– E onde está? - Perguntou Zara.

– Dentro de você. - Respondeu a criança, como se fosse óbvio. Zara ficou olhando curiosa.

– E quem é você, pequenino? - Ela perguntou se aproximando do menininho. Ele tinha olhos grandes e escuros, e algo nele transmitia uma certa familiaridade à Zara.

– Meu nome é Shun, eu sou o sexto Avatar. - Declarou. Zara surpreendeu-se com o menino e sentou-se ao lado do mesmo, que não demorou a sentar em seu colo.

– E porque é tao novo? - Ela questionou hesitante.

– Eu morri com apenas oito anos, para salvar o meu Fuury. - Ele lhe respondeu.

– Você pode me explicar melhor esta história? - Pediu Zara, vendo o menino assentir e brincar com o cabelo irregular dela.

– O quinto avatar foi o primeiro depois de um ciclo completo. - Disse o menino, fazendo Zara raciocinar um pouco. - Eu fui o segundo, e o mundo estava confuso e com muita gente ruim. Minha mãe, Ghasha, me deixou com os monges da Tartaruga-Leão para que eu pudesse estudar a dobra de ar, como todos os outros jovens. Naquela época, as pessoas ainda podiam escolher entre ir para uma cidade ou continuar vivendo nas grandes tartarugas.

"Mas quando eu fiz cinco anos, as Seis Tartarugas-Leões foram atacadas e se esconderam, nos expulsando de seus cascos. Eu fui com os monges atrás de um lugar calmo e pacífico para construir o primeiro Templo do Ar, que este que você vê no mundo real. Mas Hou Jin Khun descobriu onde estávamos, ele era um maldoso governante de um dos grupos de dobradores de terra, e nos atacou. Naquela época, eu já tinha meu pequeno Fuury, um animalzinho que acredito que já não exista no mundo real. Um dos soldados de Hou Jin Khun me encontrou com meu Fuury e quase o matou, mas eu entrei na frente e morri no lugar dele."

Depois que o menino terminou de contar a história, Zara parecia ainda mais confusa.

– Você morreu antes de saber que era o Avatar? - Perguntou a garota e o menino assentiu.

– A Avatar da Água que veio depois de mim, por outro lado, cresceu e envelheceu, muito saudável, e ajudou muito o mundo inteiro. Eu não pude fazer o mesmo. - Ele lamentou com algumas lágrimas aos olhos. Zara alisou-lhe a cabeça lisa, passando os dedos pela tatuagem típica dos nômades do ar, e sorriu compreensiva.

– Shun, você não foi um inútil. - Disse com um tom meigo na voz. - Você salvou a vida do seu amiguinho, pode ter certeza de que para ele, você foi muito importante. - Consolou Zara, vendo os olhinhos do menino a encararem.

– Obrigado. Você é a primeira que me encontra aqui. - Ele disse.

Zara passou em torno de duas horas conversando com Shun, para então voltar o mundo físico e ir até a cabana. Avalon já tinha comido, e já se retirara da cabana mais uma vez, enquanto Muraoka a esperava para almoçar.

– Então, descobriu algo novo? - Perguntou Muraoka com um pequeno sorriso de canto.

– E existe algo novo para se descobrir? - Perguntou Zara em retorno, fazendo a mulher aumentar um pouco o sorriso. Zara comeu sem muita vontade, sentia que precisava conversar com Avalon, mas que não estava preparada. - Muraoka, quando começaremos as lições de dobra? - Perguntou depois de comer, enquanto lavava seus pratos.

– Zara, querida... A dobra de ar não pode ser ensinada. - Disse a mulher. - Antes de dobrar o ar, precisa estabilizar o seu espírito. Os nômades do ar têm uma cultura muito pacífica desde os primórdios, e por isso todos os nômades são dobradores de ar... ou eram. Mas para o Avatar, pode ser mais difícil. Sua sorte é que a sua dobra nativa é a água, que o elemento mais próximo ao ar.

Zara ouviu a explicação e suspirou. Precisaria "estabilizar seu espírito" antes de aprender a dobra... Ou estabilizaria e aprenderia naturalmente a dobra. Era muito confuso para a garota.

– Você não consegue dobrar Fogo, estou certa? - Perguntou a mulher, vendo Zara assentir. - Se eu conseguir fazer o que pretendo, você vai sair daqui como uma avatar completa, minha querida... - Falou com um sorriso terno. - Mas onde está o seu companheiro? - Perguntou em seguida, fazendo Zara corar um pouco olhando para Avalon através da janela. - Não, não, seu companheiro de verdade. - Disse a mulher rindo um pouco.

– Sozen... - Sussurrou Zara pensativa. - Eu não sei. Muraoka... talvez eu precise lhe contar toda a história. - Falou a garota, que demorou mais de três horas para contar tudo o que lhe acontecera desde que descobrira que é o Avatar. Não precisou entrar em detalhes quanto às lições de dobra d'água e de terra, mas contou-lhe tudo sobre Airon, Gumo e Avalon, assim como sobre Roen e Sozen.

– Uma estranha escolha de nome, devo admitir... - Comentou a mulher quando Zara falou de Sozen.

– Eu não escolhi... Eu apenas descobri. - Falou Zara, recebendo um olhar apreensivo em retorno.

– Foi um deslize grave ter se separado de Sozen. Depois da separação, qual foi o maior numero de dias que você passou num lugar? - Perguntou a sábia mulher, fazendo Zara pensar por algum tempo.

– Acho que dois dias... No quartel general da Nação do Fogo. - Respondeu a garota, vendo Muraoka ficar pensativa.

– Então creio que precise passar ao menos três dias aqui comigo, a partir de hoje. - Disse a nômade do ar.

No dia seguinte, Avalon acordara muito cedo. Ele estava na beira da montanha, jogando pedras nas nuvens sem muito ânimo.

– Passatempo interessante. - Disse Zara há alguns metros dele, que sequer se virou para encará-la.

– Não tenho muitas opções. - Ele respondeu, jogando mais uma pedra.

– E que tal um pouco de dobra? - Ela incentivou, tentando tirá-lo daquele casulo.

– E que tal um pouco de informações? - Ele disse, finalmente se virando para ela.

Zara via raiva no rosto de Avalon, mas não era uma raiva externa, ele tinha raiva de si mesmo. Ela suspirou e o chamou para irem juntos andar pelo templo.

– Eu entendo que para você não deve ser agradável estar aqui, me desculpe. - Ela disse, com tamanha paz que chegou a surpreender o rapaz. Ele percebia que ali naquele templo Zara estava diferente, percebia que estava mais dedicada à sua missão.

– Eu não tenho direito de reclamar. - Ele disse, repreendendo-se por deixar transparecer algo como aquilo, sentindo-se ingrato.

– Tem total direito de reclamar, Avalon, somos humanos. - Ela disse, guiando-o pelos corredores do templo.