Apenas Um Sonho

Nem tudo são flores... ou são flores com espinhos


P.O.V Luna

Tive que virar o rosto para tentar me livrar do paradoxo que estava, afinal não é bom ver a melhor amiga beijando o seu amor.

— Sua casa é aqui Srta. Luna? – perguntou-me o motorista já quase encostando o carro em frente á minha porta.

— Não. É na próxima casa, mas espere. Vou gravar os dois jovens ali se beijando para um trabalho escolar. – respondi pegando o celular e o carro parou ao lado de uma árvore.

Coloquei no modo gravação e virei o rosto novamente. Preciso de coragem para conseguir pregar os olhos na tela do celular, mas isso só vou conseguir depois de pensar e me acalmar...

Alguns segundos se passaram e Finn largou Sthefanni e saiu correndo. Ela ficou ali, parada e olhou para minha casa. Fez que ia bater, mas não conseguiu. Esperei ela ir embora e falei para o motorista que ali já estava ótimo porque eu ainda iria pegar algumas maçãs na árvore ao lado. Esperei ele sair também e entrei em casa.

No dia seguinte...

— Mãe, estou com muita dor de cabeça, por favor, deixe-me faltar à aula amanhã – falei agonizando e remexendo as pernas.

— Mas filha, eu vou sair amanhã então você vai ter que ir. Se não se sentir bem peça a professora para dar uma volta e tomar uma água. Talvez você melhore. – respondeu.

Droga, ter uma mãe ruim deveria ajudar nesse aspecto, mas só atrapalha. Pensei em outras formas de faltar, mas nenhuma era boa o bastante. Rendida por esses pensamentos decidi que o melhor era enfrentar cara a cara Sthefanni, porém não no ônibus e sim somente na escola, com mais calma e mais racionalidade nos atos. Peguei o enferrujado das cinco da manhã para esse plano dar certo. Fiquei acampando em frente á escola até a serviçal chegar. Ela foi gentil e disse que se eu não atrapalhasse podia entrar e me sentar nos bancos para fazer os deveres. Acontece que, Sthefanni teve o mesmo pensamento que eu e veio junto comigo. Tentei ficar o mais longe possível, mas a serviçal pediu para que ficássemos juntas, pois atrapalhava menos. Droga, ter uma melhor amiga e pensar as mesmas coisas que ela, não ajuda muito. Nessa altura, eu já tinha falado para ela que vi o beijo. Ficou chocada, mas não negou.

Ela tentou puxar alguns assuntos, como se puxa piolho de longos fios de cabelo. E eu, como os piolhos, fugi. Mas ela foi insistente e conseguiu tirar uma fala.

— Ainda vou te provar que eu não tenho nada a ver com o que aconteceu no dia, você vai ver. – ela falava olhando para o céu ainda escuro.

— Claro que vai. Quero uma gravação dele falando. Só assim. – afirmei apontando para o centro de suas visões – ta vendo aquele céu ainda escuro? – ela respondeu com a cabeça que sim – então... Quando ele escurecer mais cinco vezes eu já vou ter visto a gravação... Não é mesmo? – perguntei e ela gargalhou com meu raciocínio.

— Tudo bem, Luna. Em cinco dias no máximo eu vou ter essa gravação e você vai ver como eu estou falando a verdade.

Dei um leve sorriso e disse que os dias agora seriam diferentes. Muito diferentes. E que só seriam diferentes com a gravação. E foram diferentes os últimos quatro dias. Não peguei o mesmo ônibus que ela. Não falei mais com ela e nem a olhava. Gerald até me perguntou o porquê, mas respondi que “Deus quis assim”.

O quarto dia na escola já estava prestes a se acabar quando Sthefanni me prendeu na parede e olhou-me desesperadamente.

— Por que não pega mais o ônibus comigo? – perguntou-me e eu dei a face do silêncio – Por que não fala mais comigo? – continuei a dar-lha a face do silêncio – Por que não me olha mais? - virei o rosto.

As palavras doem sim. Elas doem até mais que facas cravadas nas suas costas. O fogo percorrendo seu corpo e o transformando em cinzas. Ou até mais que ficar presa numa sacola sem buracos, sem ar.

— Responda!- falei apertando meu braço.

–Você sabe o porquê de tudo isso. - respondi em um tom de voz respeitável, mantendo minha seriedade.

— Isso até agora Luna? Eu vou te provar. Mas, não me ignore. Preciso de mais cinco “escurecer” do dia. – falou gargalhando.

— Só mais dois. E nada mais. - respondi e ela fez com a cabeça que sim.

Franzi o cenho, suspirei e saí sem dizer nada. Nenhuma palavra a mais seria dita sem antes da prova de que ela não fez nada. É o código das garotas apaixonadas e suas melhores amigas.

P.O.V Sthefanni

Finn me beijou quando iria chamar Luna para umas compras na cidade. E o pior é que ela viu e gravou tudo. Os grandes problemas que eu tenho com isso são: Primeiro, por que Finn me beijou se não tenho mais nada com ele? Segundo, como irei falar isso pro meu namorado? Terceiro, e Gerald quando ficar sabendo, como irá ficar? E Quarto, eu beijei o garoto que minha melhor amiga gosta, agora ela está me evitando com razão.

Decidi não ficar parada no ponto e fui atrás de Finn no recreio.

— Parem essa palhaçada aqui – falei pegando a bola de futebol e chamando Finn – e você pode vir até aqui agora? É sobre o trabalho. Não seja irresponsável. – na verdade, não tinha trabalho nenhum com ele, mas ele entendeu e veio conversar comigo.

Procurei o lugar mais deserto da escola para que ninguém visse a grande violência que iria acontecer naquele momento. Dei tapas na cara de Finn, seguidos de socos e chutes. Ele tentou se defender mas não conseguiu muita coisa.

— Porque isso Tetê? – perguntou.

— Tetê? Você ainda me chama de Tetê? Enxerga-se! Você me deu um beijo forçado e não sabe por que to te batendo e ainda me chama de Tetê? Eu não te pertenço mais. Você vai gravar um vídeo agora dizendo que o motivo do beijo! Agora!

— Mas por quê? Eu quero me separar da Mary é só isso! – falou tentando sair mas eu o puxei pelo braço.

— Ah meu querido... Esqueceu-se que eu estou namorando? – respondi gritando a última parte.

— Você... O que? – perguntou parecendo confuso.

— Estou namorando! Algum problema nisso? Se tiver falar agora!

— Não! Nenhum. Pode deixar que eu vou gravar e depois te mando. – falou e eu fiz que sim com a cabeça.

— Não demore! Você tem dois dias.

Saí e fui procurar Luna, que estava sentada sozinha num banco da escola, o que passei o meu primeiro recreio com ela.

— Eu falei com Finn.- sussurrei e ela se levantou.

— Você... Fez o que? – perguntou-me preocupada.

— Falei com Finn. – respondi.

— Você não poderia ter feito isso! Agora ele vai saber que eu o amo e... Meu Deus minha vida ta destruída!

Deu uma leve risada e prossegui:

— Eu não disse nada de você. Eu só falei para ele gravar um vídeo em dois dias dizendo por que você me beijou porque eu vou mostrar pro Wellington.

Ela suspirou e deu um leve sorriso.

— Que bom que ele vai fazer então essa gravação! Assim poderei ter plena certeza de que ele realmente está falando a verdade e você também! Mas você já sabe... Dois dias! – falou olhando para o céu.

— Claro, eu estou lembrada disso. Em dois dias no máximo eu vou ter essa gravação... E também gostaria de pedir uma coisa – falei e ela fez com a cabeça que “sim” – Não conte isso para Wellington ou Gerald, pois vai magoá-los e eu não quero fazer isso com eles. Nenhum dos dois merece saber de algo assim. Sem contar que isso iria dar uma tremenda confusão... Não acha? — perguntei.

— Sim, é melhor ficar entre nós – respondeu.

P.O.V Luna

Estava esperando os resultados da gravação. Sthefanni já estava vindo falar comigo. Começou se desculpando:

— Desculpe, Luna. Mas ele não gravou hoje e disse que só vai gravar segunda ou terça, então dá mais um tempinho.

Pensei que não precisava ser tão dura a ponto de não esperar mais 3,4 dias, afinal não era culpa dela.

— Tudo bem. Mas só vou voltar ao normal com você, quando me mostrar essa gravação, e tiver essa gravação em mãos.

— Está bem, por enquanto ficamos assim.

O sinal bateu indicando o final da aula e eu e Sthefanni fomos juntas no mesmo ônibus. Ela sabia que eu não aguentaria ficar muito tempo assim com ela, ainda mais nesses dias que Finn está namorado Mary. Chegamos em sua casa e ela desceu do enferrujado. Logo depois desci também e entrei em casa. Lá encontrei um bilhete: “Luna, que pasta é aquela que está escrita não abra em cima da sua cama?”. Droga... Havia esquecido aquela pasta depois do beijo. Quando ela chegou, eu falei que a pasta era um trabalho que consistia em relatar o ataque de 11 de setembro num documento e colocar em uma pasta secreta. Eu tive a idéia de colocar “não abra”. Ela acreditou e disse “quase que li”. Rimos e eu fui ver essa tal pasta. Quando retirei alguns documentos a porta do meu quarto se abriu.

— Filha! Guarde isso já! Vamos, me ajude lá em baixo com o jantar, estou um pouco doente.

Guardei e desci. Ela na verdade não tinha doença nenhuma, só não queria fazer o jantar, estava com preguiça. Era uma sexta-feira e eu estava sem compromisso, assim como o sábado e domingo. Talvez por esse motivo o final de semana passou tão rápido quanto um trecho de música da Beyonce, Rise Up.

Some people try to drag you down

Take care for me stand and be proud

You're a warrior, you're my warrior

Be who you are, be who you are

Know that life holds more than what you see

Rise up little man, rise, I will


(Algumas pessoas tentam arrastar você para baixo

Tome cuidado, por mim, fique de pé e tenha orgulho

Você é um guerreiro, você é o meu guerreiro

Seja quem você é, seja quem você é

Saiba que há mais na vida do que aquilo que você vê

Levante-se, pequeno homem; levante, eu irei)

Fight for you and me

Look into my eyes and believe

Little one we will fight, we will fight

Little woman, we will fight, we will rise

I see you and me

Take my hand and we

We will stand, we will fight, we will fight

We will stand and together we will rise


(Lutar por você e por mim

Olhe em meus olhos e acredite

Pequenino, nós vamos lutar, vamos lutar

Pequena mulher, vamos lutar, vamos subir

Vejo a você e a mim

Segure a minha mão e nós

Vamos ficar de pé, vamos lutar, vamos lutar

Vamos ficar de pé e vamos subir juntos)

They'll burn you at the stake if you

Don't act like they want you to

But baby be yourself

Be good and help the world

Be who you are, be who you are

Know that life holds more than what you see

Rise up little man, rise, I will

(Eles vão queimá-lo na fogueira se você

Não agir como eles querem

Mas, querido, seja você mesmo

Seja bom e ajude o mundo

Seja quem você é, seja quem você é

Saiba que há mais na vida do que aquilo que você vê

Levante-se, pequeno homem; levante, eu irei)

Fight for you and me

Look into my eyes and believe

Little one we will fight, we will fight

Little woman, we will fight, we will rise

I see you and me

Take my hand and we

We will stand, we will fight, we will fight

We will stand and together we will rise


(Lutar por você e por mim

Olhe em meus olhos e acredite

Pequenino, nós vamos lutar, vamos lutar

Pequena mulher, vamos lutar, vamos subir

Vejo a você e a mim

Segure a minha mão e nós

Vamos ficar de pé, vamos lutar, vamos lutar

Vamos ficar de pé e vamos subir juntos)

A segunda chegou e peguei o ônibus normal. Porém Sthefanni pegou o da cinco, e nós só nos encontramos na escola.

— E então? Já sabe alguma coisa da gravação? – perguntei.

— Ainda não... Vou perguntar hoje se ele gravou e se não tiver gravado eu mesmo gravo hoje. – respondeu e eu fiz sinal de positivo.

O sinal bateu e entramos na sala. Mary trocou o lugar e sentou-se ao lado de Finn, e ele pelo que parece não gostou nem um pouco. A primeira parte da aula foi tão rápido como um trecho ainda menor de Slow Down, Selena Gomez.

“Now that I have captured your attention
I want to steal you for a rhythm intervention
Mr. T say I’m ready for inspection
Show me how you make a first impression”

(Agora que eu capturei a sua atenção

Quero roubar você para uma intervenção rítmica

Sr. T, diga que estou pronta para a inspeção

Mostre-me como você dá uma primeira impressão)


“Oh, oh
Can we take it nice and slow, slow
Break it down and drop it low, low
Cause I just wanna party all night in the neon lights ’til you can’t let me go”

(Oh, oh

Podemos fazer isso de um jeito legal e devagar, devagar?

Pare a batida e vá até o chão, chão

Porque eu só quero curtir a noite toda sob as luzes neon

Até que você não possa me largar)

O intervalo chegou e Sthefanni foi pedir a gravação á Finn. Ela estava diferente naquele dia. Usava uma bermuda jeans colada ao corpo, uma blusa branca com a escrita “Stay Strong”, um all star preto e uma tiara preta. Estava deslumbrante, mas parecia que estava diferente. Talvez pelo fato de não gostar muito das bermudas e nem das tiaras.

P.O.V Sthefanni

Finalmente o intervalo chegou. A aula demorou muito tempo para passar. Esperei um momento em que Finn ficasse sozinho, até que ele mesmo veio até mim. Estava com muita vergonha, mas era preciso.

— Gravou? – perguntei.

— Sim, gravei. Mas antes tenho uma pergunta: Isso é mesmo para seu namorado? Não estou acreditando muito nessa história.

— Sim, é para ele sim. Você é um babaca mesmo não é? Ainda fica desconfiando das pessoas! O errado aqui é você! – falei erguendo as sobrancelhas.

— Ta bom... Vou passar para o seu celular. Me da ele aí. – falou e eu entreguei meu celular para ele.

Passaram mais alguns segundos e ele me devolveu meu celular.

— Pronto? To perdoado? – perguntou soltando leves risadinhas irônicas.

— Você... Perdoado? Claro que não. – dei alguns tapas em seu peito e suspirei – O que você não tem perdão. – falei e saí olhando a gravação:

“Sthefanni, eu te beijei porque eu quero loucamente você... Desde sempre eu gostei de você... E nada que o mundo falar vai me fazer eu mudar o meu sentimento. Você é tudo para mim, fica comigo?

— Como é Sthefanni? Ele estase declarando para você? Eu mato aquele desgraçado! – olhei para trás e vi Wellington com os olhos atentos no meu celular.

Congelei.