O rapaz abriu os olhos devagar, encarando a garota adormecida quando Muraoka abriu a porta, com um sorriso terno, sem olhar para Avalon. Ela apagou a única vela que iluminava o ambiente, para então deitar-se em sua própria cama.

Avalon sentiu um pano ser jogado em seu rosto, sem delicadeza, e logo o usou para cobrir Zara, que dormia pacificamente. Avalon sentiu um pano ser jogado em seu rosto, sem delicadeza, e logo o usou para cobrir Zara, que dormia pacificamente.

Eu demorei para dormir. Zara exalava um cheiro estranhamente doce, e respirava num ritmo constante e hipnotizante. Ter Muraoka por perto me deixava frustrado, eu não consegui confiar nela, me parecia muito... misteriosa. Eu temia que fizesse algo com Zara, e por isso me mantive acordado o máximo possível, cuidando de... espere, desde quando eu cuidava de Zara?

Quase uma hora depois da chegada de Muraoka, Avalon adormeceu. Sentado e com a cabeça encostada na parede, com uma mão sob o cobertor que cobria Zara.

Na manhã seguinte Zara acordou muito cedo, mas não cedo o suficiente para ver Muraoka sair da cabana. Avalon ainda dormia, e a jovem Avatar levantou-se e dobrou o cobertor, deixando-o em cima da cama arrumada de Muraoka.

A garota saiu da cabana para caminhar pelo templo. Sabia que poderia parecer falta de respeito aos olhos de alguns, mas imaginava que tudo ali fora construído em paz, e as estatuas sagradas e importantes era todas para ela, o Avatar.

Para um templo acima das nuvens, o vento pela manhã não era tão intenso, embora assobiasse em alguns cômodos. Zara não sentiu nem encontrou nada demais ali, sequer subiu mais um andar no templo antes de voltar para a cabana, onde Muraoka preparava um café da manhã para os três.

– Onde está Avalon? - Perguntou Zara para a mulher que apenas cantarolava uma musica e apontou uma das janelas com a cabeça. A jovem Avatar espirou pela janela para encontrar um Avalon sentado na beira da montanha, encostado numa grande roxa e olhando para baixo. Estava de costas para a janela, e parecia tenso.

– Zara, precisamos começar. - Falou Muraoka, retirando a garota de seus pensamentos. Zara a encarou por algum tempo e assentiu. Deixaria para conversar com Avalon depois, uma conversa que sabia que precisaria ter com o rapaz.

Após o café da manhã, Muraoka guiou Zara, e apenas Zara, por dentro do templo. Os passos ecoavam por algum tempo, sendo logo sobrepostos por novos passos. No segundo andar da construção principal, Muraoka usou a dobra de ar para abrir uma das portas, e fora a primeira vez que Zara vira dobra de ar.

Muraoka não precisou de mais que um simples movimento com as mãos para dobrar o ar, e logo a porta de abriu para uma sala repleta de estatuas. A iluminação era muito pouca, o ambiente empoeirado e seco e as estatuas ocupavam a sala redonda inteira, repleta de estatuas até o teto, há mais de vinte metros acima das cabeças das duas.

– Zara, o ciclo Avatar existe há milênios, desde a época das primeiras civilizações. - Começou a mulher, caminhando pela grande sala com calma enquanto Zara olhava para os rostos dos antigos Avatares. - Antes de você, o Avatar Aang, e antes dele o Avatar Roku, e centenas de outros, com o mesmo único e aparentemente simples objetivo: trazer o equilíbrio ao mundo. Aang, Roku, Kyoshi, Kuruk, Yang Chen, Damon, e alguns outros são os que conseguimos nos lembrar, mas cada nação lembra mais fielmente de alguns do que de outros. Você, por outro lado, não lembra de nenhum, você é o Avatar. Você é todos eles.

Muraoka falava com a voz ecoando pela sala, numa introdução que Zara já conhecia. A mulher virou-se para a jovem Avatar com um olhar apreensivo.

– É o que todos sabem, e o que você deve ter ouvido a vida inteira, Zara. Estou certa? - Zara assentiu, nada daquilo lhe era novidade. - E o que pensa sobre isso, Zara? - Perguntou, surpreendendo um pouco a garota.

– Eu consigo falar com Roku de vez em quando, e já cheguei a ver Yang Chen, Aang, e... vários outros... Mas eu não consigo acreditar que eu sou... ou fui... aquelas pessoas. - Admitiu, olhando para umas das estátuas de uma mulher adulta, em seu auge, com as vestes da Nação do Fogo.

– Isso é porque você é apenas você. Uma garota de quase quinze anos, da Tribo da Água do Norte, que nasceu dobrando os quatro elementos. - Falou a mulher, surpreendendo a menina. - É isso que você sente, Zara? - Perguntou por fim.

– Não, claro que não. Uma simples garota da minha idade, dobradora ou não, não poderia ter o contato que tenho com o mundo espiritual. - Falou um pouco confusa. Muraoka lhe sorriu ternamente.

– Temos muito o que conversar, menina. - Disse a mulher.

Muraoka passou a manhã inteira com Zara naquela sala. Contou-lhe sobre os nômades do ar, e sobre como sabia que ela era uma últimas herdeiras te tal dobra, assim como a família do Avatar Aang.

– Aang teve três filhos, entre eles uma mulher dobradora d'água. O mais jovem, pelo que soube, é dobrador de ar, assim como eu. - Contou a mulher.

– Na época do Avatar Aang, pensei que ele fosse o último. - Disse Zara ainda mais confusa, vendo Muraoka negar com a cabeça.

– Aang passou cem anos naquele iceberg, Zara. - Explicou. - Durante aquele tempo, a Nação do Fogo atacou todos os Templos do Ar, inclusive este. Mas devido a sua altura e dificuldade de acesso, o Templo do Ar do Sul foi o mais difícil de ser invadido e massacrado. Minha avó se escondeu durante toda a sua vida dentro do Reino da Terra, onde engravidou. Poucos anos antes de o Avatar Aang retornar, deu a luz à minha mãe, a quem chamou de Indra.

"A minha avó voltou com a minha mãe para cá, e ensinou-lhe tudo o que conseguira aprender entres os monges antes do massacre. A minha mãe repassou este conhecimento para mim. E não fiquei a vida inteira aqui. Afinal, somos nômades! Estes templos são nossos pontos de apoio, mas, antes das guerras, nós éramos livres como as brisas! É mesmo irônico que tenha procurado à mim e não à Tenzin, filho da sua encarnação anterior, mas você não sabia quem eu era, de fato."

A conversa durou até pouco depois da uma da tarde, quando Muraoka voltou para servir o almoço dos três, enquanto Zara permaneceu por mais algum tempo dentro da sala das estátuas.

Ela sentou no chão, no centro, e ficou olhando para a estátua de Aang. Imaginou onde estaria Tenzin, o que estaria fazendo. Zara fechou os olhos e se concentrou por alguns longos minutos até finalmente entrar no mundo espiritual.

A sala era vazia, com algumas poucas plantas.

– Raava? - Chamou ouvindo a própria voz ecoar. Queria poder esclarecer a situação com o estranho espírito.

– Raava não está no mundo espiritual, moça. - Disse uma criança que havia aparecido ao lado da porta. Era um pequeno nômade do ar.