Aquelas fanfics de casal

Game of Thrones: Jon e Daenerys Parte 2: Manderly


Olá amigo. Sim, estou falando com você, que está lendo a história que vou contar. É sobre mim, Jon Snow, Rei do Norte. Depois de bastante tempo confuso e perdido, abandonei a vida difícil que estava tendo.

— Ei, Jon! – chamou Dramen, o cozinheiro da pensão – A sopa tá pronta!

Jon Snow saiu de seu pequeno quarto, frio como gelo, e foi à cozinha pegar um prato. Dramen fazia um ótimo ensopado, e todos da pensão gostavam. Incapaz de continuar como rei, abdiquei do posto e o passei ao meu irmão. Me mudei para Porto Branco, moro numa pensão com vários filhos mais novos de fazendeiros, bastardos e até alguns ladrões de baixa categoria. Mas não falo muito com eles, passando a maior parte do tempo no meu quarto. Quando não estou no trabalho, que é pescar no encontro do Faca Branca com o Mar Fumegante, fico lá, pensando, dormindo ou lendo o livro “Vida de quatro reis” que Sam me deu.

— Lembre-se – dizia um dos pescadores mais velhos – Na caça, a ideia é perseguir. Na pesca, é atrair. Se sua rede não funcionar, tente usar uma das iscas no anzol.

Além disso, toda semana tem culto, o qual eu participo. Lá conversam sobre vida, deuses, e devoção.

— Eu costumava ser perdido – um homem, que como vários outros, tinha uma estrela de sete pontas cicatrizando na testa, cabelos curtos, vestuário um pouco simples e dificuldade em usar sapatos – E certo dia, quando passei em frente a este bosque sagrado, senti uma força estranha me atraindo. Quando vi, estava ajoelhado em frente a um represeiro. Então os deuses falaram comigo. Percebi que estava seguindo aos deuses errados, assim como meus irmãos pardais em Porto Real seguiam. Desde então, encontrei minha paz nos Deuses Antigos da Floresta. - todos falavam algo. Jon sempre ficava em silêncio.

Virou a esquina na alfaiateria do Sherry, cumprimentando Daemor, um dos pedreiros que reformava o centro da cidade, entrou na avenida Escada do Castelo e passando por um grande portão. Do outro lado se encontravam casas amontoadas com população numerosa. Crianças brincavam nas ruas, fazendo bonecos de neve ou atirando-a uns nos outros. Alguns cavalos deitavam-se nos estábulos enquanto seus donos frequentavam os bares e bordéis do bairro. A Baixada dos Ratos. É como a das pulgas, só que menos suja e mais fria. Não há lugar mais amigável no Norte. Mas sua casa ficava mais longe que isso.

Andando ainda mais, parou numa casa alta e larga. Era lá que morava. Quando cheguei aqui, Senhor Edric, o atual proprietário, me aceitou relutantemente, temendo sobrar para ele ou um de seus funcionários e hóspedes caso os Lannister descobrissem que o antigo Rei do Norte mora aqui agora. Apesar disso, ele e os outros se mostram bastante amigáveis comigo. E essa é minha vida agora, não um bastardo, nem um rei, e sim como um cidadão normal de Westeros. Daenerys sumiu, e Sansa vem me visitar às vezes, pra ver se tudo está bem, e posso afirmar com toda certeza que está.

Há um problema, porém. Ele está aqui.

— Falando com os leitores de novo? Achei que não iria levar isso a sério - Lorde Stark estava deitado em sua cama, lendo alguma coisa – Veja, Jon – atirou-lhe uma carta de Sansa. Dizia sobre Winterfell, a guerra e perguntava se estava tudo bem – Olhe o que seus irmãos estão passando. O Norte precisa de um Rei.

— Bran é Rei – respondeu, escrevendo em um livro em branco em sua mesa. O achou embaixo de uma pedra, com várias folhas rasgadas, e o usava como diário desde então. Já se passou uma hora do pôr-do-sol. Ele está aqui. Está bravo porque estou falando com vocês.

— Brandon é um garoto – rebateu Stark – Não tem capacidade de liderar guerras. É de você que Winterfell precisa.

— Você sabe que eu não posso simplesmente voltar.

— Dê seu jeito antes que seja muito tarde.

Alguém bateu à porta.

— Jon? - era a voz de Senhor Edric – Está aí dentro?

— Pois não? - o homem abriu a porta, se deparando com Jon sozinho no quarto.

— É sobre o contrato de aluguel – foi até a mesa da sala do prédio, sentando-se num lado e Jon no outro. Fazia frio em Porto Branco, mas a lareira os mantinha aquecidos – Fizemos um contrato temporário para sua estadia aqui, Jon, mas o tempo venceu. Se quiser continuar, precisa de um de estadia longa.

Entregou-lhe um papel em branco, onde embaixo estava a assinatura de Edric – Já está aqui – ele disse – Diga que aceita, e eu escrevo agora que você aceita e tudo mais. Se não se decidiu ainda, leve o papel e escreva você mesmo mais tarde, porque sou um homem ocupado, você sabe. Mas isto deve ser resolvido logo.

— Não – respondeu secamente – Posso ter que ir embora à qualquer momento, se eles me acharem.

— Olhe, Jon, eu sei que sua família está com problemas – Senhor Edric suspirou – Mas regras são regras, você sabe que eu tenho que seguí-las. Há mais… - fez uma pausa, e então continuou – Um dos enviados dos Lannister esteve aqui.

— O que ele queria?

— Eles sabem, Jon. Qyburn tem espiões em todo lugar, e provavelmente escutou que você tinha vindo pra cá.

— Eles não podem fazer nada – tremulou – Eu abdiquei do trono, pois era incapaz de governar.

— Você ainda sabe dos planos de guerra.

— Parece que afinal você sabe de alguma coisa – riu Lorde Stark, no fundo da sala – Jon Snow.

— Eles não podem fazer nada – disse Jon – A casa Manderly…

— Já mudou de lado uma vez, e pode mudar de novo – respondeu Edric – Assim como várias casas no Norte.

— Mas estou sob a sua proteção. Se me entregar, os Stark…

— Os Stark não dão notícias há tempos, e ao que me parece, estão perdendo a guerra. Eu gosto de você, Jon, e faria qualquer coisa para protegê-lo. Mas me disseram que se não o entregar quando vierem, irão invadir e matar todos da casa. Eu sou o senhor da casa, Jon, e farei de tudo para proteger meu povo.

— Só uma dúvida – Lorde Stark desembainhou a Gelo e pôs no pescoço de Edric – Se cortar a garganta dele, vai ser eu fazendo isso ou você?

— Não! - suplicou Jon.

— Sim – disse Edric – Não duvido que chegarão, embora seja um longo caminho até aqui. Você precisa ir embora, Jon, voltar pra junto de sua família.

— Não posso ainda – respondeu.

— Então terei que entregá-lo.

— Você tem que matá-lo! - gritou Lorde Stark – Ele irá dá-lo aos Lannister, e farão seus irmãos se renderem por sua causa!

— Não, por favor! - suplicou novamente Jon.

— É o que terei de fazer, a menos que tenha uma ideia melhor – Edric se levantou e saiu da sala, deixando Jon sozinho.

Guardou o papel no bolso. Voltou para o quarto e escreveu sobre aquilo. Logo após saiu para o trabalho e se pôs a pensar. Não vou deixar, não vou permitir que ele o mate. Eu sei o que eu faço, não ele. Eu estou no controle. Afinal, é esse o motivo da rotina. Ficar o mais são o possível até que ele suma. E então poderei ser meu verdadeiro eu de novo.

Na volta, geralmente sentava-se na Praça de Pedra da Baixada dos Ratos para ver o movimento, conversar com alguém, e de vez em quando havia pequenos torneios de combate com espadas de treino que jovens achavam por aí. E era o caso desse dia. O jovem sujo de cabelos castanhos, que todos chamavam de Cavalo, por seu porte físico, derrubava um por um com uma espada de madeira quebrada que encontrou no esgoto do castelo dos Manderly.

Contra ele ia um jovem rapaz de cabelos negros, um aprendiz de ferreiro que lutava como um touro louco. Usando as mãos, arrancou e atirou para longe a espada de Cavalo, o que o pôs em fúria. Jon não se mostrou muito surpreso quando o jovem menor desviou-se e atacou por trás. Isso o lembrava do confronto que Tyrion havia lhe contado, A Víbora e a Montanha.

— Aí está um bom espadachin – disse o homem ao seu lado, com um risinho – Sabe que o combate não é apenas força, mas também habilidade. É como dizem, conhecimento é poder.

Jon virou-se para o lado e viu quem falava. Era um homem de altura mediana, de cabelos negros ficando grisalhos, bigode e uma barbicha.

— Mindinho – pensou alto.

— Olá, Jon – deu um risinho quando o bastardo o reconheceu – É bom ver que se lembra de quem salvou sua vida.

— Desistiu de seu reinado também?

— Está enganado, rapaz. Meu reinado está só começando.

— Creio que essa frase não é sua.

— E a liderança da Casa Stark também não era sua, mas mesmo assim você a tomou. Não é verdade, Snow?

— Não é minha mais. Está agora com o herdeiro legítimo, Brandon Stark.

— Bran, o quebrado, Primeiro de Seu Nome, Rei de metade dos Primeiros Homens – suspirou – O tolo irmãozinho aleijado. Uma pena, pois sua irmã teria melhor uso para o Reino.

— Eu sei que usos ela teria para você – cuspiu.

— O que você pensa que sou? Um pervertido? - soltou uma gargalhada – Eu não teria sua irmã na minha cama se ela não quisesse, da mesma forma que não tive a mãe dela. O uso que teria para ela é o mesmo que posso ter para você: preciso que faça um certo trabalho para mim.

— E qual seria?

— Creio que saiba de meus negócios. Estou aos poucos reascendendo na sociedade, mas tenho tido alguns obstáculos. Eu dou minha palavra que, se cooperar comigo, salvarei a Casa Stark mais uma vez.

— Já disse que não estou mais envolvido nisso.

Sem esperar que Petyr Baelish dissesse mais algo, voltou para seu quarto. O cansaço tinha mais força sobre si do que qualquer um que já tivesse enfrentado. Preciso dormir. Preciso pensar. Pensar no que tenho de fazer. Como lidarei com tudo que está acontecendo.

— O inverno está chegando – disse uma voz. Não sabia dizer se era o pai ou Lorde Stark que dissera aquilo.

Naquela noite, Edric foi à Taverna do Pekkala, a mais conhecida do Norte. Tomou um copo de rum e outro de cerveja. Sentia-se deprimido e fraco, e na sua condição não podia chamar outra pessoa para ir com ele até onde queria.

— Ei, você é novo aqui – disse uma loura deslumbrante, sentando-se nas poltronas almofadadas junto a si – Nunca te vi antes.

— Eu já vim aqui antes – passou a mão em seus ralos pêlos faciais e deu um bocejo – Mas foi há muito tempo.

— Como se chama? - levou as mãos aos seus ombros, como se para amaciá-los – Talvez alguma das garotas já tenha me falado.

— Edd.

— Edd? Ah sim, o Edd. Todos falam sobre você por aqui – passava levemente a cabeça em seu pescoço machucado - É bem conhecido, senhor.

Passou algum tempo pensando no que fazer, quando percebeu que estava sendo acocorado.

— Se quer fazer algo, então vamos logo com isso – disse.

A loira se mostrou surpresa.

— Bem, se quiser, há uma condiçã…

— Eu tenho dinheiro. Ande logo com isso.

Puxou-o pela mão e saíram do bar. Entraram numa choupana um pouco afastada do resto das casas. O chão estava coberto de neve, e uma nova tempestade parecia estar para chegar. Ao entrar, retirou o manto e o anel que usava no dedo anelar esquerdo.

— Pode pelo menos me dizer seu nome antes de quebrar meus votos? - pediu Edric.

— Jonerys – respondeu rindo, e o deitou na cama – Agora relaxe.

A garota deslizou em cima de si enquanto tirava suas roupas. Beijou-o algumas vezes, e em outras desceu e apertou seu membro viril. Edric se sentia sedado. Não sabia se era por causa da bebida ou por ser a primeira vez que estava com uma mulher em muito tempo. Enfim ela tirou suas calças, deixando-o completamente nu naquela cama. Quando a loira levou a mão esquerda à amarra do vestido, imaginou que tiraria a roupa.

Mas, em vez disso, tirou de lá um vidro azul, do qual tomou um líquido e guardou novamente.

— Jonerys – disse – O que era aquilo?

— Antídoto – respondeu com toda naturalidade.

— O quê?! - sobressaltou, se sentando na cama – C-Como assim?

— É um homem em crise, Edd – ela riu – Sinceramente, nunca vi alguém do seu tipo em uma situação mais fodida – limpou a boca, onde havia aparecido um pouco de sangue minutos antes.

Levantou-se da cama, ficando em pé.

— O que você fez?! - perguntou, e então percebeu que sangue saíra com sua voz – Quem é você? Quem te mandou? - tentou dizer, com a voz ficando fraca. Tossiu sangue algumas vezes. Foi na direção dela, mas sentiu as pernas virarem água e o peito ir de encontro com o chão – Joner… Jon… Jon… Não. Não. - o seu último suspiro pintou a madeira do chão de vermelho.

— Jon – chamou Glen, no corredor – Você tem visita.

A luminosidade da manhã acertou seu rosto em cheio. Colocou algumas roupas e foi para a sala da pensão. Lá encontrou a ruiva de olhos azuis que conhecia há bastante tempo.

— Sansa – abraçaram-se – É bom te ver, irmã. O que a traz aqui?

— Queria ver como estava – respondeu, enquanto se sentavam à mesa – Bran também queria vir, mas lhe disse que é perigoso pra ele – suspirou – Está tudo bem?

— Sim. Estou sendo bem tratado por todos aqui, como esperava, e sendo protegido. Como estão vocês?

— Winterfell resiste, apesar de tudo – falava com certo nervosismo, como se prendesse algo – Houve certos avanços pelo sul, mas Lorde Reed os deteve até o momento.

— Imagino que Bran terá que se casar com uma donzela de uma Casa importante agora.

— Ainda não pensamos nisso – olhando fixamente para a mesa, conteve um soluço e olhou para o irmão, deixando escorrer uma lágrima – Jon, você precisa voltar. Nós precisamos de você.

— Você sabe que não posso – olhou para o chão, engolindo em seco.

— Ainda está vendo ele?

Jon olhou ao redor da sala. Naquele cômodo não havia ninguém além dos dois e de alguns moradores que entravam e saíam.

— Não agora – respondeu Jon – Mas quase o tempo todo.

— Olhe, Jon – Sansa segurou sua mão – Eu vi o papai sendo morto na minha frente, e faria de tudo para tê-lo de volta – suspirou – Eu entendo como se sente.

A irmã foi interrompida pelo barulho de uma multidão no lado de fora. Jon se levantou e desceu as escadas depressa, sendo acompanhado por outros que também queriam saber o que ocorria. Ao chegar, encontrou uma multidão em círculo. Glen, do quarto da frente, olhou para Jon com uma expressão abalada.

— O que aconteceu? - perguntou Jon.

— É o Senhor Edric – respondeu.

Abriu espaço na roda e pode ver. Trouxeram o corpo dele numa carroça da cidade, onde foi encontrado. Tinha tudo abaixo do pescoço coberto com uma grossa manta de peles cinzas, dando a entender que estava despido. Sangue seco cobria totalmente o rosto e boa parte de seus cabelos castanhos, e moscas pairavam sobre o cadáver.

Pensamentos invadiram sua mente, mas tinha certeza de que não eram seus.

Voltou correndo para o quarto, se despedindo brevemente de Sansa. Ao chegar, Lorde Stark estava no mesmo lugar de antes.

— Você o matou?! - gritou.

— Você sabe que tinha de ser feito, filho – respondeu Lorde Stark – O homem que dá a sentença tem de brandir a espada, mas como não dava para matá-lo, paguei uma assassina profissional e o problema foi resolvido da mesma forma.

Jon lembrou-se de que tinha dado um apagão, como se houvesse um espaço vazio no tempo que ficou dormindo. Lembrou-se de ter dormido e de estar de olhos abertos em sua cama, mas não de ter acordado.

— Ele era meu amigo! Ele me ajudou e me acolheu quando não tinha mais ninguém!

— Eu fiz o que devia ser feito – respondeu Lorde Stark.

— Não precisava ter matado ele!

— Ele ia te entregar para os Lannister! Você sabe disso!

— Ele não iria! As outras Casas… elas…

— As outras Casas estão lutando entre si, esqueceu? E pelo bem da nossa, Jon, devemos fazer sacrifícios.

É verdade. Os Karstark ainda mantêm uma posição forte no Norte, e ninguém desceria até Porto Branco para salvá-lo. Tentou dormir.

Na reunião no Bosque Sagrado no dia seguinte, os que Porto Branco apelidara de “Pardais da Floresta” estavam animados como sempre.

— ...então a Rainha Cersei poupou nosso grupo, nos deixando vir para o Norte – alguém contava sua história, muito similar a do resto - Naquele momento eu senti que os Deuses Antigos me chamaram para perto deles, eles me ajudaram e hoje estou aqui.

Os outros deram respostas comoventes. Jon continuou sentado em seu banco no círculo, olhando fixamente para o chão, iluminado pela fogueira no centro.

— Jon, gostaria de compartilhar algo conosco? - perguntou um dos pardais da floresta.

Não, sor. Estou bem assim.

— Os Deuses podem te ajudar – continuou.

— É isso que os Deuses fazem, não é? Eles ajudam? - os religiosos o fitavam com suas estúpidas caras de otimistas e seus falsos sorrisos largos – Então me diga por que não ajudaram meu amigo inocente, que morreu sem motivo, enquanto o culpado continua livre?

O grupo se manteve em silêncio, mas suas expressões faciais tinham perdido o brilho.

— Ok, tudo bem, esqueçam os casos isolados. E meu pai, Lorde Eddard Stark, que cumpriu seu dever com o Reino, como os Deuses queriam, e acabou sendo traído e executado pela mesma família por quem perdeu o pai e dois irmãos para colocar no poder? - inspirou para continuar. O único som que se ouvia era do crepitar da fogueira – Mas está tudo bem, isso foi no Sul, que cortou nossas árvores, e dessa forma tirou nossa proteção dos Deuses, não é mesmo? E as inúmeras guerras que deixaram ocorrer aqui, com seu próprio povo? Eu tenho certeza de que se lembram de Ramsay Bolton tomando o castelo de minha família, torturando e esfolando nosso povo. Ele se casou com minha irmã em frente a um represeiro com um rosto, maldito seja! Eles o viram estuprá-la e torturá-la através da carranca em seus caules, assim como também viram meu irmão mais novo ser assassinado a sangue frio, seus próprios lordes!

Sentiu-se ardendo como o fogo do Bosque Sagrado, então se pôs mas calmo.

— E não falo apenas dos Deuses Antigos, falo também de quaisquer outros adorados pelos homens. Grupos exclusivos para exercer controle, um estalajadeiro que usa palavras em vez de vinho para embriagar. E seus seguidores, um bando de ignorantes, que afogam homens honestos, saqueiam vilas e queimam pessoas vivas, buscando preencher o vazio de suas vidas inúteis. Viciados, com medo de acreditarem na verdade, de que não há ordem, não há poder, não há justiça… - começou a rir – Se eu não escuto o meu amigo imaginário, por que diabos escutaria o de vocês? As pessoas pensam que suas adorações são um tipo de chave para uma vida feliz, e é assim que são controlados. Então os Deuses que se fodam. Eles não são bodes expiatórios bons o suficiente para mim.

Percebeu que todos do grupo se entreolhavam. Por favor me diga que não disse tudo isso em voz alta. O silêncio continuou. Merda, eu disse.

No dia seguinte foi ter com Mindinho.

— O que quer que esteja querendo com isso, estou avisando que não dará certo! - gritou-lhe Lorde Strark, no caminho para a praça – Já disse, é um erro confiar nele! - ignorou-o, respirando fundo para manter a concentração.

— Baelish.

— Lorde Snow! - o calor nas falas de Mindinho sempre contrastava com o frio do Norte – A que lhe devo a honra?

— Vim aceitar o emprego – engoliu em seco - se prometer ajudar minha família.

Era simples: Devia levar um documento até uma das casas de prazer do centro e entregar a Olyvar, o gerente, e dizer que confirma tudo o que ele diz. Todos da Baixada dos Ratos sabiam que os bordéis de lá eram de Mindinho, e Jon também. Durante o almoço de alguns dias atrás, ouviu alguém dizer que a Guarda da Cidade iria investigar, pois tais propriedades aparentemente eram irregulares. Então eu virei seu mensageiro, pois aparentemente ele está muito ocupado conspirando. Ótimo. Passando direto pelas prostitutas, foi falar com Olyvar.

— Mindinho me mandou entregar isso – entregou-lhe o documento.

— Ahh sim! É mesmo! Deixe na mesa atrás do balcão, por favor – olhou para as prostitutas – Muito bem, meninas, já sabem o que dizer!

— Quando eles chegam? - perguntou uma.

— Daqui a pouco já devem estar chegando. É só fazer o que o Mindinho nos mandou que vai dar certo.

Aquilo parecia estranho para Jon. Bastante, para falar a verdade, e então se lembrou que se tratava de Mindinho. Continuou atrás da mesa, e discretamente desdobrou o documento. “Título de propriedade. Eu, Glen Glenmore, atualmente residente na pensão do Senhor Edric, declaro ser proprietário das casas de prazer da Baixada dos Ratos”, e seguia a assinatura dele embaixo. Glen?, estranhou. Glen é um homem simples, de mais ou menos trinta anos, dorme no quarto ao lado e trabalha na construção no centro, junto com Daemor. Veio de uma fazenda, sua família era pobre. Que sentido faria ele ser dono dessas propriedad… Ah não. A ficha caiu. É claro, a questão dos bordéis em Porto Branco. Mindinho deve ter pego a assinatura dele no livro de registros da pensão. Tenho que mudar isso. Levou a mão ao outro bolso, ao papel que o amigo lhe dera, com sua assinatura e carimbo para selar. Eu só preciso…

— Isso que você vai fazer não tem como dar certo, garoto – ele apareceu e tirou o papel de sua mão.

— Não! - Jon tomou o papel de volta – Não posso deixar que Mindinho condene um homem inocente!

— Quantos homens inocentes vivem em Winterfell? E no Norte? - Lorde Stark cruzou os braços – Sua aliança com ele era algo sem rumo, filho. Mas isso – apontou para o documento entregado por Mindinho – Isso é sua única chance de reerguer a Casa. Salve este homem, e condenará seus irmãos.

— Não! Não acredito em você! Mentiu para mim antes, e está mentindo agora. Eu posso resolver isso! - sentou-se à mesa, onde estendeu a carta em branco – Eu estou no controle.

Acordou no meio da tarde com uma dor de cabeça. Aquela manhã havia sido tensa. Um intendente veio com cinco guardas armados com tritões, procurando o gerente do estabelecimento. Então, amigo, Olyvar foi até eles e me pediu para entregar a carta.

“Meu nome é Jon Snow, senhor. Fui inquilino de Senhor Edric e um de seus amigos mais próximos, e confirmo sua palavra. A assinatura dele está aqui, e seu selo também, intacto”. Olyvar ficou confuso no momento. Queria estar lá para assistir como iria terminar, embora já soubesse. Mas não devia estar por perto quando acontecesse. Escutou uma gaivota grasnando próxima a janela. O trabalho, é claro. Vestido, saiu para trabalhar.

Já estava escuro quando terminou. Havia pescado pouco, e o mestre não ficou satisfeito. Pegou um atalho pela Rua das Conchas, onde foi pescado num beco escuro.

— É ele? - foi agarrado pelos braços por um homem que era uma mistura de gordura e músculos, ficando à frente de outro com uma tocha iluminando seu rosto.

— Ele mesmo – Olyvar saiu da penumbra – O homem que fez Lorde Baelish ser preso. Terminem com isso rápido.

Logo após ter visto Olyvar se virar, soltou-se do brutamontes que o segurava e sacou Garralonga. Na escuridão, pode contar oito contra si. Sor Vinte da Casa Bonshomens conseguiu destruir metade do exército de Stannis. Qual é o estrago que Sor Oito pode fazer? O primeiro avançou com um grito, e Jon desviou-se e matou-o facilmente. Aparentemente, não muito. Os outros foram mais espertos. Ataques vinham de todos os lados, e tudo o que conseguia fazer era bloqueá-los. Conseguiu cortar a garganta de um e caiu em cima de outro, cravando a espada bastarda em seu peito. Mais um veio por trás e Jon se defendeu, se afastando. Um estava em sua frente e Jon acertou sua cintura com a ponta da espada e se levantou novamente.

Foi quando sentiu ser acertado na perna direita. Foi contra-atacar, quando teve um punhal enfiado logo abaixo do ombro esquerdo. Olhou para o outro lado. Tinha sido cercado, afinal. Tentou se soltar, acabando empalando o homem da direita. Não conseguiu puxar de volta, e sua espada caiu com ele. O brutamontes o acertou no joelho, e o da frente finalmente o derrubou.

“É o Jon! Ajuda ele!” Jurou ter ouvido alguém dizer. Sam? Essas foram exatamente as palavras que disse quando cheguei na muralha após ter deixado os selvagens e Ygritte ter cravado três flechas em mim. Está aqui de novo, amigo? Ou é só uma alucinação? Queria alucinar com você, em vez do meu pai, porque pelo menos você está vivo. Então um lobo gigante chegou rasgando um dos oponentes, e outro foi apunhalado por trás por uma fina espada. Os dois que sobraram correram em retirada. Foi se virar para ver quem havia lhe salvado, mas a pessoa já tinha descoberto o rosto e se posto em frente a si.

— Jon? - chamou – Jon, me responda!

— Arya… - e apagou.

Acordou sentindo água gelada no braço. Aquilo junto à brisa gélida da manhã o fez tremer.

— Ótimo, você acordou – disse Arya.

Estavam no quarto dele. Estava despido da cintura pra cima, e uma das pernas estava descoberta. Sentiu os cortes arderem. Alguns estavam cobertos com ataduras.

— Ai! O que está fazendo? Estou morrendo de frio, irmãzinha.

— Quieto! Estou quase acabando – tampou outro ferimento. Continuou a passar o pano.

— Desde quando sabe tratar ferimentos?

— Você esqueceu? Uma garota aprendeu em Braavos. Quer dizer, eu aprendi.

— Vai tirar meu rosto e usar ele também? - brincou.

— Quem sabe? - Arya riu – Talvez eu queira ser o rei do norte por um tempo. E quando me cansar, vou fugir pra longe e abandonar meus irmãos! - acertou o pano molhado com força na cara dele.

— Ai! - um pouco de água pareceu ter entrado em seu olho. Esfregou-o, e quando abriu-os novamente, Arya estava com ambas as mãos na cintura. Parecia estar com muita raiva – Isso doeu!

— Então – ela disse – Vai me contar o que aconteceu enquanto estive fora?

Jon suspirou. Contou a ela tudo o que havia ocorrido naquele último ano, desde o dia em que a viu sumir no horizonte, cavalgando em direção ao sul. Contou sobre Dany, como haviam se aliado, que Bran lhes contara que eram parentes e como havia se esquecido disso e se apaixonado por ela. Contou sobre ter abandonado Bran e Tyrion naquele bar e sobre ter alucinado que estava sangrando. Queria que ela soubesse de seu estado mental para o que estava por vir. Enfim lhe contou sobre a guerra e sobre como havia perdido sua mente, e sobre Lorde Stark. Contou tudo o que sabia sobre Lorde Stark, a alucinação com o rosto de seu pai que aparecera como seu guarda real. Ela ouviu tudo atentamente, cada vez mais preocupada.

— Então eu vim pra cá – Jon concluiu – Eu não me sentia capaz para liderar um reino, ainda mais numa guerra. Sansa está se saindo melhor que eu, não tenho dúvida disso. E Lorde Stark continuou sendo um problema, embora agora eu saiba que ele não é real – tomou um copo d'água e limpou a garganta – Mas isso mudou. Agora, pela primeira vez, parece que estamos nos ajudando. Parece que, durante todo esse período que passei em Porto Branco, vivendo uma vida normal, eu pude me recuperar, com exceção, é claro, de algumas coisas que aconteceram. Mas em todo momento ele esteve lá e me aconselhou, como nosso pai faria.

Arya suspirou.

— Isso tudo é… muito, Jon, e eu não sei o que dizer – continuou fitando-o em silêncio por alguns instantes – Mas você sabe que não está vivendo em Porto Branco, certo?

— Sim, eu sei.

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— Patrulheiros retornando!

Masgor, mestre-de-armas de Castelo Negro, abriu a porta do quarto com força.

— Jon! - ele o chamou – Está na hora. Lorde Comandante Interino Wynton Stout acordou.

— Já estou indo – então disse a Arya: - Preciso fazer só mais uma coisa sozinho.

Caminhou para fora do salão para o pátio do castelo. Alguns irmãos juramentados treinavam combate, enquanto outros assistiam. Também havia o grupo de construtores indo ao elevador, no qual estava Daemor, que lhe deu um aceno de cabeça quando o viu. Sherry estava ocupado costurando novos uniformes na sua sala, e Dramen apareceu carregando um caldeirão cheio d'água do poço. Pediu ajuda a Jon, mas não pode aceitar por também estar ocupado. Olhou para o alto e pode ver a Muralha, onde passara boa parte da sua vida e sua morte. De onde saiu quando foi reconquistar o Norte. Porto Branco nunca foi um lugar muito frio, essa parte foi difícil. Sim, amigo, eu estive aqui esse tempo todo, desde o início do capítulo. Controle às vezes pode ser uma ilusão, mas às vezes é preciso da ilusão para se ter controle. Me desculpe por não ter te contado tudo, mas eu precisava disso para ficar melhor. Por favor, não fique bravo por muito tempo. Essa vai ser a última vez que guardo coisas de você, prometo. Chegou próximo às celas, onde foi acompanhado por outros patrulheiros. Sei o que está pensando e não, eu não menti pra você. Lembrou-se de Edd Doloroso, Lorde Comandante até então, que o recebeu de volta quando teve que voltar. Tudo isso realmente aconteceu. Isso foi só minha maneira de enfrentar isso. Mas eu gostaria que confiássemos um no outro de novo. Vamos apertar as mãos!

A cabeça rolou no palanque após ter sido decepada. Arya o puxou pelo manto quando haviam terminado de assistir.

— Vamos, temos que ir logo.

— Para onde, irmãzinha?

— Acha que vim só te visitar? - tentou sorrir – Sansa me mandou, parece que já é seguro você sair daqui.

Segurou sua mão e foram andando para fora dos portões.