As Sete Ameaças

Parte II: O Reencontro – A viagem mais rápida.


O sol estava começando a se pôr no horizonte e alguns pássaros cantavam ao longe.

Paul ainda não conseguira acreditar no que tinha acontecido no dia anterior. Depois de limparem o apartamento de Ivo e enterrarem Potter Lobus, os três se reuniram na sala para decidir o que fazer. Se tudo o que Lobus tinha dito era verdade, então logo os outros estariam ali.

Ivo decidiu que precisava tentar encontrar os outros antes que os reis o fizessem e saiu algumas horas depois, proibindo os dois de deixarem a vila.

Claro que Riley não ficara nada feliz com a notícia, mas obedecera mesmo assim. Agora os dois estava no gramado da colina, olhando o sol ir embora e esperando por qualquer sinal de proximidade.

A Eagle suspirou e começou a deslizar pela grama até deitar.

— Você acha que ele vai lembrar de mim?

Paul nem precisou pensar.

— Claro que sim.

— Mas as memórias que eu tenho dele... não são minhas. E se eu lembrar dele e ele não lembrar de mim?

— Claro que ele vai lembrar, Riley. Acho que isso é como uma cópia. Do contrário, quando Potter morreu, você não lembraria mais dele.

— Faz sentido, mas... – então ela fechou os olhos com força – Tenho tanto medo...

— De quê?

— De ser esquecida pela pessoa que mais amo...

— Se você ama tanto seu irmão, não deveria duvidar dele.

Riley sorriu e abriu seus olhos azuis, encarando os olhos cobalto de Paul.

— Sim. Você tem razão. Obrigada. Embora por tanto tempo eu tenha acreditado que você fosse um bêbado idiota e inútil, você ainda tem sua utilidade.

— Abusada...

Riley riu e sentou-se novamente, envolvendo Paul em um abraço.

— Você sabe que eu te amo, não é?

— Sei sim. Eu também te amo – respondeu dando um beijo na ponta do nariz da menina.

Riley encostou a cabeça no ombro de Paul e olhou o horizonte.

— E depois que todos se reunirem? O que vamos fazer?

— Eu não sei. Acho que vamos lutar.

— Oito pessoas? Contra três exércitos?

— Oito?

— Sim. Você, eu, Clyde...

— Você não vai para essa guerra Riley.

— Por que não?

— Por que você não tem ameaça e por que é muito nova.

— Você é só um ano e dez meses mais velho que eu.

— E eu sou uma Ameaça.

— Uma Ameaça bêbada que não treina decentemente há sete anos.

— Ah, você resolveu ser a sincera, agora?

— Sim, Paul. Por que não é só por que você é meu namorado que eu vou obedecer a você em qualquer “ordem” que me der!

— Eu estou falando isso para sua proteção, Riley!

— Eu não preciso de proteção! Eu não sou uma garotinha indefesa!

— Shh! – falou Paul desviando o olhar na garota.

— Não faça “shh” para mim!

— Riley, fique em silêncio! Tem alguém nos olhando.

Ela então se vira e vê o que Paul estava tentando lhe dizer. Não era alguém, mas uma legião de soldados caminhando em direção da vila.

— Temos que sair daqui! – falou ela levantando.

— Não, espera, assim eles vão atrás de nós!

Mas era tarde demais, um homem agarrou Riley pelo braço fino e a acorrentou.

— Paul – gritou ela – Vai embora!

E embora ele quisesse ficar e ajudar a namorada, ele a obedeceu, desaparecendo em uma nuvem de fumaça cinza.

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Eram grades de ferro bem grossas que prendiam Riley dentro da cela.

Em menos de cinco minutos depois de Paul fugir, o exército cercou a vila e adentrou a mesma, tirando todos de suas casas para fazer uma contagem. Sem achar ninguém que procuravam, eles liberaram os inocentes, mas não sem deixar algumas regras bem claras: nada de circular após o pôr-do-sol, nada de comércio, nem pensar em discutir com qualquer soldado.

Nesse momento, uma fogueira tinha sido acesa no centro da vila e os soldados comiam, festejavam e bebiam, rindo como se tivessem vencido uma batalha impossível, quando nem tiveram necessidade de usar suas armas.

Embora Riley tivesse gritado para Paul ir embora, não teve como não ficar decepcionada quando ele o fez sem hesitar. Agora estava sozinha em uma cela, olhando para o nada enquanto os soldados a rodeava, rindo como se fosse um animal de circo.

— Essa é Riley Eagle! – gritou um deles – Parente de um dos Sete!

— Jura? Essa criança franzina?

Riley se tornara não mais do que uma piada. Isso a deixou extremamente triste. Ela deixou-se cair no chão da jaula e segurou as lágrimas como podia, mas elas começaram a lhe escapar. Se tinha uma coisa que ela detestava, era chorar.

— Ei, minha durona – falou uma voz conhecida ao lado dela. Era Paul, que estava magicamente ao seu lado, passando a mão gentilmente em seu cabelo – Por que está chorando? Pensei que odiasse chorar.

— Eu odeio, mas você demorou.

Ele riu.

— Pensou que eu fosse te abandonar? Logo eu?

Ela sorriu.

— Não.

Ele depositou um beijo suave na ponta do nariz dela.

— Vamos.

— Mas Paul, e eles? – falou ela se referindo aos aldeões.

— Estão atrás de nós, Riley, não deles.

Ela olhou, preocupada, as casas agora escuras, cheias de pessoas com medo.

— Não se preocupe, enquanto não estivermos aqui, eles estarão seguros. E nós voltaremos.

Ela olhou seus olhos cobalto.

— Voltaremos?

— Sim. Todos nós, para lutar.

Ela sorriu.

— Certo.

Então Paul a segurou firme enquanto ouvia os soldados correndo atrás deles e gritando para pararem. Ele a levou para o único lugar que achava que ficariam seguros: o santuário dos guardiões no Vale das Pedras.