As Sete Ameaças

Parte II: O Reencontro – O totem.


Riley sentiu um puxão incrivelmente doloroso, como se estivesse sendo forçada em um buraco que não cabia. Então caiu com um baque em terra firme e vomitou tudo o que não tinha nem comido.

— Eu sei que é um pouco traumatizante da primeira vez. Eu mesmo não gostava de usar quando era menor – tranquilizou Paul enquanto alisava suas costas.

— Espero não ter que usar isso novamente.

Ele riu e enrolou uma mecha do cabelo castanho dela nos dedos.

— Sua medrosa. Vem, eu tenho alguns mantimentos aqui em algum lugar.

— Alguns mantimentos?

— Você pode dizer que sou um bêbado ou um caso perdido, mas pelo menos sou preparado. Desde que Potter apareceu aqui eu achei que esse fosse o lugar ideal para nos reencontrarmos, então vim preparando o lugar. Está cheio de comida, cobertores, água e algumas armas.

— E eu me perguntando onde meu estoque de armas tinha ido parar.

— Tudo por uma boa causa.

— Onde está a água? Preciso tirar esse gosto horrível da minha boca.

Paul riu e deu um beijo na ponta do nariz dela.

— Vem, nós temos que entrar na cúpula.

— Cúpula?

— Vem logo.

Continuaram caminhando pelo que pareceu um corredor formado de pedras caídas. Um ambiente extremamente frio e úmido. Logo Riley estava tremendo.

— Tem alguns cobertores mais à frente.

— Mal posso esperar.

Saíram em uma espécie de sala com teto circular e um pequeno círculo no centro onde entrava a luz. Contudo, o mais impressionante era a decoração: milhares de estátuas em formatos de animais espalhadas por todo o espaço.

Riley ofegou, impressionada.

— Onde estamos?

— Chamamos esse lugar de Santuário dos Guardiões. Fica no meio do Vale das Pedras e só há um modo de entrar normalmente: uma passagem secreta no meio da floresta.

— E o que são essas estátuas?

— Nós não sabemos, quando chegamos já estavam aqui, mas o mais impressionante é isso – falou Pal puxando Riley pela mão até o centro, onde havia um círculo perfeito de luz e uma torre de sete animais, um em cima do outro.

A poeira passava gentilmente pelo ar, voando pela luz, mas Riley nem a notou. Ela estava extasiada com o totem.

— Tem... uma águia no topo...

— Sim. Por algum motivo parece que todos nós estamos aí.

— Como assim?

— Como você mesma disse, Eagle significa águia e ela está ali no topo. Hibou é coruja e ela está logo abaixo, seguida por um flamingo, Chô, a borboleta, está no nariz do urso, o medved, depois tem leeu, ou seja, o leão, e por último, um rato: maus. Todos nós.

Riley estava boquiaberta, como aquilo era possível?

— Ivo sabe sobre esse lugar?

— Sim, mas realmente não entende o que é. Ficou tão surpreso quanto você.

Riley se aproximou do totem e tocou a ponta do nariz do leão. Sentiu algo quente no dedo, como se as labaredas de Zaki a tivessem tocado. Tentou então a coruja e uma força invisível a impediu de tocar. Fez mais uma tentativa no urso e sentiu como se algo a empurrasse, talvez o próprio urso. Fez a última tentativa com o rato, mas quando sua mão chegou perto dele, o animal de pedra sumiu.

— Isso é incrível!

— Eu sei, só nós podemos tocá-los e só podemos tocar nos nossos. Passamos a chamá-los de animais guia, por que às vezes os vemos por perto quando precisamos de ajuda.

Riley olhou para Paul, com um sorriso, impressionada. Ele apontou para o totem novamente e, seguindo o dedo dele, a garota encontrou o rato, no topo da estátua da água.

Ela riu.

— Ainda está com sede?

— Não sinto mais vontade de fazer nada além de olhar esse totem.

— Sem água então?

— Oh não, traga a água.

— Preguiçosa.

Mas ele foi mesmo assim onde tinha guardado seus mantimentos e tirou de dentro da boca de uma baleia um cantil de água, que levou até onde a menina estava.

Riley bebeu alguns goles sem tirar os olhos do totem, como se ele fosse se mexer novamente, mas ele não o fez.

— Ele não irá se mexer, Riley.

— Por que não?

— Eles se mexeram por que você tentou tocar neles.

— Por que eles se mexem quando eu os toco?

— Faça perguntas mais fáceis – disse ele sentando ao lado dela – Eu realmente não sei muito sobre eles.

— Você já tentou tocá-los?

— Claro que sim.

— E usar sua ameaça enquanto toca?

Paul franziu o cenho.

— Não...

Ele levantou e caminhou até onde o rato de pedra estava e então o tocou. O bicho não se moveu.

O menino olhou para a namorada, como se para ter certeza do que fazer e ela assentiu, incentivando-o.

Paul sumiu, aparecendo alguns metros adiante. E deu um grito que reverberou por toda a cúpula de pedra e ainda além dela.