As Sete Ameaças

Parte I: Os Sete – A conferência dos reis.


Nunca, em toda a história dos Três reinos, a realeza se reuniu em um único espaço, em um único salão, para discutir sobre um único assunto.

Zoro, o rei de Gapazium e dono do castelo no qual os outros se reuniam era um homem grande e forte, um militar que matara o antigo rei para tomar seu lugar. Era inescrupuloso, sem medo de nada e extremamente orgulhoso. Era solitário não por falta de pretendentes, elas lhe eram abundantes, mas por não confiar em ninguém além de si mesmo. Em tempo de guerra, passava dias em campo de batalha, arriscando a vida e por isso seu povo o admirava, esquecendo de seus próprios problemas.

Hommer, o rei de Paladium, era um homem gordo e beberrão. Extremamente preguiçoso e pomposo, ele gostava de sentar em seu trono com seu cetro dourado e receber qualquer pessoa para “ouvi-la” falar, quando na verdade apenas gostava de ser visto em sua posição privilegiada. Hommer era conhecido como o Rei do Povo, por escutar as críticas e súplicas de seu povo e por dar muitas voltas pelo reino em seu alazão e usando sua coroa de pedras preciosas, visitando o povo em suas casas e conhecendo seus problemas, sem na verdade fazer muita coisa para muda-los.

Kilo era o rei de Luzarium e pai de Gunter Kaus, grande príncipe guerreiro do reino que recentemente tinha perdido um duelo para o cego das Sete Ameaças Prodígio. Kilo era um homem sorridente e sarcástico, ele dava valor ao humor negro e achava divertido sofrimento alheio, criando grandes festas e eventos que satirizavam e expunham mortes como algo divertido. Em Luzarium estava localizado o Coliseu, local onde gladiadores lutavam pela vida; e em qualquer praça era possível ver forcas, guilhotinas ou palanques de humilhação pública. Kilo e Gunter, porém, eram considerados a realeza da abundância, pois davam diversas festas abertas ao público com diversão, comida e estadia confortável, por esse motivo, eram ovacionados pelo povo.

E no salão de reuniões do castelo de Gapazium reuniam-se Kilo, Zoro e Hommer, parecendo extremamente desconfortáveis com a companhia um do outro, mas sem reclamar. Na verdade, sem falar absolutamente nada na hora que se seguiu da chegada dos três ao salão. Eles se olhavam, estudando um ao outro com olhos cerrados no silêncio sepulcral.

Até que Kilo não se aguentou.

— Fiquei surpreso quando me chamou aqui, Zoro. Não é de seu feitio fazer reuniões como essa.

— É bem verdade que não é do feitio de nenhum de nós – enfatizou Hommer.

— Eu os chamei aqui, senhores, para discutir sobre as Sete Ameaças Prodígio.

— Discutir sobre as Ameaças Prodígio?

— Elas são de seu reino, Zoro, não há com o que você possa se preocupar – argumentou Kilo com um sorriso no rosto de hiena.

— Eu ouvi de meus informantes, que vocês enviaram desafios para eles.

O rei de Luzarium não se conteve. Riu em alto e bom som. O outro não estava tão alegre, mas da cor de rubis que cravejavam seu manto naquele dia.

— Não mandei meu filho para testá-los, e sim para derrota-los.

— Temo que tenha feito o mesmo com o dragão.

— Dragão! Como não pensei nisso? Que grande piada a Ameaça de fogo ser derrotada por um dragão!

— Sim, estou ciente de suas tentativas refutáveis de destruí-los. Patético, foi o que pensei no princípio. Porém, depois de raciocinar sobre o assunto, enviei mercenários protegidos e preparados, dos quais foram todos derrotados em alguns míseros segundos. Alguns deles, inclusive, voltaram mortos.

— Mortos? Criancinhas mataram seus mercenários? – gargalhou Kilo – Você precisa procurar melhor seus soldados!

— Essas crianças realmente mataram? – disse o rei gordo engolindo em seco.

— Eu não tenho como saber se foi suicídio, acidente ou intencional, mas sim, enviei oito homens e três deles voltaram sem vida – Zoro fez uma pausa para deixar os outros dois digerirem a informação – É por isso que os chamei aqui.

— Para mostrar o quão seguro é seu reino com eles? Podia ter ficado em casa – disse Kilo tirando a sujeira das unhas.

— Não. O rápido desenvolvimento deles me assombra. São crianças e vencem de um guerreiro dotado de ameaça, conseguem ferir gravemente um dragão e derrotar oito dos melhores mercenários. Nunca vi crianças tão boas.

— E o que temes? A vitória no futuro?

— Temo que, com certa instrução e discernimento, eles se voltem contra mim e eventualmente, contra vocês.

— O que quer dizer? – disse Hommer prestando total atenção.

— Essa guerra já dura séculos e tivemos inúmeras oportunidades de encerrá-la, mesmo agora, temos essa chance. Não o fazemos por orgulho e por ambição.

Kilo riu.

— Sim, ambição. Está se referindo ao lutador de sumô aqui.

— O que disse, sua hiena fedida?

— Parem com isso e me escutem! O exército revolucionário que deseja nos tirar do poder a cada dia ganha mais força e é apenas mais uma coisa com a qual devemos nos preocupar. Se as Sete Ameaças Prodígio se voltarem contra nós, os baderneiros vencerão.

— E o que pretende fazer exatamente? Por que nos chamou aqui? – indagou o rei de Paladium.

— Juntos, eles são os guerreiros mais poderosos que esses reinos já viram, com o treinamento que recebem, poderiam vencer exércitos inteiros sozinhos. Contudo, sozinhos, eles não são grande coisa atualmente. Devemos separá-los e garantir que nunca se encontrem novamente.

Kilo sorriu, com uma ideia maravilhosa se formando na cabeça.

— Eu ouvi dizer de uma Ameaça que pode nos ajudar. Potter Lobus.

Hommer também riu.

— Oh, sim! Lobus pode resolver esse probleminha. Ele é nativo de Paladium, sei onde encontra-lo e posso contratá-lo.

— Ótimo. Faça com que ponha um fim nessas sete crianças.

— E diga que comece com Yukiko Chô – falou Kilo com um sorriso aberto, já saboreando a vingança de seu filho.