Era um salão relativamente grande, lá dentro da Casa Grande. Branco, cheio de gente... bem, centauros, umas duas pessoas estranhas – que me eram bem familiares, até o Conselho dos Cascos Fedidos estavam lá. O Sr. D. não estava lá, na verdade eu nunca o tinha visto desde que cheguei aqui pela primeira vez.

Havia uma mesa de madeira enorme, onde todos sentavam a sua volta.

- Pandora, sente-se. - disse Quíron.

Polemos sorriu, sentado ao seu lado.

- Sinto muito, mas nada ocorreu como planejado. O Deuses anunciaram o que havia acontecido, mas as outras mitologias não aceitaram. Segundo Dionísio, que está mandando informações de lá para nós, ninguém quer mais se envolver nessa guerra. Acham que, se não lutarem, há uma chance para uma humanidade... e realmente há, mas a probabilidade é muito baixa. Eles sabem disso, tanto que estão dispostos a criar um novo tipo de humano caso tudo dê errado. Um insulto a todos, em minha opinião. Tanto aos deuses quanto aos mortais. Com isso, estamos sozinhos. Mas melhorou um pouco para nosso lado, uma boa parte das criaturas inferiores também desistiram.

- Suponho que ainda participariam se realmente fosse uma guerra mundial de todos os deuses contra todos os monstros, para definir afinal que seria o Senhor do Mundo.

- Também acredito nisso. - disse um sátiro velho, de chifres enormes e escurecidos.

- Mas ainda estamos em uma guerra. Os monstros sumerianos, arcadianos, japoneses e gregos não querem dar o braço a torcer. São muitos para pouco deuses e heróis, mas vamos conseguir! - gritou Quíron, batendo o punho na superfície da mesa. - Os deuses estão fazendo suas próprias estratégias, e nós temos de fazer o nosso. Convoquei-os aqui para definir nossa estratégia para ganhar.

Levantei a mão, como se estivesse na primeira série.

- Éh, posso falar? - levantei. - Onde vai ser o local do confronto?

- Infelizmente os arcadianos e japoneses vão atacar Moscou, no centro, onde há uma residência escondida da sua mãe.

- Escondida?

- Só aparece a cada sete luas cheias e amanhã é a sétima. - esclareceu Polemos.

- E o outro?

- O outro... - Quíron, de pé, uniu as sobrancelhas. - Bem... os gregos no centro de Nova York, 7 Avenida. E os sumerianos aqui, no acampamento.

Os sátiros do conselho começaram a murmurar.

- São muitos pontos de ataque! Não temos como defender todos eles! - disse outro sátiro, de cascos esbranquiçados.

- Sabemos, mas temos de tentar! Hades... - tossiu. - O Senhor do Mundo Inferior pensou em colocar almas e criaturas infernais para lutar também, mas é um risco. Estes são normalmente traidores, não sabemos se vão contribuir a favor da gente na guerra.

- Então, como vai ser? - neste momento eu queria que Nyx estivesse aqui para me apoiar. Me senti tão sozinha naquele momento! Então pedi a benção de Atena, para que fizéssemos uma estratégia eficiente.

- Os heróis romanos e sumerianos decidiram nos ajudar, com tanto que pudessem trabalhar juntos. Eles vão ficar com a Rússia.

- E nós com Nova York e o Acampamento. - disse Polemos. - Quíron disse que cuidarei da segurança daqui, farei as estratégias com os filhos de Ares e Atena. Por tanto, com licença. - ele bagunçou meu cabelo ao passar por mim e fechou a porta num estalido. Parecia com pressa.

Sentei na cadeira, catatônica.

- Muito bem. Vamos começar. - murmurei.

Ficamos horas discutindo as táticas de ataque e defesa, com semideuses e outras criaturas que estavam ao nosso lado – tanto ninfas, dríades, sátiros, animais mitológicos, entre outros. Eu praticamente teria de fazer um portal enorme para levar todo nosso “exército” para a 7 Avenida. A maioria dos deuses iam lutar em Nova York e na Rússia.

Estava tudo tão complicado!

As duas criaturas que estavam no fim da mesa, ao lado de Quíron, estranhas e ao mesmo tempo familiares, só assentiam. Dá onde eu tinha visto aquelas duas figuras?

No fim da reunião cheguei perto de Quíron e perguntei:

- Quem são eles? - apontei.

As criaturas se aproximaram e tiraram suas capas.

Um deles era uma mulher – provavelmente uma deusa, radiante e de um sorriso exuberante. Seu cabelo castanho claro caia em cascatas pelo teu ombro esquerdo, seus olhos eram azuis como o amanhecer, pele branca como as nuvens, boca rosada e postura ereta. Ela vestia um traje evidentemente grego, transparecia que a eternidade, o peso de anos e anos, estava costurado no seu tecido.

A outra também era uma deusa, mas era tão sombria que tenho moderação ao descrevê-la. Sua pele tinha um estranho tom moreno opaco, cabelo cacheado até os ombros, cheios, olhos totalmente negros (me lembrou vagamente Tânatos), boca pintada com batom vermelho sangue e unhas de 10cm. E... esqueci de dizer, seu corpo parecia dividido no meio verticalmente – na sua parte esquerda não havia pele, músculo, carne, aparecia somente seu esqueleto humano.

A deusa radiante sorriu, e cumprimentou-me:

- Oi, irmã.

Dei um sorriso torto, confusa.

- Irmã?

- Não sabe quem sou eu? Por quê então existe aquelas estatuas no seu chalé?

Então percebi.

- Hemera, personificação do Dia! - abracei-a e quando virei para abraçar a outra deusa... me detive. Ela sorriu, maliciosamente sombria. Seus dentes eram pontudos.

- Saudações, Pandora.

- Eu... você... Ênio?

- Sim. A carnificina em pessoa.

- Ah, tá.

Silêncio constrangedor.

- Elas vieram para cuidar de certos interesses. - disse Quíron, afinal. - Vamos precisar que o dia demore mais para terminar, isso nos ajudaria muito. Os monstros normalmente não gostam de sol.

- Uhum. Estou representando Apolo também.

- Mas... Hemera... isso é permitido?

- É. Vai desequilibrar o mundo um pouco, mas é um preço que a humanidade vai ter que pagar para continuarem vivos.

- E você, Ênio?

- Sou ótima em guerra! - olhei feio para ela, embora eu soubesse que era impossível intimidar uma deusa como ela. - Não posso dizer que não gosto. Sou a favor de sangue derramado, mas não sou hipócrita.

Éh... estranho.

Alguém bateu na porta.

Era a filha de Apolo, Grecta.

- Bem, desculpe, mas preciso pegar Pandora emprestado. A aula de arco e flecha tem de começar quanto antes, já que a guerra começa amanhã.

- Ah, sim. Vá, Pandora. - disse Quíron, batendo levemente nas minhas costas. - Grecta, cuide bem dela.

- Sim, senhor.

Antes de sair pude ver Hemera sumindo numa pequena explosão inofensiva de luz e Ênio evaporando, sumindo por último seus olhos negros de predadora.

Então... tá né?