— Vamos, Van! Temos que levar essas ervas pra Absinto. É uma missão para coletar suprimentos, não de ficar de papo pro ar.

— Papo pro ar? Eu estou descansando da maratona de missões que você pegou. Primeiro uma caça pra pegar mascotes selvagens, depois uma patrulha pelo bosque e ainda coletar suprimentos para poções.

— Vamos, essa é a última missão, entregando essa, já podemos treinar.

— Vou pular o treino hoje, eu tô acabado das missões e ainda tô dolorido do treino de ontem. Vou tirar o resto do dia pra descansar. – Iduna e Van saíram da floresta em direção ao QG. Van levou os suprimentos direto para o laboratório de alquimia, enquanto Iduna seguiu pra biblioteca para fazer o relatório da missão.

Já fazia um mês que Iduna havia entrado na Guarda Obsidiana. Ela sempre fazia suas missões rápida e eficazmente. Tanto que Shion começou a dar mais de uma missão pra ela por vez. A jovem sempre pedia para que Van a acompanhasse, quando era possível. Ela havia criado apego pelo rapaz, como um irmão mais novo. Van era órfão, era um qilin de 1,70m. Tinha chifres que pareciam galhos voltados pra cima, biotipo humanoide, o cabelo era azul bem escuro e pele azulada clara. Havia chegado no QG a 5 anos, depois de perder a mãe em uma rebelião em Genkaku. Foi adotado por uma família no refúgio e entrou na Guarda Obsidiana 3 dias antes de Iduna.

Ao entrar na biblioteca, viu Shion em sua mesa, preenchendo alguns documentos.

— Boa tarde, Shion. Vim fazer o relatório das missões de hoje. – Iduna cumprimentou o centauro com um sorriso.

— Boa tarde, Iduna. Sabe o que fazer, só pegar um pergaminho. – A jovem fez seu relatório e entregou a Shion, que correu o olho e se deu por satisfeito. Mas antes dela sair, disse. – Huang Hua quer falar com você, parece que é sobre uma missão especial, mas ela não deu muitos detalhes.

— Parece importante, vou vê-la agora. – A moça seguiu para sala do conselho e bateu na porta. O senhor idoso de barba longa abriu.

— Senhorita Iduna, Huang Hua está a espera.

— Obrigada, senhor Zifu. – Adentrando a sala, Iduna se aproxima da Chefe da Guarda Reluzente, que a indica uma cadeira para sentar.

— Que bom vê-la, como está a sua adaptação a rotina do QG? – Huang Hua perguntou, interessada.

— Está indo bem, todos são muito gentis. Não tenho do que reclamar.

— Eu tenho ouvido coisas muito boas sobre você. Tem ajudados os recrutas mais jovens, ensinando artes marciais e seus relatórios de missões são muito completos, além de ter uma média de missões maior que a maioria. Espero que não esteja se sobrecarregando, seria uma pena você acabar com estafa por trabalhar demais.

— Está tudo bem, eu não estou me esforçando demais. Só pego pra fazer o que sei que posso terminar.

— Bom saber, mas, apesar de ser bom ter notícias suas, não foi por isso que a chamei. Recebemos uma carta de Zugyara, um reino aliado. Eles também acolheram humanos durante a Crise de Fusão. Mas a alguns dias eles foram atacados por bandidos. Eles foram atrás especificamente dos humanos, pareciam saber quem eles eram. Mataram quem tentou protege-los, levaram os cativos consigo.

— O mesmo modus operandi, acha que pode ser quem atacou a vila onde eu vivia nas Terras de Jade? – Iduna estava ansiosa com a notícia.

— Não sabemos, mas há a possibilidade. Por isso que enviarei um grupo para investigar o caso e seguir esses bandidos. Você estará nesse grupo. – Iduna parecia surpresa, mas assentiu positivamente. – Você se encontrará com eles amanhã ao amanhecer, no portão principal. Tire o resto do dia de hoje para se preparar para a viagem. Está dispensada.

Iduna seguiu para seu quarto, para prepara uma bolsa para viagem. Juntou pouca coisa, queria viajar o mais leve possível, não demorou muito e sua bagagem estava pronta. Após isso, foi a biblioteca, pediu para Shion algum livro que falasse sobre Zugyara, história, geografia, política ou algum relatório de missões anteriores. Queria ter uma ideia de como era o reino para onde estava indo. Leu por algumas horas até o estômago roncar e perceber que já era hora do jantar. Deixou os livros de lado e foi para o salão principal, pegou sua refeição e sentou sozinha, não havia muita gente no salão aquela hora e queria terminar a refeição logo para descansar bem para o dia seguinte. Distraída em seus pensamentos sobre o que lera mais cedo, alguém sentou-se do seu lado e a cumprimentou.

— Boa noite.

— Lance, boa noite. Não te vi chegar. – Iduna cumprimentou de volta.

— Estava pensando na missão de Zugyara?

— Mais ou menos, você sabe sobre essa missão?

— Eu sou um dos líderes dela, seria difícil não saber.

— Ah, a Huang não tinha me dito isso. Pra falar a verdade, ela não disse quem iria na missão além de mim.

— Seremos eu, você, Matheus, Erika, Leiftan, Mayuri e Nevra. A Huang Hua acha melhor que o grupo seja formado pelos que tem a aparência mais próxima dos humanos, para estabelecer confiança caso resgatemos algum cativo.

— É uma ideia interessante, ela é bem perspicaz, não é à toa que é a chefe de todos. - Iduna deu uma risada discreta.

— Você não deve conhecer sobre o lugar onde vamos, posso te passar algumas informações, o reino de Zugyara fica nas montanhas a oeste das terras de Lastelthea...

— O castelo fica na encosta de um vulcão inativo, por isso a atração do reino são as fontes termais. O rei Edwin é o rei atual e ele tem 1 filha, princesa Evangeline. A fonte de riqueza do reino é minério e comércio e é costume levar um presente para o anfitrião quando se faz uma visita. – Iduna repetiu todas as informações que havia adquirido na biblioteca.

— Como sabe de tudo isso? - Lance parecia impressionado.

— Depois que Huang Hua me passou a missão, tirem um tempo para ler a respeito de Zugyara na biblioteca. Achei que seria interessante saber mais do lugar pra onde estamos indo. Um relatório de uma missão anterior dizia que leva uns 2 dias de viagem até lá.

— Sim, é mais ou menos esse tempo. Foi boa a ideia de ler sobre Zugyara. Huang Hua fez bem em te colocar no grupo.

Lance e Iduna terminaram o jantar e seguiram para seus quartos, conversando sobre os treinos e as missões e da adaptação de Iduna a rotina do QG. Se despediram e Iduna entrou em seu quarto para dormir, tentando controlar a ansiedade da viajem. Só agora ela percebia que poderia estar indo ao encontro dos algozes que destruíram o lar de Yuka e Mariko. Com a cabeça cheia de pensamentos dormiu um sono intranquilo, com muitos pesadelos. Custou a acordar na manhã seguinte, mas o fez e foi encontrar todos no portão principal. Chegando lá, encontrou Erika, Matheus e Leiftan conversando e chegou cumprimentando.

— Bom dia.

— Nossa, você tá com uma cara péssima. Virou a noite? – Matheus perguntou sem pudor.

— Não, mas também não tive uma boa noite de sono, acordei muitas vezes durante a noite. Que saudade do café. - Iduna lamentava e Erika e Matheus concordavam com a cabeça.

— Café? - Leiftan indagava para Erika.

— É uma bebida estimulante da Terra. É parecido com chá, mas ao invés de ervas, usamos o grão de café moído. Os humanos costumam tomar de manhã para ajudar a começar o dia com disposição. - Enquanto Erika explicava, Leiftan ouvia atentamente. A meio-kitsune observava os dois conversando e Erika falou com ela.

— Iduna, acho que vocês não foram oficialmente apresentados, esse é Leiftan. Leiftan, esta é Iduna. - Ambos se cumprimentaram com um aceno de cabeça. - O Leiftan é um aengel, como eu e...

— É o namorado dela. - Matheus interrompeu.

— Isso não era necessário. - Erika protestou.

— Deveria me agradecer, eu demarquei seu território sem fazer você parecer uma doida ciumenta, então, de nada.

— Se as crianças já acabaram de brincar, temos uma missão para cumprir. - Nevra chegou por de traz do grupo acompanhado por Lance – Iduna, tem uma coisa aqui pra você. - Lance se aproxima da jovem e estende duas espadas para ela, uma katana é uma wakizashi.

— O Jamon aprontou suas espadas ontem à noite para a missão de hoje. Não tínhamos muitas referências dessas armas, então foi um pouco mais complicado pra ele forjar. - Lance comentou.

— Elas são lindas, ele fez um belo trabalho. Terei que pensar em um presente para ele quando voltar. - Iduna admirava a espada enquanto desembainhava parte dela para ver a lâmina.

— Certo, chega de papo, temos que ir. - Uma mulher de cabelos dourados e olhos azuis se aproximou.

— Pra quem não conhece, essa é a Mayuri. Ela entrou recentemente na Guarda Absinto, mas já trabalha com poções e encantamentos a muitos anos. - Nevra introduziu a jovem que se limitou a dar um aceno. - Já enrolamos de mais, vamos seguir.

O grupo pegou suas montarias e seguiram o caminho para a floresta, iniciando a jornada para as Terras de Lastelthea.