A noite passou rápido e assim que a manhã surgiu o plano foi colocado em prática. Lance foi ao conselheiro Kotaro e pediu um mapa dos quartos dos residentes nobres do castelo para a investigação. Com relutância, o conselheiro deu o mapa, mas frisou o pedido pela discrição. Koori e Iduna ficaram encarregadas de investigar o quarto de cada nobre, procurando papeis com planos ou qualquer outra pista. Matheus ajudava as garotas, vigiando caso alguém aparecesse, Lance passou o dia com o príncipe e a princesa, conversando sobre política e a futura aliança entre os reinos e a Guarda. Ao final do dia, se encontraram para discutir o que conseguiram de informação.

— Eu e a Koori não encontramos nada nos quartos, se tinha algum tipo de plano escrito, foram todos destruídos ou estão guardados fora do castelo. Eu ouvi buchichos de empregados, mas todos dizendo que pode acontecer algo ruim no dia do casamento, mas pareceu mais um temor do que uma informação.

— Odeio dizer isso, mas acho que não poderemos evitar um ataque a princesa. - Koori disse com pesar na voz.

— Mas nós temos que proteger a princesa, não necessariamente evitar o ataque. - A afirmação de Matheus deixou todos confusos.

— Mas evitar o ataque é proteger a princesa. - Iduna argumentou.

— Sim, é uma maneira de protegê-la, mas se não sabemos como evitar o ataque, ao invés de tentar evitar, podemos usar isso para revelar nossos inimigos. - Todos ainda estavam com caras de confusão, então o jovem humano continuou. - A melhor pista que temos, é a carta que o conselheiro encontrou sobre o sequestro da princesa na véspera do casamento, ou seja, eles têm que atacar até o dia do casamento para evitar que ele aconteça. Na véspera e no dia do casamento podemos montar uma armadilha para os inimigos.

— E como faríamos isso? - Lance quis saber.

— Usando nossa própria princesa. - Matheus aponta para Koori. - A Koori também tem pelos brancos e nove caudas, e ainda tem magia de ilusão, ela pode se disfarçar da princesa e, quando os inimigos atacarem, podemos revidar e capturá-los.

— Quer dizer que você quer me fazer de isca? - Koori indagou.

— Eu sei que parece perigoso, mas vamos estar lá para te proteger e você é boa de luta.

— Essa pode ser nossa melhor chance, pode não ser o ideal, Koori, mas te daremos todo o apoio. - Lance passava segurança para a companheira.

— Tudo bem, eu faço. Mas quando voltarmos para o QG quero uma boa recompensa.

— Acho que não devemos revelar nossos planos a mais ninguém além do príncipe e da princesa, nem mesmo ao conselheiro. - Iduna observou.

— Quanto menos gente souber, melhor para o nosso plano. Vou falar com eles amanhã. Vamos elaborar mais a armadilha, mas continuem de olho nos empregados e nobres e observem qualquer suspeita. Agora vamos ao jantar de noivado do príncipe e da princesa, será daqui algumas horas e nós fomos convidados.

Todos se vestiram apropriadamente para a ocasião. Servas foram ajudar Iduna e Koori a se vestir, já que um kimono tradicional é complicado de se vestir sozinho se não tem prática. Penteados bem arrumados com belos enfeites de cabelo. As moças ficaram lindas e os rapazes também estavam bem apresentáveis. Quando se encontraram para ir ao salão, Matheus deu seu braço a Iduna para passarem a imagem de casal que estavam sustentando. Eles de braços dados e Koori pegou no braço de Lance para eles também chegarem juntos, mas como um acompanhante do que um casal.

O jantar seguia tranquilo e animado, muita comida boa e bebida a vontade. A princesa Akame olhava de vez em quando para Matheus com olhar de tristeza. Ela tratava o príncipe com cortesia, mas nada além disso. Após um longo jantar, todos já estavam um pouco altos com a bebida, foi quando o príncipe decidiu fazer um discurso.

Estou feliz de todos estarem aqui, comemorando meu futuro casamento com a bela princesa Akame. — O príncipe aponta para Akame. – Desde a primeira vez que eu a vi saindo daquela carruagem eu soube que nossos destinos estavam ligados e farei tudo para lhe dar tudo o que você desejar, farei de você a mulher mais feliz do mundo. — Ele beijou a mão da princesa, que ficou corada com a situação. Enquanto discursava, um servo traduzia para o grupo da guarda de Eel. O príncipe Satoru era bem atraente, de fato, um kitsune de nove caudas e com pelos e cabelos ruivos e a ponta das caudas com pelo branco, além de ser alto, elegante e galante.

— A propósito, meus amigos da guarda de Eel. – Satoru agora falava no idioma comum. – Soube que o senhor Matheus e a senhora Iduna são casados. Algum conselho para nós? – O príncipe perguntou ao falso casal e Matheus tomou a palavra.

— Não importa a situação, não importa o motivo, não importa a circunstância, a esposa está sempre certa. Até quando ela está errada, ela está certa. – Os presentes riram da afirmação de Matheus, que já estava meio grogue da bebida. – No nosso mundo existe um ditado que diz “esposa feliz, vida feliz”, então faça tudo pra ela sempre estar feliz. – Depois de dizer a frase, Matheus, por conta da bebida, puxa Iduna para perto de si e a beija novamente sem o consentimento da garota que, disfarçadamente, dá um beliscão no rapaz na altura da costela. Ele percebe e para de beijá-la e mesmo com um sorriso no rosto da jovem, ele pôde ver a ira em seus olhos.

— Senhores, peço licença. Estou cansada e preciso mesmo me retirar. – Iduna se levanta, meio cambaleante por causa da bebida, havia bebido mais que o normal e ela era fraca com álcool.

— Eu irei com você, querida. – Matheus ameaçou se levantar, mas Iduna o impediu.

— Está se divertindo tanto, querido, que ficaria arrasada se saísse daqui por minha causa. Fique, eu estou bem. – Iduna colocou a mão no ombro dele com uma pressão mais forte que o necessário e ele entendeu que ela não o queria por perto. Ela saiu para o quarto e quando chegou tentou controlar a raiva que sentia. Era muito desconfortável fingir aquela relação, mas o fato de Lance ter visto aquilo a deixava pior. Ela começava a entender que todo o seu desconforto vinha dos sentimentos que tinha pelo dragão. De repente, ela ouve alguém e quando se vira, Lance entra com um olhar ameaçador. Ele se aproximou dela e, por reflexo, ela deu passos para trás até uma parede. Ele se aproximou dela, colando seus corpos, apoiando os antebraços na parede, um de cada lado da jovem.

— Como consegue? Consegue fingir tão bem assim uma relação que não existe. – Iduna percebeu que não era ameaça que ele tinha no olhar, mas sim mágoa.

— Eu não queria aquilo, Matheus se descontrolou de novo. – Iduna se justificava. Lance mordeu o lábio de raiva e moveu seu rosto pondo sua boca no ouvido da meio-kitsune, sussurrando.

— Então, seu eu me descontrolasse, você também fingiria e aceitaria?

— Não, porque, se você fizesse isso, eu não precisaria fingir.

Aquela resposta pegou Lance completamente desprevenido. Recuou um pouco para olhar Iduna nos olhos. Ela o olhava com sinceridade. Ambos respiravam profunda e rapidamente, indicando o coração acelerado. A jovem deslizou suas mãos pelo abdômen dele, subindo pelo peito e pescoço e segurou seu rosto puxando para perto do dela, juntando seus lábios com os dele. Ele deslizou suas mãos pela parede até a cintura dela, abraçando-a forte contra si. O beijo começou lento e calmo, mas conforme o contato entre os corpos se mantinha, ele ficava mais intenso.

— Iduna, se quiser eu coloco laxante na bebida do Matheus quando voltarmos para o... - O momento foi interrompido por Koori abrindo a porta, mas parou de falar ao ver os companheiros naquela situação. Ela apenas fechou a porta e deu meia volta.

— Ela vai gozar com a nossa cara até o fim dessa viajem. - Iduna disse em tom de lamentação.

— Temos que focar na missão agora. É nossa prioridade. - Lance disse, se afastando da jovem, que concordou com a cabeça, mas o dragão viu a decepção em seus olhos e tratou de esclarecer. - Eu sei que é minha culpa toda essa situação, mas quando acabarmos tudo aqui, vamos conversar sobre nós. Mas tenha em mente que eu não me arrependo de nada. - Ele deu um beijo profundo, intenso e rápido para deixar claro que era Iduna que ele desejava, mas saiu do quarto logo após, ambos sabiam que não iriam se controlar caso ficassem próximos naquela situação.

Sem escolha, Iduna apenas se deitou e adormeceu mais rápido do que achou que dormiria, haja vista o que acabara de acontecer. Quando acordou, Lance já havia saído, apenas Koori e Matheus estavam dormindo. Ela se levantou devagar, com a cabeça doendo da ressaca, e achou que não havia acordado ninguém, mas quando virou novamente para Koori, essa a olhava com um sorriso cínico no rosto.

— Vamos tomar banho e conversar um pouco. - A kitsune pegou uma muda de roupas para ela e Iduna e a arrastou para o banho do castelo. Enquanto estavam relaxando na água quente, Iduna contou como tudo aconteceu na noite anterior, Koori fez questão dos detalhes, e após a narrativa, ela disse. - Não gostei muito de como rolou isso tudo, mas já estava mais do que na hora, na minha opinião.

— Estava tão na cara assim? - Iduna parecia sem graça.

— Na verdade não, você até que desfaçava bem, mas depois que o Matheus inventou aquela história de casal com você, o Lance deu muito na vista.

— Não vejo a hora dessa missão acabar, ainda falta três dias até esse casamento e ainda temos uma conspiração para lidar.

— Eu venho trabalhando na minha ilusão e já consigo ficar igual a princesa. Espero que consigamos enganar os conspiradores.

— Eu também espero. – Iduna e Koori seguiram conversando e acabaram passando o dia juntas.

Os dias seguintes ao acontecido entre Iduna e Lance foram arrastados para ambos, eles se evitavam sem saber exatamente o porquê. Mas o dia do casamento chegou e a tensão tomou conta de todos. Nenhum movimento estranho foi feito contra a princesa, o que queria dizer que ou os conspiradores haviam desistido ou aquela era a última oportunidade para o ataque. E se fosse a segunda opção, a Guarda de Eel estaria pronta.