Zara posicionou-se de lado para Avalon e com as mãos atrás das costas enquanto encarava o pergaminho a sua frente.

5553881 barra 10.

Ela repassou mentalmente. Sabia que ele usaria o 3, mas o 1 e o 10 a amedrontaram um pouco. Fitou atenciosamente os que lhe pareciam mais difíceis para memoriza-los. Na dobra de fogo, aquele era o seu único momento para olhar e memorizar os movimentos.

Afastou os pés, o direito um pouco para o lado e à frente, e o esquerdo para trás, também inclinado. Zara chutou com o pé direito, saltando para trás enquanto chutava com a canela esquerda, pousando o pé direito. Apenas o pé esquerdo emanou a chama que se lançou a poucos metros. Antes mesmo de colocar o pé esquerdo no chão, usou-o para se impulsionar e repetir o processo, desta vez lançando o fogo com o pé direito, até repetir mais uma vez, para a direita. Ao pousar com os dois pés, no chão, Zara não pode pensar muito.

3

Lembrou rapidamente.

Havia concluído o “555” com o corpo de lado para Avalon, que a observava atentamente. Numa fração de segundo, ela precisava continuar a sequência. Chutou com o pé direito no canto esquerdo de sua visão, o mais longe que pôde, para então descer o chute num espiral em volta de seu próprio corpo, em 360 graus, que criou uma tempestade de chamas que girava ao redor da garota seguindo a direção de seu pé, terminando com o corpo todo abaixado e a perna direita rente ao solo.

Para Muraoka e Gumo, aquilo havia sido algo fenomenal de presenciar, era como um magnífico espiral azul que dançava ao redor de Zara.

Mal terminara o número três e foi, com orgulho, para seus preferidos: os oitos. Ela se apoiou na perna direita que antes estava rente ao chão, e levou uma mão diante da boca com a palma para cima, como se olhasse para algum animal indefeso. Mas ao invés de animal, ali surgiu uma chama que foi mantida jorrando, como se saísse de sua boca. Era como se Zara fosse um dragão. Sustentou a chama por dez segundos antes de trocar de mão e a perna em que se apoiava, e repetir o processo para o outro lado.

Cruzou os braços diante de seu corpo, com os punhos em lâminas quase tocando nas orelhas. Em seguida, abriu com ferocidade o braço esquerdo lançando para trás do corpo e criando uma lâmina comprida e poderosa de fogo que propagou por quase seis metros ao lado esquerdo de seu corpo. Tal lâmina mal chegara na metade do percurso quando ela cortou o ar também com a mão direita, criando uma outra lâmina que se propagou até amis que a primeira, porém para o lado contrário.

Finalmente chegara a barra. Numa sequência de dobra de fogo, ao menos para Avalon, uma barra significava uma breve pausa de dez segundos para respirar e se posicionar para a seguinte habilidade. Zara pôs-se de frente para Avalon e com os pés alinhados aos ombros.

Quando os dez segundos se passaram, Zara fechou os olhos e levantou a mão direita diante de seu corpo para então incliná-la para a direita, e começar a usar a esquerda para seguir com movimentos quase aleatórios no ar. Não havia fogo algum, e a menina fazia movimentos quase loucos, um pouco toscos, que apenas Avalon estava entendendo e admirando com uma chama, quase literal, no olhar.

Depois de terminar os movimentos manuais, abriu os olhos com certa ferocidade e soprou uma chama no ar onde antes estava, supostamente, desenhando. Naquele espaço Zara havia criado uma corrente de chi que a chama seria induzida a seguir, e o fez, criando a imagem nítida, detalhada e inacreditável de um grande dragão azul. Zara começou a dobrar a chama diante de si, controlando o dragão com maestria.

Fazia movimentos cumpridos e bem marcados, se chutava para a direita o dragão seguia naquela direção, como se atacasse um alvo invisível, e assim se seguia para todos os outros movimentos que começara a fazer.

Zara repetiu toda a sequencia mandada por Avalon, com o auxílio do enorme dragão de fogo. Quando lançava lâminas, o dragão cuspia fogo para a mesma direção. Quando a garota fez o espiral ao redor de seu corpo, o dragão parecia dançar com ela repetindo o mesmo movimento que as chamas haviam feito.

Por fim, Zara dobrou o dragão de fogo para o céu e o trouxe de volta com a bocarra aberta, pronta para engoli-la, e quase o fez, se as chamas não tivessem desaparecido antes de encostar nela.

Terminou a sequência arfando intensamente, mas sentia que havia corrido tudo bem e confirmou o pressentimento ao ver Avalon encará-la sorridente. Ele se aproximou da menina e a abraçou, sendo bastante limitado com os gestos, já que Muraoka e Gumo nada sabiam sobre o “relacionamento” dos dois.

– Eu poderia ter sido mais malvado... – Sussurrou no ouvido dela fazendo a rir um pouco, e logo soltaram-se para que os outros dois pudessem parabeniza-la.

– Muraoka... – Zara falou num tom de voz extremamente calmo e dócil, tom este que mesmo Gumo estranhou. – Eu quero conhecer Tenzin. – Anunciou observando o sorriso estonteante que surgiu no rosto da mulher.

Ficou decidido que já não havia razão para que permanecessem ali, e mesmo com os pedidos de Zara, Muraoka não queria partir. Ensinou-lhe como chegar na academia de Tenzin, mas argumentou que ficaria ali cuidando daquele templo.

Na semana seguinte os três partiram. Despediram-se de Muraoka demoradamente e a mulher recebeu a benção de Sozen, para então voltarem ao pé da montanha. Avalon não lembrava-se mais de seus homens, mas não se surpreendeu por não encontra-los mais lá depois de tantos meses.

Gumo ainda estava bastante deslocado naquele novo meio, esteve tão adaptado a Airon que sentia-se quase um traidor por aceitar a presença de Avalon.

De acordo com Muraoka, Tenzin vivia numa aldeia no Reino da Terra, ajudando vilarejos menores e cuidando de sua família: Pema, sua esposa, e Jinora, sua filha.

O trio demorou cerca de uma semana para pisar em solo do Reino da Terra, pois não pareciam estar com pressa e Zara estava voltando a praticar dobra de água com Gumo, coisa que ainda deixava Avalon muito admirado, já que considerava a dobra d’água uma espécie de arte.

...

Pouco depois do por do sol Zara bateu à porta da casa de Tenzin, depois de muito procurar e perguntar, e enfim encontrar a vila e a casa do Nômade do Ar.