As crônicas da Raposa e do Dragão
O fogo da Ira
O sol surgiu no horizonte de um céu limpo e sem nuvens. O dia parecia ser perfeito para um casamento, se não fosse a ameaça iminente de ataque a princesa Akame. O casamento seria realizado aquela manhã, mas os guardiões de Eel já estavam se revezando na guarda a princesa desde a manhã do dia anterior. Na manhã do casamento, Lance faria a guarda e iniciaria o plano. Após toda a produção que as servas fariam na princesa, ela pediria um tempo sozinha. Nesta hora, Koori entraria no quarto e com sua ilusão, se disfarçaria de Akame. A falsa princesa seria guiada por Lance e Matheus por todo o caminho até o local da cerimônia passando pelos corredores do castelo e recebendo congratulações dos presentes. A verdadeira princesa também seguiria para o local da cerimônia, mas por passagens secretas que apenas a família real conhecia. Iduna a levaria por essas passagens e quando chegassem a presença do sacerdote para oficializar o casamento, seria feita a troca das princesas. Parecia o plano perfeito e sem falhas, se eles atacassem antes da princesa chegar até o local do casamento, pegariam uma falsa princesa, se nada acontecesse nesse caminho, o casamento aconteceria normalmente e os reinos se uniriam.
O plano foi posto em prática, todos desempenharam seu papel corretamente e quando chegaram em frente ao sacerdote para realizar o casamento, a verdadeira Akame não apareceu. Esperaram mais alguns minutos e nada. Algo estava errado. Lance chamou o príncipe para guiar pela passagem secreta e ambos correram por ela, acompanhados por Koori, Matheus e alguns soldados. Eles refizeram todo o caminho que deveria ter sido feito por Iduna e Akame e no meio do caminho acharam Iduna caída no chão desacordada. Lance correu para ver se a jovem estava viva e respirou aliviado quando percebeu que ela estava apenas desmaiada. Koori se aproximou do rosto da companheira e disse.
— Esse cheiro no rosto dela, é água do lete com essência de flor da noite. Eles a apagaram e devem ter feito o mesmo com a princesa e tirado ela daqui. – Koori tirou um pequeno frasco e o passou nas narinas da companheira desacordada. Iduna se levantou em um salto e ficou confusa por estar rodeada por todos daquele jeito.
— Para onde levaram a princesa? – O príncipe Satoru perguntou nervosamente e a pergunta pareceu tirar a confusão da cabeça de Iduna.
— Dois homens nos atacaram por trás, forçaram um pano molhado com alguma coisa nos nossos rostos e só lembro de ouvir um deles falar “ela quer a princesa viva”. – Iduna dizia enquanto se punha de pé com ajuda de Lance.
— E agora, para onde a levaram? Isso é um desastre sem precedente. – O conselheiro real dizia com as mãos na cabeça.
— Príncipe, quem mais sabe sobre essas passagens? – O chefe da Obsidiana perguntou.
— Apenas membros da família real, atualmente eu e minha mãe.
— É possível que isso tenha vazado de alguma maneira?
— Da minha parte, não. Apenas contei a vocês ontem, quando estávamos elaborando o plano.
— Você contou do plano para alguém, fora nosso grupo? – Matheus perguntou, já entendendo aonde Lance queria chegar.
— Não contei para ninguém, exceto minha mãe... – O príncipe Satoru se calou com o susto e voltou a falar com os guardiões. – Não podem estar insinuando que a rainha-mãe tenha alguma coisa a ver com isso?
— Não temos certeza de nada, mas a princesa está no quarto dela. – Iduna mostrava o mapa do castelo fornecido pelo conselheiro, e quando Koori usava sua magia nele e fazia um símbolo brilhar no mapa. Lance olhava as guardiãs com cara confusa, mas não perguntou para não passar a impressão de ignorância.
— Eu e Iduna tomamos a iniciativa de criar um rastreador para a princesa. Um dos enfeites de cabelo dela estava encantado com uma magia de rastreio, caso a perdêssemos. Pedimos para nosso superior manter segredo absoluto, até mesmo do príncipe, pois não sabíamos quem estava por trás disso. – Koori tratou de explicar.
— Pelo mapa dos residentes do castelo, a princesa se encontra nos aposentos da rainha-mãe. – Iduna completou.
— Eu vou na frente, deve haver uma explicação racional para tudo isso. – O príncipe Satoru parecia transtornado com a possibilidade de sua mãe estar tramando contra seu casamento.
Todos correram pelo castelo, até os andares mais altos, para os aposentos da rainha-mãe Hikari. Ao chegar entrar no quarto, duas dúzias de soldados onis os aguardavam, com a rainha e a princesa ao fundo da sala ampla. Um conflito caótico se iniciou entre a guarda de Eel e os soldados do príncipe e os soldados da rainha Hikari. Apesar de não estarem usando suas armaduras, Lance e Matheus estavam com suas espadas. Koori usava magia e Iduna lutava corpo a corpo. Porém, aquele kimono apertado limitava seus movimentos. Ela arrancou a faixa da cintura e tirou toda a seda, ficando apenas com uma bermuda e um camiseta branca que havia colocado mais cedo, prevendo alguma luta que pudesse encarar. Ela atacou um oni com o dobro da sua altura, usando a esquiva para desviar e atacar em seguida, atingindo pontos fracos como articulações. Ela o derrubou e pegou sua lança. Munida de uma arma, seguiu em frente. Foi atacada por outros onis e conseguiu desmaiá-los com a mesma estratégia, desviar e atacar. Ela sentiu um calor vindo de suas costas e de repente todos pararam de lutar e olharam para o mesmo lado. O príncipe Satoru está com suas nove caldas esticadas, com chamas vermelhas em cada uma delas, suas garras estavam compridas e sua feição era de fera. Ele correu e atacou os onis restantes com ferocidade. Cada golpe que dava com suas garras, ele abria e cauterizava a ferida na hora, o que não diminuía o dano, na verdade. Os inimigos caiam para o príncipe um a um até que restou apenas Satoru, Akame e Hikari. Com um movimento de ataque, o príncipe atacou a rainha, mas sem atingi-la, apenas para separá-la da princesa.
Ela pulou para o lado oposto ao do cômodo, em posição de defesa. O Satoru se aproximou de Akame, que estava amarrada e amordaçada. Com destreza, ele cortou as cordas com suas garras, sem machucar Akame.
— Cuidem da princesa! - O príncipe ordenou, a guarda de Eel e os soldados restantes de Satoru se aproximaram. Ele se aproximou de rainha, ficando a dois metros dela e indagou. - Por quê fez isso, mãe. Por que está interferindo no meu casamento, é a nossa chance de selar a paz entre os reinos?
— Paz? Unir-se ao nosso inimigo não é paz, é fraqueza! — A rainha dizia com ira no olhar e em posição defensiva.
— Meu pai queria essa aliança! Ele estava longe de ser fraco! - Satoru disse, em posição de ataque, mas sem atacar.
— Ele era o mais fraco de todos! Forjar essa aliança com o inimigo foi um erro. Eu pensei que poderia mudar sua ideia depois de ter me livrado dele, mas parece que a fraqueza é hereditária. - A rainha falou sem calcular o que dizia. O príncipe, a princesa, os guardas presentes e Iduna ficaram boquiabertos. Apenas os guardiões de Eel não entendiam o que se passava.
— O que está acontecendo? - Matheus disse o que os outros estavam pensando. Iduna tratou de esclarecer.
— A rainha acabou de admitir que matou o rei e tentou manipular o príncipe a desistir do casamento.
— Como você sabe? - A princesa Akame, que estava sobre a proteção da guarda ficou surpresa.
— Longa história, contarei tudo quando essa confusão acabar.
— A senhora teve coragem de matar meu pai por essa noção distorcida de força? NÃO VOU PERDOA-LA! — Príncipe Satoru investiu contra a rainha Hikari iniciando um combate intenso onde o príncipe atacava sem piedade e a rainha tentava defender sem sucesso. Ela levou diversos golpes nos braços e pernas, que causaram queimaduras intensas e a perda da mobilidade da rainha. Hikari ficou caida no chão, sofrendo pela dor de seus ferimentos, Satoru se aproximava com cólera no olhar, ele realmente ia matá-la.
— NÃO!!! — A princesa Akame não podia permitir que seu futuro esposo caísse em desgraça com aquela situação, ela correu ao encontro de Satoru e usou seus poderes de kitsune das neves para ‘esfriar’ os ânimos do príncipe. - NÃO FAÇA ISSO! - Ao sentir o abraço frio de sua noiva, a kitsune das chamas recolheu suas garras e apagou o fogo de suas caudas.
— Minha amada, como pode ter compaixão dessa criatura que quis te fazer mal? - Satoru quis saber.
— Não faço isso por ela, mas por você. Você não pode iniciar seu reinado com essa mancha na sua vida. Independentemente do que ela tenha feito, ela ainda é sua mãe. - Akame justificou. O príncipe entendeu o ponto de vista dela.
— Rainha Hikari, neste dia, sua vida foi salva pela futura rainha Akame, lembre-se sempre disso. A senhora será exilada na Ilha do Fim. Terá criados para servi-la, mas nunca mais deixará a Ilha. Guardas, PRENDAM-NA! - Satoru deu a ordem e os guardas obedeceram. Ele estava visivelmente abalado com o acontecido e o abraço reconfortante de sua noiva trouxe um pouco de alívio naquele momento. Os membros da Guarda de Eel perceberam que podiam parar de se preocupar com a paixonite da princesa por Matheus.
Aquela manhã foi bem intensa, mas os guardiões ainda precisavam cumprir a missão. O casamento precisava ser realizado, mas devido a todo acontecido, provavelmente seria adiado por mais alguns dias. Por hora, a segurança dos noivos estar garantida era o mais importante.
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