06 de janeiro de 1993

Aquela era mesmo a minha mãe? A mulher que morreu junto com meu pai em um trágico acidente de carro? Que deixou dois filhos já grandinhos em poucos mais de oito anos?

Eu estava confusa, completamente sem noção do que fazer. Se ela era minha mãe, o que eu poderia fazer? Eu deveria abraça-la, ou só olhar...Não sabia o que fazer com medo de dar um passo em falso.

— Você é minha mãe? — Que pergunta mais sem graça, mas foi o que saiu na hora do desespero.

Ela caminhou até mim e bagunçou o meu cabelo, como todos os membros da minha família fazia comigo. Foi ali que senti que a resposta seria positiva e não resisti.

Abracei-a com muita força e ela deu um gemido de dor.

— Desculpa, mãe, não pude deixar de te abraçar.

Ela sorriu.

— Não te impeço de fazer isso sempre que quiser.

— Mas eu impeço. — A voz da Lyra soa no quarto.

A cara da minha mãe muda de alegria para desaprovação.

— Que eu saiba você não deveria estar aqui. — Diz Lyra.

Olhei para minha ex-melhor amiga, enraivecida.

— Qual é a sua, Lyra? Quer me tirar da minha mãe?

— Não sinta raiva de mim, estou zelando pelas nossas vidas e pela dos seus pais. — Ela olha para minha mãe — Evalyn, seu tempo já acabou, a Mary quer te ver. — ela volta para mim — E você, me siga, acho que você quer ver seu pai.

Beijei a testa do meu irmão e a segui

***

Meu pai, a minha cópia perfeita, com meu rosto igual ao seu, estava dormindo em um quarto perto do que eu estava antes e respirava por meio de um aparelho. O acidente ainda tinha sérias reações sobre ele, diferente da minha mãe que só tinha alguns arranhões.

Seguro a mão direita dele ao me aproximar de sua cama e sinto lagrimas sairem de meus olhos. Limpo antes que a Lyra veja.

— Olá pai.

Eu sabia que ele não iria responder, mas só vê-lo já me fazia feliz.

Aproveitei a oportunidade e fechei a porta com a Lyra dentro.

— Me fale tudo o que está acontecendo. Agora!

Ouço o seu suspiro e ela não resiste mais.

— Você quer mesmo saber a verdade? — Me encara — Pois vou lhe dizer a verdade.

"Desde que você começou a responder as cartas do Charlie, a Mary não pode conter os ciumes. Ele prometera não mandar as cartas para ninguém, mas descumpriu isso, mandando-as para você.

"A partir disso, como eu sendo sua amiga, ela me procurou e me ameaçou, dizendo que se eu deixasse você responder as cartas ela me mataria e eu não queria isso, é claro.

"Então ela teve a ideia dos bilhetes e me envolveu nesse plano, fazendo com que eu mentisse para você, era isso ou nunca mais ver o pôr do sol. Foram dias pensando em cada bilhete, na esperança de que você se tocasse e que essa missãozinha sem escrúpulos acabasse logo para que ela me deixasse viver a vida em paz.

"Você mal aceitava o que estava escrito nos bilhetes e a Mary soube que seus pais não haviam morrido por um anuncio em um jornal. Você não tomou conhecimento porque estava isolada do mundo. Seus pais estavam escondidos esse tempo todo em uma cabana perto do local do acidente, aos cuidados da natureza, praticamente.

"Como pretexto para continuar com a vingança, Elizabeth sequestrou seus pais e no caminho, viu seu irmão no posto de saúde. Eu havia ligado para ela para avisar. Me desculpe por isso. E aqui estamos, no joguinho de gato e rato que parece que não ter fim.

— Eu não acredito que você fez isso tudo pra polpar sua vida.

— Eu estou polpando a sua vida também, Bia. — Ela quase grita — Ela está ameaçando todos que estão aqui, inclusive o Charlie.

— Onde ele está?

— Ele está trancado em um sala, sem comida, sem água, sem nada. Ele vai morrer se você não se afastar dele, se não viajar para o mais longe possível dele. Pelo amor de Deus, Bianca, suma da vida do Charlie, você está acabando com a vida de todo mundo ao seu redor.

Balancei a cabeça sem acreditar.

— Isso não pode estar acontecendo, Lyra. Charlie é meu amigo!

— Não importa, o que vale é sua vida, suma daqui e polpe a vida de todos.

A porta se abre em um estrondo e Mary está armada com um revolver, apontando para Lyra.

— Acho que você falou demais.

E subitamente, atira.