As Aventuras do Pequeno Eryk

63 – Orfanato do Pesadelo


No reformatório do Juizado de Menores, o alarme tocava por todo o local. Era de madrugada, mas o jovem fugitivo precisava sair dali o quanto antes ou não teria outra chance.

Pulando de uma janela aberta, o garoto se dirige até os arbustos procurando por algo que tinha escondido ali caso topasse com uma situação assim.

— Ha! Ainda bem que escondi essa bicicleta aqui se caso eu fosse pego. – Pensou em voz alta Denis, o líder da Gangue da Bicicleta.

Quando os guardas do local avistam o garoto, já era tarde demais. Tudo o que eles encontram é o jovem montado na sua bicicleta turbinada decolando para o céu, passando pelos muros dominados pela cerca elétrica, que não valiam de nada contra uma bicicleta voadora.

— Não se preocupem meus irmãos. Eu volto para salvar vocês. – Prometeu Denis dando uma breve olhada para trás antes de partir.

Na manhã seguinte...

Os cinco pequenos andavam tranquilos a caminho da casa da árvore. Conversavam animadamente sobre várias coisas divertidas. Até que Eryk abre a porta da casa da árvore se deparando com alguém.

— Olá. – Cumprimentou Denis sem emoção, assustando a todos.

— O QUE?!

— ALERTA VERMELHO! ALERTA VERMELHO! NOSSO CAFOFO FOI CAFOFADO POR OUTRA PESSOA! – Junior berrava correndo para lá e para cá assim como seus amigos, parando todos em posição de ataque, ativando seus respectivos poderes perante o Denis.

— Por favor, eu preciso de ajuda. – Implorou o invasor tentando permanecer sério mesmo após ter presenciado uma agitação tão exagerada, na sua opinião.

— Hã? Ah então tá. – Bastou só isso para fazer Eryk abaixar sua guarda.

— O que?! Eryk! Acreditou nele? – Pergunta Jessy inconformada pelo seu primo confiar num desconhecido.

— Vou explicar de uma maneira que você entenda: Eu programei a casa para permitir a entrada de pessoas necessitadas. – Respondeu Eryk falando na língua de Jessy para ter certeza de que ela entendeu. O problema é que foi SÓ ela quem entendeu, já que Luane, Junior e Jeová ficaram boiando.

— O que rapa?! –Exclamou Jeová.

— A casa deixa as pessoas que precisam de ajuda entrar... – Repetiu Eryk explicando para o resto dos amigos em outras palavras.

— Aaaaaah...! – E finalmente todos entendem.

— Então, ô da bóia. – Começou Jessy dirigindo a palavra para o adolescente. – Quem é você e em que podemos ajudar?

— Bom, para começar meu nome é Denis e...

Uma explicação depois...

— Deixa eu ver se entendi.... – Iniciou Jessy novamente após assimilar toda sua explicação. – Você faz parte da Gangue da Bicicleta, mas todos os membros foram capturados e levados separados para um orfanato e um reformatório?

— Isso. – Afirmou Denis.

— E você quer que nós invadamos pelo menos o orfanato para livrar os seus companheiros de lá para voltarem à ativa? – Prosseguiu Eryk.

— Exatamente. – Afirmou mais uma vez.

— Você tem ideia do que está nos pedindo? – Se opõem Jeová contra a ideia. Denis, imaginando que isso fosse acontecer, começa:

— Eu tenho ouvido falar sobre vocês. Tenho pesquisado sobre vocês. Suas ações mostram que se importam com os outros. Verdadeiramente. Sem preconceitos, sem desculpas, vocês simplesmente vão lá e fazem acreditando ser o certo. Aquele orfanato... Aquele pesadelo coberto por uma ilusão de ser um “local ideal” para os órfãos, é o tipo de lugar que nós da gangue evitamos... ou melhor, tentamos evitar até agora. O reformatório é tranquilo. Meus amigos dão conta de sobreviverem por um tempo lá, mas os mais novos, os menos problemáticos foram jogados no pior orfanato de Belém. Se uma criança quebra alguma coisa, eles são castigados. Se eles falam mal de alguém, descem o chicote neles. Se eles acham graça de alguém, ficam num quarto por dias, sem hora ou data definida de saída passando fome e sede. É por isso que recorro a vocês. Só vocês podem me ajudar com isso. A policia, os adultos, nenhum deles fazem ideia do que está acontecendo lá. E quando descobrem... Eles simplesmente somem. Não divulgam e não ficam calados. Não sobra nada mesmo. Nem deixam rastros. Se fosse qualquer orfanato de bem, sim, eu consideraria. Mas aquele lugar... não.

Isso deixou todos os cinco contra a parede, perplexos. Eles se entreolham engolindo em seco. Era notável o desespero de Denis.

— É por isso que estou aqui. Se eu não puder reformar a Gangue da Bicicleta, pelo menos me ajudem a procurar um lugar melhor para eles. – Implorava Denis mais uma vez.

Eryk não fala nada. Ele apenas anda até ficar frente a frente de Denis e estende seu punho dizendo:

— Pode contar com a gente. – Garantiu Eryk e todos sorriem para o adolescente, enquanto o pequeno espera Denis lhe dá alguma resposta batendo em seu punho.

Ao sorri de canto impressionado com a grande ajuda que recebeu, Denis faz questão de fazer o mesmo gesto que Eryk, batendo em seu punho como forma de agradecimento.

— Obrigado.

Algum tempo depois...

Era o dia. Ou melhor, a grande noite. Depois de reformular planos, artimanhas, e até mesmo uma paradinha no carrinho do cachorro quente da esquina, Eryk, Junior, Jeová, Luane e Jessy, estavam apostos ao lado de Denis, cercando o perímetro do orfanato do pesadelo.

— Cérebro Branco, situação! –Eryk estava escondido atrás de uma árvore, entrando em contato com sua prima usando um radio comunicador num formato de um fone de ouvido.

— Cérebro Branco para Redondo Vermelho! Vi cinco câmeras escondidas. Três nos muros e dois atrás dos arbustos. – Informou Jessy oculta num prédio do outro lado da rua , segurando um binóculo em suas mãos.

— Câmeras escondidas? Vão fazer alguma pegadinha ou o que? – Se pergunta Junior dentro de um buraco de um boieiro no meio da rua, segurando a tampa do mesmo para ter uma visão do solo do local.

— Esse guri fala bobagens o tempo todo ou o que? – Denis pergunta retoricamente atrás do muro do orfanato, tomando cuidado para nenhuma câmera o detectar.

— Não, é o tempo todo mesmo. – Jeová respondeu o garoto como um alerta para aturar Junior. Escondido na parte de trás do orfanato, o garoto examinava o perímetro para localizar alguma rota de fuga alternativa.

— Não tínhamos combinados de nos chamarmos por codinomes? – Pergunta Luane confusa com essa questão.

— Combinamos nada! É a Jessy e o Eryk que inventaram essa. – Falou Jeová espojado.

— Não foi você que disse que não ia entrar nessa? – Rebateu Junior para Jeová.

— Que seja, codinomes ou não, é a sua deixa Junior! – Jessy deu o sinal e Junior correu tão rápido no lado de fora do orfanato que as câmeras não puderam ter a chance de detectá-lo.

— Prontinho. Coloquei todos os chips. –Falou Junior parando bem ao lado de Jessy.

— Ótimo. Agora é a minha vez.

Usando seu poderes tecno-visão, apenas ao abrir seus olhos, Jessy ativa os chips que Junior implantou nas câmeras, fazendo com que cada uma repita a mesma gravação de dez minutos atrás, mostrando apenas os arredores do local vazios.

— Luane? – Chamou Jessy pelo seu comunicador.

— Já desfiz as armadilhas. E você não ia me chamar de Sol Amarelo? – Pergunta Luane ainda confusa com essa coisa de codinome.

— Ainda nessa Luane?! – Responde Jessy com outra pergunta.

— Bora libertar as crianças que é. – Lembrou Eryk e todos entraram de mansinho no orfanato.

Cobrindo uma área maior, o grupo é dividido em três: Eryk e Denis, Jessy e Junior, e Luane e Jeová.

— Tranquilo essa noite, não? – Pergunta um dos vigias das câmeras de segurança para o outro.

— Bem que poderia acontecer alguma coisa hoje. – Desejou em voz alta o segundo vigia.

— Cuidado com o que desejam.

Falou Jessy encostada na entrada da sala de vigilância segurando a porta com seu pé. Quando os guardas pensavam em reagir, Junior invade o local com sua velocidade, derrubando os dois vigias como um raio azul passando pelos dois.

— Muito bem, agora vamos ver se essas câmeras gravaram algo que possa derrubar esse orfanato podre de uma vez. – Dizia Jessy se sentando na frente dos computadores para buscar algum vídeo que comprometa o orfanato inteiro para garantir.

— Bizarro. Pra quê tanta segurança num orfanato? Parece que estão cuidando de uma casa de algum ricaço. – Comentou Junior vigiando a porta para a amiga.

— Estou me fazendo essa mesma pergunta. Mesmo se for só para esconder maus-tratos, não chegariam tão longe. – Jessy lhe falou sem diminuir o teclado ágil no computador.

Enquanto os dois morenos cuidavam dos vídeos, as outras duplas estavam encarregadas de liberar as crianças.

— Bora acordaaando...! Vamo se levantaaar...! Simbooora...! – Jeová mal abria a porta do quarto dos órfãos e já acordava todo mundo batendo em um tambor.

— Venham garotada! Estão livres! Venham por aqui! – Luane fazia gesto com as mãos indicando a saída para os órfãos. Sem pensar duas vezes eles seguem os dois para fora dali.

Em quanto isso em outros quartos do local, Eryk e Denis faziam o mesmo.

— Ei! Pessoal! Acordem! – Chamou Denis baixinho ao abrir a porta devagar. Uma das crianças despertava sonolenta, mas isso não o impediu de reconhecer o adolescente.

— DENIS!!!! – Um garoto de seis anos correu até o adolescente e o encobriu com um abraço de felicidade.

— Eu cheguei, pequeno... Agora, vamos sair daqui.– Falou Denis carinhoso.

— Todos pegando essa rota! Desvio é permitido! Por aqui, por aqui! – Guiava Eryk vestido como um guarda de transito, segurando dois bastões de luz como um verdadeiro guarda para controlar a fila de crianças que preenchiam o corredor.

Na sala de vigilância...

— Não... Não pode ser...?! – Surtava Jessy aos poucos com uma descoberta aterrorizante para a menina.

— O que foi guria?! – Pergunta Junior alarmado.

— Eles usavam esse equipamento podre da primeira geração como vigilância?! Eles pensam que são o que?! Dinossauros?! Estão praticamente pedindo para serem invadidos!

— Aaaargh tá falando do computador...! – Revirou os olhos Junior inconformado ao voltar para a porta.

— Não! Junior!! Veja só isso! – Chamou a morena chocada novamente, fazendo Junior dar meia volta.

— O que? Outro PC da vovó?

— Não. São as... coisas que os responsáveis do orfanato faziam com as crianças. Veja isso.

Jessy mostra para Junior uma imagem no computador. Não tinha como descrever. Só de olhar já fazia o estomago do de camiseta azul revirar.

— Nossa... Aquilo é uma mão? – Pergunta Junior com ânsia de vomito.

— Pior que não. – A resposta de Jessy só fez a vontade de vomitar de Junior vir a tona.

— Ei vocês! Não mecham nisso! Fiquem parados! –Um segurança do local aparece na sala de vigilância assustando os dois.

— Deu ruim! – Afirma Junior.

— O que você tá esperando?! – Jessy incentiva Junior e o garoto corre para derrubar o guarda.

— Bora, já deu! Vamos! – Chamou o garoto e Jessy salva as informações em seu pen drive antes de fugir dali.

Com tanta criança reunida, os seis, sem contar os órfãos que os seguiam, se encontram no enorme pátio do casarão.

— PARADOS TODOS! – As mulheres encarregadas do orfanato aparecem bloqueando a saída. Tinha umas quatro no total. Mas os objetos que usam para maltratar as crianças que seguravam em suas mãos ameaçavam os menores.

— Denis, levem os órfãos para a porta dos fundos. Nós vamos segurar essas tias do mal. –Ordenou Eryk dando um passo a frente.

— Boa sorte. Todo mundo, comigo! – Falou Denis fazendo o ordenado.

— Ah não vão não! – Declarou uma das mulheres e todas as quarto correm para impedi-los.

— Ah vão sim! – Declarou Eryk e ele e seus amigos correm para conte-las com os seus poderes.

Os cinco se jogam nas quatro. Primeiro eles pegam as ferramentas de tortura que seguravam, se livram delas e depois as apagam no chão.

— Vamos! – Chamou Junior e todos conseguem fugir dali com segurança.

No dia seguinte, na Casa da Árvore...

Denis, ao lado de Eryk, Junior e os outros, assistiam uma noticia passando na TV sobre o mesmo orfanato que invadiram.

— “Em um orfanato na área nobre de Belém, foi descoberto o tráfico de órgão de menores. Eles trancafiavam crianças com boa saúde e usavam seu bem estar em troca de dinheiro. A descoberta partiu de uma denuncia anônima, que cedeu áudio e vídeo mostrando o terror diário que era a vida dessas crianças. Logo de manhã, o orfanato foi fechado, os proprietários e funcionários combinados no crime foram presos, e tudo indica que as crianças do local fugiram com ajuda de alguém de fora durante a mesma noite.”– Informava a jornalista até Denis desligar a TV.

— Porque não levaram o crédito? – Questiona Denis se virando para eles, mas sem deixar de demostrar o largo sorriso estampado em seu rosto.

— Se fizermos o que fazemos para receber algum agradecimento, íamos levar o maior toco dos adultos. Sem falar que podem nos impedir de ajudar quem realmente precisa depois. – Respondeu Eryk sorrindo alegre para o companheiro.

— É verdade... Mas pelo menos recebam o meu agradecimento. Obrigado. – Denis sorriu de volta, agradecido.

— De nada. E então... o que você vai fazer agora? – Jessy pergunta curiosa com o próximo passo do líder da gangue da bicicleta.

— Combinei de encontrar com o pessoal num local seguro. Estou indo para lá agora mesmo para discutir e convencê-los de morarem em um orfanato descente. Mas acho que vai ser difícil fazer isso depois do que eles passaram. – Explica Denis colocando sua mochila nas costas, pronto para partir.

— Se quiser eu posso te ajudar. – Se oferece Eryk de bom grado.

— Vocês menores já fizeram demais por mim. Não posso pedir por mais. Mas eu posso retornar o favor. É só pedirem que virei correndo para ajudá-los. – Enfatizou Denis.

— Tudo bem, mas pelo menos deixa eu te ajudar com isso. Te conto tudo no caminho, falou? – Disse Eryk indo embora da casa da árvore com Denis.

Os dois pegam a rota da cidade onde dá certinho no bairro de Eryk. Ambos trocavam histórias e experiência anteriores pelo caminho, enquanto Eryk lhe explicava como ajudaria Denis.

— Minha mãe é bem informada dessas coisas. Com certeza ela sabe alguma coisa sobre algum orfanato bacana para seus amigos viverem em paz. – Conversava Eryk pelo caminho, trazendo um sorriso sutil, mas cheio de esperança para Denis imaginando seus irmãos da Gangue da Bicicleta vivendo em um lugar melhor.

Mas esse sorriso cheio de esperança some de seu rosto quando se depara mais a frente de si com a responsável por ter colocado seus irmãos num orfanato horrendo como aquele.

— Você...!

Uma ira crescia no interior de Denis aos poucos.

— Sua...

O jovem serra o punho fuzilando a pessoa com o olhar. Tudo o que o garoto almejava naquele momento era o castigo dela.

— Garota Borboleta? – Pergunta Eryk surpreso por encontrá-la em um local publico. Embora não tinha mais ninguém passando na rua além deles.

A Garota Borboleta encarava Denis como se fosse o seu alvo, enquanto o adolescente encarava a Garota Borboleta com um olhar carregado de ódio.

— VOCÊ VAI PAGAR! POR SUA CAUSA MEUS IRMÃOS SOFRERAM! – Berrou Denis aos pulmões, avançando para atacar a Garota Borboleta.

— DENIS! – Chamou Eryk, mas em vão. Sua voz não alcançava o adolescente cego e também surdo por vingança.

Continua...