6 de janeiro de 1993

Acordei um dia depois, na cama de alguém, no quarto de alguém, quem é esse alguém? Não sei, acordei em um quarto estranho. Não me lembrava de muitos detalhes, eu estava no Big Boy procurando algum endereço e de repente. Puft! Desmaiei com um paninho no meu rosto cheio de clorofórmio e quem segurava era a Lyra, minha melhor amiga.

Lyra estava sentada ao meu lado, em uma cadeira de balanço, olhando para a janela, absorta em algum pensamento, distante do mundo, quando me viu despertando.

— Bom dia, Bianca.

Sentei-me na cama, encostada na cabeceira dela, me espreguiçando e bocejando, eu devia ter dormido um dia inteiro.

— Como você se atreve a me deseja bom dia depois de me fazer desmaiar?

Ela me encara, como se eu estive errada, como se ela fosse a boazinha da história.

— Fiz aquilo para o seu bem, Bia. Tudo o que está acontecendo é para seu bem...Você não percebe isso?

Paro para pensar: O que aconteceu na minha vida para chegar a ser tudo para meu bem? Só vejo coisas ruins.

1: Meus pais morreram em um acidente de carro;

2: Meu irmão está desaparecido;

3: Minha melhor amiga me fez desmaiar;

4: Meu melhor amigo pode estar morto agora.

Só coisas boas, nossa!

— Como eu posso perceber isso, se minha vida é um inferno? — O que falo sai como um berro, involuntariamente

Lagrimas saiam do meu rosto e me entreguei a elas. O que mais poderia acontecer de ruim? Tudo e nada ao mesmo tempo... O que iria mudar? Seria a mesma vida medíocre de sempre.

Alguém bate na porta.

— Abre a porta, Lyra, vai ver se não é alguém querendo me matar. - Disse, irritada.

A porta se abre devagar e uma garota, a dos sonhos, a garota que eu mais temia, estava ali com uma bandeja de comida.

— Trouxe alguma coisa pra você comer, Bianca, espero que goste.

— Não vou comer nada que você me der, Mary Elizabeth.

— Se eu fosse você, seria mais gentil comigo, Bia.

Como eu poderia ser gentil com a pessoa que estragou minha amizade com o Charlie. Charlie...preciso falar com ele.

— Cadê o Charlie e o que você fez com ele?

Ela coloca a bandeja na cama onde eu estava e senta-se na beirada.

— Ele está aqui conosco, ele, seu irmão e outras pessoas.

— Que outras pessoas?

— Uma hora você vai descobrir.

Esse mistério todo me deixa angustiada. Não aguentei tanta pressão e me levantei.

Para onde você vai, Bianca?

— Quero ver meu irmão.

— Ele está no outro quarto, dormindo.

Não sabia nem que quarto era aquele. E porque Mary estava tão calma, mesmo depois do que fez comigo, mesmo depois de me tirar o sossego.

A casa era grande, bem diferente do que eu já havia visto onde eu morava porque era simples demais, parecia um hospício de tal branco. Eu poderia me perder nas inúmeras paredes claras do lugar, mas finalmente encontrei o quarto onde Brendon estava.

Ele dormia profundamente e tinha medo de acorda-lo. Estava suado, com um edredom grosso lhe cobrindo e vestia roupas nada confortáveis. Como eu sabia que ele tinha sono pesado, tirei a camiseta dele e abri a janela para que entrasse ar no quarto.

— Bianca?

Ele se remexe na cama, ainda de olhos fechados.

Segurei sua mão e sentei em uma cadeira ao lado dele.

— Oi irmão, como você está?

Ele sorri.

— Estou bem melhor em saber que está viva.

Me assusto com sua resposta. Eu deveria estar morta?

— Porque eu não estaria?

— Sei lá, passei tanto tempo dormindo que pensei que nunca mais iria te ver.

Um sorriso sincero aparece em meu rosto. Eu não sabia que me irmão se importava tanto comigo quanto eu me importava com ele.

— Você está longe de me perder, maninho. — Senti um abraço forte dele, mas assim que o desfaço, uma mulher está encostada na porta.

— Posso participar do momento em família?

Ela tinha os olhos de Brendon e os cabelos ondulados iguais aos meus. Era alta, robusta, e tinha marcas no rosto que pareciam arranhões feitos por garras de um tigre selvagem mas mesmo assim era bonita. tinha uma pele bronzeada e um corpo com curvas acentuadas que me faziam reconhecer alguém de algumas fotos que vi.

Não podia ser verdade que eu estaria vendo minha...

— Mãe?