Apenas Um Sonho

Que documentos são esses?


Chegamos à escola e fomos recebidos pelo diretor falando que, como o dia estava nevado, não haveria aula. Portanto os alunos teriam que esperar o próximo ônibus para irem embora.

Revirei os olhos e franzi o cenho para Sthefanni que fez o mesmo. Sentamo-nos num banco e Gerald veio até nós.

Como eu não queria cortar o clima que estava reinando entre os dois, saí falando que ia ao banheiro, mas na verdade alojei-me num outro canto da escola. Peguei meu celular e entrei numa das redes sociais que fiz.

Fiquei rodando entre as várias fotos, status e vídeos que meus amigos compartilharam. Olhei para o lado e vi que não havia ninguém por perto... Aproveitei então para entrar no perfil de Finn. Naquele instante meu coração passou a bater mais rápido e a minha boca secou. Engoli o bolo de saliva e desci a página.

Minha mão congelou. Vi uma foto que me deixou profundamente triste. O garoto era o Finn, mas para a minha infelicidade, ao seu lado, aparecia uma garota com um sorriso de dar inveja. Mary estava no lugar que me pertencia.

Ao observar as informações, notei uma nota dizendo que eles estavam em um relacionamento sério. Não acreditei. Num dia ele fala comigo me dando esperança, no outro ele já está namorando aquela bruaca?

Fechei a página e contive as lágrimas nos olhos. Minha história com Finn iria mudar. Agora que ele estava namorando, nunca é que ele iria olhar para mim ou ia querer me beijar.


P.O.V Finn

Mary me pediu em namoro e eu aceitei. Ela chegou dizendo que me amava e que para ela eu era o seu mundo e que não poderia viver se não ficasse comigo e coisas assim. Foi aí que eu, estimulado pela atração e sentindo piedade, não consegui dizer não. Agora? Agora estávamos namorando. E eu? Eu estava completamente arrependido.


É certo que eu sou um verdadeiro idiota por ter aceitado algo que eu não queria, mas quem nunca cometeu esse erro? Quem nunca fez algo que saberia que iria dar errado? Bem, o jeito é seguir com as escolhas, mesmo que...

Mesmo que talvez houvesse um jeito para ela terminar comigo. Traí-la talvez seja a escolha certa. É mais fácil fazer isso do que admitir o meu próprio erro.

Bem, tomei um banho para refrescar a cabeça e vi alguns filmes, depois as minhas sérias favoritas. Quem sabe isso não é apenas um sonho?


P.O.V Luna

Eu tinha que acabar logo com essa relação, só não sabia como. Talvez uma traição da parte dela fosse o suficiente. Ou quem sabe uma traição dele? Tinha que funcionar, ou não teria o grande amor da minha vida de volta.



Estava eu num lado qualquer na escola, quando ouvi algumas pessoas dizendo: “Briga! Briga! Briga!” sem parar por um instante.

Peguei meus materiais e saí correndo para ver o que estava acontecendo. Na metade do caminho, perdi-me em meio dos corredores, mas logo voltei ao rumo certo e vi uma grande roda se formando. Uma estranha força dizia-me no interior do cérebro para eu simplesmente ir lá e agir.


P.O.V Gerald

–Escutou garoto? Ela é minha namorada! – assustei-me com tanta brutalidade no tom de voz de Wellington.



Assustei-me também com a grande roda que se formava ao meu redor. As pessoas não paravam de dizer: “Briga! Briga! Briga!”. Atitudes inúteis de pessoas como aquelas não me atingiam.

Olhei para Sthefanni que estava acabada em lágrimas e dei de ombros, mas na verdade eu estava destruído.

Meus sentimentos borbulhavam no grande caldeirão que chamamos de coração formando uma mistura de ódio, desamparo e arrependimento.

Alguns riam da minha cara, outros me olhavam com olhos impuros e desafiadores. Outros continuavam em coral: “Briga! Briga! Briga”. Wellington veio para cima, e bem, não fiquei parado. Damos chuvas de socos e tapas e todos apoiando mais ainda. Nós não desistimos e continuam naquela luta livre por mais alguns segundos, até que Luna desfez a grande roda, pegou um pedaço de pau que estava no chão e começou a nos separar.

Acho que aquele foi um dos piores momentos da minha vida. Nunca havia acontecido algo daquele tipo na minha vida. O olhar de Wellington era feroz. Era de um tigre defendendo sua refeição. O de Luna era destemido. O de Sthefanni era frágil.

—O que é isso? Vocês todos saiam daqui! Não estão vendo que isso é sério? – Luna deu um forte grito e começou a bater com aquele cassetete improvisado nas pessoas que faziam tumulto. – E vocês o que está acontecendo aqui? Confusão em plena escola – cutucou-nos com o bastão e eu dei uma leve risada. – O que aconteceu Sthefanni? – perguntou. A ruiva virou a cabeça para o lado e respondeu gaguejando.

—É... Bem... Gerald já estava para me beijar e Wellington... E eu... Estamos... Namorando...

—O quê? – interrompeu Luna – Vocês estão namorando e não me falaram? Achei que éramos melhores amigas.

—Nós... Somos – Sthefanni voltou o rosto para nós e uma lágrima enfeitou seu rosto. E ver aquilo doeu muito em mim.

Peguei meus materiais e saí limpando o rosto, não queria que ninguém visse que estava chorando. De início, a confusão foi tremenda, mas depois foi se espalhando em fofocas e mais fofocas ao redor dos vários corredores da escola. Eu apenas ignorei, pois acho que isso não faz diferença. A opinião dos outros, pouco me importava. Eu só queria Sthefanni para mim. Mas não consegui... Fui fraco quando devia ser forte. Na verdade... Eu só queria silêncio.


P.O.V Sthefanni

Não sei mais o que fazer. Gerald é tão parecido comigo. Seus cabelos loiros contrastam com meus olhos de tal maneira que só Finn já foi um dia. Mas Wellington parece tão carinhoso e tão fofo de tal maneira que só o Finn também já foi um dia.



Wellington abraçou-me no meio de tanta confusão e senti-me querida. Gerald olhou-me com olhos enfeitiçados e virou-me as costas e não sei descrever o quanto isso doeu.

Acho que vou dar uma folga dos amigos, da vida. Já estou cansada de agradar todo mundo, sendo que nem eu me agrado. Agora, eu vou pensar em mim mesma, vou mudar minhas escolhas de maneira que isso só me favoreça. É melhor assim.


P.O.V Luna

Saí do local juntamente com Gerald que estava com um olhar raivoso, estranho. Dei-lhe o prazer de ficar calado, pois pelo pouco que o conheço, já notei que não gosta de se abrir com as pessoas.


Olhei para trás e vi Sthefanni e Wellington abraçados. Uma lágrima escorria pelos olhos da ruiva que saiu correndo logo em seguida.

Sentei-me ao lado de Gerald e fiquei lá até o ônibus passar. Mas, nenhuma palavra foi dita até chegarmos a casa dele, onde conversamos sobre o assunto:

— Então Luna, obrigado por vir comigo até aqui, e acho que você já deduziu o que aconteceu na escola... Não é? – perguntou-me, fitando seus olhos ao pequeno monte de grama que nascia no local.

— Sim... Suponho que sim. E vai ficar tudo bem conosco, você vai ver. Acredite em mim, tudo vai mudar. – ele abriu um dos seus lindos sorrisos e saiu do ônibus acenando e dizendo “Até mais”.

Segui para minha casa, onde não demorei cinco minutos para chegar. A primeira coisa que fiz foi ligar para Sthefanni:

— Alô, Sthefanni?

— Sim, sou eu Luna. – respondeu-me e pude ouvir que estava chorando.

— Agora você pode me falar o que houve hoje na escola? – perguntei.

— Claro, mas outra hora. A única coisa que eu posso falar agora para você é... – suspiro – que Gerald falou que estava interessado em mim e Wellington não gostou, o empurrou e começou a confusão. – outro suspiro no final.

— Eu entendo. Mas e você e o Wellington? Você não me falou que estavam namorando.

— Ele me pediu em namoro ontem, depois de conversamos por bastante tempo no telefone. Eu achei que não teria problema nenhum, e que não ia causar nada com ninguém, e eu ia te contar hoje. – respondeu-me e ouvi sua mãe lhe chamar para tomar o remédio. – Vou ter que desligar Luna, e por favor, eu preciso de um tempo. Não um tempo só de você, ou só do Gerald. É que eu já estou com esses problemas de saúde e eu também quero pensar e repensar se minha atitude correta foi ficar com Wellington. E quando eu estiver pronta eu te ligo novamente. Vou passar alguns dias de folga, não vou fazer nada. Vou falar que estou com dor na medula, mesmo não sabendo se isso existe e vai ficar tudo bem. Posso confiar em você?

— Pode... Vai ser difícil ficar como a Luna de antes, mas vou fazer o mesmo que você. Vou dar um tempo dos amigos, porém não vou poder faltar à aula como você. – soltei uma leve risadinha – tchau! Até mais. – e desliguei.

Peguei uma maçã e deitei-me na minha cama, por onde fiquei pensando por tempos em tempos até adormecer – como a bela adormecida – e só acordei no outro dia de madrugada, pois estava morrendo de fome.


*’*

Vários dias depois...


Estava só. Sem Sthefanni, sem Gerald e sem Will. A garota antissocial e excêntrica está de volta. Em meio aos meus pensamentos, o meu telefone tocou e quando eu vi era o Gerald:

— Oi Gerald, tudo bem? – Era engraçado receber uma ligação dele, já que ele nunca me ligava.

— Oi Luna e respondendo à sua pergunta, não, não está tudo bem. – Sua voz era preocupada.

— O que aconteceu? – Perguntei como toda garota curiosa.

— Meus pais querem se mudar. Estão cansados da zona rural e acham que eu posso ter um futuro mais grandioso se a gente for para cidade. – Sua voz estava apreensiva, eu sabia muito bem o motivo.

– Certo, então... Espera-me aí que daqui a uns vinte minutos eu chego aí. – Droga, eu teria que me arrumar muito rápido, o ônibus ia passar em vinte minutos.


— Ta bom Luna, eu te espero.


Sabia que ele estava extremamente abalado pela Sthefanni até hoje. O pior não seria a mudança de Gerald para todos. No entanto, para mim, ele era o meu melhor amigo, o único que eu tinha. Arrumei-me em cinco minutos e fui direto para o ponto. Não demorou trinta segundos e o ônibus passou.

Quando o enferrujado começou a entrar no bairro de Gerald (que ficava bem no final da zona rural), começaram a surgir palacetes e mansões. Já havia estado ali, mas eu nunca havia reparado.

Desci do ônibus e caminhei até a casa. Ao chegar, o mordomo que eu já havia conhecido fez-me entrar e sentar no sofá. Enquanto eu estava ali sentada sem fazer nada comecei a reparar na mansão. Havia guardas e empregadas por todos os lados. Os tapetes eram turcos, com enormes estampas rústicas. O teto era coberto de gesso e a pintura era dourada. Talvez fosse ouro mesmo.

Tudo aquilo me fez imaginar o porquê que os pais de Gerald queriam se mudar.

Escutei alguns passos e o mordomo de Geral se postou na minha frente, me olhou dos pés a cabeça, e disse gentilmente:

— O senhor Gerald pede desculpas, ele está um pouco ocupado, aguarde só mais um pouco.

— Não tem problema, eu o espero. – Disse normalmente.

— A senhorita deseja algo para comer ou beber?

— Não, obrigada. – Disse envergonhada.

— Não fique envergonhada, pode pedir o que quiser. – Disse, parecia querer que eu fizesse algo, olhava-me como se eu fosse alguém diferente dele, talvez porque meus modos não eram os melhores.

Escutei um barulho, era o meu estômago. Só então me lembrei que não havia comido nada.

— Bem, nesse caso eu vou aceitar. – Disse sorrindo.

— Siga-me, por favor. – Disse o mordomo pronto para me guiar.

A mansão de Gerald parecia um labirinto. Pelo o que eu pude perceber, havia ao menos quinze quartos. Quando cheguei à copa, o mordomo abriu uma grande porta e falou que poderia pegar o que eu quiser, e quando Gerald saísse do banho ele me chamaria. Olhei entre o quarto e vi uma bandeja de salgadinhos dentro de um forno. Havia também um frigobar com refrigerantes, sucos e alguns docinhos variados.

Escutei a grande porta se fechar, mas não me preocupei. Pensei que é algo que os ricos fazem quando os outros estão se alimentando.

Depois de tanto comer, decidi voltar à sala principal, mas quando fui abrir a porta, não consegui. Então conclui que havia algum tipo de técnica que eu não consegui decifrar, ou o mordomo havia me trancado aqui. Olhei a fechadura e vi que a porta realmente estava trancada.

Aquilo mais parecia à historinha infantil de Hansel e Gretel, mas como uma reprodução de cinema, onde tudo virava terror e a personagem principal era devorada pela bruxa má. Decidi gritar e bater na porta. Só então percebi que havia silenciadores e amortecedores de impacto. Cansada e sem saber o que fazer eu me sentei.

De repente me bateu uma sede incontrolável, bebi a jarra de suco e me controlei para não beber a garrafa de refrigerante. Um pouco preocupada me dirigi ao frigobar e encontrei treze garrafas de água.

Eu poderia tirar notas baixas no trimestre, mas não era burra. Decidi economizar a água, pelo caso de ficar presa aqui por muito tempo. Acabei me cansando e me deitei em meio de todos os pacotes de salgadinhos de presunto que havia descoberto dentro de uma portinha secreta que aquela sala tinha.


P.O.V Finn

Depois de incansáveis pensamentos, decidi quem será a garota que irei beijar para terminar com Mary. Agora, só está faltando algumas decisões e confirmações para que tudo ocorra perfeitamente bem.



Deitei cuidadosamente minha cabeça no travesseiro e comecei a pensar no modo que iria beijar a garota. Se eu pedir, é claro que ela não vai aceitar. Então, o único modo restante é o beijo roubado, o que não dificulta em nada para mim.

Ouvi a campainha tocar e desci para abrir a porta. Logo, recebi beijos e abraços de Mary. Esse é o maior defeito das mulheres: elas não se valorizam. Quem tem que beijá-la sou eu e não o contrário. Mais um motivo para eu não ter começado a namorá-la.

— Como foi seu dia bebê? – Me perguntou depois de me encher de beijos. “Bebê” era o apelido carinhoso que ela me dera e que eu não suportava.

— Normal. – Respondi da forma mais informal que pude.

— E o que você fez? – Sua voz já estava irritando os meus ouvidos.

— Nada de importante. Fiquei jogando videogame e assistindo TV. – Respondi.

— Você e os seus videogames! Esquece até da namorada. – Disse, me puxando para ela.

Virei o olhar e não dei importância para aquela frase, afinal, o que eu mais queria era que ela me esquecesse. Ela passou o resto da noite me fazendo essas perguntas. Já estava de saco cheio.


P.O.V Sthefanni

O dia estava muito estranho. As nuvens não cederam lugar ao sol nem por um segundo sequer. Era somente aquele tempo cinzento que doía nos meus olhos.



Lembrei-me que há alguns dias não falava com Luna. Talvez, ela não esteja nem se lembrando de mim, mas eu estava morrendo de saudades.

Decidi ligar para ela e desabafar. Pensei que só ela me entenderia. Porém, não consegui falar com ela por nada. Talvez porque ela estivesse no ônibus em algum trecho da cidade que o sinal é péssimo, ou apenas desligou o celular para ter sossego.

Dominada pelo tédio, fui jogar alguns games para me distrair. O problema é que eu não sou boa em games, e muito menos gostava de jogar, mas na situação a única coisa que me restou foi isso.


P.O.V Luna

Estava deitada nessa pilha de salgadinhos já há algum tempo. Acho que ninguém se lembrou de mim, mas talvez seja apenas minha mente me lembrando de fases ruins da vida. Já passaram por aqui várias pessoas, que identifiquei pelos passos e vozes. Pensei na possibilidade de que até Gerald já poderia ter passado por aqui.



O pior é que não consigo ligar nem mandar mensagens de texto para ninguém, pois aqui não pega sinal.

Como não podia fazer mais nada, fechei os olhos calmamente, e vieram turbilhões de pensamentos e imagens.

Primeiro eu vi um homem olhando para mim com olhos que refletiam piedade e carinho. Senti que aquele homem outrora me carregara e me enchera de carinho com suas grandes mãos. Logo depois eu vi o mesmo homem com uma faca na mão. Ele parecia desesperado e estava gritando que ia se suicidar. Tudo acabou tão rápido quando havia começado, no entanto os olhos cor de mel daquele homem haviam me encantado de uma maneira que eu não conseguia descrever. Depois de tudo, havia aquela faca na mão dele e ele dizendo que ia se suicidar. Fiquei preocupada e não consegui entender aquele pensamento ou memória ou qualquer coisa que possa ter sido.

Abri novamente os olhos e fiquei preocupada com aquela visão. Tentei fazer interpretações que poderiam me levar a diversas conclusões, entretanto todas eram ruins. Será que eu iria morrer naquela sala?

Virei à posição, pois meu braço já estava doendo há tempos e peguei no sono.


P.O.V Gerald

Luna marcou de vir até aqui e até agora nem sinal dela. Será que ela esqueceu? Ou será que desistiu? Decidi ligar para seu celular, mas só dava fora da área ou desligado. Será que alguma coisa aconteceu? Comecei a andar para achar alguma solução. Meus passos involuntariamente formavam círculos e minhas mãos tremiam. Sempre tive problemas quando passo por algum stress ou preocupação.



Para me distrair, decidi passar a tarde me acabando em games e jogos de raciocínio. Na verdade, eu prefiro passar uma boa tarde ensolarada na varanda brincando com meus animais do que ficar em casa jogando. Porém, o céu não se alegrou por um instante sequer.

Completando minha situação, peguei todos os salgadinhos de presunto que achei na cozinha e levei para sala. Entupi-me deles e tive uma grande dor de barriga.

Peguei um dos remédios de alívio a dor que ficam na prateleira da minha mãe e tomei-o. Deitei-me novamente na sala e peguei no sono.

Meu sonho foi um pouco esquisito. Vi um homem que tenho a impressão de conhecer com outra garota, que também tenho a impressão de acontecer. Vi esse homem pegando uma faca e cortando seu próprio pescoço. A partir daí a cena que dominou meu inconsciente foi a minha, no espelho. Porém, o espelho não me refletia, e sim aquele homem. Acordei embalado pelas emoções e lembrei-me de Sthefanni. Senti a lágrima amarga escorrer sobre meu rosto e tentei ficar forte. Mas não consegui, e senti meu corpo quebrar-se em mil pedaços.

Engoli o choro e escrevi tudo o que senti em papéis velhos da estante. Estavam ali há tempos.

Desenhei meu amor da forma mais angelical e linda possível. Não precisei fazer muito esforço para isso, afinal, Sthefanni é como um anjo para mim. Um anjo que abre as asas e voa sobre a minha visão, enfeitiçando-me e acabando com tudo o que chamo de orgulho.

Desfiz todos os desenhos, fazendo rabiscos em cima. Amassei-os e fui jogá-los na despensa, pois lá ninguém vai inspecionar ou tentar decifrar.


P.O.V Luna

Estava trancada naquela espécie de porão há cinco horas. Será que a alguém tinha se preocupado comigo. Sthefanni e Gerald, talvez. Minha mãe nem está se lembrando de mim numa hora como essas. Para ela só existem os dois gêmeos. Isso me irritava. Rowley estava preocupado com o aborto de seu filho e Finn nem pensava em pensar em mim.



O tédio era tremendo e a vontade de sair daquela sala com apenas uma luz amarela e fraca que piscava a todo instante era maior ainda. Foi quando pensei que pessoas de alto nível como eles, não aceitariam ficar num quarto assim trancado, e pessoas assim sempre são prevenidas, então comecei a procurar chaves por todo o cômodo

Mas a única coisa ali eram a pilha de salgadinhos e o frigobar, ou seja, eles só esconderiam ali. Rapidamente joguei os salgadinhos para o lado e com muito esforço empurrei a geladeira, que estava vazia, pois retirei todas as garrafas.

Depois de retirar todo o restante de sacolas, vi um piso sujo e encardido, como no restante da sala, e também uma pequena rachadura. Comecei a “escavar” com minhas unhas, e consegui retirar finalmente o tal piso.

Só vi vários envelopes e pastas e comecei a abrir. De início, vi as certidões de Gerald, a documentação da casa, a carteira de motorista da Sra.Hunni, mão de Gerald, –todos são cópias – e uma pasta, cuja estava escrito em caneta azul: NÃO ABRA!

Não consigo entender essas pessoas. Não abra? Está na cara que é algo importante. Não resisti e peguei todos os documentos contidos ali. Documentos pra cá, pra lá, e minha certidão de nascimento: Luna Parks. Assustei-me ao ver aquela certidão ali, afinal era a casa do Gerald. Junto com ela estavam a certidão do Rowley, e duas identidades com a mesma foto: George T. Parks e Thomas Hunni.

Não consegui pensar e raciocinar, porque os passos no corredor estavam ficando cada vez mais intensos, assim como as vozes. Guardei toda a papelada dentro da roupa e coloquei todos os salgadinhos que consegui de volta no lugar.

O barulho persistiu, e parou por alguns segundos, o que me deixou ainda mais nervosa. Meu coração vacilou por um segundo.