Apolonyx

Sangue Dourado


Apolo não podia ser meu pai, não com a má pontaria que tenho! Acabei acertando Grecta cinco vezes, ela acabou indo para a enfermaria. Jurei a ela que não a confundi com um alvo.

Voltei para meu chalé, agora totalmente reformado, não sei como. Estava como antes, graças aos deuses. Ao caminho, alguém me chamou:

- Dafni! - sussurrou alguém.

Ao me virar, um rosto.

- Mãe! - exclamei. Tentei abraçá-la, mas transpassei a imagem.

De acordo com os meus conhecimentos sobre os livros do Percy Jackson, era uma mensagem de Iris. Nisso pude perceber que a imagem tremulava, era irreal demais.

Sorri observando-a tão bem cuidada e... triste.

- Mãe?

- Oi, minha querida filha! - murmurou, melancólica. Ela estava tão diferente desde a última vez que a vi, após sairmos do caminhão. Diferente no sentido bom.

Mamãe tinha cortado o seu cabelo enrolado tipo channel, pintado de vermelho acaju que clareava nas pontas. Seus olhos pretos estavam mais lindos do que nunca, de rímel preto forte como os egípcios usavam antigamente e batom vermelho salmão. Vestia um trage egípcio – bege, ouro, vermelho e amarelo, lembrava muito uma pintura que vi representando Cleópatra. Sobre a testa um pingente pendurado, o símbolo do sol, o mesmo disco com hieroglifos que enfeitava a cabeça do deus Rá.

Atrás dela um imenso horizonte de areia, deserto.

- O que faz ai? Quero dizer, fiquei com saudades!

- Ah, tá! Obrigada! Eu também, meu bem e...

- Desculpe por não ter dado notícias, mãe. Tem tanta coisa acontecendo! - olhei em volta. - Estou tão ocupada, confusa, preocupada, tendo de amadurecer rapidamente. Eu queria que pudesse estar aqui.

- Sei do que está acontecendo, a guerra.

Silencio...

- Por isso liguei e estou aqui.

- Aí a onde?

- Egito, querida. Eu queria que pudesse ver o que estou vendo, o Rio Nilo é... incrível! - seus olhos brilhavam. - Seu pai me trouxe, para que eu fique em segurança. Não deve ver TV ai, mas... - suspirou. - O Estados Unidos, Rússia e Suméria está sofrendo constante ataque de desastres naturais. Embora a guerra não tenha começado oficialmente, já há confrontos. Os egípcios estão neutros nesse conflito, mas todos estão inquietos. Awn... não sei o que dizer. - respirou fundo. - Os deuses egípcios são ótimos, cuidam muito bem de mim. Ísis, embora meio impaciente, é uma ótima deusa. Bastet é... mas chega de falar disso. E você? Como está?

Desta vez eu suspiro.

- Um caos. Tento não ficar louca, Tânatos anda me ajudando bastante. Beccs é... perfeita amiga, como sempre. Não a vejo já faz um tempo, mas deve estar bem. Estou prestes a explodir, mas tirando isso... minha mente está bem calma. A audiência com Zeus foi ótima – ri por dentro.

- Sei, Apolo me mantem frequentemente informada. Mas, mesmo com retirada de algumas mitologias, o confronto vai ser bem violento.

- Pois é, mas me sinto melhor. Vejo que alguns de meus irmãos lutarão ao meu lado, pelo que entendi na reunião que participei agora pouco. Graça aos deuses tenho muitos irmãos, espero que assim melhore nosso lado.

- Claro.

Respirei fundo, exausta.

- Tudo bem, filha. Vai descansar. Você precisa.

- Uhum. Sua benção, mãe.

- Está abençoada, Daffy. Agora durma bem. - sua imagem tremeluziu e sumiu.

- Ah, mãe... - cai de joelhos.

Só levantei novamente para não desistir de tudo, não agora.

Cansada, empurrei o portão de entrada.

Assim que pus os pés no piso, vários Ted's se rastejaram até a mim e envolveram meu corpo.

- Tudo bem? - perguntei, mas eles só faziam com que eu me encaminhasse para meu quarto.

Sobre a cama king size azul piscina um vestido de renda preta, com pétalas de rosas vermelhas e fios prateados. E a minha corrente com pingente de estrela, que colocava na cabeça. Os Ted's me deram licença, saindo do quarto e deixando-me com minhas dúvidas.

Em cima do vestido, um bilhete:

~ ~ [ vista-se ] ~ ~

Sem reclamar, me troquei e sai.

Os Ted's não estavam na fonte, o salão principal estava vazio e o das estátuas, trancada.

Então ouvi passos.

- Pandora. - chamou-me uma voz rouca.

Ao me virar, era Die.

- Por favor, vire-se! - supliquei, tentando esconder minhas partes nuas com as mãos. - Não estou bem vestida.

Die saiu das sombras e segurou minhas mãos, me analisando.

- Pelo contrário,está muito bem vestida.

Meus deuses, ele estava de-mais.

Seu cabelo negro brilhava, seus olhos cinzentos pareciam esfomeados por detalhes do meu corpo seminu e sua barba estava feita. Vestia uma blusa regata de gola alta preta, jeans escuro rasgado em certos pontos e tênis preto. Nos pulsos braceletes prateados de germânio e na mão direita uma luva de couro, uma única. Meu Johnny Depp estava lindo!

- Venha. - seduziu-me.

Uma luz escura se materializou atrás dele, entramos.

Era um portal.

Do outro lado, uma ilha. Havia vários pés de romã, algumas inteiramente e outras cortadas ao meio – mostrando minusculas bolinhas vermelho brilhantes dentro. Ao lado de uma cobertor negro e travesseiros cor sangue colocados romanticamente no chão, rosadas Fruta-Dragãos e grandes Magostens roxas – tudo frutas exóticas. Flutuando pelo ar irregularmente, lanternas de papel beje.

Eu disse que era uma ilha né? Mas não havia mar em volta, só um imensidão negra e vácuo.

Assim que atingimos a terra, perguntei maravilhada:

- Onde estamos? Por quê tudo isso?

- Quero te dar meu presente de dezoito anos

Ah, é. Meu aniversário era amanhã.

- Não precisava... quer dizer, amei meu presente.

- Mas esse não é meu presente, meu amor. - sussurrou em meu ouvido.

Estranho ouvir aquelas palavras de sua boca, doces e ternas. Era como ouvir um mudo falar, um cego enxergar, um surdo ouvir ou um morto ressuscitar. Extraordinário, mas inacreditável.

Die me fez sentar no cobertor negro e encostar nos travesseiros vermelhos, dando-me para experimentar várias frutas exóticas – outras a qual nem estavam ali, mas nem perguntei.

Havia uma lua no céu sim, mas não a costumeira Selene ou Hécate ou Ártemis. Está era incrivelmente azulada, enorme, gigante – uma Lua Azul (já devem ter ouvido falar), que acontece de 19 a 19 anos, duas vezes por ano. Não havia estrelas.

Eu não entendia o que acontecia ali, mas provavelmente era algo muito bom. Die planejava algo.

- Mas... Tânatos...

Ele pôs seu dedo indicador sobre meus lábios.

- Shiiiii! - sussurrou. - Eu te trouxe aqui só por uma razão. Eu fiquei pensando muito sobre a guerra e tudo mais. Tenho medo de te perder, pela primeira vez não quero levar uma alma para o submundo. Nyx poderia muito bem te ressuscitar, já fez isso uma vez, mas você não gostaria de voltar. A alma cansa a cada ressuscitação. O mesmo também houve com sua irmã, ela não quis voltar.

- Minha irmã?

- Três vezes. Sua alma já estava apagada, então decidiu morrer mesmo. Mas não quero falar sobre ela, é sobre você. - suspirou. - Eu pensei bastante, pedi opinião de outros e decidi: quero que fique comigo.

Meu coração deu um solavanco.

- Mas vamos nos casar, não é? - perguntei, sorrindo.

- Sim, mas a guerra dessa proporção pode matá-la e não posso dar-me ao luxo de confiar só no destino. Se eu poder ajudar você a pelo menos lutar sem morrer nos primeiros trinta minutos está mais do que ótimo. Nyx me deu isso – Die tirou algo do bolso da calça.

Era um frasco pontudo, no formato de uma estalactite de gelo, e dentro havia um líquido rosa choque. Parecia gelatinoso, cremoso, cintilava.

Peguei-o.

- O que é isso?

- O segredo da imortalidade, querida. - respondeu carinhosamente. - Quero que se torne minha deusa, Dafni.

- Como? Eu... posso?

- Eu pedi a Nyx e ela me concedeu. - disse, beijando a superfície da minha mão. - Então Dafni Pandora, aceita ser minha deusa e ficar comigo pelo resto de nossas vidas, quero dizer, sempre?

Milhares de sensações e sentimentos passaram por mim, uma explosão de elétrons ultra carregados. Confusão, indecisão, aceitação e paixão. Mãos me puxavam para vários lados, tentei ignorar as outras e segurar uma só. Algo borboletava no meu estômago.

Acariciei sua bochecha, ele tombou a cabeça para o lado. Desci minha mão para teu pescoço, nuca, seus cabelos, tentei arrancá-los pela raiz. Ele não sentia dor. Aproximei meus lábios de seu rosto, nos sentimos atraídos como imãs. Eu queria me conectar a ele, quase como um cabo USB. Rocei levemente em sua bochecha, contornei seu rosto e sussurrei em seu ouvido:

- Eu te amo, Tânatos. Me transformaria em qualquer coisa para ficar com você.

Então fui tomada, bebida, derretida e aproveitada.

As mãos dele era um pouco ásperas, mas era isso que fazia toda a diferença – eram fortes e sabiam exatamente o que queriam. Como duas penas se tocando, lábios se encontraram. Era uma sensação que eu nunca iria esquecer.

Ele não cheirava a terra molhada, muito menos a cinzas, mas a.. tronco de árvore úmido e guaraná. Estranho né? Mas era esse cheiro que eu mais gostava no mundo.

Assim Tânatos me deitou no cobertor, abriu o frasco da poção e começou a desenhar palavras em grego em meu corpo. Primeiro no meu braço direito em linha reta, foi indo em direção ao meu peito – colo, fez o mesmo com o braço esquerdo, depois recomeçou em minha testa e foi descendo. Ao atingir o ponto onde a camisola cobria, olhou em meus olhos.

Tocou o pano de renda, fitando-me.

- Posso?

Assenti.

Logo que concordei, ele rasgou lentamente o tecido até um pouco abaixo do meu umbigo, mas deixando ainda meus seios cobertos. Sujou novamente seus dedos na poção rosa choque e continuou a fazer o que estava fazendo, só que dessa vez mais devagar.

Fiquei toda arrepiada. Será que o Cupido tinha feito o mesmo com Psiquê, quando foi torná-la uma deusa? Beccs havia mencionado rapidamente uma vez que o Cupido levou a amada mortal até Nyx, para a transformá-la em imortal, mas eu não conseguia imaginar minha mãe deusa primordial fazendo o mesmo que Tânatos fazia me mim agora.

Assim que terminou no meu umbigo, fez uma reta que ia em direção a lateral do quadril e desceu minha perna – fez o mesmo com a esquerda. Logo que terminou, ele pegou o líquido restante do frasco e derramou na minha boca.

Em seguida, beijou-me.

Nós demoramos ali. Tânatos me envolveu em seus braços, sua pele era fria. Minhas mãos estavam nas suas costas, senti algo no interior de seu corpo.

- Vou te mostrar uma coisa. - sussurrou contra meus lábios.

Meus dedos foram empurrados por algo que saia de sua costa, bem nos dois leves declines – duas retas paralelas perto da espinha. Algo aveludado, macio, tão negro como o vazio a nossa volta, se alargou... se libertou e ergueu-nos do chão.

Asas, asas negras.

- Todos os filhos de Nyx ter asas, embora muitos não os utilizam ou não mostram. - explicou. - Liberte as suas.

Logo que o disse, despencamos do céu em direção ao vácuo. A ilha foi ficando longe, sumindo.

Assim fomos nos consumindo em beijos e declarações, derretendo-nos um no outro. Eu estava leve, desperta, forte, feliz, incrível! Nisso senti alguma coisa se desenrolar no meio da minha espinha, se libertando e batendo suave.

Maravilhada, fitei-as.

Duas asas azul turquesa escuro saindo de minhas costas, afiadas, lisas como seda, macias. Eram grandes e longas, o dobro de mim.

Nossas asas se entrelaçaram, reconhecidas, como de tivessem se cumprimentando. Não havia frestas, nada por entre as penas. Nos envolveu, dando-nos uma privacidade tão privada que nem a luz da Lua Azul poderia ultrapassar. Então a utopia estava ali, conosco – eu havia a descoberto.

Nisso, vi meu eu divino.

E eu realmente concordava com Rick/Percy Jackson, que: Quando os deuses revelavam sua aparência divina, a poder era tanto que poderia desintegraria um mortal.