As Aventuras do Pequeno Eryk

41 – A Semente dos Desejos


Graças à invenção de Jessy (uma esfera que cabe na palma da mão, cuja função é semelhante de uma bexiga d’água. É só jogar em um incêndio que ele logo é apagado pela enorme quantidade de água que quantia dentro.) o fogo foi apagado antes de se espalhar pelo resto da mata.

Mas em relação a casa da árvore era tarde demais. Tudo que os pequenos tinham guardado lá, brinquedos, jogos portáteis, casinhas de boneca, até mesmo algumas invenções de Jessy, foram queimadas.

Jessy e Luane faltavam chorar. Jeová serrava os dentes furioso para descobrir o culpado. Junior estava chorando feito bebê por ter perdido suas bolas favoritas que tinha resolvido guardar recentemente na árvore.

Mas dos cinco, quem estava mais arrasado mesmo era Eryk.

Quando tudo se acalmou, o garoto foi até a casa destruída na manhã seguinte. Ficou de joelhos novamente perante aquela destruição. Eryk não pensava em nada. Apenas observava o cenário a sua frente enquanto lembranças boas e alegres projetavam em sua mente.

Quando encontraram a árvore no meio do mato.

Quando construíram a casa.

Quando brincava sozinho ou com seus amigos.

Até quando planejavam um plano para ajudar alguém ou para combinar de se encontrarem em algum lugar.

Das risadas e travessuras que faziam com eles mesmos.

Esse ultimo Eryk sorriu. Mas quando imaginou que não poderiam mais fazer isso, com aquela mesma casinha que sempre proporcionou essas coisas, o sorriso sumiu, e tomou lugar das lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

– Eryk... – Jessy foi até seu primo e pousou delicadamente sua mão no ombro dele. Eryk abaixa o rosto tentando esconder as lagrimas que caiam inconsequentemente. Mas não adiantava. Os fungos de choros denunciavam o garoto, mesmo que tenham sido sutis para quem estivessem em volta.

– S-só de imaginar... só de imaginar que não vamos poder mais brincar na árvore... – Eryk não conseguiu prosseguir com as palavras. A tristeza foi tanta que aumentou seu choro. Seus amigos, assistindo aquilo, começaram a sentir pena do garoto, com a frustração e a tristeza crescendo no interior em cada um.

– E... Eryk... olha, não se preocupe com isso. É... é só uma casa. – Junior tentava consolar o amigo. Mesmo que ele não admita, o moreno estava tão triste quanto Eryk.

– Eu sei... o pior é que eu sei, mas... quando essa casa está sozinha, ela é só uma casa. Mas... quando brincamos nela, ela ganha vida. Tudo fica mais animado e mais divertido. E isso não acontecia quando brincamos na rua, na escola ou na nossa casa. Isso só acontecia quando estávamos brincando nela... Na árvore. – Dizia Eryk melancólico.

– E se construirmos outra? – Sugeriu Luane.

– Não tem nenhuma árvore aqui que aguente o peso da casinha como a antiga. – Falou Jessy sem esperança.

– Jessy...! – Luane chama a atenção da amiga falando baixinho. No intuito de não falar alto ao ponto de Eryk ouvir.

– E ainda tem isso. Eu sabia. Os adultos não vão querer ajudar. E mesmo com um monte de árvores aqui na mata, não tem nenhuma grande o bastante para criar uma casinha como a nossa... – Dizia Eryk.

– Droga...! Se eu pego quem fez isso... – Falou Jeová quase explodindo de raiva.

– Você não vai fazer nada. – Eryk completou o que o grandão dizia, surpreendendo o mesmo.

– O-o que? Mas por que? – Pergunta Jeová com os olhos arregalados.

– Não vai adiantar. Nossa casa não vai voltar depois disso... e também não vai me fazer sentir melhor. Por mim eu queria esquecer que essa casa existiu para não chorar mais. Mas ainda tem vocês, que tiveram tudo que era seu destruído pela casa. Nossos brinquedos favoritos... nossos objetos... – Dizia Eryk.

– Eryk... – Luane já estavas aos prantos vendo Eryk naquele estado. A garota era muito sensível com essas coisas. E ver tudo isso acontecendo já acabava com ela.

O relógio no pulso de Jessy apita indicando o horário para a turma se arrumar para o circo que teriam que ir mais tarde.

– Vamos Eryk. Temos que ir. Ainda vamos receber nosso prêmio por termos vencido a gincana. Esqueceu? – Jessy muda seu humor para animar o garoto. Mas Eryk não demonstra nenhuma reação. O que faz Jessy mudar sua expressão para preocupada novamente, com medo de ver o primo nesse estado o dia todo.

– Vamos... – Sem animo algum, Eryk se levanta dali e segue seus amigos para fora da mata.

Mas sem antes de dá uma ultima olhada na árvore queimada, com um olhar de despedida, e pronunciando o nome da casinha.

– Laços Eternos... Descanse em paz...

Mais tarde...

O circo de Risolândia estava lotado. O publico infanto-juvenil era o alvo da platéia. É claro, os pais e alguns parentes também eram presentes no local.

Eryk e seus amigos estavam na arquibancada. E mesmo com a animação da platéia, Eryk ainda estava depressivo com a árvore que tanto brincava.

E Jessy vendo isso queria fazer algo por ele. Mas não sabia como até o anuncio do inicio da apresentação começar.

– Olha Eryk. Vai começar. Se anima! – Falou Jessy sorrindo para Eryk, tentando animado. E tentando mudar o rosto depressivo, Eryk balança a cabeça para os lados e tenta focar seu olhar na apresentação que estaria por vir.

– Seeeenhoras e senhoooooreeeees! É uma Grande honra de apresentar pra vocêêês... A Primeiríssima apresentação do MAGNIFICO CIRCO DE RISOLÂNDIA!!!!

Dizia uma voz de apresentador, enquanto o local ficava escuro do nada e holofotes eram acessos, procurando algo onde mirar, até mostrar um homem com vestes vermelhas, chapéu preto, calça branca, e uma capa com capuz no meio do palco do circo.

– É uma honra estar aqui, povo de Belém. Meu nome é Henriqueél! O proprietário desse circo! – Se apresentou o mágico retirando seu chapéu como um perfeito cavalheiro.

Mas quando Eryk consegue ver o rosto desse mágico, ele reconhece a pessoa.

– Olha! É o cara mágico que me salvou do carro maluco no outro dia! – Falou Eryk se lembrando do carro que atacou ele sem motivo enquanto ia até padaria, e logo em seguida sendo salvo pelo mesmo mágico que está no palco do circo.

– Você conhece ele Eryk? – Pergunta Luane confusa.

– Sim! Eu contei que fui salvo por um mágico irado? Então, era ele. – Falou o garoto.

– Você nunca nos contou isso, Eryk. – Lembrou sua prima.

– AH É MESMO! Era um segredo...! – Gritou Eryk percebendo.

– O QUE?! – Gritaram todos os quatro irritados com o garoto.

– Hehehe... vamos nos concentrar no circo, vai? – Falou Eryk tentando escapar da bronca.

– Hm... tudo bem. – Falou Jessy deixando isso de lado.

– O que? Como assim menina? – Brigou Luane não entendendo a atitude da morena.

– Desde ontem a noite o Eryk não sorriu. Deixa isso de lado por um momento, vai... – Sussurrava Jessy para Luane

– Está bem... – Falou Luane entendendo o lado da amiga. Junior e Jeová ouviram também e resolveram fazer o mesmo.

Vendo toda aquela alegria no circo, Eryk se lembrou da mesma alegria que sentia quando brincava na casinha Laços Eternos. O que fez a tristeza retornar para o garoto, mesmo não demonstrando.

– Mas antes que começarmos com o show – Dizia o Mágico – Vamos anunciar os vencedores da primeira Gincana de Férias. Uma salva de palmas para os garotos premiados! – Anunciava Henriqueél apontando os holofotes para os cinco amigos vencedores.

– Anda Eryk. Vamos lá! – Chamou Junior indo até o palco junto com os outros. E mesmo que Eryk não esteja tão ansioso como gostaria estar, ele foi assim mesmo.

– Por favor, venham receber seu premio. – Dizia Henriqueél chamando pelos garotos.

– Se anima mais Eryk! – Incentivava Junior tentando levantar o astral do amigo.

– É-é! – Eryk tentava fazer um esforço, mas a casa da árvore destruída ainda vinha em sua mente.

– Oi Antônio Eryk. Se lembra de mim? – Pergunta Henriqueél.

– Pessoal, foi ele que nos deu os ingressos para participarmos da gincana. – Falou Eryk nem muito alegre nem muito triste.

O brilho que Heriqueél tinha visto em Eryk no dia em que se conheceram parecia fraco naquele momento. A sensação que o brilho em seus olhos agora parecia mais... triste.

– O que foi garoto? Não está se sentido bem? – Pergunta o mágico ficando na altura do pequeno.

– Hã? N-não, não foi nada. Estou benzinho haha! – Eryk tentou sorri para disfarçar, mas o brilho triste que emanava em seus olhos entregava a tristeza contida em seu coração.

– Você não parece bem. Está escrito na sua cara. – Falou o mágico sério. Mas com um tom de preocupação.

– N-não é nada. Mesmo. – Falou Eryk tentando convencê-lo.

– Acontece que a nossa casa da árvore foi queimada esses dias. E o Eryk está triste desde então. – Falou a prima.

– Jessy! – Brigou Eryk. Não era para todo mundo ficar sabendo. Achava que isso só ia piorar seu estado.

– Entendo... – Foi a reação de Henriqueél. Assim como a reação da platéia foi de um “aaaaah...” em coro deprimido de pena. Eryk cora de vergonha com isso e tenta se segurar para não fazer burrada, era o que pensava.

– Eryk, se anima cara... – Falava Junior para o amigo.

– Bom, que tal se mostrarmos o premio para eles para levantarmos seu astral, hein platéia? – Quando o mago sugeriu isso, a platéia imediatamente se manifestou empolgada.

E quando se abriram as cortinas, relevaram uma montanha de brinquedos para os garotos e para as garotas também.

– QUE DAHORA!!!!! – Gritaram todos os garotos no palco, menos Eryk.

– É tudo incrível, mas eu não quero.

A platéia inteira exclamou surpresa com a reação do gordinho. Inclusive os seus amigos e até mesmo o mago.

– Não me entendam mal. Eu adorei o premio. Mas não sinto vontade de tê-lo. Se vocês quiserem, podem ficar. Só dividam a minha parte para doar para quem precisa.

As palavras de Eryk eram sinceras. Mas o significado delas é que chocavam a todos.

A tristeza de Eryk era tanta que o garoto não tinha mais vontade de brincar. Desde que viu a casinha da árvore em chamas, aquilo foi como um impacto no coração do garoto.

E isso para uma criança de oito anos não era uma coisa boa.

Aquilo poderia mexer com sua infância para sempre.

E Henriqueél sabia disso só de olhar nos olhos dele.

Principalmente o brilho de luz que agora estava fraco e triste...

Mas a função de um mágico de circo é trazer alegria para todos.

Principalmente para as crianças.

E Henriqueél sabia exatamente o que fazer.

– Bom... se você não quer esses brinquedos, eu posso doar e presenteá-los com um premio melhor ainda. – Falou o mágico.

– O que? – Pergunta Eryk como não querendo nada. Realmente ele não tinha vontade de fazer mais nada. Só estava ali por causa de seus amigos.

– Eu nunca pensei que o precisaria um dia, mas vocês merecem. – Dizia Henriqueél indo para outra cortina.

– O que? – Pergunta Jessy enquanto os outros quatro seguiam o mago.

– Isso.

Quando Henriqueél estalou os dedos, a cortina abriu sozinha, revelando um carrinho de mesa andando sozinho, mas com um vazo em cima.

– O que é isso? – Pergunta Jeová curioso assim como os outros.

– Essa é a Semente dos Desejos. Basta você plantar que todos os seus desejos irão se tornar realidade.

– O QUE?! – Quando Henriqueél pegou uma semente para mostrar para os garotos e para o público, todos exclamaram ao mesmo tempo quando ouviram isso.

– Essa é uma semente mágica. Mas o desejo só vai se realizar se for de coração. Mas vocês terão que escolher. Ou a semente ou os brinquedos.

Todos na platéia começaram a sussurrar depois de ouvirem o mago dizer isso. “Uma semente que realiza desejos?” “ isso é verdade?” “provavelmente é um truque para iludir os garotos” diziam.

– Isso é verdade? – Pergunta Jeová desconfiado.

– Nunca ouvir falar de algo assim. – Falou Luane.

– Isso é mentira. Quem dera fosse verdade. – Dizia Junior.

– Queria muito acreditar, mas é impossível algo assim acontecer. – Afirmava Jessy.

– Ela... ela funciona mesmo? – Pergunta Eryk, rezando para que seja.

– Er... Eryk? Não está pensando em... – Dizia Jessy, já imaginando o que o primo planejava.

– Eu não sou de mentir. Eu garanto isso. Mas ela só vai funcionar se você acreditar 100 por cento na semente. Faça seu pedido de coração, e tudo que você desejou irá se realizar. – Explicava Henquieél enquanto entregava a única semente para as pequenas mãos de Eryk.

Nesse momento o garoto sente uma chama de esperança viva crescendo dentro dele. O brilho de tristeza que somente Henriqueél via agora ganhava luz e vida. E quando Eryk virou para seus amigos, ele não tirava os olhos da semente.

– Eu... quero tentar. Pessoal, eu quero tentar. Eu tenho um desejo que vai valer mais do que todos esses brinquedos juntos. Por favor, vamos aceitar... – Implorava o garoto.

– Eu... não sei dizer... e vocês? – Falou Jeová.

– Tantos brinquedos... olha para aquela bola azul. É irada... – Dizia Junior de olho na pilha de brinquedos.

– Eu não sei também... e você Jessy? – Pergunta Luane para a morena.

– Eryk... o que você vai pedir? – Perguntou a prima.

Eryk andava até os destroços da árvore segurando a Semente dos Desejos com as duas mãos carregadas de carinho e confiança, enquanto seus amigos abriam passagem para o garoto plantar a semente mágica e fazer o seu pedido.

– Eu desejo...

Eryk fez o pedido falando baixinho, mas foi sincero o suficiente para um brilho dourado mágico tomar conta de todos os destroços, carvões e cinzas da antiga árvore.

E num passe de mágica, nasce uma nova, repaginada, e encantada casa da árvore. Com certas semelhanças com a antiga, mas com “certas” diferenças.

Os amigos de Eryk estavam boquiaberto quando viram. E ficaram mais maravilhados ainda quando entraram na casa. Por fora parecia que tinha o mesmo tamanho que a casinha antiga. Mas por dentro parecia do tamanho de uma mansão. E o melhor; todos os brinquedos, invenções e o resto que tinham sido destruídos, retornaram novo em folha. Tinha até uma televisão de verdade ali, mas com um design mais infantil, com cores vermelha e azul, assim como os botões. Um vídeo game que pegava qualquer jogo de qualquer console, e uma casinha de boneca que dava para entrar dentro, e mais um canto que parecia um enorme laboratório cientifico para Jessy ficar.

E no lado de fora tinha crescido escorregas, balanço, uma cerca de areia para brincar a vontade. E ainda mais a mais surpresas que nossos amigos descobririam mais pra frente, tudo com um toque infantil.

Era com certeza a Casa da Árvore dos Sonhos.

E Eryk não poderia estar mais feliz. Não só por ter uma versão “melhorada” da casa antiga, como também por seus amigos poderem aproveitar tudo isso e dividir essa alegria toda entre eles mesmos.

– O meu desejo se realizou... Seja bem vinda, Laços Eternos. – Dizia Eryk emocionado, enquanto mirava a mais nova casa da árvore pelo lado de fora.

Continua...