Aprendendo a Mentir

Capítulo 34 — O Natal do Slug.


Capítulo 34: O Natal do Slug.

Scorpius

Aquela havia sido uma das semanas mais exaustivas do semestre. Prova em cima de prova, noites tentando revisar matéria com Albus e, para completar, sua mãe não mandou nenhum pote com bolo. Devia ser um mau presságio. Scorpius nunca pensou que sentiria tanta falta dos bolos amorosos (e por vezes solados) de Astoria Malfoy como naquela semana. Pelo que disse numa carta, estava muito cansada com os afazeres no Ministério, mas também irradiava felicidade porque seu filhinho amado havia sido convidado para o Natal do Slug. E ela adorava o professor Slughorn!

— Meus pais já chegaram. — Albus entrou no quarto como um furacão, ainda com a gravata meio amarrada num nó cego e meio pendurada no próprio ombro. — James pediu para Lily e eu enrolarmos, que ele está se preparando para apresentar o Nate. Mas eu ainda não estou pronto! O que eu faço, Malfoy?!

— Termina de ficar pronto — respondeu Scorpius calmamente, olhando-se no espelho do quarto. Slughorn falou que deveriam ir com roupas formais, e lá estava o garoto Malfoy com camisa social preta, gravata escura, colete e uma túnica preta alinhada que seu pai enviou antes das provas. Já havia vestido roupas alinhadas antes, mas nunca se sentiu tão bem nelas quanto agora. Parecia até mais alto. Com os cabelos arrumados, já nem sabia se lembrava mais seu pai ou uma versão masculina e loira da sua mãe. — E aí, como eu estou?

Virou-se para Albus com os braços erguidos e um sorriso, dando meio girinho para o lado e meio para o outro.

— Gato — respondeu o Potter com os dois polegares erguidos. — Cara de quem está tentando demais com esse cabelo, mas está ótimo, incrível, magnífico, sublime, espetacular, chocante, espe… Tá, chega. Por favor, me ajuda a terminar de ficar pronto.

Um suspiro e uma risada, e lá estava Scorpius ajeitando a gravata do amigo. Ainda era cedo, meia hora antes do que havia sido marcado para a festa. Porém, com os Potter já no Castelo, precisavam guardar o pedido de James Sirius.

Subiram do Salão Comunal da Sonserina para o escritório de Slughorn entre empurrões. Albus ria sobre o cabelo de Scorpius estrategicamente arrumado e desarrumado ao mesmo tempo, ameaçando passar a mão para desmanchar tudo. Scorp só desviava com movimentos nada graciosos, resmungando que ele era um Potter estúpido. Era bom estarem assim, especialmente depois da semana de cão que tiveram.

A primeira pessoa que encontraram do lado de fora da festa foi justamente Lily Luna com seus cabelos trançados e caídos sobre um dos ombros. Ela acenou para os dois e sorriu, cruzando os braços atrás das costas, o que dava mais destaque ao seu vestido branco e liso que ia até os joelhos.

— Vocês dois estão muito bonitos — disse suavemente e gentil, como sempre.

Albus deu até um girinho charmoso, segurando a lapela de sua roupa. Scorpius acabou por empurrá-lo, dando uma risada enquanto via o Potter procurando por equilíbrio. O sorriso de Lily só cresceu.

— Você também, Lily.

Scorpius girou a mão, tentando ser gracioso, mas só foi empurrado de novo por Albus, que logo passou o braço por cima dos ombros da irmã.

— Sua ruiva é outra, pode tirar os olhos da minha ingênua e pequena irmãzinha!

Lily franziu as sobrancelhas e bateu com o cotovelo nas costelas de Albus.

— Poderia me ceder a companhia, Scorp? — Ela sorriu para o menino loiro, que ria da cara amassada de Albus Severus Potter. — Meu irmão é um pé no saco, e a minha convidada está provavelmente testando o décimo vestido para descer.

Na humilde opinião de Scorpius, se Alice Longbottom e Albus Potter começassem a namorar, eles nunca chegariam a nenhum evento na hora.

— Por aqui, srta. Potter. — Ele abriu a porta e lhe ofereceu o braço. Os dois deram a língua para Albus ao mesmo tempo enquanto entravam.

— Ei, eu sou completamente adorável! — A voz de Albus os perseguiu. — Menos 10 pontos para a Grifinória!

Pela primeira vez, Scorpius era convidado ao Natal do Clube do Slug. Costumava escutar um rumor ou outro sobre ele. Lily e Roxanne, em especial, fizeram toda uma preparação quanto à noite e quanto às alterações que o professor fazia no ambiente. Só não foi suficiente para a realidade.

A sala parecia ter aumentado de tamanho. As paredes eram cobertas por tecidos coloridos, um grande lustre flutuava ao centro, o piano tocava sozinho, e havia uma grande lareira acesa — que Scorpius sequer lembrava que existia antes. Estavam adiantados com o horário, e por isso achava que seriam os primeiros alunos no local. No entanto, foi fácil identificar Elois McLaggen conversando com Madeline Nott, já sentada numa mesa com uma taça de bebida duvidosa em mãos. Slughorn não oferecia bebida alcoólica assim, oferecia?

Na mesa ao lado estava o casal que chamava mais atenção que qualquer um: os Potter. E Scorpius só ali se deu conta que estava de braços dados com a filha deles.

— Mamãe! Papai! — Ela saiu falando e se aproximando dos dois. Ginny Potter foi a primeira a se levantar, sorrindo imensamente. Harry Potter, no entanto, ainda pediu um segundo de licença para o homem com quem conversava antes de se erguer também.

Lily Luna largou o seu braço antes de receber um abraço apertado da mãe, tão ruiva quanto ela. Em seguida, veio o de seu pai. Da última vez que Scorpius os viu, foi no dia que vieram a Hogwarts preocupados com a filha.

— Vocês são muito velhos — Albus chegou reclamando já, mas também à procura do abraço da mãe. — Só idosos são os primeiros a chegar, sabiam?

— Quando você tiver filhos tão bagunceiros quanto os meus, vai querer ser o primeiro a chegar nas festas para controle de danos — respondeu Ginny Weasley com um aperto no filho, afastando-se para apertar as bochechas dele. Por mais que os cabelos fossem os de Lily, a expressão esperta dos dois certamente era muito igual! Era engraçado, mesmo que Scorpius só observasse. Queria poder documentar a careta que o melhor amigo fazia. — E onde está o terceiro? Eu dei luz a três.

Albus deu rapidamente de ombros.

— Criando coragem, eu acho. — Ele se aproximou devagarinho de Scorpius, colocando a mão para cobrir a boca ao sussurrar: — Claramente entrou em pânico. Ele saiu do armário pra mamãe e pro papai por carta, então está tenso de encontrá-los.

Os olhos de Ginny Potter foram até Scorpius Malfoy, o que resultou no rapaz prendendo rapidamente a respiração. Não era como se tivesse medo dela nem nada do tipo, apenas ficava apreensivo sem saber exatamente do que era seu medo.

— Foi você quem arrumou a gravata do Albus, não foi, Scorpius? — Ela soltou uma risada, passando a mão sobre a gravata do loiro. — A sua está ótima, querido. O Professor Slughorn sempre elogiou quem se vestia bem, ele certamente vai comentar sobre sua roupa.

Harry Potter se aproximou em seguida estendendo a mão para ele com um sorriso pequeno.

— Scorpius... Como vai, rapaz?

Parecia até fácil, e ele nem se deu conta de como isso aconteceu direito. Os Potter simplesmente guardaram lugar na mesa para ele também, junto ao espaço dos filhos, de Alice e do namorado de James Sirius, que estavam loucos para conhecer.

— James Sirius não nos deu nenhum detalhe sobre o tal rapaz, nem mesmo o nome.

— Covarde — provocou Albus, recebendo um murro de Lily no ombro. — Que foi? Ele que é o grifinório bonzão, era pra ter falado antes.

Tanto Scorpius quanto Lily o censuraram com os olhos bem abertos. Albus não sabia mesmo quando ficar de bico quieto.

— Vocês vão gostar dele. É um cara legal. — Lily sorriu para os pais, cutucando Scorpius por baixo da mesa. — Ele é da Sonserina.

Ela o cutucou de novo. Parecia querer algum tipo de apoio.

— Ah, é! A gente costuma chamá-lo de "Rei da Sonserina".

Ginny Potter ergueu as sobrancelhas para o marido, aparentemente animada.

— Não era esse o rapaz que era capitão no time de quadrisolo que Teddy comentou? — Harry coçou o queixo ligeiramente, pensativo.

— Ainda acho engraçado esse esporte que criaram — disse Ginny com um riso frouxo. — Os últimos egressos de Hogwarts que foram trabalhar no Profeta já comentaram algumas vezes sobre ele em noites de Halloween.

Albus bateu um tanto orgulhoso no próprio peito.

— Ano que vem, eu que vou ser capitão de um time. Scorpius vai ser do outro.

Coitado. Estava já respirando direito quando ouviu a predição do melhor amigo. Quase engasgou na própria saliva.

— É melhor que seja a Roxanne. Roxie é muito mais habilidosa!

— Bobagem! — Albus deu dois fortes tapas no ombro do amigo. — Será épico nós dois um contra o outro.

— Épico ou romântico que nem foi para James e para o namorado? — Lily deu uma risada longa e graciosa.

Os olhos de Scorpius sem querer escaparam na direção dos pais dos garotos. Foi como se os visse da mesma forma que ele estava a segundos atrás: respirando finalmente. Foi inevitável pensar nas semanas anteriores. Deviam estar um tanto aliviados em ver Lily Luna sorrindo daquela forma espontânea. Até mesmo se entreolharam, quase conversando por pensamento.

Scorpius admirava isso na família de Albus, de certa forma. Devia ser bom ter família grande.

— Harry! — A voz de Slughorn ecoou, enquanto o homem corpulento se aproximava. Harry e Ginny Potter se levantaram, o que fez os três jovens repetirem o movimento. — Que bom que chegaram. Você também, Ginny. É muito bom tê-los em mais um Natal.

Apertaram as mãos uns dos outros, enquanto o pai de Albus dizia:

— O que pudermos fazer para deixá-las melhores, Professor.

— Devem estar muito orgulhosos dos seus filhos. Lily Luna tirou algumas das melhores notas do quinto ano. — Slug a encarou, mas a grifinória apenas deu um sorriso sem mostrar os dentes, erguendo as sobrancelhas sem jeito. — James Sirius também foi excelente. Uma reviravolta e tanto para as notas dele no início do semestre.

— Pessoas quando namoram não fazem é desandar nos estudos? — Albus deu um sorriso malcriado e levou outro soco no ombro de Lily, choramingando com a pancada dessa vez.

— Nate deve ter colocado ele pra estudar — brincou Scorpius com um sorriso brando.

Slughorn olhou para os dois com aquelas palavras, piscou duas vezes para Albus e logo em seguida para Scorpius. Foi só o tempo que levou para analisar as vestes e o porte de ambos os rapazes, atento como o anfitrião que era.

— Fico feliz que estejam esta noite aqui também, meus jovens. Malfoy, gostaria de lhe apresentar mais tarde um de meus antigos alunos, o Sr. Crawford do Centro de Cirurgias Mágicas do St. Mungus. — Ele se aproximou um pouco mais do loiro, balançando uma mão para ele ficar atento. — Um passarinho me contou do seu interesse na área. Será uma noite interessante, está usando uma bela túnica!

Ele acenou com a cabeça para os Potter e girou os calcanhares, ajeitando a própria roupa ao deixá-los sentar novamente.

— Então, o nome do famigerado é “Nate”. Não é o rapaz que James costuma brigar, é? — A voz de Ginny Potter soou divertida, e foi a vez de Albus e Lily repreenderem Scorpius com o olhar. — Seria bom saber um pouco dele antes de o conhecermos. Harry não falou, mas está preocupado porque James Sirius não disse nada até hoje.

— Eu nunca nos achei muito bons em guardar segredos — falou ele com uma risada para a esposa — como nossos filhos são tão bons em esconder as coisas de nós.

— Na nossa época, você era o próprio ímã de problemas, claro que ia ser difícil esconder todos eles.

Eles deram as mãos, e Scorpius observou a cena cuidadosamente. Pareciam seus pais, mas em uma versão menos energética. Quando Astoria Malfoy começava a falar da época de escola, parecia que tinham lhe dado corda infinita com magia das trevas.

— Chegou. — Albus apontou com a cabeça para a porta, cutucando descaradamente o próprio pai. — Sejam legais, ele é o cara mais legal da Sonserina que pode ou não me dar apoio para sucedê-lo com o título de “Rei” da Casa, se achar que eu…

— Albus — chiou Scorpius com um meio riso — chega.

James Sirius estava parado com sua cara enfezada de sempre, encarando diretamente a mesa dos Potter. Scorpius nunca o viu tão nervoso quanto ali. No entanto, em momento algum acreditou que Nate Parkinson não apareceria ao seu lado; não quando sabia que eles mal se desgrudaram desde que assumiram o relacionamento para todos na escola.

Foi exatamente o que aconteceu. A mão de Nate encontrou a de James, e lá estava o moreno sonserino com um sorriso confiante para o seu namorado. Ambos estavam bem arrumados, mas principalmente Nate, com uma túnica preta e fina, tendo detalhes prateados costurados no colarinho.

— Mãe, pai. — James Sirius pigarreou para normalizar a voz enquanto chegava na mesa. Os dois se levantaram juntos. Scorpius, Lily e Albus continuavam sentados, só assistindo a cena e se chutando mutuamente para não rirem. Bom, basicamente era Lily Luna chutando os dois idiotas. — Nate, esses aqui são meus pais, Ginny e Harry Potter. — Ele puxou o ar e encarou os pais, nervoso. — Mãe e pai, esse é Nathaniel Parkinson… Meu namorado.

O sorriso de Ginny Potter foi enorme, e o carinho nos olhos de Harry também eram visíveis. Mas Nate eram quem exalava orgulho pela mão dada à de James Sirius. Quem diria que o Rei podia ser tão feliz sem estar na presença de súditos?

— É um prazer finalmente conhecê-los, Sr. e Sra. Potter — disse ele muito polido, estendendo a mão para ambos. Harry Potter foi o primeiro a cumprimentá-lo.

— O prazer é nosso. James Sirius deveria ter contado antes quem era você — respondeu ele com um olhar divertido atrás dos óculos.

— Não foram poucas as vezes que recebemos cartas de McGonagall sobre brigas dos dois. — Ginny tentou segurar a risada ao apertar a mão dele. — Seja bem-vindo, Nathaniel. Está estampado na cara de James que ele está feliz que estejamos nos conhecendo.

“Feliz” não era bem a palavra que Scorpius usaria para descrevê-lo. Ele parecia tão nervoso que seria capaz de explodir. Mas bastou que Nate risse e passasse a mão nos seus ombros para amansar a expressão do grifinório.

— Ah, mãe, eu só estava preocupado. Sei lá… — James Sirius coçou a testa, tentando rir. — Foi mal não ter contado antes.

— O importante, meu filho, é que nos contou e que está feliz. — Ginny Potter o envolveu com seus braços numa maternidade que brilhou os olhos de Scorpius.

Harry assentiu e colocou uma mão sobre o braço do filho, completando:

— E nós te amamos muito, especialmente quando se permite ser quem é.

Os chutinhos debaixo da mesa tinham parado. Scorpius, Albus e Lily aquietaram e nem perceberam quando.

A verdade era que, até aquele momento, não tinham dado muita conta da importância do que havia acabado de acontecer. Talvez nem mesmo o próprio James Sirius tenha percebido a princípio. Ele abraçou os pais e riu ao dar a mão para Nate novamente, que parecia brilhar ainda mais, especialmente os olhos!

Sentaram-se e foi como se Nate de repente pertencesse à família, como eles fizeram com Scorpius! Perguntaram sobre como estava sendo o último ano, e os dois disseram que começaram a estudar juntos. Responderam também sobre as brigas, contando mais ou menos a mesma história que Nate contou para Scorpius há algumas semanas. Depois voltaram-se aos sonserinos do sexto ano, querendo saber o que Albus tinha aprontado no Halloween como de costume.

— Eu não fui pego por metade do que fiz — falou orgulhoso e com um dar de ombros. Harry Potter riu. Ginny fingiu não ouvir.

O que era um clima estranho se transformou em alguns instantes. O salão da festa passou a encher com alunos e professores, além de alguns convidados especiais de Slughorn. Todo espaço passou a ser preenchido por música e conversa! Foi mágico!

Madeline Nott foi cumprimentar tanto Nate quanto Scorpius na mesa dos Potter e aproveitou para dar um abraço e um beijo estalado na bochecha em seu “cunhado”: James Sirius.

— Se vocês virem Luke Flint beijando Elois McLaggen me avisem — falou com os grandes olhos bem abertos e atentos para os arredores. — Sem perguntas!

— Fico de olho especialmente pra você. — James Sirius deu de ombros com certo charme. Ela sorriu para ele e fez uma careta para Nate e para Scorpius logo em seguida.

— Por que vocês dois não são legais comigo assim? — resmungou, assoprando um pouco do cabelo para longe do rosto. — Scorpius, trate de guardar uma dança para mim hoje.

Scorpius ficou um tanto perdido ao vê-la girar os calcanhares, mas acabou rindo com Nate.

— Arranjou uma ótima cúmplice — disse o Malfoy para o irmão de Albus. — Acho que você que se ferrou nessa amizade dos dois, Nate.

Ele só aceitou a derrota, dizendo que gostava que seu namorado e sua melhor amiga fossem cúmplices. Antes isso do que inimigos juramentados. James Sirius concordou. Os dois se beijaram pela primeira vez na frente dos pais dele.

— TIA GINNY!

A voz de Roxanne soou alta, e ela abraçou a mãe dos Potter por cima da cadeira.

— E aí, tio Harry? — Devagar, ao seu lado, vinha o irmão dela, que bateu no ombro do tio.

— Vocês estão tão bonitos! Deixem-me ver melhor! — Ginny Potter virou o corpo e olhou bem para Roxanne com seu vestido preto colado. Fred II Weasley só cruzou os braços e balançou a cabeça. — Ah, Freddie, eu posso mimar um pouco minha afilhada.

Roxanne estendeu o olhar para Lily e a abraçou um pouco mais gentil do que fez com a mãe dela, seguindo para uma batida no ombro de Albus e um abraço mais demorado em Scorpius.

— Por falar em bonito, olha para você! — Ela o puxou pelo braço para se levantar, o que Scorp ficou até envergonhado de fazer. — Então era por isso que seu nome não saía da boca das meninas da Lufa-Lufa! Raven McGregor subiu toda nervosa para ajeitar o cabelo porque queria chamar sua atenção essa noite. Acredite em mim, palavra de amiga.

Ele sentiu o rosto começar a ficar vermelho. Todos da mesa estavam prestando atenção.

— Roxie, não exagera nessas coisas. Quer dizer, eu… — Viu-a dar de ombros, como se estivesse falando a coisa mais simples. Scorp até engoliu as próprias palavras. Não adiantava dizer muita coisa. Apenas suspirou ao completar: — Você está linda, de verdade, minha amiga.

O sorriso de Roxanne abrilhantou um pouco mais. Seus cabelos estavam com um cacheado definido e alto, cheio de volume e beleza. Ela já tinha comentado que gostava quando conseguia deixá-los assim. Devia ser isso, a roupa, o dia, tudo.

— Vamos dar uma volta? — Albus se levantou, pigarreando. — Preciso tomar alguma coisa, e com os velhos vigiando não dá pra roubar nenhuma taça de hidromel do Slug.

— Você sabe que nós escutamos, não sabe, Albus Severus? — Harry Potter o encarava por trás dos óculos, mas ele simplesmente fingiu não estar ouvindo. Estava falando aquilo só para perturbar os pais. — Juízo, garoto…

Albus agarrou o braço de Scorpius de um lado e de Roxanne do outro, arrastando os dois para o meio de uma pista cheia de pessoas conversando em grupos e brindando.

— Certo, precisamos de um plano de ataque — Albus sussurrou ao chegarem numa distância segura da mesa dos pais, perto de uma mesa com frios e ponche. Um garçom passou, e ele pegou uma taça de água, bebendo-a rapidamente quase toda. — A pessoa de interesse ainda não chegou. Temos tempo para deixar tudo sob controle e criar uma atmosfera romântica.

Foi como se um fantasma tivesse passado por dentro de Scorpius. Ele sentiu o corpo estremecer quase todo de uma vez ao ouvir aquilo. Não foi, porém, um estremecer ruim. Muito pelo contrário. Se pudesse, estremeceria mais vezes como essa sempre que pensasse em Rose Weasley.

— Não precisa falar da Rose assim — disse com um meio riso — eu tô tranquilo.

Albus o encarou com um franzir de sobrancelhas, respondendo rapidamente:

— Rose? Eu tava falando da Alice. Lily disse que ela está atrasada por causa dos vestidos blá blá blá, e eu não sei o que fazer quando ela chegar. O que eu faço?!

Era incrível como, mesmo vendo Alice praticamente todos os dias na vida — e tendo rejeitado ela em 90% dos que já passaram — ele estava nervoso.

Era por essas e outras que Scorpius adorava Albus! Só sendo maluco assim para ser seu amigo.

— Ela estava lá em cima terminando de se arrumar, quando eu desci — esclareceu Roxanne com um sorriso de lado muito confiante. — Rose estava ajudando a Alice a ajeitar os cabelos, até ofereceu um brinco.

A careta de Albus só piorou.

— Rose Weasley? A doida? Ajudando alguém além de si mesma?

— Eu chamo isso de “efeito Scorpius”. — Roxanne abriu os braços para exibir o Malfoy, que só se encolheu entre os ombros. — Endireita a coluna, Scorp! Não vai fazer feio hoje depois de tudo que treinamos. A qualquer momento nossa segunda pessoa de interesse pode dar as caras. Eu ainda não o vi, então estamos seguros.

A verdade era que Scorpius estava se sentindo mais tranquilo do que deveria com aquela noite. Tinha colocado na própria cabeça que o reencontro de Rose com Jasper Wood seria inevitável em algum momento, mas era mais importante que ele acontecesse bem na sua frente do que num lugar que o fizesse apenas especular. Fez as pazes consigo mesmo e estava se sentindo pronto para encarar a situação, não importava como ela acontecesse.

Mas lá vinha a vozinha de Albus se arrastando baixa:

— Bom, Lysander Scamander…

— Não, não! — Roxanne bateu no braço dele. — Eu estava falando de Jasper Wood. Você não acerta uma essa noite, Albus?

Scorpius até ficou com pena da cara de dor do amigo. Ele estava virando um saco de pancada maior naquela noite do que foi em toda última semana.

Ai, sua ingrata! Eu estava falando que o Lysander está vindo aí. — Apontou para frente com a cabeça enquanto a mão massageava o braço. — E ele está trazendo uma flor pra você.

Os outros dois viraram o rosto imediatamente. Lá vinha com seus cabelos loiros presos num rabo de cavalo com uma fita azul e com um sorriso esperançoso: Lysander Scamander, o eternamente apaixonado por Roxanne. E ele realmente tinha uma florzinha estranha e roxa na mão, caminhando em direção ao local que eles estavam.

— É, Roxie, acho que dessa vez você não escapatória — murmurou Scorp, virando-se para ela. Quando percebeu, Roxanne já tinha desaparecido! Olhou para os lados até finalmente virar o rosto para baixo. Ela estava se enfiando debaixo da mesa de ponche. — Roxanne?

A moça ergueu um pouco o tecido da mesa e colocou o indicador na frente da boca, pedindo que eles se calassem.

— Eu não estive aqui! Se vocês virem Rose ou Jasper Wood, me procurem. Vou desaparecer.

E desapareceu. Fechou o tecido e sumiu debaixo da mesa.

Albus e Scorpius só se entreolharam e deram de ombros juntos ao falar:

— Vai entender?

Riram juntos também. Logo que Lysander chegou e perguntou por Roxanne, cada um apontou para um lado, tentando encobrir a escapada da amiga de forma nada sincronizada. A flor murchou junto da expressão do rapaz, e Scorpius se sentiu culpado ao vê-lo se afastar em passos mais lentos.

Foi aí que seus olhos se estenderam para a entrada do salão, quase instintivamente.

A vida toda, Scorpius não se considerou um rapaz muito romântico. Para ser bem sincero, mal pensava em garotas. Escapar de olhos julgadores era mais importante do que olhar com desejo. Quando sua mãe contava sobre seu casamento com seu pai, ela falava que ele irradiava uma luz naquele dia! E Scorpius realmente achou que era exagero ou figura de linguagem, considerando quem era Draco Malfoy!

Porém ali, naquele instante, quando Rose entrou pela porta com seu sorriso grande direcionado a Alice Longbottom, o rapaz viu a mesma luz que a mãe falava.

Estava decidido, não havia retorno. Faria daquela garota sua namorada antes do fim da festa. E seria o cara mais feliz do mundo por isso!