As Crônicas de um Vampiro

Capítulo 1: The Girl next door


P.O.V. Jesse.

Todo o dia a mesma coisa, toda noite o mesmo sonho.

No sonho uma voz, uma voz de mulher... me chama. Estou num quarto cercada de bonecas de porcelana, é sempre o mesmo sonho desde os seis anos. Lá eu tenho uma família só minha. É um sonho muito estranho, mas que acho que todo órfão tem.

Eu estava numa enorme mansão cercada de... vampiros e uma delas era minha parente, minha tia.

Tia Maharet.

Então, eles me baniam. Me expulsavam.

Eu era má? Tinha feito algo errado? Eu não sabia responder.

Então eu acordo com o barulho de sirenes.

—Bem vinda de volta á realidade Jess.

Disse para mim mesma. Fiz chá e liguei a televisão, estava passando um vídeo de Heavy Metal.

Então eu ouvi a apresentadora dizer que havia um vampiro roqueiro e logo me interessei.

—Ele mesmo se declara um nobre francês do século dezoito que ficou adormecido por mais de cem anos.

Disse a apresentadora.

Eu comecei a ouvir a música e logo identifiquei palavras e referências que estudávamos no Centro. Eu trabalho como bibliotecária no Centro de Estudos Paranormais Talamasca em Londres.

Eu fui correndo para o conselho.

—Como todo mundo pensei que esse tal Lestat fosse falso. Só um outro astro do rock se promovendo, mas ai eu ouvi um pedaço da letra da música e comecei a suspeitar. A letra diz: Dê um passeio pelas ruelas de Mile End e entregue sua vida aos meus encantos em Admirel's Arms.

—Jessica...

—Me soou familiar, então eu comecei a investigar locações antigas de Londres e descobri que no fim do século dezessete havia uma taberna no final da Rua Mile End chamada Admirel's Arms.

—Você tirou essa foto?

—Tirei.

—Você ainda é aprendiz não pode investigar vampiros e muito menos sozinha.

—Vocês sabem que eu faço coisas que os outros não conseguem.

—Jessica a Talamasca tem uma regra que tem funcionado muito bem á milhares de anos.

—Eu sei. Observe o reino das trevas sem fazer parte dele. Mas, talvez eu já faça.

—Talvez devesse falar com o David.

—Jesse.

—Olá David.

—Venha até a minha sala.

Ele me fez prometer que não voltaria á aquele lugar e em troca me deu o Diário de Lestat. Mas, eu fiz uma figa. Então a promessa não valeu.

Eu li havidamente o diário. Escrito em francês.

—Jess, sabemos sobre o Lestat já a algum tempo. O que ela está fazendo não tem precedentes e eu não a quero envolvida.

—Eu já estou envolvida! Eu sou uma bruxa nascida e criada no quartel francês em Nova Orleans!

—Jesse, não quero que tenha sangue nas mãos.

—Não me ouviu David?! Eu sou uma bruxa do quartel francês e estamos sempre em guerra! Eu nasci com sangue nas mãos!

Ele me mostrou sua coleção de pinturas do vampiro Marius, ele existe desde quatrocentos antes de Cristo.

Ao ler o diário eu vi escrito lá dois nomes que reconheci de cara. Das histórias que a minha mãe contava.

—Akasha e Einkil. As gêmeas Maharet e Mekare, tia Maharet. Eu sou a última descendente viva da primeira linhagem de bruxos que já existiu, a linhagem dos Necromantes de Asheron. Que começou em Kemet que hoje é o Egito. Eles se tornaram os originais graças ao erro de Mekare de convocar um espírito maligno que transformou o rei e a rainha em vampiros.

Eu não tinha escolha, eu tinha que retornar a Admirel's Arms.

O lugar estava lotado, cheio de vampiros. Haviam humanos sendo drenados.

—Oi.

—Oi.

—Vem sempre aqui?

—Não. Mas, eu estou acompanhada.

—E onde está seu acompanhante?

—Por ai.

—Como ele se chama, esse seu acompanhante misterioso?

Falei o primeiro nome que me veio na cabeça:

—Marius. O nome dele é Marius.

—Nunca ouvi falar.

—Ele é velho, bem velho.

—Impossível. Todos os velhos viraram pó.

—Se você diz. Acho que ele não vem mais. Com licença.

Eu sai da boate sabendo que eles viriam atrás de mim, mas não contava com um espectador inoportuno.

—Não façam isso.

—Relaxa, pode doer um pouco e você pode até gostar.

—Eu avisei.

Lancei uma bela mágica de fogo que os incinerou vivos. Metade das fábricas abandonadas e o próprio bar acabou incendiado.

—Uau! Estou impressionado.

—Com o que exatamente?

—Como fez aquilo?

—Aquilo o que?

—Você botou fogo nos vampiros e na boate.

—E que provas você tem contra mim?

—Nenhuma por enquanto. Então você conhece Marius.

—Eu conheço várias coisas.

—Inclusive como ficar viva.

—Eu tava cuidando de mim. Eu sempre cuido de mim.

P.O.V. Lestat.

Eu tentei ir para cima dela e ela disse:

—Sua música Redentor é sobre a cigana do violino. Não é? É sim.

—É? E o que mais você acha que sabe?

Vi ela tremer.

—Está tremendo.

—Ta frio aqui fora.

Eu avancei sob ela lentamente.

—Ainda com frio?

—Não.

—Então, fale mais sobre seus vastos conhecimentos sobre mim.

Ela tinha um cheiro diferente. Maravilhoso.

—Você quer...

—O que eu quero?

—Anseia...

—Pelo que anseio?

Eu furei o dedo dela com a unha e o sangue que saiu era... azul.

—Azul? Sangue azul?

—Você não pode ter o meu sangue. Você anseia ser aceito pelas pessoas e sair da fria e escura desolação da eternidade.

Eu bebi um pouco do sangue dela e era como fogo líquido, eu me senti mais puro biblicamente falando.

—Para!

Ela moveu a mão e me afastou.

—Parece que temos aqui uma esperta bibliotecária. Talamascana.

—Nem tudo é o que parece.

—Sabia que tinha largado aquele diário em algum lugar.

—Desculpe.

—Pelo que?

—Por ler seu diário. Pode ler o meu se quiser, como retribuição.

—Foi uma boa leitura?

—Me esclareceu muita coisa. Eu descobri coisas sobre mim mesma com aquele diário.

—É mesmo?

—É.

—Não se preocupe Jesse, seu tipo jamais satisfez a minha sede.

—Mentiroso. Além do mais sei de algo que não está no diário.

—E o que é?

—Você ainda guarda o violino não guarda? Tudo bem, eu entendo afinal ainda há uma parte de você por mais mínima que seja que ainda é humana.

Eu voei por cima dela na intenção de assustá-la e ela só acenou pra mim e foi embora.

Chegando em casa, abri o case, tirei o pano e peguei o violino.

—Esperta bibliotecária.