As Sete Ameaças

Parte II: O Reencontro – O corajoso homem do Bar.


Mariette e Pamela estavam viajando há quase dois meses em busca de novos títulos para sua biblioteca. Elas agora estavam a leste de Paladium, andando por lindas paisagens gramadas e floridas.

— Estou com fome – declarou Pamela após dez horas de viagem ininterrupta.

— Eu também, podemos parar na próxima taberna.

— Obrigada!

E não tardou aparecer. Uma casa robusta de madeira cerrada por uma porta bang bang de onde saía um burburinho de conversa e música. As duas entraram e caminharam calmamente pelo corredor entre as mesas rústicas cheias de homens com copos transbordando de cerveja. O lugar estava cheio de soldados paladianos, provavelmente vindos de algum acampamento militar por perto.

Um dos soldados agarrou o pulso de Mariette e levantou, olhando bem no fundo de seus olhos, completamente bêbado.

— Ei lindinha, aonde você vai?

A mulher tentou puxar o pulso, mas o homem segurava forte.

— Poderia me soltar, cavalheiro?

— Primeiro me diga onde você vai.

— Não é de seu interesse.

— Então eu digo onde: você vai comigo para o cantinho ali – e começou a puxá-la sob risada enérgica de seus amigos de mesa.

— Me solte agora! – falou ela puxando o pulso com raiva.

— Ei – gritou Pamela – Solte minha amiga!

— Você também quer um macho alfa, queridinha? – falou outro se aproximando da outra e passando as mãos pelos braços dela.

— Não! Saia de perto de mim!

Os outros da mesa começaram a se levantar também e se aproximas das duas.

— Vamos ter uma festa hoje!

O dono da taberna começou a olhar e estava pronto para interceder quando se ouviu uma voz:

— Ei! O que vocês pensam que estão fazendo?

Era um homem vestindo uma roupa militar como os outros, mas ela era diferente, mais arrumada e com algumas pequenas medalhas grudadas no peito. Ele era bem jovem e bonito. Tinha cabelos pretos e pele bronzeada, olhos escuros e traços finos, mas o que mais chamou atenção de Mariette quando ela o viu, foram seus músculos que mesmo sob uma grossa camada de tecido, ainda eram bem pronunciados.

— Estamos só nos divertindo! - alegou um dos homens ao redor de Pamela.

O defensor levantou uma das sobrancelhas com o rosto severo.

— Deixe-nos em paz! Não estamos em acampamento para você mandar em nós!

— É isso mesmo, aqui somos livres!

O homem então riu e chegou perto do outro que segurava Mariette e olhou para trás, para o dono do bar, que apenas assentiu e voltou a servir cervejas. Um golpe atingiu o soldado que segurava a menina e ele caiu no chão, finalmente soltando-a.

— A senhorita está bem?

A mulher apenas olhava, atônita, para aquele salvador.

— Sim, obrigada.

Ele deu um sorriso e então se abaixou, pegando o homem do chão pelos cabelos e fazendo-o olhar em seus olhos.

— Você pode repetir o que você disse agora a pouco?

O homem, que tinha o nariz cheio de sangue e um olhar assustado, apenas negou com a cabeça, cheio de medo.

— Ótimo. E vocês, a brincadeira acabou! De volta para o acampamento!

— Aqui você não manda em nós! - protestou um outro.

O defensor então empurrou o que disse aquilo na parede.

— Sou seu general, eu mando em você onde quer que esteja. Se eu disser para comer, você come; se eu disser para cagar, você caga; se eu disser para você entrar em batalha, você entra; e se eu disser para você voltar para o acampamento e pensar na merda que você está fazendo, você obedece. Entendeu? - o homem assentiu sem hesitar - Ótimo, agora soltem as moças e vão imediatamente para o acampamento.

Os soldados começaram a sair devagar da taverna, sem reclamar, com os olhos voltados para o chão, envergonhados. Apenas dois, que não tinham se envolvido, continuaram na mesa, olhando o general com um sorriso.

— Vocês não ouviram?

— Nós não tivemos nada a ver com isso - alegou um deles.

O general olhou para as duas, que confirmaram.

— Não voltem muito tarde.

— Sim, senhor.

— Obrigada - falou Mariette para o general.

— Eu devo me desculpar, esses homens são meus subordinados. Sinto muito pelo incomodo que causaram.

— Homens são desse jeito - falou Pamela - Sinto muito pela sinceridade, mas vocês são só explosão de testosterona.

Os três soldados riram.

— Não posso negar isso.

— E então, qual a graça do seu nome?

— Sou Kyle McLash.

— General Kyle McLash - disse um dos homens sentados, claramente orgulhosos do superior.

— Eu sou Pamela e essa aqui ao meu lado é Mariette.

— Eu sou Sam Loyid e essa aqui ao meu lado Logan Danniells – falou um dos soldados, o mais extravagante.

— O que fazem por estas terras? – perguntou Logan.

— Viemos da Biblioteca de Gapazium em busca de livros raros para nossa coleção.

— Vocês são bibliotecárias?

— Que desperdício de beleza!

— Comportem-se vocês dois! Tenham respeito com as damas.

— Oh, não se preocupe com isso general – zombou Pamela – Estamos acostumadas a esses comentários.

Os cinco riram e Sam pediu mais uma cerveja.

Verdade seja dita, as pessoas que conversavam era Pamela, Sam e Logan. Mariette e Kyle não falavam, apenas bebiam sua cerveja aquecendo-se do frio e olhando a alegria dos outros e, de vez em quando, sorrindo um para o outro.

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Mariette era uma pessoa incrivelmente educada e recatada. Podia dizer que era medrosa e envergonhada. Por isso não era típico dela se ver naquele estado que estava no presente momento: em uma tenda lacrada, seu vestido semiaberto e um homem em sua boca.

Assim que o vira, sabia que ele era diferente e depois de passar essa semana encontrando-se com Kyle, Sam e Logan, sabia que não iria resistir muito mais. O homem era lindo, inteligente e além disso tudo, um perfeito cavalheiro. Mariette encontrava-se apaixonada pelo general McLash e, aparentemente, o sentimento não poderia ser mais recíproco.

Ele passou o rosto perfeitamente barbeado pelo seu pescoço, respirando seu cheiro e depositou um beijo ali e começando uma trilha até sua boca.

— Kyle... – deixou escapar.

— Sim?

— Você é inebriante.

Ele riu.

— Gosto quando usa palavras rebuscadas.

Mariette deu uma risadinha.

— Você mesmo usa palavras rebuscadas...

— Então somos um par muito completo.

E com isso aproximou-se para beija-la mais uma vez, delicadamente, como se pedisse permissão, e então com brutalidade, como se sentisse sede da mulher.

De repente, uma dor atingiu a mente de Mariette e ela soltou um grito, pulando para trás. Sua visão ficou embaçada, e tudo o que ela pôde fazer no momento foi cair ao chão, apertando a própria cabeça e ver cenas de uma vida que, embora soubesse ser sua, não se lembrava de ter tido.

Então, tão rápido quanto veio, a dor se foi e Mariette, que agora sabia se chamar Sophie, ficou parada, atônita, sem acreditar em nada do que estava acontecendo.

Um incomodo apertou seu peito, confirmando qualquer dúvida que ainda poderia ter e, quando olhou para cima, soube instantaneamente da verdade.

— Sophie? – perguntou o ex-general Kyle McLash.

— Clyde...

E, enrubescendo como se tivessem feito algo terrivelmente errado, os dois se abraçaram.