Iduna e Lance já estavam na praça central do mercado quando Leiftan e Erika chegaram. O sol se punha e a maioria dos mercadores já haviam ido embora, deixando o local, outrora animado e vibrante, cada vez mais sombrio e monótono.

— Conseguiram alguma informação boa? - Erika perguntou ao se aproximar.

— Acho melhor falarmos com todos juntos e em algum local mais reservado. - Lance disse, correndo o olho pelo local, tentando detectar alguém suspeito entre os transeuntes. Depois de mais meia hora, o grupo de Nevra chegou. Antes que eles falassem algo, Lance propôs.

—Vamos para torre do relógio. – Disse e seguiu para torre. Os outros o seguiram sem questionar, apesar de um pouco confusos. Após subirem a escadaria e chegarem ao alto da torre, Lance pediu a Nevra. – Verifique se há mais alguém nessa torre. – Nevra fechou os olhos por uns instantes.

— Ninguém, estamos sozinhos. – O vampiro concluiu.

— Como suspeitávamos, há pessoas de dentro da cidade ajudando os caçadores. Eles estão dando informações. E há quem acredite que há caçadores dentro da cidade espionando. – Lance começou.

— Tivemos a mesma impressão na enfermaria. Muitos civis não quiseram falar, mas os soldados acharam os atacantes organizados demais para ser um ataque aleatório. – Erika continuou. – Para eles, era como se eles já soubessem o que tinham ido buscar.

— Um garoto que encontramos estava no ataque, ele ouviu um bandido dizer que ia levar os humanos para uma ‘maldita montanha gelada’. – Iduna relatou - Eu não conheço Eldarya tão bem para especular onde pode ser essa montanha. Além disso, a taberneira nos disse que o estalajadeiro se encontrou com um dos atacantes no dia anterior ao ataque. Ela o descreveu como um lobisomem de pelo branco e cicatriz do lado direito do rosto.

— Refizemos o caminho que os atacantes fizeram na noite do ataque. – Mayuri prosseguiu. – Eles não se importaram em encobrir os rastros e pelo que vimos nos mapas da região, eles devem estar acampados em um templo antigo abandonado, a uns 10km daqui. Eu só não entendi o que eles querem com um bando de humanos. Sem ofensa, mas vocês são uma das raças mais fracas em Eldarya.

— Acho que a questão é justamente essa. – Nevra começou a dissertar. – Os humanos não são fortes, então são fáceis de dominar. Poderiam ser usados como escravos.

— Isso faz sentido com o que ouvimos sobre o estalajadeiro. A mulher da taberna disse que ele era preconceituoso com os humanos, que achava eles inferiores. – Lance pontuou.

— Uma raça considerada inferior e fácil de ser dominada pode ser facilmente escravizada. – Iduna concluiu.

— Se esse é o objetivo deles, temos que saber se estão fazendo isso de forma independente ou se estão sendo patrocinados por alguém. – Nevra disse pensativo. – Temos que achar um lugar para passar a noite. O rei nos tinha dito para ficar na estalagem, mas se o dono é cúmplice dos caçadores, não é seguro passar a noite lá.

— Podemos ir para casa abandonada onde encontramos o Eloy. – Iduna disse a Lance.

— Por hoje acho que vai servir. – Lance concordou e todos seguiram eles pelas vielas e becos, evitando ao máximo serem seguidos.

Ao chegar na parede falsa, Lance abriu caminho para que os outros passassem. Eloy e Totoro não estavam ali. Iduna torceu para que eles tivessem saído da cidade. Todos se acomodaram o melhor que puderam e revezaram turnos para vigia. Na manhã seguinte, Nevra foi ao acampamento para espionar e enquanto os outros ficaram aguardando por mais informações. Após algumas horas, ele retornou.

— Temos que ataca-los hoje. Eles pretendem atacar a cidade novamente essa noite. – Nevra começava a planejar - Vamos nos dividir em dois grupos, um irá ao acampamento, esperará até eles saírem e enfrentará quem sobrar para libertar os reféns. O outro grupo vai interceptar o bando antes deles chegarem à cidade. Pelo que contei, são uns 30 deles. O lobisomem também estava lá. Iduna, Erika e Matheus, vocês ficam encarregados de libertar os cativos. Leiftan e Lance vem comigo, vamos ataca-los num ponto da floresta onde a mata é bem densa, é ótimo para uma emboscada. Mayuri, você vai ficar com os soldados do reino, vamos usar um sinalizador quando atacarmos, então você poderá preparar os soldados para resistir a nova invasão caso alguém passe por nós.

Cada membro do grupo tomou seu posto. Iduna, Erika e Matheus mantiveram uma distância segura do acampamento, para que o lobisomem não percebesse a presença deles. Quando o sol se pôs, os bandidos começaram a se movimentar, indo direto para a cidade. Depois de uma boa distância, o grupo dos terráqueos invadiram o acampamento. Um templo em ruínas, com paredes caídas e sem teto. Os três observaram que deveria haver pelo menos uns 6 inimigos.

— Eu posso usar minha luz pra cegar eles e atacamos em seguida. – Erika propôs e os outros concordaram.

Os três fizeram barulhos fora do acampamento. Atraídos pelo som, parte do bando foi para fora do acampamento. De repente, uma luz muito forte apareceu na frente dos inimigos, deixando eles com a visão incapacitada e os três foram pra cima do bando. Iduna sacou sua katana com rapidez e desferiu golpes precisos e limpos para neutralizar os inimigos. Ela derrubou três homens que estavam no caminho para entrada do acampamento. Matheus e Erika derrubaram os outros três restantes. Com o barulho, mais dois bandidos vieram para a entrada, mas ao ver 6 de seus companheiros caídos no chão e 3 Guardiões a frente deles, eles apenas largaram as armas e saíram correndo, fugindo.

— Vamos entrar com cuidado, pode haver mais inimigos dentro do acampamento. – Erika toma a dianteira na invasão, sendo seguida por Matheus e Iduna. Eles vasculharam o perímetro e constataram que não havia mais nenhum bandido no acampamento. Encontraram os humanos raptados e amarrados em baias, como gado. Desamarraram todos e trataram de fugir. Ao sair do acampamento, viram uma grande coluna de fogo, era o sinal do ataque do grupo de Nevra aos bandidos. Iduna quis seguir o sinal e correr em direção ao conflito. Erika a deteve.

— Nossas ordens são de ajudar essas pessoas, precisamos ficar com elas.

— Você e Matheus são mais que o suficiente para defender todos. Eu vou ajudar os outros. – Iduna estava decidida.

— Vai ajudar ou vai se vingar? – Matheus indagou, expondo as intenções da jovem.

— Não é vingança, é justiça. – Iduna ignorou os protestos de seus companheiros e seguiu pela estrada, correndo o mais depressa que conseguia.