Sugestão de trilha: Baked Words (Code Geass – OST)

Para Aurthur tudo parecia uma festa. O almoço dado por Lydia aos elementais nada mais era do que um “intervalo” em meio ao plano que seria executado ao cair da tarde. Porém, a fairy doctor só brincou com a comida no prato e, logo mais, o deixou do lado.

— É aniversário de alguém? – perguntou Aurthur para Raven – E por que não convidaram o papai? E por que você está tão pálido?

O garotinho não parava de fazer perguntas para o mordomo que tentava de alguma maneira respondê-las.

— Ainda acho perigoso você manipular uma arma, Lydia – alertou Lugh.

— Lugh, Lydia estará bem! – disse Sereia. E essa se virou para a condessa e informou: – Não tenha medo, Lydia. Estaremos por perto!

— Não tenho outra saída! Estou determinada, Lugh! Raven irá me ajudar! – respondeu Lydia.

Nesse momento, o mordomo aproximou-se com Aurthur no colo que estava cambaleando de sono.

Milady, vou colocar Aurthur para dormir e voltarei o mais rápido possível para avançarmos no plano. – avisou.

Quando o homem-fada voltou, a condessa tinha saído da mesa. Lydia estava tão ansiosa que foi para o quarto procurar a arma que Edgar a entregou depois do casamento.

— Não sei, Ly, mas fique com ela! Você irá precisá-la. – alertou-a.

Lydia, que na ocasião tinha horror às armas de fogo, rejeitou-a. Mas, ele insistiu e a colocou em suas mãos.

— Escute! Guarde-a! Pois ainda estamos em perigo, infelizmente! Portanto, seja ajuizada e menos turrona e guarde-a com você! Não estou falando para usá-la como brinquedo! É para sua segurança! – repreendeu-a. Mas passou-se um tempo e ele continuou em um tom brincalhão: – A não ser que… você pensa em usá-la quando estiver brava comigo…

Ela lhe deu um tapa no ombro e reclamou:

— Não fale isso nem por brincadeira, Edgar!

Com ajuda de um banquinho, apanhou a caixa de chapéus que ela usava no alto verão e a abriu. Vasculhou nos papéis de seda e encontrou-a, a tal temida arma que Edgar a entregou. Era pequena, mas possuía um bom alcance e dependendo da velocidade de quem a manejava e a localização onde a bala seria alojada, provocava um tamanho estrago.

Sugestão de trilha: Pugna cum Maga (Puella Magi Madoka Magica – OST)

Verificou o número de balas e se o tambor estava completo. Colocou-a em cima da penteadeira. Abriu o guarda-roupa e escolheu um manto negro de veludo e de alta qualidade com capuz e bolsos nas laterais. Testou se a arma cabia em um deles. Ela sorriu satisfeita quando viu que o caimento era perfeito. “No tamanho certo”, pensou.

Do outro lado da região, Edgar testava a sua nova arma entre as árvores. E a cada estampido, o cocheiro fechava os olhos e se encolhia pelo reflexo que o barulho provocava.

— Ela é perfeita! – disse Edgar sorrindo recarregando o tambor com mais balas.

William, que ainda o olhava assustado, escutou do conde:

— Sabe como se escolhe uma arma, William?

— Não, milord!

— Simples! É como você fosse escolher sua esposa em um salão repleto de beldades! Você irá encontrar moças bonitas, simpáticas, atrevidas, ousadas, boas de conversa e impulsivas. Mas a ideal será aquela que irá fazer seu coração disparar!

Meio atordoado, o cocheiro só pode concordar:

— Bela comparação!

“Será que foi assim que ele escolheu Lady Lydia para ser sua esposa?”, perguntou-se o cocheiro. E como descobrisse o que William pensava, Edgar confessou:

— É, meu caro Weasley! Não conheci Lydia em um salão de baile, porém, definitivamente, foi a que não só fez o meu coração disparar como também o dominou.

De alguma maneira, isso tranquilizou William.

— Bem, deixamos o sentimentalismo do lado e vamos prosseguir com plano. – informou o conde.

Ele olhou mais uma vez para o relógio e disse:

— Acredito que a essa hora meus assessores já estejam em suas casas. E não se esqueça do que combinamos!

— Nada de irmos pela entrada principal! – falou o cocheiro.

— Exato! Nada de irmos pela entrada principal! – repetiu Edgar, – Agora vamos antes que Ulysses nos apronte algo!

Eram 17 horas. Os leprechauns, sereianos e elfos já tinham cercado a mansão, bem como os mais fortes estavam espalhados nos pontos determinados dentro da área que pertencia aos Ashenbert para dominar e aniquilar, se fosse preciso, os cães e lobos espectrais.

Lydia estava na sala acertando os últimos detalhes com Raven, Lugh, Sereia e Tytânia. Aparentemente, quem estivesse do lado de fora da casa, acharia que era um dia como outro qualquer. Apesar de que existia uma profunda tensão dentro da mansão.

Aurthur ficou aos cuidados de Lucíola, na sala de música, do lado leste da mansão. Como ele estava choramingando porque sentia sede, Lucíola ausentou-se para ir à cozinha. “Acredito que não tenha perigo. Vou em um pé e volto em outro”, pensou.

Sugestão de trilha: Akuma no Hohoemi (Gosick – OST)

Enquanto isso, o garoto tinha montado um exército de soldadinhos de chumbo e simulava uma guerra entre eles. Por conta de sua imaginação fértil, colocou o pião rodando para simular como fosse uma bala de canhão atingindo os adversários. Mas o brinquedo rodou muito rapidamente, e de maneira estranha. Aurthur foi atrás do brinquedo que foi parar na varanda. Uma das janelas da sacada estava aberta. Ele estranhou o fato, mas prosseguiu para buscar o objeto.

E foi aí que ele deu de cara com um menininho sujo, de cabelos negros encaracolados e de óculos. Tinha mais ou menos a idade dele e encontrava-se encostado num canto, choramingando. Quando ele percebeu a presença de Aurhtur levantou a cabeça, o encarou com os olhos úmidos e pediu:

— Estou perdido! Me leva para casa?

Aurthur, apesar da tenra idade, era cauteloso e desconfiado, não teve dúvidas de perguntar:

— Como você veio parar aqui?

— Eu vim por ali. – apontando para uma escada que dava para o seu lado direito.

O pequeno virou-se e pensou: “Nunca teve uma escada ali” e esbravejou:

— Vai embora daqui! Vai!

O garotinho, que se dizia perdido, sorriu e os seus olhos se tornaram em um vermelho vivo.

Authur então se lembrou dos cães espectrais que tomavam conta dele enquanto foi raptado no ano passado. E o que pior, ele recordou que o garotinho em sua frente era Jimmy, o guarda-costas de Ulysses. Ele deu passos para trás tentando chegar perto da janela. O que ele queria era fechá-la na cara do cão. E eis que Jimmy já completamente transformado avançou sob Aurthur. Nesse instante, surgiu Lugh que lançou o cão para trás com auxílio de sua espada.

— Você está bem, garoto?

— Hum, hum. – foi o máximo que Aurthur conseguiu falar, ainda muito assustado.

— Pois bem, volte para dentro! Você é definitivamente encrenqueiro como seu pai!

Quando Lugh deu-se por conta, o cão tinha sumido. Aurthur, mesmo ainda paralisado, conseguiu apontar com dedinho para onde provavelmente teria ido Jimmy.

— Como você sabe? – perguntou Lugh em um sussurro.

— Você não escuta? Ele está chorando do mesmo jeito que o vi aqui!

— Chorando? – indagou Lugh.

E bem baixinho, Aurthur disse:

— Ele era um menino que se transformou num cão!

Lugh, então, percebeu que era Jimmy. De forma sorrateira chegou até a esquina entre as paredes e dobrou-a com a espada em punho. Ele o encontrou na sua forma humana, o mesmo menininho que choramingava para Aurthur. E sem um pingo de piedade, o Senhor dos Leprechauns ordenou:

Sugestão de trilha: Shuukyoku no Mienu Kitai (Gosick – OST)

— Vamos, Jimmy, levante-se! – agora mirando a espada contra o pescoço do garoto.

E ele disse ainda choramingando:

— Você tem coragem de me matar? Eu só quero ir para casa!

— Problema seu! Já disse: fora daqui!! – era Aurthur gritando segurando um bastonete e com os olhinhos faiscando. Quando Lugh tentou afastá-lo dali, foi quase mordido no pescoço por Jimmy, agora em sua forma natural. Mas ele reagiu tão rápido que não deu espaço para que o cão espectral contra-atacasse.

O estardalhaço chamou a atenção de Lydia, Raven, Tytânia e Sereia. E a fairy doctor gritou:

— Aurthur!!

Ela saiu correndo pelas escadas e foi ultrapassada pelo mordomo. Quando chegou ao ponto em que ocorria a briga, viu agora Raven e Lugh tentando dominar Jimmy. Aurthur parecia perdido ainda com o bastonete, mas queria ajudar a qualquer custo.

Lydia que estava encolhida entre a encruzilhada das paredes ordenou para o filho:

— Venha para cá, Aurthur! Venha para cá, agora!!

— Eu vou ajudar!

— Aurthur, isso é uma armadilha!! Venha para cá!!

Os dois repararam que ainda havia uma nesga de luz do Sol um pouco mais para trás e começaram a encurralar Jimmy de certo modo para levá-lo àquela direção. Quando a luz do Sol o atingiu, o cão urrava nervoso e não conseguia encontrar saída porque tanto Raven como Lugh tinham bloqueado qualquer oportunidade. E aos poucos o cão se incendiou e em minutos virou cinzas.

Lydia, ainda trêmula, segurava Aurthur, mas encontrou forças para dizer:

— O maldito já deve estar aqui!

— Ele soube de alguma maneira sobre nosso plano. – analisou Lugh.

— Não temos muito tempo, milady! Precisamos nos apressar e irmos aos nossos postos! – alertou Raven para Lydia.

— Fique com Lugh e não saia perto dele, entendeu?- ordenou quase brava para o filho.

— Entendi! Vou proteger ele também! – afirmou o garotinho.

Enquanto isso, a carruagem de Edgar estacionou à direita da mansão. Ele estranhou a leve movimentação que acontecia pela região, mas também sentiu a presença dos elementais espalhados por ali e cá. “Será que eles vieram encurralar Ulysses também?”, perguntou-se.

Lord, aqui estamos! – disse o cocheiro, abrindo a porta da carruagem.

— Agora, siga as instruções que te passei, sim? – ordenou Edgar descendo da carruagem, lépido. – Agora, deseje-me Boa Sorte! - disse ajeitando a arma dentro da casaca.

— Boa Sorte, Lord Edgar! – disse o cocheiro ainda preocupado.

E quando ele se deu conta, o conde já não estava mais lá. A guerra estava apenas começando.