Montgomery Scott examinava preocupado o autômato caído no chão, ainda com o braço entendido. Spock observava atentamente com os braços cruzados às costas, enquanto o engenheiro escaneava com o tricorder os circuitos do cérebro eletrônico do C-3PO.

— Não detectei nenhum dano nos sistemas eletrônicos – disse Scott, levantando-se – provavelmente ele se desligou automaticamente como medida de proteção, quando houve a sobrecarga no seu sistema operacional.

— Muito bem – disse o vulcano – veja se consegue reativá-lo. Qualquer novidade nos informe.

— Sim senhor – respondeu o engenheiro - fechando a pequena tampa de acesso localizada na frente da testa do C-3PO..

— E Sr. Scott – disse o primeiro-oficial pouco antes de sair – deve ter cuidado ao dizer a um robô para ele acessar alguma coisa. Eles costumam ser bastante literais.

“Eu que o diga”, murmurou o engenheiro, voltando para o seu terminal de trabalho.

Scott estava consultando os manuais e esquemas do C-3PO para tentar reativá-lo, quando o robô se acionou novamente. Ele se sentou e olhou em volta. Ao ver que o engenheiro se aproximava dele, levantou-se depressa e se colocou em posição de sentido.

— Cadete C-3PO se apresentando senhor!— disse o robô – pronto para o serviço!

Sem entender muito bem o que o robô queria dizer, o engenheiro tornou a escaneá-lo.

— Muito bem “cadete” – disse Scotty sorrindo – vamos fazer mais alguns testes e ver se você está apto a voltar às suas funções.

— Eu estou totalmente funcional, comandante — disse o C-3PO. E em seguida perguntou – quando chegaremos à Zona Neutra Klingon?

O engenheiro olhou para o robô, estranhando bastante a pergunta.

— Nós não estamos indo para a Zona Neutra – respondeu o engenheiro – não sei de onde você tirou essa ideia!

Mas comandante, nós não vamos responder ao pedido de socorro da nave em perigo?— tornou a perguntar o robô.

— Nave em perigo? – estranhou o engenheiro – não estou sabendo nada sobre isso. A ponte não informou qualquer pedido de socorro.

O C-3PO voltou sua cabeça para Scott e seus olhos luminosos piscaram por alguns segundos.

— Entendo senhor— disse o autômato, voltando a ficar na posição de sentido.

O engenheiro resolveu que precisava realmente fazer um “check-up” mais completo no autômato e voltou à sua bancada de instrumentos.

Quando estava retornando com as ferramentas que havia selecionando para usar, descobriu que o C-3PO não estava mais onde o havia deixado. Preocupado, saiu rapidamente da sala, olhando para os dois lados no corredor da nave e não viu o robô. Voltou para a engenharia e acionou o computador.

— Localizar o C-3PO – ordenou Scotty.

— A unidade Robótica C-3PO se encontra neste momento na ponte auxiliar (1) – foi a resposta.

“E o que ele está fazendo lá?”, perguntou-se o engenheiro, saindo novamente, quase correndo, em direção aos turbo-elevadores (2).

Assim que chegou a frente à porta da ponte auxiliar, o engenheiro digitou seu código de acesso para entrar e nada aconteceu. Ele tentou novamente, mas a entrada continuou fechada. Scott então acionou o comunicador que estava ao lado da porta.

— C-3PO, você está aí dentro? – perguntou ele.

— Sim comandante— respondeu imediatamente o robô.

Scotty suspirou impaciente.

— E posso saber por quê? – perguntou novamente o engenheiro.

A resposta deixou o engenheiro chefe atônito.

— Como o capitão e a tripulação da ponte decidiram estranhamente ignorar o pedido de socorro da nave em perigo na Zona Neutra Klingon, eu decidi que era meu dever, como cadete graduado da Frota Estelar, cumprir as diretrizes da Federação no tocante a proteção dos seus membros, mesmo correndo o risco de ser acusado de motim.

— Mas eu já disse que não recebemos nenhum pedido de socorro – falou Scott irritado – de que diabo de nave em perigo você está falando?!

— Ora comandante— respondeu o autômato - o Kobayashi Maru! (3).

Antes que o engenheiro pudesse falar mais alguma coisa, seu comunicador portátil apitou e ao abrir o canal ele ouviu a voz exasperada do capitão Kirk.

— Scotty, o que está acontecendo?— Perguntou ele – todos os comandos da Enterprise foram transferidos para a ponte auxiliar e nosso curso foi alterado para a Zona Neutra Klingon.

O engenheiro olhou preocupado para a porta fechada a sua frente, engolindo em seco.

— Capitão, estamos com um problema sério nas mãos – respondeu Montgomery Scott.

Referências do Capítulo:

(1) A ponte auxiliar é um setor de segurança que existe em todas as naves da Frota Estelar, comumente localizada abaixo da seção disco e que somente deve ser utilizada emergencialmente, em caso de avaria da ponte de comando principal ou de uma invasão inimiga da nave. Também pode ser usada em casos onde seja necessária a separação do setor disco dos setores inferiores da nave, quando passa a ser designada como ponte de batalha.

(2) Os Turbo-elevadores são equipamentos utilizados para se deslocar dentro das instalações da Federação e entre os decks das naves da Frota Estelar. Obedecem a comandos vocais de quem os utiliza e comumente são capazes de se deslocar tanto na vertical quanto na horizontal.

(3) O Kobayashi Maru é um exercício simulado por computador projetado para testar o caráter dos cadetes em um cenário sem chance de vitória. O objetivo do teste é resgatar a nave civil Kobayashi Maru que está da Zona Neutra Klingon, correndo o risco de causar um incidente interestelar. A tripulação deve então decidir se tenta o resgate - colocando em risco a própria nave e as próprias vidas - ou deixar o Kobayashi Maru por sua conta. Se o cadete que estiver no comando optar por tentar o resgate, a simulação é projetada para garantir que a nave seja destruída pelos Klingons, com a perda de todos os membros da tripulação.