— Graças ao Oráculo chegamos! Eu só quero tomar um banho e dormir até semana que vem. - Matheus disse assim que a caravana cruzou os portões do QG.

— Ainda temos que entregar a missão para Huang Hua antes que poder descansar. – Apontou Erika.

— E ajudar a acomodar os recém-chegados. – Completou Leiftan apontando para trás do grupo que os acompanhavam.

— Vamos fazer o seguinte, Lance, Erika e Iduna, vocês vêm comigo para dar o relatório principal pra Huang Hua. Os outros vão mais tarde para complementar o relatório. – Nevra propôs e assim fizeram.

Ao chegarem no prédio principal do QG, foram direto para a sala do conselho. Huang Hua já estava à espera deles.

— Bem-vindos de volta todos vocês. Tiveram problemas na estrada, Nevra, levaram mais tempo que o habitual para chegar?

— Tivemos que acompanhar uma caravana que quis sair de Zugyara e buscar refúgio aqui. – O vampiro explicou. – Isso acabou nos atrasando um pouco.

— Entendi, mas tudo bem se todos chegaram sãos e salvos. O relatório preliminar que você me enviou, eu quero ter certeza se entendi bem. Há reinos em Eldarya contratando mercenários para capturar humanos para serem escravizados. É isso mesmo?

— Sim. Parece que o líder do bando que derrotamos em Zugyara era apenas um de diversos bandos que tem feito esse serviço.

— Isso é muito sério. Precisamos dar um jeito nisso. Me conte como foi todo o acontecido em Zugyara.

Nevra contou tudo o que havia acontecido com seu grupo, como se dividiram para investigar na cidade, a descoberta do plano para ataque e a interceptação do bando inimigo. Cada um contou o que aconteceu com seu núcleo, Erika disse como foi a investigação na enfermaria e o resgate dos humanos. Lance e Iduna contaram sobre como ajudaram as crianças de rua na cidade e a investigação na taverna. A meio-kitsune também relatou como ignorou o plano inicial e foi para o campo de batalha principal e como derrotou o líder inimigo quase morrendo no processo, fazia sua narração sem orgulho. Após todos os relatórios, Huang Hua prosseguiu.

— Parece ter sido uma batalha difícil. Mas com o líder preso, quais informações vocês puderam obter dele?

— O nome dele é Amarok. Ele era líder de um bando de mercenários, que começou a caçar humanos a cerca de um ano e meio. Seus “clientes” eram principalmente os djins do reino de Safira e as kitsunes de Genkaku.

— Lógico que o Tenjin tinha que estar metido nisso. – Erika comentou em tom de lamentação.

Aquelas informações eram novas para Iduna, pois o interrogatório só havia sido realizado pelos líderes da missão. Ela não sabia quem era Tenjin, mas imaginou que a guarda já o conhecia devido às lamentações de Erika.

— Você tem certeza dessas informações, Nevra?

— Sim. Usamos soro da verdade no prisioneiro, além de uma magia que o impedia de mentir. Ele precisaria ser perito em magia para burlar esses métodos e não foi o que ele pareceu ser durante a batalha.

— Acho que já ouvi tudo que precisava. Nevra, fique por enquanto, o resto está dispensado.

Erika, Lance e Iduna saíram e a jovem não pôde deixar de perguntar a companheira aengel quando saíram.

— Quem é esse Tenjin?

— Ele é o rei em Genkaku, um reino nas montanhas, em outro continente. Fomos em uma missão lá durante a crise de fusão. Uma arranha-céus apareceu na montanha, fomos investigar e achamos um humano que veio parar aqui sem querer, assim como você. Estávamos indo embora das Terras de Genkaku, mas o Tenjin acabou nos achando e nos atacou. O humano, Edgar, ele acabou morrendo nessa luta. – Iduna viu o quando aquele assunto mexia com Erika. – Tínhamos uma relação de tolerância com Genkaku, mas depois desse ataque, passamos a ser considerado inimigos deles.

— Esse Tenjin parece ser um grande escroto.

— Escroto, babaca, filho da puta. Pode escolher, nada disso é ruim o suficiente para descrever esse desgraçado.

As garotas atravessaram o hall de entrada, seguindo para seus quartos, sendo acompanhadas por Lance, que ia na mesma direção. Foi quando alguém se aproximou rapidamente por trás dele.

— IDUNA! – Van correu pelo hall do QG até chegar a meio-kitsune. – Fiquei sabendo que você voltou – ele fez uma reverência - Eu treinei todos os dias, como você mandou.

— Van! É bom te ver, senti saudades. Que bom que não deixou de treinar, estou orgulhosa. – O jovem qilin sorriu com o elogio. – Quer me mostrar seu progresso? – Iduna se encaminhava para a entrada do prédio do QG quando sentiu uma mão pesada em seu ombro.

— Onde a senhorita pensa que vai? – Lance disse em tom grave e, mesmo de costas, a jovem sentia seu olhar de reprovação.

— Eu ia ajudar o Van a treinar. – Ela disse, sem firmeza na voz.

— Você acabou de chegar de uma missão, está a dois dias viajando e ainda está se recuperando de um ferimento bem sério. Vai comer alguma coisa e descansar o resto do dia. Amanhã você treina, SE a Ewelin te liberar.

— Eu não quero causar problema para você, só queria dar boas-vindas. A gente treina amanhã, se der. Tchau Iduna, tchau Lance, tchau Erika. – Van se despediu de todos e apressou o passo para não deixar Lance ainda mais carrancudo.

— Você está bem superprotetor, Lance? – Erika falava, para tentar deixar o dragão sem graça.

— Não é questão de superproteção, ela é minha subordinada, portanto minha responsabilidade. – Lance retrucou.

— Quanta dedicação a um soldado, não lembro de você assim com algum outro subordinado. – Erika continuou as insinuações.

Enquanto Erika e Lance discutiam, Iduna se afastou de fininho e foi para o refeitório para comer alguma coisa, seguindo as ordens do chefe da sua guarda. Depois de vários minutos que ela já havia iniciado a refeição, Erika e Lance entram no refeitório com caras zangadas. Eles pegaram algo para comer e se sentaram junto dela.

- Que história foi essa de sair a francesa e deixar a gente discutindo sozinhos? – Erika estava injuriada.

— Eu vim cumprir a ordem do meu superior, não precisavam de mim para discutir e eu também não queria atrapalhar o debate. – Iduna disse, sorrindo cinicamente.

— Eu não tinha visto esse seu lado debochado ainda. A Koori e o Matheus vão adorar. – As garotas riram, Lance deu um sorriso discreto. Elas continuaram conversando sobre coisas aleatórias sobre Eldarya e a Terra. Lance apenas ouvia e comentava pontualmente. Após o final da refeição cada um foi para seu quarto, Erika se separou primeiro deles, pois seu quarto ficava no início do corredor. Quando Iduna chegou na sua porta e ia entrando, Lance a chamou.

— Iduna. – Ela virou para ele. – Você foi bem nessa missão, apesar de não ter seguido o plano à risca e ter quase morrido, você lutou bem.

— Obrigada..., eu acho.

— Agora, descanse. Se o que ficamos sabendo em Zugyara for mesmo verdade, teremos dias difíceis a frente. – O olhar de Lance ficou sombrio, ele se despediu e seguiu para o quarto. Iduna entrou e se deitou na cama, se dando conta do cansaço apenas quando finalmente relaxou, dormindo em poucos minutos após se deitar.

Quando acordou, ainda era escuro, mas já estava sem sono. Imaginou que fosse perto das 5 da manhã, então se levantou, tomou um banho e trocou a roupa que usava, sendo ainda a da viajem. Iduna resolveu caminhar até o exterior do QG, e acabou indo até o Topo da Colina. Quando chegou, o sol começava a nascer, ela se sentou na grama, vendo o sol, sentindo a brisa que trazia o cheiro do mar e sentiu uma paz que não sentia a muito tempo. Sentiu alguém do seu lado e quando olhou havia uma espécie de pequeno dragão do seu lado, ele era branco com flores das asas. A jovem estendeu a mão para fazer carinho em sua cabeça e esta respondeu com um ronronar agradável. Iduna se levantou, tomou postura e começou a fazer movimentos lentos, semelhantes a golpes, mas com leveza e fluidez. Após algum tempo, Iduna finalizou seu exercício, o sol já estava mais alto no céu e imaginou que já estava na hora do café da manhã, sentindo sua barriga reclamar do vazio. Quando se virou para ir em direção ao QG, viu Lance sentado no chão, com o pequeno dragão no colo e observando a jovem. Ela se sentiu encabulada, mas não quis demonstrar.

— Eu te disse que não era para treinar antes de uma avaliação da Ewelin. – Lance disse, mas não soou como uma repreensão.

— Isso não é uma técnica de luta, efetivamente. Está mais para meditação, se chama tai chi chuan. Ela se baseia na coordenação da mente, do corpo interno e do corpo externo, mantendo a mente tranquila e concentrada. Eu e meu irmão praticávamos juntos, antes de começar o dia, ele me ensinou. Depois que... ele morreu, eu não senti mais vontade de praticar. Mas essa manhã eu senti vontade, achei que nunca sentiria isso de novo. Acho que falar do que aconteceu com você me ajudou a lidar com esses sentimentos. – Iduna faz uma reverência respeitosa – Muito obrigada. - O pequeno dragão que estava no colo de Lance voa em direção a jovem e se agarra em seu pescoço, ela a segura como um bebê.

— Esse é seu mascote? - Iduna perguntou, fazendo carinhos no animal.

— Sim, é a Skala. Ela não costuma ser folgada assim com os outros, pelo visto ela gostou de você.

De repente, o estomago de Iduna roncou forte, o que fez Lance dar uma risada abafada, mas na sequência, o estomago dele que rocou. Ambos riram e Iduna propôs que fossem para a cantina para o café da manhã. Conversaram um pouco durante o caminho.

— A propósito, você está me seguindo? - Indagou Iduna.

— Confesso que hoje de manhã sim. Eu acordei cedo e te vi passar pelos jardins em direção a entrada do QG e fiquei curioso, então te segui para ver se não ia treinar pesado.

— Você não acha que está se importando um pouco demais comigo?

— Diz isso como se fosse algo ruim.

— Não ruim, desnecessário.

— Talvez, mas não me culpe, a culpa é sua. Imprudência, desobediência e perícia em luta são uma combinação perigosa. - Iduna encolheu os ombros, Lance completou. - Mas eu gosto de ter alguma emoção nesse trabalho. Você me tira do tédio.

— Não sei se é um elogio ou mais uma crítica.

Ambos riram e acabaram mudando o assunto. Lance apreciava aqueles dias calmos, pois sabia que a Guarda entraria em dias bem conturbados, se realmente tentassem intervir com a escravização de humanos em outros reinos.