As Sete Ameaças

Parte I: Os Sete – A amizade de Clyde, Nina e Sophie 3


Quando Clyde abriu os olhos, percebeu que estava molhado, que suas duas melhores amigas o olhavam com preocupação e que sua cabeça doía como o inferno. Não necessariamente nessa ordem.

— O que aconteceu? – perguntou apalpando sua cabeça e sentindo algo grudento apenas para recolher sua mão e vê-la voltar vermelha.

— Nós estávamos lutando com os bandidos e um deles acertou sua cabeça – explicou Nina.

O garoto gemeu enquanto se sentava e olhou para as pedras, que estavam uma bagunça, embora sempre tivessem sido assim.

— Como você conseguiu sair das pedras?

— Bem... eu...

— Foi incrível, Clyde! Ela usou sua proteção gritando e fazendo as pedras voarem! Então ela os enviou pelos ares com uma frase de efeito muito legal! Fala para ele o que você disse, Sophie!

— Eu disse: “Ninguém machuca os meus amigos e sai ileso. ”

O garoto sorriu para a amiga.

— Você realmente derrotou eles? E saiu de lá sozinha? Que orgulho da minha amiga! – disse ele puxando Hibou para um abraço ao qual Flamingo logo se juntou também.

— Contudo, teve algo estranho – observou Sophie saindo delicadamente do aperto – Seu charme não deu certo neles, Nina.

— Sim. Eles usavam tampões no ouvido, não estavam me escutando.

— Eu notei isso. Não os tampões, mas notei que eles não eram bandidos normais. Estavam usando coletes por baixo das roupas esfarrapadas, de modo que meu vento cortante não os afetou.

— O que você quer dizer com isso? – indagou Nina.

Clyde e Sophie se encararam. Suas mentes estavam em sintonia, tinham o mesmo pensamento e a mesma raiva por estarem, provavelmente, certos.

— Eles não eram bandidos comuns, Nina – falou a outra garota – Eles estavam aqui preparados para nós.

— Como assim?

— Estavam atrás de nós, Nina – explicou Clyde.

— Mas por quê?

— Existem inúmeras razões – continuou ele – Eles podiam querer nos sequestrar, podiam querer nos testar, nos matar... não tem como ter certeza.

— E o que fazemos então?

— Primeiro, precisamos avisar ao mestre Ivo – falou Sophie – Ele vai saber exatamente o que fazer.

Clyde olhou o horizonte, onde o sol começava a baixar. Era ótimo em ler as horas pela posição do sol e tinha certeza de que eram quase três da tarde.

— Mestre Ivo está em seu período de descanso.

— Esperamos?

— Não – falou decidido – Vamos interrogar um dos bandidos. Para onde eles caíram?

— Não podemos fazer isso! Não sabemos como faz!

— Para tudo há uma primeira vez.

— Espere, Clyde!

Mas o garoto já estava seguindo Nina, que mostrava o caminho para ele.

— Eu concordo com ele, se esses bandidos estão aqui por nós, somos nós que eles vão ter.

Os três continuaram em frente, entrando na floresta a passos firmes.

Finalmente, chegaram onde os homens estavam. Era uma cena horrenda. Eles deviam ter voado muito alto, pois alguns estavam pendurados nos galhos das árvores, outros no chão, todos com braços e pernas em posições estranhas, cortes profundos, cabeças com talhos. Clyde nunca pensou que Sophie pudesse tanto.

Nina pegou o que parecia menos machucado e o arrastou com fúria para longe dos outros e o sentou encostado em uma árvore, amarrando seus braços e penas com um lencinho que mantinha sempre no bolso.

Então ela pegou uma das garrafinhas de água que Clyde estava segurando e jogou no homem. Ele deu um sobressalto e abriu os olhos assustado.

— Bom dia, Raio de sol!

— Oi, gatinha – provocou o homem.

Eagle deu um chute forte na lateral dele que o fez se encolher e gemer.

— A situação está complicada, não é mesmo? Talvez vocês pensem bem antes de mexer conosco da próxima vez.

— Não terá próxima vez – resmungou ele.

— Vamos tornar as coisas mais rápidas, então – rugiu Nina – Por que vocês estavam aqui?

O moribundo gargalhou até fazer uma careta de dor.

— Eu não tenho que responder nada a vocês!

— Tem certeza? – disse Clyde criando um pequeno furacão na palma da mão – Sabe quanto estrago isso faria dentro de você?

O homem deu um sorriso, mas dessa vez parecia mais apreensivo.

— Vocês são exatamente os monstrinhos que nos disseram que vocês seriam. Mas não se preocupem, esse reinado dos Sete Prodígios está para acabar.

Então ele pareceu morder alguma coisa, fez uma careta e desabou.