Ao Pôr do Sol

Aonde está Thomas?


Na manhã seguinte, eu acordei sem o Sol e pela primeira vez eu achei que ele precisava de algo para nascer, mas eu tinha mandado esse algo para a puta que pariu e não irei voltar atrás. Estico a mão e pego o celular, são doze horas, percebo que Scarlett me deixou uma mensagem há algumas horas, eu abro já esperando uma péssima notícia de algo que envolva a nossa turma – “Cara, eu caí e minha cabeça abriu no meio”, algo como isso. Mas não:

ScarlettWood: Ash, cara meu pai está indo passar o resto das férias aí com a nova vadia dele. Eu acho que vou com ele, assim posso vê-la antes do meu funeral.

Era sempre assim, senhor Wood – pai da Scarlett - , arrumava alguém perto do Natal algumas semanas depois levava ela para casa e então começava o surto da Scarlett; ela começava a morar na minha casa, ter surtos psicóticos e voltar para casa somente com o nascer do Sol. Ela mora somente com ele desde que se lembra por gente, por isso ela se tornou uma pessoa totalmente sem limites, fala o que vem á cabeça e faz o que tem vontade sem se importar em quem doí. Certa vez, Scarlett passou a noite fora e quando ela voltou dizem que tinha um gato debaixo do pneu, na época foi a pior atitude dela por ter perdido a vaga na faculdade cristã. Mas para ser sincera, ela não queria entrar mesmo; quero dizer, passar a vida dela de uma maneira muito certa não fazem parte dos planos dela. Porém, ela é minha melhor amiga.

AshCuspi: Vou te esperar, vê se trás algo que me lembre quão confortável é ver alguém que me conheça de verdade.

Passou-se alguns minutos, até ela voltar á me responder:

ScarlettWood: Isso me cheira á Ash que levou um pé na bunda, mas eu chego depois de amanhã acho bom que me leve á um lugar interessante.

Eu bloquei o celular, caminhei em passos lentos até a cozinha torcendo para que Ammy tenha saído, mas perco as esperanças ao ouvir o lento barulho do café coando. Ela está perto da pia preparando o serial de Connor enquanto explica para ele o mal que seria se ele ganhasse uma arma de brinquedo, quando finalmente se vira e me vê abre um falso sorriso deixando as marcas das profundas covas do rosto. Eu me sento á mesa, ela logo senta-se ao meu lado com uma expressão meio que maléfica.

– Zoe me contou que Tho...

– Porra, Ammy! Não pode nem ter um café em paz, que você já vem me lembrar disso.

– Desculpa, querida. Não era minha intenção – ela me olha piedosamente.

Eu me levanto da mesa e caminho até o banheiro, abro a torneira e molho o rosto abundantemente com aquela água gelada. Aproximo-me da janela, percebendo que Zoe caminhava em direção á nossa casa, ela enxugava as lágrimas no rosto. Eu bufo percebendo que Thomas já havia feito algo, eu saio do banheiro entro no quarto e somente troco de roupa e saio. De volta á cozinha, Ammy está carregando Connor e o beijando exageradamente. A me ver ela o solta e diz enquanto seus olhos marejam:

– Zoe, ela quer que você vá ajuda-la. Ela disse que quer conversar com você enquanto você faz um servicinho.

Eu balancei a cabeça negativamente, e ela voltou a insistir:

– Sabe que preciso de ajuda, pense em nós, no Connor...

Eu mordo a língua, mas minha vontade mesmo era começar a discutir com ela. Saio e bato a porta com a maior força o possível, caminho em passos lentos até finalmente chegar na casa de Zoe que logo abre a porta sem nem mesmo precisar bater. Ela me dá um beijo soado na bochecha e abre um sorriso desanimado.

– Querida, preciso mesmo conversar com você – ela caminha até o carro deixando as caixas e rápido volta. – Minha irmã Sienna, ela estava se automedicando sem indicação médica, ela faleceu nessa madrugada.

É claro que eu fiquei me perguntando o que eu tinha haver com aquilo?

– Meus pêsames – digo piedosamente, mesmo que eu odeie aquela mulher. – Como Thomas reagiu?

Ela passou a mão na testa tirando o suor, ela franziu o cenho e apertou os olhos deixando uma lágrima escapar, logo se joga nos meus braços com um abraço um pouco soado e fedorento. Eu aos poucos vou me adaptando ao abraço e acariciando as costas dela até ela me soltar e resolver desabafar tudo de um a vez:

– Thomas ele saiu de casa bem chateado, e ás pressas... deixou até o celular , assim não tenho como saber onde ele está – ela deu um leve sorriso, porém sincero. – Eu sei que ele está bem deprimido, quero dizer... você mandou ele para a puta que pariu, ele te ama tanto querida. Eu também acho que você é a mulher que Thomas e eu sonhamos, agora se não acha isso, eu prefiro que seja feliz e o deixe ser feliz.

Eu abro um sorriso, cruzando as pernas mesmo estando em pé. Enquanto sinto minha calça encharcada de sangue.

– Eu posso fazer xixi?! É sério, é muito urgente!

Ela assente, eu coloco a mão na bunda e corro em busca de um banheiro. A primeira porta verde perto da cozinha, eu corro até lá e rapidamente sento-me no vaso sanitário encho minha calça de papel tentando tirar um pouco do sangue, mas é inútil. Abro o armário, procurando o absorvente, mas nada. Volto a vestir a calça e corro pela casa em busca de algum lugar que Zoe possa guardar os malditos absorventes. Passo diversas vezes pela sala, até passar pelo quarto de Thomas e ouvir o toque do celular dele, como a curiosidade matou o gato – ou melhor, a gata - , corro até o celular dele e vejo o nome “Holly”, eu atento já com raiva, afinal o que essa filha da puta, vadia, vaca, galinha, retardada e doente mental estava lingando para Thomas?

– Alô, Thomas? Eu queria saber se você não quer vir aqui, eu estou precisando de ajuda com o trabalho de artesanato e sei que manda muito bem com isso. – ela diz com uma voz melosa e irritante.

– Para ser sincera Holly, eu não importo aonde Thomas vá, aliás ele não vai sair de onde eu mandar ou se fazer isso eu arranco o pinto dele e tenho certeza que seu pai odiaria saber que o espermatozoide evoluído dele é uma vadia suja! Tchauzinho.

Eu desligo e coloco o celular no bolso mesmo sabendo que vai sujar de sangue, sento-me na cama sentindo uma leve picada no bumbum. Quando Zoe aparece de repente paralisando meu coração, eu me levanto novamente escondendo o bumbum.

– Você está aqui... Acho que não sou a única que ama tanto ele não é?

Eu assenti, ela veio em minha direção e me abraçou enquanto eu segurava a respiração para não deixar pistas do que aconteceu, até ela me dar um susto gritando no meu ouvido.

– AH, DROGA! THOMAS DEIXOU CACOS DE VIDRO NA CAMA, E SANGUE TAMBÉM, OUH MEU DEUS!

Eu sinto meu rosto corar de vergonha enquanto não consigo conter a risada, mesmo sendo a situação mais bizarra que já me aconteceu eu sempre tenho crise de risadas nos momentos errados. Até ela olhar assustada para minha calça.

– Você sentou nesse sangue, querida! Deixe eu te limpar...

Eu coloco a mão na frente dela a impedindo de qualquer ajuda para manter seguro o celular de Thomas no meu bolso.

– Não precisa, eu vou para casa para limpar isso! Muito obrigada por hoje, e pode ficar com seu dinheiro afinal eu não te ajudei em nada!

Eu dou um beijo na bochecha dela a volto para casa ainda não me aguentando de tanta risada.

🌴

No meio da noite, o celular de Thomas começa a tocar com a música mais ridícula do mundo. Eu o atendo rápido para não chamar a atenção de Ammy:

– Alô?

Do outro lado da linha só ouço o barulho da respiração ofegante da pessoa, até responder.

– Ashley, preciso de você... Por favor venha me buscar, por favor... – era a voz de Thomas, meio afinada e irritante e o tanto que desesperadora.

– Okay, aonde você está?

...