As Sete Ameaças

Parte I: Os Sete – Desaparecimentos 2


— Onde está Ana? – perguntou Sophie para seus amigos. Eles estavam reunidos no campo de treinamento, sozinhos e cansados.

— Procurando Yuki com mestre Ivo e os Chô – respondeu Clyde levantando-se – E é onde eu vou também.

— Eu estou com medo, irmãozão – falou Paul agarrado nas vestes de Zaki, que já estava se preparando para adentrar a floresta.

— Fique aqui, Paul. Não sabemos se Yuki se perdeu ou se foi pegue. É perigoso.

— Mas eu quero ir com você!

— Não se preocupe, eu vou voltar.

Nina e Sophie também se levantaram para procurar.

— Ele tem razão pequeno Maus – disse Flamingo – Volte para casa e espere nós voltarmos.

— Eu quero ir! Já sou grande!

— Pensei que estivesse com medo – provocou Zaki.

— Eu estou, mas vou conseguir superar!

— Paul – falou Sophie Hibou se abaixando para olhar o garotinho nos olhos – Confie em nós, não é bom ficar aqui, precisa ir para casa. Ficaremos preocupados com você se você arriscar.

O menino abaixou os olhinhos e fez careta, mas os quatro sabiam que estava aliviado por não ter que ir.

— Tudo bem.

— Então vai para casa.

Ele deu um beijo na bochecha de Sophie e depois correu para dar um abraço em Zaki e voltar para a vila.

Então os quatro amigos caminharam para a borda da floresta.

— Vamos nos separar. Eu e Nina vamos para a direta, Sophie e Zaki para a esquerda. Nos encontramos novamente aqui em meia hora.

— Certo!

Zaki e Sophie adentraram a parte leste da floresta. A garota olhava para os lados em um estado de quase desespero.

— É tão escura, não é mesmo?

Então o menino fez uma pequena chama com o dedo, iluminando os arredores.

— Não precisa ter medo, Sophie.

— Me desculpe.

— Não tem por que pedir desculpas.

— Eu me sinto mal por ser a mais medrosa do grupo.

Zaki gargalhou.

— Está brincando? Paul nem veio!

— Paul tem quatro anos.

— Não muda o fato de que você veio. Tremendo de medo, mas veio. Esse é o importante.

Sophie sorriu, aliviada. Então perdeu o sorriso ao lembrar do amigo desaparecido.

— Espero que Yuki esteja bem...

— Sim, eu também.

Um barulho foi ouvido e os dois paralisaram.

— Zaki...

— Eu vou ver o que é, você fica aqui e quando eu gritar que está tudo bem, você vem.

— Está bem.

O garoto então caminhou por entre as árvores em direção de onde tinha ouvido o barulho.

Sophie ficou onde estava, apertando as mãos sobre o peito, com apreensão. Mas o que estava fazendo ali, parada, enquanto o amigo arriscava a vida? Ela deu passos decididos para onde Zaki tinha ido, mas passou muito tempo andando sem acha-lo.

Começou a olhar ao redor. Estava perdida.

— Zaki! – gritou.

— Sophie! – ouviu a resposta.

— Estou perdida!

— Siga minha voz!

Então o amigo continuou falando alto para ela seguir a voz e chegar até ele, porém ainda assim, não o encontrava e a voz do amigo começou a parecer cada vez mais distante.

— Zaki! – gritou, mas não ouve resposta – Zaki!

— Sophie – disse bem perto a voz de um desconhecido – Hibou.

A garota deu um pulo para trás e encarou o homem feio que a encarava. Ele segurava um facão enferrujado e um escudo grande e redondo.

— S... se... se afaste!

Mas o homem não se importou com a ordem, apenas deu mais alguns passos em direção dela. Então ela expandiu sua proteção e a recolheu com rapidez, fazendo-o voar pela copa das árvores.

— Eu... eu avisei!

Então mais homens do mesmo jeito do outro começaram a aparecer. Todos extremamente parecidos com seus facões enferrujados e escudos redondos, sorrisos amarelos e dentes podres. Eles se aproximavam dela sem cautela.

— Se afastem! – berrou ela – Ou eu também vou manda-los pelos ares!

Os ladrões nem se importaram, continuaram avançando dando risadas de escárnio.

Sophie deu um grito enquanto fazia os homens voarem.

Quando enfim não restavam mais homens, Sophie Hibou desabou no chão, cansada. Estava ofegante e assustada.

Talvez por isso não tenha prestado atenção nos passos que chegavam por trás dela e nem sentido quando a atingiram por trás com um taco.

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Ela acordou em um salão vasto e iluminado. Levantou a cabeça, que doía sem precedentes. Olhou ao redor e viu muros gigantescos e partidos, com retângulos de diferentes cores e em diferentes formatos.

Ela se sentou e viu um pequeno pedaço de papel onde estava escrito “Bem-vindo à Biblioteca do Reino de Gapazium, onde todo o conhecimento do mundo é guardado nas estantes de ouro. ” Virou o cartaz e viu um nome escrito.

— Mariette Dubois.

— Esse é o seu nome?

Mariette olhou para trás e viu uma criança de sua idade olhando-a com curiosidade.

— Eu não sei... eu não lembro de nada...

— Não lembra de nada? Nem como veio parar aqui?

Ela balançou a cabeça. Tudo era um vazio em sua cabeça.

— Bem, como você viu no panfleto, aqui é a Biblioteca de Gapazium. Existem milênios de conhecimento aqui. Você gosta de ler?

— Eu não sei.

— Tudo bem, eu vou te ensinar a gostar de ler – disse a menina se virando para a parede colorida e tirando um dos tijolos – Pegue! Isso é um livro. Você abre na primeira página e começa pela primeira frase. Então você continua até a última frase da última página. Quer tentar?

— Sim.

Mariette pegou o livro e fez como a menina tinha dito. Amou o cheiro do livro, a textura dele e também se sentiu extremamente confortável lendo. Parou no final da página para olhar a nova amiga com o maior dos sorrisos.

— É incrível!

— Que bom que gostou! Eu sou Pamela Ilzer, filha dos guardiões da biblioteca. Meus pais vão adorar ter uma companhia nova. Vem, eu vou te mostrar minha casa, minha família e toda a biblioteca!

Mariette Debois ficou animada com a ideia e acompanhou a nova amiga com entusiasmo.

Contudo, algo estava faltando nela. Não eram só suas memórias, a menina sentia algo faltando em seu coração e uma preocupação genuína tomava conta de seus pensamentos. Mas ela só não sabia com o quê.