O Dr. McCoy estava sentado no banco baixo, em frente a sua barraca, aproveitando o calor da fogueira que ele havia acendido e observando satisfeito a panela sobre o fogo, onde o seu famoso guisado a moda sulista cozinhava.

Ele havia chegado ao planeta no final daquela manhã e imediatamente entrado em contato com a agência que havia programado a sua estadia. O fato de estarem fora da estação turística tornara fácil para McCoy conseguir ficar sozinho em uma das áreas mais bonitas de Rigel IV, no sopé de uma montanha, cercado por uma mata com árvores que lembravam pinheiros e faias terrestres e perto de um rio onde, segundo lhe informaram, podiam ser encontradas trutas e carpas, que foram introduzidas ali de forma controlada, para entreter os visitantes que quisessem pescar.

Estava uma linda noite e no céu brilhavam as duas luas do planeta, cercadas por um imenso mar de estrelas. O inverno naquela região estava se aproximando e o ar já apresentava uma temperatura baixa, mas ainda bem agradável.

McCoy havia revisado os equipamentos que iria usar na caminhada que pretendia fazer na manhã seguinte e iria se deitar logo após o jantar. Os agentes de turismo rigelianos haviam lhe indicaram algumas trilhas que pareciam interessantes e ele estava ansioso pela oportunidade de esticar as pernas e andar em terra firme, sentindo o sol no rosto. Quase um ano vivendo em uma nave Estelar, em gravidade artificial e comendo comida preparada por um computador já era mais do que o filho de David McCoy podia suportar.

O médico acabara de tirar a panela do fogo e se sentara à mesa, preparando-se para se servir do guisado quando ouviu um barulho vindo dos arbustos próximos ao acampamento, como se alguma coisa grande estivesse caminhando por perto. Ele colocou o prato de lado e voltou à barraca, buscando seu phaser. Mesmo preocupado ao pegar a arma, ele se lembrou divertido da discussão que tivera com Spock pouco antes de deixar a nave, quando o vulcano insistira que ele a levasse, apesar dos protestos do doutor. “Não é lógico se ir a um ambiente desconhecido sem tomar mínimas precauções de segurança”, dissera o primeiro-oficial da Enterprise, citando ainda vários regulamentos da Frota Estelar relativos a seus oficiais. Finalmente, mais para ficar livre daquele chato de orelhas pontudas, ele colocara o estojo contendo a pistola na sua mochila.

O doutor McCoy regulou a arma para o modo de tonteio, pois não queria ferir nenhuma pessoa ou animal por acidente. E levando também de um lampião de “led”, ele passou pelos arbustos, iluminando a trilha estreita que usara para chegar ali. Caminhou devagar olhando em volta atentamente. Direcionou a luz da lampião para o chão e até para o alto das árvores em volta e não viu nada. Já estava pensando em voltar para o acampamento, achando que fora enganado pelo barulho do vento, quando ouviu um gemido vindo de alguns metros a sua direita. Ele dirigiu-se cauteloso naquela direção e logo a frente, sob a luz branca do “led”, vislumbrou um vulto encostado no tronco de uma árvore. Ao se aproximar ele viu que se tratava de um nausicaano, que estava com um grande ferimento pouco abaixo do peito, no lado esquerdo do corpo. Instintivamente, o médico apressou o passo e se agachou ao lado do ferido, para examiná-lo melhor. Ele estava desacordado e respirando com dificuldade. Posicionado o lampião em uma pedra, McCoy pôde olhar o ferimento mais de perto e tocá-lo levemente. Concluiu que o sujeito havia levado uma facada, provavelmente de uma lâmina grande e serrilhada. Quando já estava começando a se levantar para buscar o seu kit médico para tentar cuidar dele, ouviu uma voz às suas costas, dizendo de modo agressivo:

— Solte sua arma, humano! E mostre as mãos bem devagar.