– Vamos dizer que estou na avenida principal, não demore...

Eu me levantei, tirei a calça jeans da mala e a camiseta os Beatles e tentei sair o mais de fininho do quarto, mas a maldita porta ainda rangeu um pouco, assim pude ouvir o barulho irritante da colher batendo no fundo da xicara vindo da cozinha, eu passei no banheiro somente para amarrar o cabelo e caminhei cabisbaixa para a cozinha já esperando as reclamações de Ammy. Ela estava sentada á mesa fazendo contas, a ouvir o barulho dos meu caminhar resmungou ainda encarando o preço das contas:

– Aonde pensa que vai Ashley?

Eu suspiro irritada, me apoio na mesa tirando a conta da frente do rosto dela.

– Não quero discutir Ammy, você é a minha irmã e nunca agiu de tal forma. Achava que te conhecia.

Me levanto pegando a chave da porta e corro para a casa de Zoe, bato na porta com força enquanto grito desesperadamente. Ela entreabre a porta e mesmo sento tarde da noite me recebe com um sorriso, a cama amaçada e um pouco daquela baba no canto da boca – mais ridícula do que o normal -, eu dou um sorriso vergonhoso empurrando a porta quase a obrigando a abrir.

– Você poderia me emprestar seu carro?

Ela se surpreende a me ouvir, arregala os olhos e finalmente pergunta:

– Você bate na minha porta essa hora para pedir meu carro emprestado? – ela é curta, porém não é grossa.

– Uhum – eu suspiro e volto a abrir um sorriso. – Veja bem, prometo que ainda vai me agradecer, mas não posso falar agora sabe como é? Eu posso foder a pessoa.

Ela fecha a porta, eu então abro a porta, pego a faca e a ameaço a me dar a chave a quando ela finalmente me dá eu a atropelo e depois mato o sobrinho dela. Então eu percebo que tudo não passou de uma imaginação fértil e que eu devo ter algum tipo de problema. Ela volta a abrir a porta e me entrega a chave, nessa vez por completo dando para ver que o roupão dela era do Elvis Presley.

– Belo roupão, garanto que não vai se arrepender.

Eu saio da varanda e abro a porta do carro dela, me lembrando dos tempos da oficina – pois é, eu nunca dirigi um carro como aquele -, finalmente sento e dou partida já me arrependendo de tudo que faria naquela noite. As ruas desta cidade são escuras, o único barulho que se pode ouvir é do mar porque mesmo que você assista filmes que dizem que a vida na praia é a coisa mais legal do mundo, é mentira e eles só estão colocando besteiras na sua cabeça e você acredita – porque é besta. O pior do que as ruas serem escuras, é que quando está a noite todas as ruas são parecidas o que complica mais para achar algo quando você não sabe de nada. Eu paro o carro no sinal, procurando a placa que indica a avenida principal a placa indica somente o nordeste. Eu dirijo agoniada até o posto de gasolina, eu paro perto de um aparentemente idiota, aperto o botão o vidro desce fazendo um barulho irritante enquanto o homem me fita surpreso.

– Cara, se eu fosse você devolvia esse carrão aí porque tem muito policial nesse horário.

– Se eu fosse você eu devolvia esse cérebro para o seu periquito, está próximo da Avenida Principal?

Ele tira o boné e coça o cabelo dando para perceber que além de ser fedido está cheio de parasitas naquele cabelo cheio de gel estranho, ele então coloca a cabeça dentro do carro e diz:

– Vamos combinar que a avenida principal não é principal, ela é abandonada. Eu não acho bom uma delicia como você ir para lá só...

Eu dou partida no carro mesmo sabendo que poderia levar a cabeça dele, para ser sincera essa era a intenção, mas ele tirou a cabeça antes.

– Você não vai abastecer? – ele gritou.

Eu coloco o dedo-do-meio para fora, o pior é que eu parei para nada pois continuava perdida no meio do nada sem saber de nada que iria ou poderia acontecer. Quando eu entro na rua mais escura somente com duas luzes e um idiota cambaleando, eu desci do carro antes que eu o atropelasse.

– VOCÊ ME CHAMOU PARA ESSA PUTARIA PARA TE ENCONTRAR ASSIM?!

Ele caminhava em minha direção ainda meio tonto e então finalmente me abraçou, pela primeira vez Thomas tinha cheiro de tudo de ruim que você poderia imaginar, minha vontade era de mata-lo, porém pensei em Zoe.

– Você veio, atchei qui num viria me buxca...

Eu viro os olhos e desvio do beijo dele, que persiste por várias vezes, de metros dava para sentir que ele havia bebido litros de cachaça e que não tinha noção do que fazia. Eu caminhei até o carro dele o puxando pelo braço, acendi a luz e tentei por várias vezes ligar o carro, mas vezes inúteis. Eu virei para ele com raiva, dava para ver a saliva escorrendo pelo canto da boca e a cara dele olhando para o além. Eu saio do carro, e o encaro mesmo sabendo que ele não está entendendo nada que acontece.

– O que você fez?

– Eu só esquici que tem que gasuina.

Eu paro por um tempo tentando pensar, então o puxei para o carro de Zoe e entrei e novamente liguei a luz e apoiei a cabeça no volante já sem paciência para nada e com uma vontade gigante de o atropelar naquele momento, eu até podia jogar o corpo no arbusto ao lado.

– Olha o que você está fazendo comigo, você está fazendo com que Ammy tenha razão. Eu odeio dar razão á ela.

Quando eu viro para ele e percebo que adormeceu, mesmo muito irritado ele era fofo quando dormia tirando que ele estava babando, bêbado e falando coisas que não faziam sentido. Eu dou partida no carro já em direção a um lugar que eu possa fingir que tudo está ocorrendo bem, com toda a velocidade o possível até o transito parar como sempre. Eu senti a mão dele apertando minha coxa então eu me virei vendo o sorriso torto então ele tirou a mão e consegui ver o sangue um pouco na mão dele, rapidamente eu puxei a mão dele e voltei a colocar na minha coxa.

– O que foi?

– Nada.

Eu sentia minhas bochechas ficarem vermelhas e minha raiva subir, então ele tirou a mão da minha perna e colocou enfrente ao rosto.

– AH MEU DEUS, SANGUE! QUE HORROR VOCÊ SANGRA POR LUGARES ESTRANHOS.

– Para de gritar, e se continuar falando essas idiotices eu vou cortar seu pinto e vai sangrar muito mais.

🌴

Quando chegamos em casa eu o proibi de ir para casa, achei que Zoe ficaria bem pior do que já estava então somente o apoiei da ele no meu ombro e o levei até meu quarto, ele se jogou na cama e eu somente tirei a calça e deitei-me ao seu lado, sentindo a respiração que também cheirava a bebida.

– Ás vezes eu penso que não te mereço – ele diz.

– Você tem razão – concordo.

Ele joga os braços por cima dos meus ombros e acaricia minha pele levemente, quando se vira e sorri de forma triste.

– Ela se foi hoje, sabe, minha mãe... – ele diz choramingando. – Ashley, eu me alistei hoje. Eu vou servir o exercito.

Eu me levanto sem poder acreditar nas palavras dele, por mais sinceras que me pareciam, eu esmurrei o ombro dele com raiva.

– Você é burro? Você só pode ser burro, Thomas você vai se dar mal nessa.

– O que você queria que eu fizesse? Minha vida é um inferno, e piorou com a virada do ano.

Deite-me e virei a cabeça para a parede, tentando não me irritar com as palavras que saiam da boca dele.

– Você não conhece o inferno, você vai conhecer logo. Isso não tem volta Thomas, você vai morrer e aí eu vou ficar com tanta raiva que vou morrer só para poder te matar novamente. Você não entende... Quando você vai?

– Uma semana.