O mosteiro estava em um completo silencio ninguém ouvia um só barulho, os monges estavam reclusos em seus quartos estudando, já no campanário uma mãe colocava seus dois filhos menores para dormir.

– Bom crianças hora de mimi.

– Mas já mãe? Tá cedo ainda. – Pergunta o menino.

– É mamãe! Não podemos brincar mais com o frei e com amigo do maninho?

A mãe das crianças sorri para eles, lês faz com cafune e depois da um beijo na testa de cada um.

– Hoje o dia foi bem agitado então por isso vamos dormir mais cedo, tá?

As crianças fazem bico, mas no final se dão por vencidas e acabam bocejando.

– Tá bom, boa noite mamãe. – Diz o pequeno que se deita.

– Boa noite mamãe! – Exclama feliz a menina. – Mamãe?

– Sim querida.

– Cadê o maninho? Ele não voltou ainda?

Ao ouvir isso a mãe das crianças morde o lábio inferior.

– Não se preocupem... Ele deve estar com Frei Thomas e com o senhor Serge, afinal foi o que ele disse que faria.

A pequena Elaine sorri.

– É né, o maninho sempre teve isso.

– Isso que minha filha? – Pergunta Helen curiosa.

– Ah! Você sabe mamãe, de ser um herói!

– HEROI?! – Exclama a mãe das crianças incrédula.

– É mamãe! Ele sempre dizia isso, às vezes eu via ele treinando com um cabo velho de vassoura imitando uma espada, era muito divertido!

A mãe das crianças cobre a boca contendo um riso.

– Meu Deus... Onde eu estava que nunca vi isso?

– Trabalhando... – Responde a pequena Elaine.

Ah ultima palavra de sua filha fez seu coração doer. Sempre teve que trabalhar muito junto com seu marido para sustentar a casa e os três filhos. Trabalhava como governanta para um nobre, mas ganhava muito pouco. Ela e seu marido ficavam o dia todo fora, Oliver depois começou a trabalhar também e a pequena Elaine teve que começar a cuidar do pequeno Oto. Sempre desejou uma vida melhor, não para ela, mas para seus filhos.

Helen afaga os cabelos da filha e diz:

– Desculpa não ser tão presente filha, juro que vou compensar eu prometo!

– Que isso mamãe, nós te amamos do jeito que você é!

Uma lagrima escorreu por seu rosto então abraça sua filha.

– Amo todos vocês! Mas agora é hora de dormir, olha só o Oto já dormiu. – Aponta para o filho mais novo que dormia ao lado da filha mais velha na mesma cama.

– Tá até roncando, hi,hi,hi.

– Elaine!

– Desculpa! Bom, mamãe boa noite! – Responde a menina se deitando e sua mãe a cobrindo para logo fechar os olhos e adormecer.

– Boa noite meus anjos. – Responde a mãe das crianças fazendo um carinho na face de Elaine e de Oto. Despois se levanta pega seu chalé e se senta em uma cadeira e fica olhando a porta.

Esperava seu filho mais velho entrar correndo como um louco como sempre fazia, mas estava ficando preocupada, pois ele estava realmente demorando.

– Espero que você esteja bem... Meu filho... – E aos poucos vai apoiando as mãos sobre a mesa para logo depois apoiar sua cabeça e sentir o cansaço daquele longo dia lhe cobrar, fecha seus olhos e adormece.

Fora do mosteiro os Assassinos olhavam incrédulos a cena.

Uma grande chama pulsava no meio do pátio, a bruxa e sua besta foram completamente engolidos por ela e desapareceram por completo da vista deles.

Luiz foi o primeiro a se manifestar.

– E-Ele, conseguiu? – Gaguejava enquanto curava Esmeralda e Mérida.

– Eu não sei. – Responde Zie atônita. – Mas devo admitir... Nunca tinha visto nada igual... A não ser...

– A não ser?

Zie tapa a boca ao lembra-se de um fato do passado, foi em uma das missões que teve com Esmeralda e Mérida. Ambas estavam encurraladas e sem chance de vitória, então as três apelaram para uma matéria de invocação, ambas seguraram a matéria vermelha e juntaram suas auras nela e invocaram uma grande besta que derrotou seu inimigo. Foi rápido e destruidor, nunca tinha sentindo tamanha Aura antes e agora estava tendo a mesma sensação de poder vindo do cavaleiro.

– E idêntica...

– Zie? – O que foi?

– Luiz! – Se vira para o rapaz. – É uma besta invocada de uma matéria, só pode ser?

– O quê? – E olha para o cavaleiro também. – Mas... Ele não parece uma besta para min?

– É isso que eu não entendo. – Responde Zie. – De acordo com o que apreendemos sobre as matérias, as vermelhas que são as que contem as bestas seladas são as mais poderosas e difíceis de achar, mas quando são invocadas podem causar uma destruição sem limites! Se eu tivesse uma dessas matérias teria usado contra Gothel, mas...

A jovem se cala ao ver a chama que o cavaleiro invocou começando a se instituir até se apagar por completo e que eles viram foi absolutamente...

– Nada!!! – Exclamam Luiz e Zie juntos.

Pra não dizer nada restou apenas cinzas e uma sombra negra suja no chão.

– Minha nossa! Ele carbonizou a maldita e a besta JUNTOS!!!

– Ele venceu... – Zie quase não acreditou nas palavras que disse, mas era. A Aura tenebrosa de sua mãe e do Golem desapareceram sem deixar rastros. – Acabou mesmo? – Chorava a jovem, não acreditando no que seus olhos viam, sua algoz estava morta e não se conteve chorou, mais um choro de alivio e segurança, por ela, por Luiz e suas amigas, logo depois sentiu uma sombra a encobrir e ao erguer o rosto pode ver seu salvador a sua frente.

Vocês estão bem? – Pergunta o cavaleiro.

– Estamos... Graças a você! – Responde Zie sorrindo ainda com lágrimas nos olhos.

– Você nos salvou... Realmente... Gracias amigo! – Responde Luiz.

Faz parte de ser um herói da justiça! – E aponta um dedo para o céu que brilha, fazendo duas gotas aparecerem atrás de Zie e Luiz.

– Herói da Justiça?! – Pergunta Zie com cara de boba.

– Parece um titulo que uma criança se dá ao vencer um vilão? – Questiona Luiz também com cara de bobo.

Mais é isso que eu sou! – Cruza os braços. – Defender os fracos e oprimidos, salvar donzelas, chutar a bunda dos vilões! E se ainda tiver tempo jogar uma bolinha de gude com os amigos depois disso... Puxa realmente ser herói não é brincadeira!!! – Diz com simplicidade deixando Zie e Luiz de boca aberta.

– Que merda! – Exclama o Assassino espanhol.

– Ele realmente é... Diferente! – Diz Zie com um sorriso torto.

– Bota diferente nisso!!! Vem cá você tirou isso de onde?! – Pergunta o jovem perplexo. – Alias, não tá na hora de você voltar pra sua matéria não?

Como?

Sim você é uma besta invocada então você deve ter sido invocado por alguém então... – Zie se cala ao ver o cavaleiro erguer uma mão pedindo para ela parar.

Em primeiro lugar respeito! Não são bestas, eles tem nome, são chamados de Ra-Serus! Se bem que nem posso culpar vocês poucos sabem disso.

– Ah? – Exclama a jovem loira.

– Ra-Serus?! – Pergunta Luiz.

Exatamente! – Fala com firmeza. – E outra... Eu sou um Ra-Seru, mas só em parte... A minha outra parte é humana.

Os olhos de Zie e Luiz se arregalam ao ouvirem isso.

– O QUÊ?!!!

– Ai, ai, tão bobos! – Diz uma voz feminina que se senta ao lado de Zie, que se vira e a dona da voz sorrindo.

– ESMERALDA!!!

– Ai minha cabeça! – Exclama uma ruiva se sentando massageando a nunca.

– MÉRIDA!!!

A jovem loira não aguenta e abraça as duas.

– Vocês estão bem?! Graças a Deus, pensei que iria perder vocês. – Diz entre lagrimas.

Ao ouvirem as palvras da amiga ambas as Assassinas retribuem o abraço.

– Mas você é uma chorona mesmo em Zie! – Exclama Mérida rindo.

– Mas é a nossa chorona! – Completa Esmeralda.

– Meninas... – Zie faz um bico e mais lagrimas escorrem por seus olhos.

Estavam felizes e juntas novamente e nada parecia incomodar até ouvirem um barulho como se duas cachoeiras estivessem caindo perto delas.

– Puxa vida isso é muito emocionante! – Exclama o cavaleiro jorrando litros de água de seus olhos.

As três se separam por um minuto e elas encaram a cena.

Zie com cara de boba.

Esme rindo.

E Mérida de boca aberta e grita:

– Que porra é essa!!! – Aponta para o cavaleiro que fica sem entender, olha para os lados e aponta para si mesmo.

Ué! Sou eu oras!

– Méri, ele nos salvou... Você não lembra?

A jovem ruiva coça a cabeça forçando a memoria e depois a balança negativamente respondendo.

– Acho que to sofrendo de amnesia pôs traumática... Por que deu um branco aqui na minha cachola. – Responde esfregando a cabeça.

– Novidade! Você sempre teve isso. – Responde Esmeralda sonsa.

– Desculpa... O que foi que você disse? – Pergunta Mérida estalando os punhos.

– O que você ouviu, vai encarar?! – Pergunta a cigana em tom de desafio.

– Ah, se vou!!! – Brada a ruiva já partindo pra cima.

– Meninas, por favor!!! – Zie fica entre as duas as separando e eram assistidas pelo cavaleiro que tinha uma gota na cabeça.

Nossa! Elas tão precisando conhecer minha mãe... Ela ia colocar elas no chinelo rapidinho. – Diz pra si mesmo, no entanto o cavaleiro repara que o Assassino de manto branco recolheu as matérias que tinha, olhou para as meninas com uma expressão vazia, então sem que elas percebessem se levanta e se prepara para ir embora, porém sente uma mão com garras segurar seu ombro. – Aonde vai amigo?

Luiz vira parte do rosto encarando o cavaleiro e responde.

– Eu fiz minha parte... Elas estão salvas, agora que não precisam mais de min, nada mais justo que eu me retire.

O cavaleiro pode notar no tom de voz do Assassino que era carregado de magoa e ressentimento e isso o afligiu.

Parece que aconteceu algo entre você e as meninas?

Luiz solta uma risada sarcástica e responde:

– Você não faz nem ideia.

Despois de ouvir isso o cavaleiro confirmou suas suspeitas... Aconteceu algo muito grave antes dele chegar, mas isso teria que esperar.

Olha sei que você deve ter seus motivos, mas não posso deixar você ir.

– Como? – Exclama o Assassino se virando.

Sim. Você foi convidado para a reunião, estão esperando por você e pelas meninas.

Reunião?

Foi ai que a mente do jovem se ativou e ele se lembrou.

– Minha nossa! A reunião geral dos Assassinos era hoje!!!

– Hum? – As meninas se viram ao ouvirem o berro do Assassino.

– Reunião? – Se pergunta Zie.

Então uma careta de medo surge em sua face e ela berra segurando os cabelos.

– AI MEU DEUS!!! A REUNIÃO DE HOJE!!!

Na mesma hora Mérida se lembra e bota as mão na cabeça.

– Ai meus cocos! A Scarlet vai matar agente!

– A pro inferno com ela! – Exclama Esmeralda.

– Esme?

– Foi bom mesmo agente não ter indo, to tão puta que acho que eu ia fazer uma besteira se a visse.

Zie e Méri se entreolham e dão dois passos pra trás e se escondem atrás do cavaleiro que fica olhando a cena rindo por dentro.

– Medo! – Exclama Zie se tremendo.

– Nossa eu não queria ficar na frente da Esme estando desse jeito... Ela tá de TPM? – Pergunta Méri que recebe um sim com a cabeça da amiga loira e completa; – Imaginei.

Há, há, há, você e suas amigas são engraçadas Esme! ­– Comenta o cavaleiro se aproximando da Cigana deixando Zie e Méri a mostra.

– Pra onde ele foi?

– Volta aqui escudo protetor!!!

O cavaleiro nem da bola para as palavras das duas e fica frente a frente com a cigana que ergue sua mão que fica levantada no alto tateando o ar. Ao verem aquilo as meninas mudam suas expressões e se dão conta da situação.

– Zie... Eu pensei que era um sonho, mas a Esme tá mesmo...

– Sim... Ela esta cega Méri... E a culpa foi minha. – Responde Rapunzel abaixando a cabeça se sentindo péssima.

Ao ver sua amiga assim Mérida envolve a amiga em um abraço forte e carinho.

– Agente vai resolver isso. – Exclama Mérida.

Zie ao ouvir as palavras da amiga pergunta:

– Como?

– Ora... Isso eu não sei... Mas juntas, agente consegue tudo, certo? – Responde a Assassina dando uma piscadela para a amiga que retribui sorrindo.

– Méri... – Lagrimas escorrem de seus olhos, nunca em sua vida esperava encontrar amigas tão leais e boas. – Obrigada.

– Disponha! Agora veste isso! – Mérida retira seu manto branco o colando sobre a amiga. – Não posso deixar uma amiga minha andar quase nua por ai, né?

Zie fica vermelha ao fim das palavras da amiga. Realmente aconteceu tanta coisa que a jovem esqueceu que suas roupas estavam em trapos, tinha apenas um resquício de pano cobrindo seus seios e sua roupa intima a mostra. Na mesma hora abraça o tecido e agradece à amiga.

– Obrigada!

– Por nada, mas... Olha aquilo!

As duas amigas vem o cavaleiro pegar a mão de Esmeralda e ambos, cigana e cavaleiro fecham as mãos e se abraçam. Como se fossem velho amigos.

– Caramba!

– Parece até... Que eles se conhecem?

– Tirou as palavras da minha boca. – Exclama Luiz se aproximando.

– Luiz?

– É só olhar pra eles, mas afinal quem é ele? – Pergunta intrigado o jovem Assassino.

– Eu também gostaria de saber. – Responde Zie.

– Ué! Vamos perguntar então! OH! Vermelhinho!!! – Grita Mérida que nem parece que foi ouvida.

A cigana e o cavaleiro terminam seu abraço mais não separam suas mãos então...

– Obrigada por ter vindo em nosso auxilio fofinho.

O prazer foi todo meu Esme. Os amigos de Serge são meus amigos também.

A jovem cigana sorri e levanta sua mão para perto da face do cavaleiro que aproxima seu rosto para ela tocar.

Ao tocar em sua face sente as pontas, os dentes, e os chifres de dragão correspondente a seu Ra-Seru então ela faz um pedido.

– Se importa de tirar essa armadura?

Hum?

Quero tocar seu rosto verdadeiro, abraçar seu corpo fofinho e dar um beijo em meu pequeno herói.

O jovem ri por dentro com o elogio da cigana e a chance de ganhar um beijo dela e responde na lata.

É PRA JÁ!!!

Em seguida uma forte luz dourada emana do corpo do cavaleiro, os três que assistiam a cena cobrem os olhos devido a forte luz, já Esmeralda que não enxergava olhava diretamente para ele e pode sentir a aura do cavaleiro encolher.

As mãos com garras que seguravam suas mãos deram lugar a mãos pequenas e macias, o corpo do grande cavaleiro vai desaparecendo no meio da luz e no lugar uma outra figura estava no lugar. Quando a luz cessou os três Assassinos retiraram as mãos dos olhos e viram chocados a pessoa que estava na frente deles.

– Perai... O que é aquilo?! – Pergunta Mérida apontando o dedo incrédula.

– É um anão? – Pergunta Zie.

– Acho que tá mais para uma... – Luiz quase engasgou com o que ia dizer. – Criança!

Diante de uma Esmeralda sorrindo estava ele, o mesmo menino vendedor de jornais que Serge conheceu logo após assassinar o governador de Valência, o mesmo que ele começou a contar a historia de Elsa e Anna, o mesmo menino que ele salvou a vida e de sua família, o mesmo menino que ficou alegre e orgulhoso por despertar sua Aura e usar as matérias pela primeira vez, o mesmo menino que ajudou Frei Thomas a erguer a barreira que protegeu toda sua família e os monges e o mesmo que foi ao vale das espadas com a princesa Anna e voltou de lá com uma recompensa muito maior... Uma relíquia só sua e o cristal que trouxe seu mestre de volta do mundo de Crissaegrim.

– Oi Esme to de volta! – Exclama Oliver que agora tinha cabelos dourados e olhos vermelhos como os de um dragão.

A cigana ao ouvir aquela voz sem a mascara se ajoelha e o abraça bem forte, para logo depois dar um beijo em sua testa e dizer:

– Bem vindo de volta fofinho.

Dentro do mosteiro a mãe do jovem cavaleiro sorria enquanto dormia sonhando com seu filho trajando uma armadura e lutando contra vários monstros. Mal ela sabia que seu sonho era real e seu filho já fazia parte desta lenda!