Lydia e Raven esgueiravam-se pelas paredes da mansão indo em direção aos jardins das roseiras. Eram ágeis e tentavam amenizar qualquer ruído que poderia ser produzido com seus movimentos.

— Raven, acredito que ele deve ter desconfiado o que estamos tramando e desviou o caminho que originalmente faria. Ou é possível que ele tenha desistido… - informou Lydia.

— Desistiu, ele não desistiu! Dá para sentir sua presença do outro lado, mais ao sul. É possível que ele faça o caminho vindo do sudoeste da mansão. E se tomarmos o mesmo rumo que ele, só que, no sentido contrário? – sugeriu o mordomo.

— Você diz… um confronto direto? – indagou a fairy doctor.

— Isso! Em um determinado ponto iremos cruzar com ele! – respondeu Raven.

— Ótimo, então vamos lá!

Sugestão de trilha: Army of Minions (Mahou Shoujo Madoka Magica – OST)

Eles deram mais uma volta pela mansão e entraram pela mata. Andavam rápido, mas com cautela entre as árvores. Raven segurava o cabo de sua adaga que estava escondida entre a camisa e a casaca. Lydia colocou as mãos nos bolsos do manto, sendo que o direito guardava o revólver que iria usar. Também vestiu o capuz para esconder o rosto.

Edgar também se esgueirava; ágil como leopardo, já tinha experiência o suficiente para a camuflagem. Sua respiração era ofegante, mas ele tentava controlá-la ao máximo. Sentia que os cães e os lobos espectrais estavam por perto, mas eram domados ou mortos pelos elementais. “Era exatamente o que pensei… eles também querem a cabeça de Ulysses”, refletiu. E foi aí que avistou Raven cruzar seu caminho mais à frente e logo atrás vinha uma pessoa, uma silhueta de mulher, vestida com um majestoso manto negro. “Lydia? O que aquela maluquinha irá aprontar?”, pensou preocupado. Tentou segui-los, mas sempre cuidadoso para não ser descoberto. Avistou mais à frente, outra capa… “Ulysses??”, perguntou-se. Acelerou o passo, encostando ainda mais no casal. Apesar de algumas árvores dificultarem sua visão, elas também facilitavam que ele passasse despercebido.

Enquanto isso, Raven avistou Ulysses e aumentou sua velocidade. Correu até ele, dando um pulo muito alto que o pegou de surpresa. Mas, houve tempo para que ele desviasse do golpe do mordomo. Apontou a arma para Raven, que usou a sua adaga de escudo. Hábil, pulou e alcançou as costas de Ulysses a fim de derrubar a arma. Na luta, o fairy doctor atirou mais uma vez, mas acidentalmente. Lydia escondeu-se atrás de uma das árvores. Edgar recuou e também tomou uma das árvores como escudo. Por sorte a bala não atingiu nenhum deles, inclusive Raven.

Novamente, o mordomo avançou em Ulysses, agora dando uma volta em torno do fairy doctor de modo tão rápido que o deixou tonto. Mais um contra-ataque e Ulysses estava no chão, desarmado. O mordomo veio por trás e deu um tranco em Ulysses para que ele levantasse. Com uma das mãos segurava a adaga contra o pescoço do fairy doctor e com a outra segurava suas mãos.

Lydia aproximou-se, tirou o capuz, os olhos faiscando de raiva, mas permanecia em uma pose altiva. Disse em um tom bem seco:

— Seja bem-vindo, Ulysses!

Sugestão de trilha: Critical Phase (Kuroshitsuji II – OST)

— É assim que os Ashenbert recepciona quem quer visitá-los? – provocou-a.

Nisso, Edgar de forma sorrateira chegava ao ponto exato em que estavam os três. Escondido entre duas árvores, observava e estudava como atacar o inimigo sem que ferisse os outros dois.

— Nos visitar? Ora, meu caro Ulysses, por que não disse isso antes? Poderia entrar pela porta principal… – ironizou Lydia.

— E não é que é verdade? Mas como a milady sabe, o meu assunto é com seu marido. – caçou o fairy doctor.

— Sério? Sinto muito, ele não está em casa… Afinal, Edgar é um nobre ocupado! Poderia ter marcado anteriormente…

— Hum, mas prefiro as coisas inesperadas! – respondeu Ulysses.

Nisso, Raven percebeu que alguém os vigiava. Olhou com o canto dos olhos e viu Edgar os encarando. Ele sobrepôs o dedo indicador sobre os lábios, pedindo para que o mordomo ficasse em silêncio.

— Agora, chega de ironias, Ulysses! O que você quer? – indagou a condessa irritada.

— O que quero? – e abriu-se em um sorriso malicioso - O posto que sempre foi para ser meu! Tornar-se absoluto em Ibrazel!

— Ora, Ulysses! Isso que é ser doidivanas e megalomaníaco! E francamente, você acredita que iria deixar você assassinar Edgar?

O conde estreitou os olhos e crispou as mãos sobre a arma. Controlava-se de forma desesperada para não pular em cima de Ulysses e atirar nele.

— Ora, ora! E não é que a Lady que carrega os títulos de fairy doctor e condessa Cavaleiro Azul só no nome descobriu o meu plano? – disse rindo da situação. E continuou: – Se tudo ocorresse como planejado, nesse momento você seria minha…

— Como que é? – perguntou entre curiosa e exasperada.

— Aliás, por ora meu plano falhou… Mas isso não irá me fazer desistir, não é? Assassinar seu marido… tomar o corpo dele e…

— Ah! Então, você iria tomar o corpo dele, iria me fazer sua esposa e Aurthur, seu filho… e quem sabe, iria preparar todo um caminho para tornar-se um novo Príncipe, já que seu antigo mestre está morto! E graças a mim! – disse em tom de deboche. E prosseguiu: – Agora, diga-me! Como você iria convencer-me?

— Fácil! Poderia entrar suavemente em sua mente oca e assim como todos que estão sobre o comando de vocês, seus desqualificados!

— Edgar já disse que você é mestre em trocar de corpos! Mas… – elevou a voz acima da média: – Como você iria usar um corpo encharcado de sangue como seu receptáculo?

O fairy doctor gargalhou com desdém e disse:

Milady faz cada pergunta engraçada… Bem, agora eu quero saber…

— Solte-o Raven! – ordenou Lydia.

— Mas, milady… – questionou o mordomo.

— Solte-o, Raven! Solte-o!

— E nem a senhora deixou-me fazer a minha pergunta! Vai deixar-me escapar?? Tem medo de mim?

— Cale a boca, seu lixo!! – gritou Lydia que se virou para Raven e ordenou: – Vamos, SOLTE-O!!!

Raven por alguns segundos desviou o olhar para Edgar, que já segurava a arma em punho, e este fez um aceno para que a obedecesse. Raven soltou Ulysses que calmamente arrumou a casaca e indagou:

— E agora, o que você irá fazer sua fairy doctor de merda???

— Ulysses! – era a voz de um homem que o chamava.

Todos viraram a cabeça para o lado e viram Edgar aproximando rápido em direção deles. Falou tão ágil quanto agiu:

— Sabe o que ela iria fazer? Isso!!!

Engatilhou a arma e atirou no meio da testa do fairy doctor.

O estampido foi tão forte que um bando de pássaros revoou para longe. E um filete de sangue atingiu a face meiga de Lydia. Ulysses caiu no chão, morto.