Aprendendo a Mentir

Capítulo 33 — Meu querido Jasper...


Capítulo 33: Meu querido Jasper.

Rose

"Meu querido, Jasper"

"Meu querido Jasper"

"Querido Jasper…"

Rose rasgou o terceiro papel. Já passava das duas da manhã, e a prova de Transfiguração seria em algumas poucas horas. Por que diabos Rose Weasley estava acordada? Especialmente quando já deveria estar dormindo após cumprir sua rotina extremamente meticulosa de cuidado com a pele e com os cabelos? Ela simplesmente não conseguia. Há noites revirava na cama cheia de pensamentos, parecia que ia afogar no meio de todos eles. Com o fim das provas viria o recesso de festas de fim de ano. Em outras palavras: festa do Slug.

De: Rose Granger-Weasley

Para: Jasper Chance Wood

(18/12)

"Querido Jasper,

Uau! Já faz um tempo! Nem imagina a surpresa que foi receber a sua carta com o presente. Acho que nunca vi um broche de rosa tão bonito, ele é simplesmente perfeito em cada detalhe. Imagino que Mallorca também seja. Viajar deve estar sendo incrível. Acho que isso é o que mais temos em comum: a vontade de viajar e conhecer o mundo!

Queria já começar essa carta também pedindo desculpas. Essas últimas semanas foram uma loucura, acabei esquecendo sem querer de muitas coisas. Acredita que dei aulas de reforço para os alunos do quinto ano? Sim, eu dei! Teddy é o novo professor de DCAT, não sei se você ficou sabendo, e ele se juntou com o professor Akilah para realizar um simulado das NOMs junto das provas, antes do recesso. Os dois resolveram chamar alguns alunos para dar aulas, dar dicas e tal. Quem foi escolhida?! É, pela primeira vez, eu não fui. Hugo me chamou, na verdade, sugerindo que eu me voluntariasse e desse uma ajuda porque, , eu sou a melhor. Ele lembrou da época que eu vendia colas das provas. Você lembra? A gente se aproximou numa dessas, né? Você perguntando sobre umas poções em um jantar do Slughorn, e eu respondendo demais. Quase te cobrei por cada resposta!

Mas lá estava eu essa semana… Dando aulas para pessoas irritantes do quinto ano que acham que sabem demais. Foram três dias ao todo, desde sexta-feira após o almoço até domingo à noite. Albus também deu aulas, acredite ou não. Ele chateou Alice Longbottom um tempo atrás porque brigou com"

Rose parou de escrever por um instante. Olhou para o papel e quis amassá-lo outra vez, mas não o fez. Era madrugada, estava cansada, precisava colocar aquilo tudo para fora ou não conseguiria dormir. Roxanne estava deitada na cama ao lado da sua praticamente roncando, nem se incomodava com a luz da varinha de Rose. Ela ficaria orgulhosa de saber da carta?

"... com Scorpius Malfoy. Acabou descontando na pobre Alice e está desesperado para ganhar a atenção dela outra vez.

Imagine um garoto louco pela atenção de uma garota! Rodando ela insistentemente, perguntando se precisava de algo e rindo alto de qualquer bobagem que ela falava. Foi ridículo. Hugo parecia um leão de chácara ao redor dela, fechando a cara e cruzando os braços para Albus todo protetor. Honestamente, Roxanne e eu achamos que Alice percebeu que ganharia mais atenção de Albus se fazendo de difícil. E deu certo! Ele não parava de correr atrás. Até mesmo chamou Alice para ser sua acompanhante no Natal do Slug, mesmo ele não sendo membro. Um baita ato desesperado, se quer minha opinião! No fim das contas, Alice disse que ia com a Lily, mas que encontraria Albus lá. Aí mandou uns beijinhos e saiu da sala com Hugo agarrado no seu braço.

Voltando às minhas aulas! Não foi uma experiência tão ruim assim. Depois que consegui convencer o professor Akilah a me aceitar no grupinho maravilha, também convenci-o a chamar de "Clube de Resolução de Problemas". É uma piada interna minha e dos meninos, e Roxanne amou. Se bem que, talvez eu tenha causado mais problemas psicológicos nos alunos na primeira hora de aula, mas JURO que melhorei na segunda hora! Roxie brigou feio comigo e até mesmo me ameaçou, caso eu chamasse os garotos de burros outra vez. Só que eu estava bem confiante que um pouco de dureza seria ótimo para eles, sabe? Foi só quando"

Parou de escrever outra vez. Por que estava escrevendo tanto? Parecia que estava enrolando para chegar ao ponto que queria.

"... um amigo veio conversar comigo que eu realmente parei. Ele só conversou comigo, sim. Não teve ameaça, briga, resmungos nem nada. Acho que eu não sou só dureza no fim das contas. Ele disse "você sabia que as pessoas rendem mais quando acreditam nelas?" e pareceu que meu semestre voou na frente dos meus olhos. E que semestre! Fiz amizade com inimigos, usei uma gravata da Sonserina, joguei quadrisolo, flagrei James Sirius beijando Nate Parkinson… O que é uma novidade para você!

Então, James e Nate estão namorando. Mas está tudo bem engasgar com isso, todo mundo deu uma surtada quando a notícia espalhou. Acho que foi um dos maiores alvoroços da escola, especialmente porque os dois pareciam estar determinados a se matar no jogo de quadrisolo do Dia das Bruxas.

Mas vamos ao que importa:

Ninguém soube como reagir exatamente foi quando eu voltei para a segunda aula calma como a lula gigante do lago negro. Até mesmo sorri depois que um deles acertou minha pergunta sobre extinguir peso de objetos. Depois que as aulas do dia acabaram, esse meu amigo passou a noite dando uma de platéia para que eu treinasse dar aulas.

Domingo chegou, e lá estava eu, Rose Weasley, sendo parabenizada por Teddy pelas aulas excelentes. Tá, não fui só eu, mas mereci a maior parte das palmas dele! Teddy ficou realmente feliz com os alunos se voluntariando. Não ganhamos nada com isso, apenas dor de cabeça, resmungos trocados, menos tempo para estudar para as nossas provas E… E foi divertido.

Acho que fazia um tempo que não me divertia tanto quanto nesse semestre. Ano passado foi meio difícil, você sabe. A gente tinha terminado, e eu estava focada única e exclusivamente nos estudos para as NOMs. Qualquer distração no ano passado seria recebida com gritos e atos de violência de, bom, meu alter-ego "Grindelrose".

Mas e esse ano? Nossa, as coisas estão um pouco diferentes. Não fui só eu quem notou, o professor Akilah mesmo disse para nós que estava orgulhoso que todos tínhamos trabalhado juntos nas aulas de reforço, e que isso tinha ajudado não só os meninos do quinto ano, mas a nós mesmos. Ele é meio poético quando quer. Mas eu estava orgulhosa de mim mesma também. Consegui não explodir com todo mundo e até larguei um pouco do meu controle maníaco de toda situação. Isso é um sinal de avanço, não acha? De que eu posso ser um pouco melhor do que a "Grindelrose" que pregam, a megera de coração de pedra.

O professor Longbottom veio me parabenizar pessoalmente pelo desempenho na segunda de manhã, logo depois da prova de Herbologia. Alice contou a ele sobre as aulas e parece que disse que a minha e a do meu amigo foram as melhores. Conversa com Longbottom vai, conversa com Longbottom vem, ele soltou algo como:

"Você é brilhante e cheia de atitude como seus pais".

Não sei exatamente porquê, mas isso me pegou de jeito. Estava caminhando com ele no corredor e simplesmente parei, pensando sobre isso e sobre o fato de seu ser parte da Grifinória.

Você me conhece, Jasper! Eu sou psicopata com organização, sou fissurada por meus próprios objetivos, penso mais em mim mesma que nos outros e estou sempre tentando ser a melhor. Acho que nunca pensei na possibilidade porque me recusava a encarar a realidade, mas… Eu deveria estar na Sonserina. Falei isso para o professor Longbottom, expliquei a ele que eu sou justamente tudo que a Sonserina preza e pior. Eu não sou uma boa pessoa...

Ele só olhou pra mim e meneou com a cabeça, dizendo:

"Eu também duvidava bastante sobre o motivo de estar na Grifinória. Ao longo dos anos na escola, meus amigos até alguns dos meus amigos se perguntavam o mesmo. Eu não me sentia corajoso, confiante, aventureiro e divertido. No entanto, o Chapéu Seletor leva em consideração o que queremos e, principalmente, a nossa capacidade de ser. Você realmente tem tratos que qualquer um facilmente a colocaria na Sonserina, e ela não é uma casa ruim para desenvolver seu orgulho e sua astúcia, mas a Grifinória leva em conta sua paixão, sua teimosia e todo fogo interno. Você pode ser um dos mais brilhantes membros da Grifinória, Rose, basta procurar em si onde está esse seu lado."

Antes desse semestre, algumas coisas estavam nubladas para mim, mas agora… Um amigo me disse que eu sou como fogo, e o fogo pode ser fonte de destruição, mas também é luz. Eu não sou tão ruim assim, né?

E essa carta está ficando longa demais! Tudo que eu precisava escrever era: Oi, Jasper, eu vou sim para o Natal do Slughorn.

Bom, não vou ser só eu, claro! Como Slug diz para levarmos acompanhantes, vou levar meu irmão, como sempre. Praticamente todo o clã Weasley-Potter estará presente. Roxanne vai com o irmão dela também, Lily Luna vai levar Alice, e Albus vai como acompanhante também. Claro que James vai com o Nate, e você vai presenciar em primeira mão a melosidade deles dois.

Meu tio Harry também vai estar lá com a tia Ginny. Sei o quanto você é fã deles. Se ainda for, tenho certeza de que vai se divertir muito conversando com eles e com os outros amigos do professor Slug. Ele, particularmente, está muito animado com a festa desse ano! Até mesmo pediu que Scorpius Malfoy tocasse piano em um momento da noite."

Os dedos de Rose tocaram o papel mais delicadamente. Perdeu completamente noção da hora com aquilo, parecia estar escrevendo muito mais que seu plano original. E a parte mais interessante era que, por mais que não fosse proposital, seus dedos pressionavam mais o papel ao escrever aquele nome.

"Scorpius Malfoy é o amigo de quem falei. Sim, amigo. É uma longa história, completamente surreal! Mas é sério, Scorpius e eu nos tornamos amigos esse semestre também.

Antes que você se faça perguntas, fique confuso ou até diga "que legal, Rose", peço que continue lendo esta carta.

Eu me apaixonei por Scorpius Malfoy. Ao longo de meses, de brigas, risadas e de desafios mútuos, eu simplesmente caí por ele (e com ele, de vassoura). Queria escrever para você todo o contexto, explicar os motivos e conseguir mostrar evidências, mas nem eu sei dizer ao certo quando isso aconteceu. Scorpius surgiu na minha vida como um sopro novo de vida me lembrando justamente o que o professor Longbottom falou: aquilo que eu posso ser. E acho que ele gosta de mim também, nós dois nunca falamos com todas as palavras, porém sabemos que algo existe.

"E vocês estão oficialmente juntos?" você pode perguntar.

Não. Não estamos juntos. Por mais que esteja apaixonada por Scorpius, é difícil largar alguns problemas. Meu pai não o conhece, ele odiaria saber que sua "menina Rosie" está envolvida com um Malfoy. Minha família quase inteira iria julgar um relacionamento entre nós. De certo, a dele também o faria, afinal são Malfoys.

Comigo e com você foi diferente, foi fácil. Todos já te amavam antes mesmo de você dar motivos para isso. Papai ficou tão feliz com a ideia de estarmos namorando que não parava de mandar cartas sobre quadribol para que eu tivesse assuntos para conversar com você. Como se ele não soubesse que, na falta de assunto, nós iríamos a nos beijar…

Quando nós dois terminamos, a sensação não foi de que acabou, mas sim que demos um tempo. Cada um ia viver sua vida até que fôssemos mais velhos e voltássemos a namorar. Era isso que você costumava dizer: que você ia focar no quadribol, que eu ia focar em terminar a escola, que você me amava, que eu te amava, que ficaríamos separados, mas que estaríamos juntos em breve! Trocamos cartas, juras de amor, risadas, cartões postais, presentes… É difícil esquecer você, Jasper.

Estou escrevendo essa carta porque sei que está criando expectativas para nosso reencontro no Natal do Slug. No entanto, eu já não sei mais como corresponder a elas. Quando nos encontrarmos, sei que você vai mexer comigo, vai me abraçar forte e vai falar bobagens românticas no meu ouvido. Vai ser difícil não resistir! E mesmo assim, eu devo ser justa com Scorpius. Se essa carta lhe achar antes do Natal, fica meu pedido mais sincero…

Não venha."

Rose sentia o peito apertar. Largou o papel ao lado de seu corpo, assim como o livro que usava de apoio para escrever. Tinha preenchido frente e verso e, mesmo assim, parecia que estava completamente errado dizer aquelas coisas.

Estava apaixonada por Scorpius, mas também sentia algo por Jasper? Ainda? Como era possível? A solução mais fácil de tudo aquilo era que ela mesma não fosse à festa e jogasse a poeira para baixo do tapete. Não queria ter que decidir entre seu primeiro grande amor e o cara que estava lhe fazendo feliz nos últimos meses. Era uma escolha que não tinha volta e ainda implicaria em outros mil fatores! Se escolhesse Scorpius, teria problemas com sua família. Se escolhesse Jasper, teria problemas com seus amigos.

Não era à toa que não conseguia dormir. Queria poder beijar mais Scorpius e estar com ele todos os dias, mas seria capaz de abandonar o cara que primeiro a viu como mulher?

Rose pegou novamente a carta que estava escrevendo, dobrou-a ao meio e guardou entre as páginas do livro de História da Magia.

Se não conseguia decidir sem ver Jasper, iria esperar para encontrar com ele para escolher.

De: Rose Granger-Weasley

Para: Jasper Chance Wood

(18/12)

"Querido Jasper,

Uau! Já faz um bom tempo! Amei o broche de presente, acho que nunca vi um algo tão perfeito nos mínimos detalhes como ele.

Queria começar essa carta pedindo desculpas por não ter respondido rápido a sua. As últimas semanas foram uma loucura nos estudos. Acabei esquecendo muita coisa, inclusive do Natal do Sluhorn! Mas estou feliz que as provas estão acabando também, foram muito exaustivas.

Fiquei surpresa quando você disse na carta que viria. Estarei lá com certeza, assim como quase todos os meus primos e meus tios Harry e Ginny Potter. Tenho certeza de que o professor convidou muita gente interessante para esquentar as conversas. Você vai se divertir bastante. Será uma noite muito agradável para todos nós.

Estou um pouco apressada agora, mas quero que saiba que há muito ainda para conversarmos e colocarmos em dia. Deveria ter escrito antes, faz mesmo muito tempo que não nos falamos.

Vejo você no Natal, Jasper.

Senti saudades também.

Sinceramente,

Rose G. Weasley."