Ban que se aproximou da mulher com passos inseguros, vendo-a vidrada no horizonte, ignorando as palavras do juiz do torneio que afirmavam a desqualificação de Hades por não permanecer mais em ringue, estralava a língua ao perceber que todas as feridas de Nathalia já não existiam. Estava furioso, tanto com ele ou com o que acabara de acontecer, mas sim por ele ainda não saber totalmente sobre a pessoa em que tanto confiou durante todos estes anos: ela não havia contado sobre Cyberus, ou melhor, Ciel, nunca havia citado ele em sua história de seu passado.

—Crow... – Ban chama-a, não recebendo sua atenção. Ao chegar ao seu lado, apenas pode ver os olhares tristes e chorosos da morena e ela apenas mexer os lábios: “Ó Deus, como este castigo é doloroso. Quando esta eu, uma pecadora e imunda, poderei descansar em uma felicidade e pura?”. Era novamente esta frase, a qual ele já não suportava ouvir, deixava-o desconfortável por saber muito bem que ela, ali não estava feliz e desejava ainda mais a morte, mesmo que não dissesse exatamente estas palavras. Mas o que ele poderia fazer? – Desculpe-me, eu não pude... – Ele desculpava-se por não conseguir fazer nada referente ao protegê-la, pois havia prometido que nada lhe faria mal novamente, e a sua felicidade. Porém, fora rapidamente surpreendido por uma risada baixa:

—Não se preocupe, eu sei me cuidar sozinha... – Ela diz ao fitá-lo com um sorriso gentil nos lábios, como estivesse agradecendo-o por tudo e ao mesmo tempo desculpando-se por causar tantos problemas, mas a última palavra fora dita quase sem forças e mal dava para se ouvir. Ela desmaiara ali mesmo, sendo segurado pelo humano, por não suportar esconder todas suas feridas. Suas feridas voltavam a aparecer no momento em que ela perdia a consciência, deixando claro que ela não se regenerara com a Maldição de Hades: ela não queria morrer, e sim, utilizado sua magia Invisible para esconder o sangue por não querer mostrar sua fraqueza. “Teimosa” fora o que Ban pensara ao vê-la em seu colo.

Estava finalmente decidido os oito finalistas e todos se direcionavam para a pequena construção onde distribuiriam, em sorteios, quem lutariam na próxima etapa. Ban teve a permissão de cuidar dos ferimentos de Nathalia enquanto sorteavam os lutadores e deixou-a deitada sobre um pano. O torneio se prosseguiu até a última luta, dentre Meliodas e Diane que permaneceu disfarçada com o chapéu durante todo o tempo.

Surpreendidos pelos ataques dos Cavaleiros Sagrados, que destruíram a maior parte da cidade, os Sete Pecados Capitais decidem separarem-se para enfrentá-los. Ban que se preocupou com o estado de Nathalia, correu para o local onde ela estava descansando.

—Ban, o que foi que... – Ela já estava desperta com todo o tremor causado pelas explosões, não conseguindo concluir sua frase ao sentir dor quando tentou sentar-se.

—Não tenho tempo para explicar, vamos embora – Ele diz ao carregá-la novamente em seu colo, que não fora necessário, ela descera e caminhou ao seu lado não demonstrando dor ao sentir o sangue quente em sua pele – Consegue voar? Fuja para a taverna, você não está em condições de lutar.

—Mas Ban...!

—Eu lhe imploro – Era surpreendente, o egocêntrico Ban estava lhe implorando por sua segurança e não poderia negar este favor, pois não queria admitir a si mesma que não estava na melhor forma para enfrentar os Cavaleiros Sagrados em que podia sentir suas fortes presenças. Ela assentiu com a cabeça e voou o mais rápido que podia, deixando Ban sozinho.

O homem que caminhava finalmente tranquilamente pelas ruas destruídas de Byzel era impressionado com o ataque de Jericho ao fincar a espada de uma mão em seu peito. Ela dizia o motivo de ela odiá-lo e estar tão forte, continuando com sucessivos ataques, enquanto Ban estranhava por suas feridas não se cicatrizarem e continuar sangrando.

—Por que você não luta comigo, Jericho? – Uma voz familiar era escutada pela recém Cavaleira Sagrada, que agora estava com os olhares mortos e com os cabelos soltos, após ser acertada por algo em seu rosto ao sentir arder o local do arranhão que sangrava um pouco – Você que nunca me venceu, minha querida discípula.

—Sua idiota, eu falei para... – Ban diz ao vê-la caminhar em sua direção, mas sentira um sorriso de canto surgir em seus lábios.

—Crow...! – Jericho chama-a ao ranger os dentes de raiva, por também odiá-la, virando-se para fita-la após ver a pena negra em que atingira seu rosto.

—Para você é Nathalia – Ela diz com um sorriso vitorioso, enquanto mantinha-se com as vestimentas e com as bandagens manchadas de sangue e com apenas sua katana em sua cintura. Havia voltado a taverna, como Ban pedira, mas ela voltara ao campo de batalha com sua arma em mãos – Venha, eu serei sua oponente.

—Por que eu... – Antes mesmo que Jericho pudesse dizer algo, mantendo sua guarda baixa por ver que sua adversária estava ferida, ela fora ultrapassada rapidamente. Nathalia havia simplesmente voado para salvar Ban dos pés da Cavaleira e voltar ao seu lugar – Como você...

—Sua idiota... – Ban diz inconformado, sendo largado sentado no chão.

—Um obrigado seria bom – Ela diz com um sorriso animado e levantando-se ao estralar o pescoço, dando finalmente sua atenção a mulher que transbordava ódio – Eu nunca te contei o porquê de eu ser chamada de Crow, a Mensageira do Inferno, não é mesmo?

—O que isto im...

—É porque eu sou a mais rápida dentre todos os membros do grupo Deuses do Inferno com estas minhas asas – Ela responde ao derrubá-la em um chute e voltar ao seu lugar junto ao humano que acabara de salvar. Obviamente que sua resposta não era sincera, ela nunca mais desejaria usar a magia em fez receber este nome: Divine Punishment– E não quero lhe ferir, Jericho.

—Eu não sou mais a sua aprendiz Crow...! – Ela levanta-se rapidamente e logo avança em direção a tengu. Nathalia apenas desviava-se de seus movimentos, sem encostar um dedo da mulher furiosa – Eu sempre lhe odiei por tanto me menosprezar, por esbanjar toda sua arrogância e ignorância, só por apenas ser uma das Cavaleiras mais temidas!

—Quer o meu nome? Quer ser a Cavaleira mais temida do reino? – Ela pergunta com um sorriso debochado, deixando sua adversária mais nervosa – Então mate-me se puder.

—Isto não é difícil – Ao escutar essa frase, ela é acertada pela espada de Jericho em seu ombro, cortando-o próximo ao seu pescoço. A voz masculina em que direcionara estas palavras fizeram-na distrair-se de Jericho e assim, sendo acertada.

—Crow! – Ban diz levantando-se, em que finalmente conseguindo de curar.

—Irmão... Então você... – Nathalia diz após vomitar um pouco de sangue.

—Ciel fez um estrago em minhas memórias, mas ele é fraco – Ele diz sádico com um sorriso de orelha a orelha, voando sobre as mulheres que lutavam.

—Esta luta é minha, Hades! Não se intrometa! – Jericho diz ao empurrar Nathalia com um de seus pés para tirar sua espada fincada.

—Venham, os dois contra mim – Nathalia diz com um sorriso largo nos lábios, mantendo-se em pé a frente de todos. Era loucura, com todos os seus ferimentos – Já que eu pude me regenerar todinha – Ela diz após uma risada macabra. Já não existia nenhuma ferida aberta e sua magia finalmente estava sendo desfeita: “Fake (Farsa)”, a magia oposta a Invisible; a magia em que permite criar uma ilusão por um determinado tempo e quanto mais perfeito for a ilusão, mais limitado o tempo será, o que permitiu com que a Maldição de Hades recuperasse tudo sem ninguém perceber.

—Você deveria parar de se achar em suas condições – Ban diz ao finalmente estar ao lado de sua companheira, ambos de costas para o outro – Eu cuido de seu irmão – Ele diz antes de pular em direção ao homem que voava alguns metros sobre sua cabeça, sendo rapidamente impedido por Nathalia que segurou seu braço e puxou-o. A diferença de altura era clara ao ver que Ban estava pouco abaixado para que seu rosto ficasse na mesma altura do que da morena, e sem reagir as suas ações, ela apenas tampa seus olhos com uma de suas mãos – O que você...! – O homem estava confuso, não apenas pelo ato de Nathalia, e sim por ela estar tão próxima. Sente seu rosto pouco quente ao sentir a respiração quente e calma da tengu, perguntando com palavras agressivas, mas sendo interrompido rapidamente:

—Feche seus olhos – Ela diz em um sussurro, não explicando mais nada – E não abra até o meu sinal.

Os Cavaleiros Sagrados não entendiam o que assistiam neste momento, mas sem importarem-se com isso, soltam um sorriso largo e avançam no casal. Parando apenas a frente um do outro, após quase acertarem seus próprios golpes neles mesmo por ao encostarem na imagem de Ban e Nathalia, tudo tornou-se escuro por uma enorme sombra e ambos desapareciam. “O que houve?” era o que ambos se perguntavam, sendo respondidos pela dona da magia: Fake.

—Parecem confusos – Ela diz voando sobre suas cabeças com um sorriso vitorioso e carregando o homem em seu colo, cobrindo toda a luz solar sobre os Cavaleiros com suas enormes asas.

—Fake...! – Jin estava com o sangue fervendo em suas veias por ser enganado por sua própria irmã que deveria conhecer melhor do que ninguém, mas estava errado, ele nunca lhe conheceu – Nathalia! – Ele grita furioso e voando em direção a sua irmã, mas seu movimento ao ter sua visão toda escura – Mas o que...

—Hades, o que foi que houve?! – Era vez de Jericho perguntar, por sua visão também estar totalmente escura e não enxergar nada.

—Ó Deus, perdoe-os por seus crimes e pecados, tenha piedade daqueles que não cumpriram seu papel nesta vida – Fora o que escutaram por final por Nathalia, que voou para longe dali.

Ela já havia planejado tudo desde o início da batalha com Jericho: quem estava lutando contra ela já era um Fake, enquanto mantinha-se escondida em uma das construções quebradas, e aproveitando-se que seus adversários permaneciam distraídos com sua cópia e com o Ban nos centros dos holofotes, utiliza Invisible em si mesma para aproximar-se também do combate. Voando com toda sua velocidade, fora possível tirar o homem dos braços de sua cópia, enquanto ela segurava-o, e deixar um Fake do humano e esconderem-se até o momento certo. Podendo assim, utilizarem finalmente a magia em que os deixaram cegos: “Eclipse”, permitindo todos em que são mantidos sob nenhuma iluminação em um determinado raio de alcance serem atingidos pela magia, tendo suas visões totalmente escuras, não enxergando nada além da escuridão.

—Pode abrir seus olhos – Ela diz finalmente para Ban abrir seus olhos, enquanto sentiam uma brisa por estarem voando – Como você está?

—Eu que lhe pergunto – Ele diz ao olhar para onde iam e logo olhando para baixo, vendo que ela seguia Hawk correr com Meliodas em sua boca e carregando Elizabeth.

—Desculpe-me Ban, mas... Apenas hoje, vou abusar da Maldição de Hades – Ela estava triste e seus olhos não escondiam, mesmo que ela ainda estivesse ali e lutaria para manter a salvo o homem em seus braços, e Ban deveria aceitar. Ele poderia não entender, mas ele sabia que ela não estava bem desde o momento em que Ciel havia aparecido diante aos seus olhos – Desculpe-me.

—Só não morra – Ele diz sem cerimônia, sem nenhum sorriso. Ambos pousaram longe do local em que estavam junto ao Hawk, Elizabeth e Meliodas que se mantinha insciente.

—Você deveria descansar – Ela diz ao Ban, vendo-o sentar-se encostado na construção quebrada.

—Você também – Ele retribui ao ter sua companhia ao seu lado, enquanto Hawk percebia retomava o fôlego por ter corrido tanto e perceber que Elizabeth, que estava minúscula, voltava ao normal. Ban teve seus olhos tampados por Nathalia, recebendo um soco em seu estômago – Eu não fiz nada!

—Se fizesse, eu arranjaria um meio de te matar – Ela diz com um sorriso debochado, ao receber as palavras furiosas do amigo – Merda...! – Ela murmura, logo utilizando sua magia Invisible pela milésima vez neste dia para esconder-se junto ao Ban ao escutar passos e vozes.

Era o fiel Cavaleiro Sagrado Griamore, filho do grão-mestre do reino de Liones, que acompanhava a irmã mais velha de Elizabeth. Uma discussão dentre eles resultou-se no aprisionamento de Meliodas em deusa Amber e Elizabeth na magia de Griamore: Casca Perfeita, a magia em que cria uma barreira praticamente indestrutível.

—Nós podíamos ter impedido isso – Ban sussurra, recebendo a negação da morena, que dá-lhe o sinal para finalmente entrarem em ação para salvar seus companheiros – Já que é assim, eu vou quebra-la com apenas um braço – Ele diz com um sorriso cínico, recebendo o espanto do Cavaleiro Sagrado, ao prender a segunda princesa de Liones e ameaça-la com suas próprias mãos – Ou talvez eu possa cortá-la com um dedo.

—Seu... Tire suas mãos sujas da princesa Veronica! – Griamore diz.

—Eu serei sua adversária, Griamore – Nathalia diz ao entrar em sua frente, impedindo de tocar em sua amada Alteza – Mas, se fizer o que nós mandarmos, nada irá acontecer.

—Primeiramente, traga o Capitão de volta e liberte a princesa – Ban complementa, mas sendo interrompidos por Jericho que golpeia Ban pelas costas e que não conseguia recuperar-se.

—Vocês são insistentes – Nathalia diz ao ver a presença dela, Guila e de Hades. Ela fora rapidamente socorrer o amigo, logo ambos ficarem de pé um de costas para o outro – E então, quem vai cuidar de quem?

—Quem sabe? – Ambos se perguntavam entre eles, cada um com sorriso cínico, enquanto Ban limpava o sangue de sua boca.

—Vocês me irritam – Jin comenta ao ser o primeiro a atacá-los com um enorme vento causado por suas asas.

—Droga...! – Nathalia escuta Ban reclamar, em que ele havia sido atingido por algo em seu braço. Logo que o vento acabou, o humano cai no chão e a tengu não pôde impedir.

—Ban, aguente firme! – Ela diz ajoelhando-se ao seu lado e aconchegá-lo em seu colo – O que...? – Sentiu um calafrio correr por sua espinha e o tremor em suas mãos ao ver os olhos de Ban: estavam totalmente mortos – Você pretende prendê-lo em um pesadelo, irmão? – Ela diz ao fitá-lo furiosa, sabendo que ele já utilizara esta magia contra ela e que a fez ficar inconsciente por dias.

—Não desta vez – Ele responde, dando ordem a Guila e Jericho que continuassem com a missão, enquanto ele cuidava da irmãzinha – Acha que só você adquiriu novas habilidades? Não preciso mais relar para utilizar minhas magias, contanto que minhas penas consigam ferir a vítima – Explica como Ban fora atingido, vendo que uma pena negra estava presa na pele do humano – Sweet Dream (Doce Sonho), permite que a vítima da magia sonhe com o que o coração tanto deseja.

—Ele logo irá despertar – Nathalia murmura ao ver seu amigo “dormindo” calmamente, confiante de que ele não seria derrotado por uma magia destas.

—Não é bem assim que funciona minha querida irmãzinha... Ele só irá despertar quando largar este desejo.

—O que...?! – “O desejo do coração? O desejo de Ban?” Nathalia perguntava-se, sabendo muito bem o que ele tanto desejava: Elaine, e isto fez com que o desespero corresse por todo o seu corpo.

—Ou melhor...

“Ele nunca irá despertar”