As Sete Ameaças

Parte II: O Reencontro – Lealdade ao Jolly Roger.


Os homens estavam ajoelhados no convés com as mãos amarradas às costas. Alguns deles choravam, outros rezavam e um ainda olhava para o céu com um olhar de ódio genuíno. Contudo, nenhum deles tentou escapar, mesmo quando o homem corpulento chegou perto com seus passos pesados e sorriso cínico.

Edward Teach tinha músculos maiores do que qualquer humano conseguiria ter sempre cobertos por um pesado casaco preto que combinava com seus cabelo e barba. O capitão tinha um nariz grande e torto, boca severa e olhos injetados. Porém, o que mais chamava atenção no homem era sua longa barba, que rendera seu apelido: o capitão Barba Negra.

— Ora, vejam homens! Mas que belo presente o destino nos deu! Soldados da marinha de Luzarium! A que devo tão humilde visita?

— Por favor, poupem nossas almas!

Os piratas riram com desdém da suplica do outro.

— Não precisa ter medo, marujo – disse o homem se aproximando do medroso – Eu não irei fazer nada com suas almas, não tenho poder para tanto – então, em um movimento rápido e certeiro, cortou a cabeça do homem, que saiu rolando pelo convés até cair no mar, deixando um rastro de sangue pelo chão – Já com seus corpos... farei o que bem entender...

Um dos prisioneiros que rezava começou a suar frio e cantar sua ladainha com mais força.

— Eu perguntei, o que vocês vieram fazer aqui em meu território – insistiu o capitão andando pela fila de homens – Alguém quer se voluntariar para me dizer? Ninguém? Então vou escolher alguém! – pegou o homem que olhava o céu estático e o puxou pelo colarinho para que olhasse seus olhos – Responda minha pergunta.

O marinheiro então cuspiu na cara do capitão e gritou:

— Vida longa ao...

Mais uma cabeça caiu ao mar e o convés ainda mais ensanguentado.

— Vocês podem me dizer o que este homem ia falar? – gritou Teach para seus subordinados.

— Vida longa ao capitão Barba Negra! – berraram em coro.

Edward Teach sorriu e seguiu para o meio da multidão.

— Taú – gritou o capitão – Venha aqui!

Um jovem de pele muito escura apareceu. Era o imediato do navio, o temido Inferno do Mar. Taú tinha olhos castanhos mais claros que sua pele e cabelos apenas no queixo, onde mantinha uma barba estilo âncora bem aparada. Era alto e musculoso, mas não era o mais forte da tripulação, embora fosse, de fato, o mais perigoso.

— Sim, capitão!

— Faça-os falar.

— Imediatamente.

Taú se aproximou do homem que rezava fervorosamente e se ajoelhou.

— Você acredita no inferno? – perguntou.

O outro, com os olhos cheios de medo, assentiu.

— Quer ir para lá? – ao que a resposta foi uma negação – Então responda a pergunta que o meu capitão fez.

O homem tremeu, com medo, mas não respondeu, apenas fechou os olhos e continuou rezando.

— Teach é um homem impaciente, sabe? Ele nunca deixa as pessoas falarem e não importa se falem a verdade ou não, ele não poupa ninguém. Eu não sou assim. Não mato meus reféns desnecessariamente, mas quando eles merecem, também não é tão indolor, sabe do que estou falando?

O homem não deu atenção à Taú, apenas continuou de olhos fechados.

— Você, nesse momento, está merecendo. Responda à pergunta e eu talvez lhes deixe ir em paz.

Quando nenhuma resposta veio, o imediato do navio levantou sua mão, a palma brilhante de calor, e apenas encostou-a no braço do marinheiro, fazendo o cheiro de carne queimada voar, junto com um grito de dor.

— Responda à pergunta, marinheiro.

Mas nada foi dito. A mão começou a aquecer mais, subindo pelo braço do homem.

— Responda! – gritou.

Foi só quando a mão chegou ao pescoço que o homem gritou:

— Estamos mapeando as rotas de navios piratas!

— Para quê?

— Para impedi-los de passar no lugar que bem entenderem.

Taú retirou a mão fervente do homem.

— Percebe que poderíamos ter poupado toda essa dor? – falou ele para o outro que começava a se encolher de dor.

O imediato se levantou e, um a um, chutou os homens para fora do navio, em direção ao mar cheio de tubarões.

— Você disse que ia nos poupar! – gritou o homem queimado.

— Eu disse “talvez” – e chutou o último.

Feito isso, se virou e entrou na cabine do capitão, passando o transcorrido a pouco.

— Como ele ousa! – gritou Teach enfurecido – Acha que pode controlar Barba Negra? Vamos mostrar a ele do que somos capazes!

— Salve esse discurso emocionante para seus subordinados, senhor.

— O que há com você, Taú?

— Estou com a cabeça latejando desde a madrugada, não sei o que há.

— Descanse um pouco, vamos precisar de você amanhã.

— Sim, senhor.

Então ele se virou para sair, mas foi acometido por uma intensa dor em sua cabeça, uma dor tão impossível que a fez latejar e gritar direto de suas entranhas.

— Taú! – gritou o capitão, mas tudo soava incrivelmente distante diante das imagens que agora passavam como um filme diante dos olhos do homem.

Quis gritar com o capitão “Não sou Taú, meu nome é Zaki e eu tenho que sair daqui! ”, mas sabia o quão louco tudo soaria. Além disso, tinha certeza quanto dois mais dois é igual a quatro que Edward Teach não o deixaria ir embora tão facilmente.

Então ele apenas respirou fundo e levantou-se com dificuldade.

— Acho que é pior do que pensei – alegou.

— Vá para seus aposentos descansar imediatamente.

— Sim, capitão.

—x-x-x-x-x-x-

A lua estava no seu ápice quando o vulto apareceu no convés. Ele olhou de um lado para o outro e então soltou o bote de madeira preso à lateral do navio.

Estaria condenado se subisse no bote, seria perseguido não só pelo exército em terra (e tinha certeza de que era procurado lá), mas também pela ira do capitão Edward Teach, que sempre conseguia tudo o que queria.

Mas Zaki não podia ficar parado, passara doze anos inteiros parado, inerte em um navio pirata. Pelo menos tinha treinado sua ameaça.

Respirando fundo, Zaki Leeu pulou na água e nadou depressa até o bote, pegando os remos e começando o trabalho. Seria um percurso longo até a próxima terra, mas não iria descansar até estar nela.

Enquanto nadava, pensava apenas em uma coisa: como iria esconder a tatuagem Jolly Roger, símbolo de sua lealdade à pirataria, das pessoas que o vissem em terra, mas principalmente, como a esconderia de seus amigos.