Ao Pôr do Sol

O Show - Parte 2


Assim que descemos do carro já dava para ouvir as vozes que gritavam o que eu acho que era o nome da banda: “The Band Bad”, o frio era imenso e o barulho das águas acalmava um pouco o que era impossível não se irritar. Dylan apoiou-se no meu ombro, eu estava mantendo a paciência antes de arrancar o braço dele, mas eu estava feliz, não tanto, mas estava. Haviam jovens de tudo que é tipo, garotas de mini shorts em capôs de carro, garotos discutindo e um bando de retardado gritando sem parar, aliviou um pouco da saudade dos meus amigos. Sim, eles são do mesmo jeito. No rosto de cada um eu conseguia ver uma loucura um pouco parecida com a minha, são antissociais que por algum motivo estão naquele lugar e naquela hora, eu só gostaria de saber qual é.

Ally foi um pouco para frente o puxou o ar até o seu pulmão estar totalmente cheio para se encaixar ao lugar, Holly estava agarrada na cintura de Thomas que virava os olhos a cada dez segundos implorando para ela ir para a puta que pariu.

– O show não demora muito para começar, eu acho... – Ally diz enquanto esfrega as mãos uma na outra para aquecer.

Eu apertava os olhos para conseguir ver todos dentre aquela multidão interminável, mesmo concentrada na multidão conseguia sentir a secagem dos garotos ao lado – eu não costumo conviver com pessoas me paquerando -, se é que eles estão fazendo isso ou olhando para Ally que não cala a boca por pelo menos um segundo. E quando eu finalmente achava que ela pararia de falar era somente para puxar mais ar para continuar a falar. Enquanto isso, Holly permanece calada e Thomas ainda virando os olhos, e quando achávamos que não poderia ficar pior, um ônibus cheio de fãs malucas e desesperadas para chegar perto da maldita daquela banda chegaram. A multidão foi se apertando, cada vez mais até o ponto de eu não conseguir mais ver ninguém, nem mesmo Thomas.

Aquele monte de gente gritando desesperadamente, barulho de guitarras e vozes gritando - eu não acho que aquilo seja cantar-, a agonia subia das pernas a cabeça e o frio chegava a ser insuportável. Estava tão escuro que a única luz que dava para ver era a do palco, por algum motivo os comerciantes fecham quando têm shows, esse motivo eu chamo se roubo. Minhas pernas estão congelando, as minhas bochechas eu sinto também congelarem por dentro, minhas mãos estavam frias e extremamente brancas, isso significa que aquele frio congelou até meu sangue. Quando uma fina chuva fria começa a cair, minha esperança de ter uma noite de diversão acabaram. As pessoas que eu estava vendo com olhos de amizade, se tornara olhos de raiva por aquilo ter acontecido. Sim, eu estava magoada por tudo. Quando eu senti um toque em minhas costas, virei-me rapidamente esperando ser alguém que eu conhecesse.

– Não sabia que garotas como você vinham a shows como esse...

– Eu não estou procurando pessoas que costumam fazer isso, na real não te considero uma boa influencia – eu o respondo mesmo sem o conhecer.

– Nossa, piranha ousada.

– Eu vou “piranhar” sua cara do asfalto, procure uma vadia por aí!

Ele me fitou por alguns segundos, então me respondeu somente com um murro certeiro no nariz. Eu caí entre a multidão e o vi ir embora, eu já tinha ouvido falar sobre esse tipo e pessoa, só não acreditava ser real. Levantei-me limpando a calça e segurando o sangue que escorria o meu nariz, quando percebi já estava totalmente desanimada e as lágrimas escorriam meu rosto friamente assim como a chuva, o medo e me perder mais estava me sufocando. Quando uma doce voz se aproximava, ela era diferente das que gritavam, soava docemente as ouvidos.

– Ashley? – A voz dizia.

Eu olhava para todos os lados perdida na brisa aquela noite, quando finalmente eu senti o toque da pessoa que falava aos meus ombros. Era Thomas, eu o respondi com um rápido abraço. Quando meus olhos grudaram aos dele, seu toque suave subiu até meu pescoço e sua boca que mexia me trazendo calor e se transformando em fumaça no frio. Lentamente nossos lábios se tocaram, estavam molhados pela chuva. Aquele foi meu primeiro beijo, quero dizer e verdade. Acho que um beijo marcado na casa de Scarlett e com um garoto que limpava o nariz cheio de catarro na camiseta não é beijo. Sempre que me lembro disso minha vontade é de comer sabonete para limpar.

– Ammy me aconselhou á...

– Alguns conselhos devemos esquecer e seguir o que a intuição de amar nos trás – eu o respondi com a frase do livro que eu estava lendo, não que seja o momento certo. É que eu estava morrendo de vontade de falar isso á alguém. Ele virou-se e caminhou puxando mina mão, é eu esbarrei em todos para lascar mais meu nariz, mas valeu a pena quando eu finalmente encontrei o calor de alguém que eu já tinha visto antes na mina vida. Encontrei-me do lado e fora e me joguei diretamente nos braços de Ally que estava para me receber, eu sentia meu coração bater aceleradamente.

– Jamais suma assim novamente! – Ela disse apertando minha cabeça para baixo como tampa de refrigerante.

🌴

O frio continuava grande, mas agora eu estava encostada entre as pernas de Thomas. Estávamos sentados em frente a fogueira, a areia gelada e nossos rostos voltando a cor original. Ele beijava levemente mina testa enquanto cantávamos algo que nos lembrasse algo que nos marcava, é claro que á essa época do ano tudo que cantam são canções de natal bestinhas. Até chegar ao meu assunto mais indesejado: “Qual foi seu melhor natal?”.

– Meu melhor natal, foi quando eu tinha nove anos e toquei teclado para mais de mil pessoas... Foi o dia mais massa da minha vida, até hoje – Ally i enquanto aquece as mãos na fogueira.

– O melhor natal da minha vida foi aos quatorze anos, quando eu fiquei com Holly – Dylan diz a fitando.

Holly o fita novamente franzindo o cenho, e volta o olhar para a fogueira. Quando Ally me cutuca indicando que é a minha vez, suspiro, e começo a falar já com a voz tremula.

– Eu nunca tive um “melhor natal”, quer dizer, eu não me lembro de ter um. Quando eu tinha oito anos meu pai foi cruelmente assassinado no natal, desde então eu não comemoro mais.

– Meus pêsames! – Ela diz se apoiando ao meu ombro.

– O meu melhor natal foi quando eu finalmente vim morar com minha tia Zoe, é que eu não costumava me dar bem com meus pais. E o meu pior, foi quando eu tinha dez anos e fui obrigado á ser um Pastorinho da peça de natal, eu estava ridículo. E o pior é que mina mãe tem um quadro meu vestido desse jeito bem na sala de jantar – Thomas diz quebrando o gelo.

– O meu melhor natal, foi quando meu pai me levou para conhecer Paris...- Holly diz desenhando na areia.