— Eu estava te procurando, Amor. Você sumiu depois do almoço, achei que estava no quarto, mas quando cheguei lá, você não estava, então vim te procurar. - Matheus tinha um riso nervoso, Iduna estava confusa e Lance parecia perplexo. A jovem meio-kitsune jurava ter visto a veia do pescoço do dragão saltar. Matheus pegou a jovem pelos ombros e disse movimentando os lábios, mas sem sair som ‘me ajude’, foi quando Iduna olhou para traz dele e viu a princesa Akame escondida atrás de uma coluna do castelo, espionando a cena.

— Eu estava no jardim, acabei cochilando e o Lance chegou e começamos a conversar, Querido. - Iduna entrou naquela farsa. - Vamos voltar para o quarto, tenho que conversar com a Koori para falar sobre a missão. Lance, venha também.

Iduna seguiu na frente de braços dados com Matheus e sendo seguida pelo dragão logo atrás. Ao chegar no quarto, Koori arrumava suas poções e ficou surpresa em ver os companheiros de guarda de braços dados. Ao passar pela porta e fechá-la, Iduna soltou o braço de Matheus e deu um belíssimo tapa em seu rosto.

— Agora vai explicando direitinho essa ideia de me beijar do nada. - A jovem guardiã estava bem irritada e Lance se surpreendeu em como ela conseguiu disfarçar sua ira.

— Eu não tive escolha. Depois da refeição eu fui dar uma volta no castelo, a princesa Akame me encontrou e me encurralou, disse que nossos destinos estão ligados, que ela fugiria comigo se eu pedisse, ela estava se jogando para cima de mim, literalmente. Eu precisava de uma desculpa para me afastar dela, mas sem magoá-la muito, então eu disse que não poderia ficar com ela, porque já amava outra pessoa.

— E essa pessoa era a Iduna. - Lance disse secamente e com um olhar intimidador.

— Eu tive que inventar isso, ela não ia me deixar em paz. Ela só se conformou quando eu disse que éramos casados.

— De todas as mentiras que você podia inventar, você achou que essa era a melhor? - Iduna estava indignada.

— O que eu poderia dizer?

— Podia dizer que não gostava de mulheres e era casado com o Lance. - Koori fazia graça da situação de seus companheiros.

— Essa ideia parece ainda pior. – Lance disse com desgosto.

— Só se for para você, eu achei ótima. – Iduna respondeu com olhar de aborrecimento para o seu chefe de guarda.

— O importante é que eu preciso que me ajude a manter essa mentira, pelo bem da missão e o meu também. – Matheus suplicava de joelhos e com o rosto ainda ardendo do tapa.

— Tudo bem, eu ajudo. Mas nada de me beijar de surpresa. Eu decido se for necessário.

— Obrigado. Muito obrigado! – Matheus agradecia quase chorando de emoção.

— Você vai aceitar fazer parte dessa mentira? – Lance parecia estar bem irritado.

— Temos uma princesa jovem, imatura e apaixonada por alguém que não é quem ela deve se casar e precisamos que ela desista dessa paixão para cumprir nossa missão e criar um bom relacionamento com esse reino. Tem ideia melhor? Sou toda ouvidos. – Iduna estava mais sarcástica que o normal. Lance ficou em silêncio, pois de fato não tinha outra ideia. – Foi o que pensei, preciso de um tempo sozinha.

Iduna saiu do quarto e seguiu para algum outro jardim do castelo. Matheus permaneceu no quarto pois temia encontrar Akame e Lance saiu também, na direção oposta tomada pela meio-kitsune. Koori o seguiu, achando toda aquela situação bem divertida. Depois de uns minutos seguindo o dragão, ele falou a kitsune.

— Vai ficar me seguindo ou vai dizer o que tem para falar?

— Estou curiosa, só isso.

— Curiosa com o que?

— Sua reação com essa história da Iduna e do Matheus serem um casal.

— Eu fico desconfortável em mentir para um possível aliado.

— Hummm...., É mesmo? Para mim pareceu outra coisa.

— O que está insinuando?

— Para mim, pareceu mais que você estava era morrendo de ciúmes.

— Não seja ridícula, que motivos eu teria para ter ciúmes? Eu e a Iduna não temos nenhum relacionamento desse tipo, então é absurda essa sua afirmação. - Koori achou que Lance negou demais para alguém que queria demonstrar não ter sentimentos românticos.

— O fato de você não ter uma relação com ela é irrelevante para o ciúme, afinal só porque você não tem, não quer dizer que você não queira. Mas agora tenho que ir a horta do castelo, vi várias plantas interessantes para fazer poções. Até mais. - Koori seguiu sem esperar a resposta do dragão, na verdade ela não ligava, ela só queria jogar aquele pensamento na cabeça de Lance.

O resto do dia transcorreu dentro da normalidade, cada integrante da guarda em uma parte do castelo. Voltaram a se encontrar na hora do jantar. Iduna já um pouco mais calma, mas ainda incomodada em ter que bancar o casal com Matheus. Lance parecia mais introspectivo que o normal, mas sempre que seu olhar se cruzava com a Koori, ela lhe dava um sorriso debochado. Matheus ainda parecia estar em alerta, com medo da princesa Akame aparecer novamente. Ao final da refeição, o grupo foi visitado por alguém que eles ainda não conheciam, mas Lance lembrava de tê-lo visto quando foram a presença do príncipe Satoru. Era um senhor idoso, baixinho, calvo e com uma barba longa e usava uma bengala de apoio.

— Boa noite, senhores. Eu sou o conselheiro real, Kotaro. - Todos cumprimentaram fazendo uma reverencia. - Estou aqui a mando do príncipe. Ele não pode vir falar com vocês pessoalmente, por isso me enviou. Gostaria de discutir com os senhores um assunto muito delicado, é sobre o casamento entre a princesa Akame e o príncipe Satoru. - Matheus engoliu em seco, achando que seria algo sobre ele. - Temo que o casamento esteja ameaçado por causa de conspiradores dentro da corte real – Matheus respirou aliviado por meio segundo, mas depois de processar a informação ficou apreensivo, junto com os outros companheiros da guarda. - Temos suspeitas devido a boatos e coisas que os empregados escutam. Mas além disso, achamos um pergaminho com um dos nossos anciões que faleceu recentemente. Nele havia planos para sequestrar a princesa Akame na véspera do casamento, não sabemos se esse plano ainda será concretizado ou se já foi mudado visto que achamos o pergaminho conspiratório.

— Mas qual o interesse em não realizar o casamento entre o príncipe e a princesa? - Iduna indagou ao conselheiro.

— As cidades de Hyogaki e Akarui são rivais a muitas gerações, muitos não enxergam essa união como uma oportunidade, mas sim como fraqueza.

— O príncipe quer que fiquemos em alerta, caso alguém queira interferir nos planos para o casamento. - Koori concluiu.

— Exatamente, e sem alarde, se possível.

— Faremos de tudo para proteger vossas majestades e fazer o casamento acontecer. - Lance prometeu ao velho senhor.

— Muito obrigado, não esperava menos da famosa Guarda de Eel. - O conselheiro Kotaro saiu do quarto e Matheus lamentou.

— Mas essa agora, não bastava uma princesa apaixonada, agora temos que lidar com uma conspiração.

— Se soubéssemos que teríamos que lidar com isso, o Nevra podia ter vindo no seu lugar. Teria nos livrado do primeiro problema e ajudado com o segundo. - Koori disse, caçoando do amigo.

— Você é muito malvada. - Matheus respondeu com cara de desgosto.

— Vamos dormir e investigar essa conspiração amanhã. - Iduna sugeriu e todos concordaram. Mas, apesar de ter sugerido, Iduna estava completamente sem sono e por volta da meia-noite, enquanto seus companheiros estavam dormindo, ela saiu do quarto com cuidado para não acordar ninguém e foi caminhar e tentar espairecer as ideias. Ela voltou ao lago de carpas, aquele lugar lhe trazia tranquilidade. Ela se sentou novamente aos pés da cerejeira e seu amiguinho pimpel foi novamente para seu colo. Diferente daquela tarde, o sono não veio. Aquela situação com Matheus a incomodava mais do que gostaria de admitir, mas não entendia o porquê, já que não tinha nenhum namorado e o Matheus era bem bonito, mas alguma coisa a deixava apreensiva com a situação. A lembrança de Lance perguntando se ela aceitaria a farsa veio em sua mente. Ela deu uma resposta atravessada a ele na hora da raiva, mas agora que pensava melhor, estava arrependida de ter falado daquele jeito com ele. Ouviu alguém se aproximar e quando a silhueta foi para a luz do luar, viu que era Lance se aproximando. Ele se sentou novamente ao seu lado, como tinha feito mais cedo.

- Pelo visto você perdeu o sono. – Lance comentou.

— E acho que não fui a única. – Iduna respondeu apontando para o seu chefe de guarda.

— Essa situação que o Matheus te colocou, deve ser bem estressante.

— É bem complicada. Aliás, sobre hoje à tarde, me desculpe. Eu não tinha o direito de falar daquele jeito com você, fui grossa sem necessidade.

— Eu também acabei te censurando por aceitar essa situação, mas você estava certa. Não tinha outra solução.

— Eu só espero que eu consiga ser convincente, eu não sinto nada pelo Matheus, como vou conseguir fingir que sou esposa dele? – Iduna coçava os olhos com os dedos tentando pensar, não chegou a ver o sorriso enorme que Lance deu depois de ouvi-la dizer aquilo, mas tratou de disfarçar logo em seguida.

— E ainda temos mais esse problema de conspiração para resolver. Acho que vamos precisar da sua habilidade para entender nihongo. Amanhã você deverá andar pelo castelo e tentar ouvir alguma conversa suspeita, talvez, se acharem que você não entende, podem acabar vacilando.

— Se acharam os planos com alguém da nobreza, temos que tentar investigar os nobres da corte. Todos são suspeitos. – Nesse momento, Iduna deu um grande bocejo e sentiu que finalmente o sono havia chegado. Lance bocejou em seguida por reflexo.

— Melhor irmos dormir, amanhã o dia vai ser bem complicado. - Seguiram para o quarto onde os outros ainda dormiam profundamente.