Uma mulher em seus pouco mais de 30 anos atendeu. Ela tinha poucas rugas do rosto, estava grávida e usava roupas marrons.

– Sim? – Perguntou com a voz terna e calma, tinha um tom materno que fez Zara pensar, imediatamente, em Tera.

– Boa noite, estamos procurando por Tenzin. – Disse a garota um tanto hesitante. A mulher sorriu e soltou um suspiro cansado.

– E quem não está, certo? – Falou e riu um pouco. – Vamos, entrem. – Chamou entrando na casa com passos lentos e cansados. – Tenzin, é pra você! – Avisou elevando um pouco a voz.

A casa era simples, espaçosa e confortável. Tinha dois andares e candeeiros para todos os lados. A sala de estar onde estavam era aconchegante, tinha uma lareira com dois sofás simples e um corredor podia ser visto na parede do lado direito.

– Mas hoje eu não... – Ouviu-se uma voz masculina e muito grave vindo de um corredor ali perto, para então olhar para o trio visitante. Tenzin era um homem alto e careca, mas que usava uma barba pontuda que contrastava com os olhos profundos. Usava roupa em tons de marrom, assim como a sua esposa.

– Algo me diz que esta é uma visita especial. – Ele falou endireitando a postura.

– Tenzin, é um prazer muito, muito grande te conhecer. – Falou Zara com os olhos brilhando.

– Quem sabe eu não possa dizer o mesmo se você puder se apresentar, mocinha. – Ele respondeu num tom cuidadoso e interessado, apertando a mão de Zara com firmeza.

– Me desculpe. – Pediu envergonhada. – Meu nome é Zara, e estes são Gumo e Avalon. Eu e Gumo viemos da Tribo da Água do Norte, e Avalon é...

– Da nação do fogo. – Completou Tenzin. – Isso eu vejo com clareza. – Completou virando-se para Pema com carinho e pousando a mão nas costas da mulher. – Querida, se importa de fazer um chá para conhecermos melhor nossos visitantes? – Perguntou e logo ela foi, sem mais delongas.

Não demorou mais de vinte minutos para que Pema chegasse com uma bandeja. Havia quatro xícaras e um bule, e assim que ela depositou a bandeja na mesinha de centro ela se despediu dos visitantes, deu um beijo terno no marido e foi, lentamente, casa a dentro, pronta para dormir.

– Então, por onde começam? – Perguntou Tenzin pouco antes de tomar um gole do chá. Os três se entreolharam e logo Zara decidiu contar toda a história.

– Quando eu tinha doze anos eu comecei a ter sonhos com Tuí e La. – Começou. – Eu frequentava a academia de Dobra d’água para mulheres, mas Tuí e La me convenceram de que eu podia fazer mais. Me contaram que eu era adotada, e me fizeram ir a seu encontro e me disseram uma senha para que Yue me deixasse entrar no oásis espiritual. Eu passei um bom tempo lá até finalmente conseguir entrar no mundo espiritual e encontrar os dois espíritos...

– Está me dizendo que... – Tenzin interrompeu por um instante, trocando um olhar com Zara. Estava surpreso, mas completamente satisfeito. – É uma honra imensa, Zara. – Falou por fim vendo um sorriso alegre no rosto da garota. A jovem avatar terminou de contar toda a história, excluindo ao máximo suas relações com Airon e Gumo, e parando de contar a história no momento em que chegara a Muraoka.

– Ah, uma mulher aventureira, aquela Muraoka. – Comentou Tenzin ao ouvir o nome dela, e logo não mais interrompeu. Zara contou sobre o teste de dobra de ar e de fogo, e observou Tenzin encarar Avalon por algum tempo.

– Então devem estar cansados. – Comentou levantando-se. Passava da meia noite e as xícaras estavam todas vazias. – Acredito que queiram descansar, e eu ficarei imensamente honrado em poder acolhê-los em minha casa. Tenho um quarto para vocês. – Falou olhando para Gumo e Avalon. – E um... lugar... que eu gostaria de mostrar para você, Zara. E Sozen, é claro. – Completou e a viu assentir. O grande Tigre-Leão levantou-se com elegância e assentiu em agradecimento.

Levou os dois rapazes para um quarto de hóspedes e Zara para o santuário montado para o Avatar Aang. Era uma saleta repleta de velas onde um retrato antigo do Avatar Aang podia ser visto. Ao lado do retrato, num canto de parede estava um objeto que Zara imediatamente reconheceu.

Ao ver o olhar da garota preso ao objeto, Tenzin sorriu.

– Sempre me perguntei se reconheceria. – Falou. Tratava-se do planador antes usado por Aang. – É seu se quiser. – Disse um tanto hesitante e oferecendo o planador para Zara.

– Não, é uma herança de família. Não me pertence. – Ela negou alisando com calma a juba negra de Sozen. Tenzin sorriu e colocou o planador de volta no lugar.

Zara dormiu no mesmo quarto que Gumo e Avalon, e ficou feliz em ter uma noite calma e confortável. No dia seguinte Tenzin apresentou o trio para a sua família. Jinora era uma garotinha pequena e cheia de energia, muito inteligente para a idade, por volta dos oito anos, e repleta de curiosidade. Pema era uma mulher encantadora daquelas que parecem ter nascido para a maternidade, coisa que despertava certa nostalgia nos três.

Tenzin, com toda a gentileza do mundo, pedira para Zara que dobrasse ao menos dois elementos diante dos olhos dos três, e ela assim o fez, com água e fogo. O Nômade do ar estava satisfeito, mas era contra a busca de Zara pelo que quer que estava fazendo dobradores de fogo desaparecerem.

– Dobradores de todos os elementos somem todos os dias, - dizia o sábio. – não vejo razão para alguém, em sã consciência, sequestrar ou matar apenas dobradores de fogo. – Concluía sempre.

– Não podemos falar pela sanidade de alguém. – Era a resposta sábia e intensa de Gumo, que calava Tenzin e deixava todos a pensar.

O nômade do ar parecia fascinado com Sozen cada vez que a via, e sentia o Tigre-Leão cobrar algo que ele mesmo não podia explicar. Via Jinora acariciar os pelos do grande animal, mais de duas vezes mais alto que a menina, e sentia uma pontada de preocupação, Sozen esperava algo dele.

Só então o homem lembrou-se de algo importante. Era o segundo dia do grupo acolhido por Tenzin, quando ele decidiu leva-los a um lugar útil.

A biblioteca era agradavelmente aconchegante, com boa iluminação e mesas livres para todos os lados. Tenzin parecia muito orgulhoso de tê-la mantido intacta.

– Zara, tenho certeza de que Muraoka fez um bom trabalho, mas não se importaria se eu a testasse, não é? – Perguntou com um sorriso terno enquanto observava atentamente a reação dela.

– De modo algum. – Foi a resposta da menina. Tenzin pediu que Gumo e Avalon não os acompanhassem e guiou Zara até a laje de sua casa. Estava com um pergaminho em mãos, mas não parecia fazer menção de abri-lo.

Sozen os acompanhou de longe, parecia sábia demais para se preocupar com a conversa dos dois.

– Poucos anos antes de me pai morrer ele fez uma descoberta. – Começou a falar. – Como se tivesse destrancado uma habilidade, Avatar Aang descobriu algo e eternizou tal coisa aqui. Zara, eu quero que entenda, decifre, e não conte a ninguém. – Entregou-lhe o pergaminho imaginando Avatar Aang tocando-o. – Um conhecimento do Avatar, que fique com o Avatar. – Concluiu e retirou-se quando a garota segurou o pergaminho.

Zara o abriu encontrando uma espécie de mapa arquitetônico, ou planta baixa, de uma construção enorme parecida com uma pirâmide. Pensou imediatamente em chamar Gumo para ajudar-lhe com aquilo, mas lembrou-se das palavras de Tenzin para entender e decifrar sozinha.

Voltando à biblioteca, Zara encontrou Gumo e Avalon discutindo debruçados sobre um jornal do Reino da Terra. Ela se aproximou lentamente com o pergaminho em mãos, mas os dois sequer notaram o pedaço de papel.

– Zara, precisa ver algo! – Chamou Gumo que logo começou a ler uma matéria específica do jornal.