido por Shizuo que se enfiou na sua frente - Shizuo, por favor, eu não sirvo pra isso.

— Você ao menos parou pra pensar que se ele te chamou de mãe é porque gosta de você.

A vontade de abandonar e deixar a criança por conta do loiro sumiu no instante em que ouvira aquilo. Uma criança o amando como uma mãe em tão pouco tempo? Seu coração amoleceu. Izaya sabia que ninguém sequer no mínimo gostava dele. Ele sabia que precisava de amor e carinho, porém, admitir isso era difícil. Seu orgulho chegava a ser maior do que a vontade de observar humanos.

— Está bem - Cedeu.

— Está bem o que? - Questionou o ex-barman.

— Eu vou ficar - O informante estava com os olhos baixos encarando um ponto fixo qualquer.

— Fico feliz - Disse Shizuo simplesmente com um leve sorriso.

O moreno arregalou os olhos incrédulo com o que foi dito - Você?! Feliz?!

— Não me pergunte como isso aconteceu. Fim de papo - Barrou antes que o falatório de indignação da pulga viesse à tona - Vamos pra casa.

— Pai, eu tô quase caindo de sono - Avisou o garoto esticando os braços para o loiro - Colo!

O instinto de irmão mais velho tomou conta do maior. Segurou a criança com todo cuidado de um pai.

— Isso é tão bom...

— O que é bom? Dormir ou meu colo?

— Ter uma família - A última frase da criança antes que adormecesse.

"Família", isso ecoou pela mente de Izaya por alguns bons segundos. Ele tinha uma, todos têm, mas isso não significava que ela agia como tal. Seus pais o abandonaram, e pensando nisso, foi então que percebeu, que a situação dele não era muito diferente da de Louwae. Os dois estavam a procura de uma família. Precisavam. E lá estavam eles, formando uma.

O moreno estava extremante desconfortável diante daquilo, família era algo novo para ele, porém, não pôde evitar um sorriso acompanhado de olhos lacrimejados. Preenchia o vazio que sentia a tantos anos. Isso era bom demais.