As Sete Ameaças

Parte I: Os Sete – Desaparecimentos 3


Estavam os seis sentados em círculo. Ananya era a mais preocupada, tinha o olhar rígido de raiva, mas o rosto inchado de choro. Ivo estava com uma expressão cansada e olhava as cinco crianças com preocupação. Os outros estavam apreensivos. Depois do desaparecimento de Yuki e Sophie, eles sabiam que alguém estava atrás deles.

— Não iremos nos deixar levar também, mestre Ivo! – disse Clyde, com determinação.

— Não... espero mesmo que não..., mas ainda assim, precisamos nos preparar para a avançada.

— Precisamos procurar por Yuki – insistiu Ana mais uma vez.

— E Sophie! – falou Nina, que chorava com preocupação.

— Ninguém vai procurar ninguém – decidiu Ivo.

— Mas eu já disse, nós nos separamos na floresta e ela estava perdida. Pode ter adentrado mais a floresta, quem sabe?

— Ela poderia ter encontrado seu caminho de volta, nós poderíamos tê-la encontrado. Temos que admitir que estão nos atacando.

— Mas mestre Ivo, não podemos desistir!

— Não podemos nos arriscar!

— Mestre Ivo, não podemos deixar Yuki e Sophie sozinhos! – argumentou Clyde.

— Quietos! Vocês estão proibidos por mim e seus pais de saírem de casa desacompanhados.

— Isso é muito injusto!

— Isso é um ponto final. Agora para casa, todos vocês e não saiam de lá.

— Não! Eu não vou sair daqui! Eu vou procurar por Sophie! – protestou Nina.

— E eu por Yuki! Não vou deixar ele sozinho!

— Vocês vão para casa agora! – gritou Ivo Jaroisk. O homem nunca tinha gritado com seus pupilos, sempre fora extremamente paciente com eles e os tratava como filhos. Contudo, estava tão preocupado, que não conseguia ser tão paciente no momento.

— Sim, mestre Ivo – murmuraram um a um.

Então se levantaram e começaram a sair para voltarem para suas casas.

— Nina – sussurrou Ana - Vamos sair para procura-los mais tarde!

— Encontro você na praça à meia-noite.

— Vou com vocês – disse Clyde – Temos que encontrar Yuki e Sophie.

— Combinado!

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Exatamente à meia noite, Nina pulou a janela e correu para a praça principal. Esperou seus amigos por dez minutos antes de ouvir a senhora Medved, com sua mania de falar alto demais, gritando:

— Onde você pensa que vai, Ananya? Você não vai à lugar algum! Está proibida de sair.

— Mãe, eu preciso encontrar...

— Entre em casa, Ananya! – berrou a mão da menina.

Nina olhou então para a casa de Clyde e soube imediatamente que também não viria. Seus pais com certeza ouviram os gritos dos vizinhos e ficariam de olho nele.

Então, determinada, saiu pelos campos sozinha.

Andou por muito tempo, ou pelo menos o que lhe pareceu muito tempo, até parar para descansar em uma rocha no Vale das Pedras.

Estava suada e ofegante. Não se sentia nada bonita nesse momento, mas amava não se sentir bonita.

Então, ouviu um galho quebrar atrás de si e se virou com pressa, vendo um homem alto e forte a encarando. Ele usava um manto dourado por cima de uma armadura brilhante e segurava a espada embainhada. Seus olhos eram cruéis e duros, porém de um azul cristalino, que diminuía a dureza do olhar do homem. Tinha um cabelo ralo e militar. Era definitivamente um militar de alto escalão.

— É você quem sequestrou Yuki e Sophie? – perguntou Nina com raiva.

Ele estreitou os olhos e não respondeu.

— Responda minha pergunta – exigiu usando sua ameaça.

— Não, porém foi com minha ordem que sua amiga foi pega. Yukiko Chô é respondabilidade de Gunter Kaus.

Nina arfou. Gunter Kaus, o homem que tinha vencido ela, Clyde, Zaki e Ana e perdido para Yuki. Seria vingança? Mas por que pegaram Sophie também, se esse fosse o caso?

— E Sophie? Por que sequestraram ela?

— Pelo mesmo motivo.

— Vingança?

— Não. Precaução.

— E creio que tenha vindo por mim, dessa vez.

— Sim.

Ninha olhou bem o homem e notou seus músculos fortes, sua estatura elevada, sua expressão compenetrada e o mais importante: os tampões em seus ouvidos.

Ela riu e estendeu as mãos.

— Está se rendendo?

— Não sou exímia lutadora e minha ameaça não funcionará em você. Não sou idiota, não irei gastar minhas energias em uma batalha perdida. Me leve pacificamente para o mesmo lugar que Sophie está.

— Tenho outros planos para você, Nina Flamingo.

— Leve-me para onde Sophie Hibou está!

— Eu farei com você o que eu bem entender.

Então Nina gritou com ódio e atacou.

Rei Zoro não estava acostumado a menosprezar seus oponentes, mas a quase vitória fácil contra aquela garota o fez relaxar, de maneira que quando levou o golpe com um chute certeiro no peito, arfou o olhou para baixo, encarando sua armadura amassada. Como aquela criança podia ser tão forte?

Estava tão atônito que ainda não teve ação quando levou um segundo chute na lateral do rosto. Ficou impressionado com a força e alcance da menina pequena e franzina. Estava quase aliviado de ser Nina Flamingo e não Ananya Medved.

Zoro segurou o pé da garota e o levantou, girando e lançando-a para longe. Nina aterrissou batendo em uma pedra. Ficou parada onde estava, gemendo.

— O que está esperando, Lobus? Vá fazer seu trabalho!

Potter Lobus estão caminhou até a garota, com uma dor intensa no coração e encostou sua mão na testa da garotinha, que o olhava assustada.

— Vai ficar tudo bem – tranquilizou ele inutilmente antes de começar a arrancar as memórias dela.

Nina gritou. O processo de retirada de memórias era doloroso, especialmente quando a vítima lutava contra.

Potter viu flashes das memórias que arrancava da menina. A primeira vez que usou sua ameaça, a primeira vez que lutou ao lado dos amigos, os momentos especiais com os amigos e até mesmo o primeiro beijo com aquele garoto de cabelos escuros que sempre andava com ela.

Então ela piscou, finalmente “limpa”, e olhou ao redor.

— Onde eu estou?

Potter suspirou cheio de culpa e olhou bem nos olhos de Nina antes de mentir.

— Você está perdida, Rosabela.

— Estou?

— Sim.

— Meu nome é Rosabela?

— Sim.

— E você?

— Sou...

— Venha menina – disse o homem grande que chegou por trás dos dois – Vamos para sua casa.

— Onde é minha casa?

— Você verá.

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O homem grande a levou até uma casa decadente no meio de uma estrada de terra. Várias outras mulheres com roupas frouxas estavam do lado de fora.

— Uau, grandão. Veio aqui se divertir? – perguntou uma delas chegando bem perto.

— Não. Eu vim deixar essa garota. Rosabela Hernanez.

A mulher olhou a garotinha de cima a baixo e franziu a testa.

— Dá para o gasto.

— Você vai me deixar sozinha? – perguntou Rosabela assustada. Era tudo novo para ela e a garotinha não entendia o que estava acontecendo.

— Não, irei lhe deixar com essas pessoas. Elas irão tomar conta de você. Adeus, Rosabela.

— Espere! Por favor.

Mas o homem não esperou. Montou em seu cavalo negro e galopou pela estrada de terra. A menina ficou olhando o homem ir embora, extremamente triste.

— É um péssimo pai que você tem aí – disse a mulher.

— Pai? Ele é meu pai?

— E como eu vou saber, garota? Venha aqui, vamos vesti-la para chamar atenção dos clientes.

— Clientes?

— Sim. São homens.

— Homens?

— Quer parar de repetir tudo o que eu falo?

Então elas entraram na espelunca.

A primeira coisa que Rosa notou foram todas as mulheres com pouca roupa exibindo sorrisos frouxos e seios fartos. Também sentiu cheiro de bebida e fumaça e ouviu barulhos estranhos vindos das inúmeras portas do hall.

— Bem-vinda ao inferno, Rosalinda – falou a mulher – Meu nome é Margaret e eu sou a sua nova “mãe”.

— Mãe?

— Sim. E você vai fazer tudo o que eu disser, começando com parar de repetir tudo o que eu digo. Entendeu? – Rosa apenas assentiu – Eu quero ouvir “sim, senhora” ou “não, senhora” quando lhe fizer uma pergunta, Entendido?

— Sim, senhora.

— Ótimo, agora vista um vestido que lhe couber. A noite está só começando.